Eldarya escrita por Ju Assis


Capítulo 12
Capítulo 11


Notas iniciais do capítulo

Feliz 2023! Para celebrar, decidi mimá-los com um novo capítulo.
É mais curto que o normal, mas o que vale é a intenção, nénon?
Até breve! Um beijo de luz para todos vocês.



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Os próximos sete dias se passaram de forma razoável. Eu fui escalada para pequenas missões, como: buscar ingredientes simples de alquimia na floresta, ajudar Evelin na Loja dos Mascotes, ajudar na pintura de um comércio que havia sido danificado durante a última invasão... Nada muito perigoso ou complicado demais para uma “humana inútil”, como diria o digníssimo chefe da guarda Absinto.

No Q.G, as pessoas estavam agitadas. Sete dias se passaram, mas nada dos rapazes. Nenhuma outra notícia. As fofocas corriam soltas. E eu tentava não dar ouvidos... Mas era difícil quando a ansiedade tomava conta dos meus pensamentos. Eu estava literalmente à beira de um colapso. Não aguentava mais formular cenários na minha cabeça.

Foi então que o primeiro dia de uma nova semana chegou, e, com ela, uma pequena comoção de pessoas se aglomerando na entrada do Q.G. Eu estava terminando de regar as plantas de Evelin quando percebi o fuzuê. Me despedi um pouco apressada para ir ver o que se tratava e, para minha surpresa, era a chegada da comitiva da missão dos rapazes.

Eles já estavam se comunicando com a população e eu havia chegado um pouco tarde demais para conseguir entender a primeira parte da mensagem.

— ...e a Huang Hua não pôde nos acompanhar. — Leiftan esclarecia em voz alta para os curiosos. — Mas ela virá assim que possível. Vocês saberão quando for a hora.

A notícia foi o suficiente para fazer com que as pessoas se dispersassem. Algumas resmungando, outras ansiosas e até mesmo entusiasmadas. Será que ela era como uma celebridade aqui? Dei de ombros, indo encontrar os rapazes. Será que eu deveria abraçá-los?

Não seja estúpida. — a voz racional da minha mente. — Vocês conviveram juntos por algum pequeno tempo, não é como se fossem melhores amigos. Você se dá bem com alguns, só isso.

— Ei, você! — Nevra bagunçou meu cabelo.

— Ah! Oi! — sorri. — Bom ter vocês de volta.

— Olá, Kalina. — cumprimentou Leiftan. — Você parece melhor.

— Obrigada. — assenti para ele. — Acho mesmo que aquelas olheiras e a pele pálida não combinavam nadinha comigo.

— Bom saber que seu corpo se adaptou ao maana. — Valkyon disse.

— A Ewelein me ajudou bastante nisso. — eu afirmei. — Ela é maravilhosa no que faz.

— Eu não ganho nenhum elogio? Nem um simples “Obrigado”? — indagou Ezarel, se juntando ao grupo. Nós começamos a caminhar pela trilha dos arcos. — A Ewelein e eu trabalhamos duro para criar as poções que estão te ajudando a ficar de pé aqui.

Arqueei as sobrancelhas para ele.

— Obrigada, digníssimo, magnífico, oh! Excelentíssimo Ezarel... Por ser maravilhosamente esplendido e se esforçar tanto para que nossos corpos humanos tão frágeis e inúteis não pereçam graças ao maana. — eu disse com uma voz cordialmente irônica.

Os rapazes e inclusive Ezarel explodiram numa gargalhada.

— Não há de quê. — respondeu o Elfo, com um sorrisinho de canto nos lábios.

— Como foi a missão? — eu perguntei enquanto chutava uma pedrinha do caminho.

— Tudo correu bem, como foi previsto. — o chefe da Absinto respondeu. — É uma pena que Huang Hua não tenha vindo conosco. Prolongamos nossa viagem na esperança que ela nos acompanhasse durante a nossa volta, mas não foi possível.

— Entendo. Será que você teria um tempinho para conversarmos à sós? — perguntei por impulso, me arrependendo disso meio segundo depois.

Agora, todos do grupo encaravam a mim e Ezarel com uma sobrancelha erguida ou ao menos franzida.

— Se importa se deixarmos isso para depois? — foi a resposta dele — Temos que ir até a Miiko imediatamente e reportar tudo o que aconteceu.

Suspirei.

— Tudo bem. Vou ir auxiliar nas pequenas missões do dia que ainda estão disponíveis.

Dito isso, me despedi dos rapazes e me separei do grupo.

~*~

Não me restou muita coisa a fazer durante a semana a não ser tentar ficar invisível pelos corredores do Q.G. e ajudar discretamente no que fosse necessário. Eu adorava as missões, inclusive. Ao menos me rendiam uma boa quantidade de purreuro para comprar comida para Bambi e algumas roupas novas.

A conversa com Ezarel nunca chegou... Porque aparentemente ele estava ocupado demais para conversar com qualquer um. O clima estava tenso. Eu estava começando a achar que as descobertas da última missão não foram nada agradáveis, apesar deles jurarem de pé junto que tudo ocorrera bem.

Huang Hua não nos disse exatamente quando viria, mas a cidade já estava em clima de celebração. Várias lojas estavam decorando as fachadas com as cores vermelho, prata, bronze e dourado — as cores dos Fenghuangs, aparentemente... E até mesmo Karuto estava testando pratos mais elaborados para servir durante a estadia dos nobres convidados. Como eu estava sem nada interessante para fazer além de ajudar nas missões - cuja a maioria já estava saturada - esperei até um dia em que Karuto estivesse de bom humor e ofereci ajuda ao chef. Eu estava morrendo de saudade de comer alguns pratos típicos da Terra e tive a brilhante ideia de tentar o ensinar as minhas receitas favoritas. 

Nós nos dávamos bem, apesar de suas mudanças bruscas de estado de espírito. Eu havia começado a ir almoçar sempre nos horários finais e ele proseava um pouco comigo enquanto começava a limpar o salão. Não achei que ele aceitaria a minha proposta, mas surpreendentemente ele o fez. Todos os dias às três da tarde eu me encontrava com o Karuto para o ensinar a fazer os “pratos típicos” da Terra com os ingredientes esquisitos daqui.

Durante o tempo que compartilhávamos juntos, eu passava para ele todo o meu conhecimento em culinária de forma oral e ele parecia empenhado a aprender – pois fazia o seu pobre ajudante, Rajesh, anotar tudinho o que eu falava.

Nós estávamos rindo de algum comentário idiota sobre a Terra. Havíamos acabado de tentar mais um prato diferente e, como de costume, eu teria que ficar e ajudar o Karuto a limpar a cozinha. Rajesh foi embora e eu aproveitei para ir beber água antes de começar a limpeza.

— Menina, você me ensinou várias coisas hoje. — Karuto chegou perto de mim, limpando a mão no avental enquanto puxava conversa. — Estou abismado. No começo eu achava que você era meio burra, para falar a verdade. — ele corou.

Eu quase cuspi a água que estava bebendo. Xenofobia, o nome?

Abafei uma risada antes de o responder.

— Tudo bem, Karuto. Fico feliz em poder compartilhar um pouco das coisas da Terra com você. — eu sorri, gentil. — Eu sempre adorei compartilhar conhecimentos. Embora devo admitir que eu não sou lá a melhor cozinheira... — eu completei a frase soltando um sorriso amarelo enquanto alguns flashbacks passavam em minha cabeça, como: eu fracassando incrivelmente ao ajudar Karuto a sorver algumas massas... Eu cortando meu dedo ao picar algumas cebolas... E até mesmo deixando o óleo da panela passar do ponto e queimar.

A julgar pelo brilho jocoso nos olhos do chef, ele também estava lembrando desses momentos engraçados que passamos juntos. Meu coração encheu de uma alegria momentânea. Isso me fez pensar que eu até poderia chamar esse lugar de lar, afinal de contas.

— Para sua sorte, eu sou um bom cozinheiro! Quem sabe o melhor de Eldarya.— foi a resposta Karuto, que deu um sorriso largo. Mas então sua boca se curvou para baixo, formando uma linha fina de desapontamento. — É uma pena os alimentos daqui não serem tão saborosos quanto os de vocês.

— Tenho certeza que com os temperos certos os pratos ficarão deliciosos. — eu peguei meu bloco de anotações. Eu havia anotado os gostos dos temperos mundanos e quais eram as melhores combinações de acordo com a minha mãe. — Aqui. Fique com isso! Tive essa ideia hoje de manhã e achei que seria útil.

— Obrigado.

— Não há de quê.

Nós começamos a limpar a cozinha em silêncio, cada um perdido nos seus próprios pensamentos. Eu já terminava de passar um pano molhado no chão quando percebi que Karuto havia parado de varrer o salão e estava escorado na vassoura, me observando. Ergui uma sobrancelha para ele.

— O que foi?

Ele suspirou.

— Como é lá? Na Terra.

Eu engoli em seco com a pergunta. Parei de fazer o que estava fazendo para tentar organizar meus pensamentos antes de responder a pergunta de Karuto.

— É... — hesitei. — Diferente.

— Diferente como?

— Gostaria de poder de te explicar... — eu ri, triste e sem graça. — Tudo é diferente. As cores... São bem menos vibrantes lá. Aqui é tudo mais bonito, ainda que eu tenha estranhado isso no começo. Me sentia num conto de fadas muito louco. As pessoas, as roupas, os meios de locomoção... As ameaças... Nós, os humanos, temos armas que vocês sequer imaginam o estrago que pode fazer.

— Vocês também fazem... Isso? — ele indicou o chão. A atividade que eu estava fazendo.

Eu ri.

— Claro que sim, Karuto! — continuei rindo sem parar.

— Desculpe. — ele ficou sem graça. — Achei que por não ter a instabilidade do Cristal no mundo de vocês, vocês seriam mais... Evoluídos.

— Não posso dizer que somos mais evoluídos. Vi a espécie de tecnologia que a Ewelein usou na enfermaria e fiquei chocada. — dei de ombros. — Nós temos muita coisa boa, mas vocês tem... Sei lá, magia. Por mais que ainda seja tudo muito rústico aqui, acho que é uma vantagem bem grande sobre os humanos.

— Sério?

— Por que vocês enaltecem tanto os humanos? — coloquei a mão na cintura, pensativa sobre o que Karuto havia me dito. — Vocês são melhores que nós. Mais fortes que nós...

— Eu não... Não sei. — Karuto franziu as sobrancelhas. — Talvez porque vocês não vivam num mundo instável... Parece tudo perfeito.

— Não somos perfeitos, Karuto. Ninguém é. Não importa raça, enfim... — suspirei — Podemos não viver sob a ameaça constante do maana, mas na Terra temos desastres naturais, tragédias causadas por humanos, guerras, vírus letais... As pessoas morrem. Aos milhões, e... Todos os dias. Nenhum lugar é perfeito de se viver.

— Você tem razão. — disse Karuto. — Eu não tinha parado para pensar nisso. Eldarya e a Terra tem muito em comum, no final das contas. O ego, mau-caráter e ganância de alguns habitantes.

— Sim, isso é verdade.

— Ok, vamos terminar logo essa faxina. — Karuto voltou a varrer e eu logo tratei de ir lavar o pano de chão para mais uma demanda. — Ficou sabendo da notícia? Vou lhe falar em primeira mão, mas que isso não saia daqui...

Eu ri mentalmente. Não tinha jeito! Karuto era um fofoqueiro de plantão e nossa conversa continuou por vários minutos — mas não paramos de executar nossas atividades desta vez.


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