O vermelho de Copenhague escrita por Letícia Matias


Capítulo 5
Cinco


Notas iniciais do capítulo

Oi oi oiiii!!! Tudo bem com vocês?
Espero que sim ♡
Nesse capítulo vamos conhecer mais personagens e, mano... tô ansiosa pra vocês lerem!!!
Espero que gostem ♡♡♡♡



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/758996/chapter/5

Tive um longo tempo para encarar a paisagem da cidade amanhecendo. O céu ficava cada vez mais claro, trazendo consigo mais um novo dia e eu podia observar as casas nas vizinhanças adormecidas pelo salpicado de gotas de chuva na janela do ônibus. Ainda me sentia um pouco encabulada com a história do marido da Sra. Irin. Baixei meu olhar para o guarda-chuva azul turquesa e me senti estranhamente sortuda; cuidada. Perguntei-me quantas pessoas em todo o mundo eram evoluídas, amorosas e cuidadosas com os outros pelo simples fato de serem boas pessoas. Ou por interferência do destino e as fatalidades da vida.

De fato estive imersa em meus pensamentos. Era uma espécie de prerrogativa já que estava dentro de um ônibus, numa manhã chuvosa e diferente. Havia algo de especial. Não sabia muito bem explicar o quê.

Quando avistei um riacho correndo por baixo de uma ponte pequena de  paralelepípedos, retesei meu corpo e fiquei mais atenta. As palavras da sra. Irin soaram em meus tímpanos.

"Quando ultrapassar a ponte de pedra, descer".

Me coloquei de pé, abandonando o conforto do banco ao lado da janela e segurei em uma das barras de ferro. O ônibus parou segundos depois. Quando a porta se abriu, o ruído da chuva se elevou alguns decibéis. Estava chovendo muito forte. Eu esperava que o guarda-chuva que a sra. Irin tinha me presenteado realmente salvasse minha pele. Eu o abri enquanto descia os pequenos degraus na porta do transporte.

Fora do veículo grande e azul, o observei continuar seu trajeto deixando-me para trás em uma vizinhança desconhecida. Era muito parecida com um subúrbio irlandês ou até mesmo americano. Mas, julgando pelos altos muros das casas na redondeza, tinha uma forte intuição de que apenas pessoas com muito dinheiro viviam por ali.

Olhei para o meu lado direito e, do outro lado da rua, metros à frente, pude  ver o muro cor de chumbo que o Google Maps havia me indicado ao pesquisar o endereço. Respirei fundo e olhei a hora no relógio de pulso que eu trazia no braço. Era um pouco mais de sete e meia. Eu conseguira chegar a tempo.

Graças a Deus!

Olhei para ambos os lados da rua de paralelepípedos para me certificar de que nenhum carro estaria vindo em direção para me atropelar e atravessei com cuidado para não me molhar. O ponto de ônibus ficava praticamente do lado da pontezinha onde o riacho corria por baixo. A água parecia ser muito limpa. Continuei andando na calçada onde a casa cujo muro de chumbo ficava. Passei por três muros extensos de casas antes de chegar até ela. A casa do lado tinha uma fachada repleta de heras, o que me encantou, pois eu gostava muito de plantas.

Quando finalmente parei em frente à porta feita de madeira - ou qualquer outro material que parecia ser madeira - vi que tinha uma espécie de interfone.  Apertei um botão azul e esperei. Uma voz feminina atendeu energicamente falando em dinamarquês. Senti-me nervosa e apavorada.

– Ah... oi. Meu nome é Wendy Cooke. Foi pedido para que eu comparecesse aqui hoje para...

– Ah! Srta. Cooke! Por favor, entre.

Antes que eu pudesse responder à voz alta e enérgica da mulher que falava do outro lado do interfone, ouvi a porta sendo destrancada. Hesitante, com a mão que não segurava o guarda-chuva empurrei a pesada porta e me deparei com a estrutura quadrada e plana de uma casa acabada em pedras de mármore com uma tonalidade bege. No chão os pisos pareciam ser de ardósia da mesma cor. Me senti um pouco espantada, como se estivesse ultrapassando algum limite, alguma barreira...

Um ruído agudo e fino fez com que eu me sobressaltasse. Bem à minha frente, dentro da casa, por trás de uma janela larga e quadriculada branca, uma mulher de traços finos e pequenos e cabelo escuro estava batendo com os dedos fechados contra o vidro da janela para chamar minha atenção. Ela tinha um sorriso convidativo e até mesmo divertido. Quando viu que conseguiu chamar minha atenção, fez sinal me chamando para dentro e apontando para o lado. Aparentemente eu deveria procurar por uma porta naquele perímetro.

Continuei a andar para minha esquerda, para onde ela havia apontado. Enquanto contornava o perímetro daquela área, passei por várias janelas iguais - largas e quadriculadas - com cortinas me impedindo de ver o lado de dentro. Quando virei à direita, dei de cara com uma porta aberta envernizada e a mulher esperando por mim. Ela sorria, usava uma espécie de  vestido de veludo preto e simples e uma meia calça da mesma cor.

– Olá, srta. Cooke! Entre, por favor! Eu sou a Betty.

Ela estendeu uma das mãos para mim. Eu estendi a minha mão livre para ela e forcei um sorriso.

– Entre! Pode deixar o guarda-chuva aí fora.

Assenti e dei um passo de costas para entrar dentro da casa, de modo que o guarda-chuva ficasse para o lado de fora e não molhasse o interior. O fechei e posicionei o mesmo em pé do lado de fora, bem ao lado da porta. Meu coração martelava desenfreado e, por alguma razão, sentia meu rosto quente. Não era uma boa hora para parecer um tomate ambulante. Eu só estava muito nervosa.

– Foi muito difícil de achar o endereço, querida? - Betty perguntou fechando a porta.

– Ah... não. Foi fácil. Tive um pouco de ajuda e foi tranquilo. - reprimi meus lábios numa linha fina, num sorriso timido.

Betry sorriu mostrando mais uma  vez seus dentes pequenos e alinhados.

– Bem, novamente, sou a Betty. Betty Berry. A Betty que mandou um e-mail para você é a advogada do sr. Zarch. Ela não está aqui hoje. Posso lhe servir algo? Um chá, uma água... um café?

Eu estava olhando pela sala onde estávamos. Era uma sala com móveis de mógno, sofás grandes, beges e confortáveis, uma mesa de centro baixa de mógno e carpete de madeira claro. Na verdade, a casa inteira por dentro, parecia ter uma decoração bem rústica. Notei que o teto era feito de madeira também e tinha luzes redondas e amarelas embutidas.

– Impressionada com a decoração?

Voltei minha atenção para Betty e me senti corar.

– Na verdade, sim. - admiti com um sorriso que deixava minha vergonha estampada.

– É, é mesmo uma casa bonita. Você se acostuma. Vamos lá querida! Vou lhe servir um café.

Ela começou a andar na frente, esperando que eu a seguisse. Engoli em seco e o fiz, contornando uma espécie de L que ambos sofás posicionados perto um do outro faziam. Pensei em minha mãe e em como ela adoraria aquela casa. Ela adorava design de interiores e até assinava uma revista para ficar se lamuriando de como sua casa era comum e sem graça.

– A cada nova revista que chega é uma lamúria nova. - meu pai revirava os olhos depois de sussurrar pra mim.

Pensar neles fez com que eu sentisse saudades de casa.

A Betty que não era a Betty Ashlof e sim a Betty Berry, abriu uma porta larga com duas folhas de vidro e quadriculada de branco - assim como as janelas eram e me conduziu para um outro cômodo. Era uma espécie de sala. Era enorme e tinha um piano preto reluzente além de um banco largo e estofado à sua frente. Tudo dali parecia ter saído de um catálogo de revista de decoração antiga e sofisticada. O perímetro inteiro do chão daquele cômodo era coberto com um tapete que parecia ser uma espécie de veludo com pelos muito aparados e curtos. Percebi que era um tapete que tinha uma ilustração. Uma espécie de anjos no céu. Fiquei embasbacada. Era lindo!

Ouvi Betty pigarreando.

– Sente-se, srta. Cooke. O Sr. Zarch já irá recebê-la. - falou apontando para uma poltrona estofada e cor de creme atrás de mim.

– Obrigada. - agradeci me sentindo deslocada e maravilhada ao mesmo tempo.

Enfim me sentei na poltrona, mas estava nervosa demais e desconcertada com a beleza daquela casa para que ao menos encostasse minhas costas em seu encosto.

Pareceu passar um tempo enorme até que eu ouvisse as portas com duas folhas pelas quais Betty Berry havia saído e me deixado ali sozinha, voltar a se abrir. Ela ficava bem na minha direção e foi aberta revelando um senhor em uma cadeira de rodas com o pescoço um pouco tombado para o lado. Era uma posição que parecia muito desconfortável. O homem tinha cabelos grisalhos penteados para trás, usava um óculos de armação retangular e discreta e vestia um suéter de caxemira bege e uma calça de sarja marrom. O rosto era livre de barba ou bigode. Sua boca era um pouco repuxada em um dos lados e ele me abriu um sorriso simpático. Eu sorri nervosa e me levantei da poltrona.

– Olá senhorita, Cook. - ele pronunciou aquelas palavras quais entendi perfeitamente. Mas havia algo de diferente no modo como o som saía, como se realmente um lado de seu rosto estivesse paralisado.

– Olá! O senhor deve ser o sr. Zarch.

Permaneci em pé olhando-o com as mãos cruzadas atrás do meu corpo.

Ele ainda sorria aquele sorriso torto.

– Por favor, querida. Xente-xe.

Engoli em seco e obedeci ao seu pedido. Observei que sua mão estava posicionada perto de um botão vermelho na cadeira de rodas. Ele apertou o botão que fez a cadeira se locomover sozinha em minha direção. Ele parou abruptamente quando bateu em uma mesinha redonda entre nós. Assustei-me e corri para pegar a mesa antes que ela pudesse tombar.

Ouvi ele rir baixinho. Olhava para o meu rosto. Eu arqueei ambas as sobrancelhas e acabei sorrindo também.

–Me desculpe. Sou um pouco atrapalhado com minhas rodas.

Eu ri e tirei a mesa do caminho entre nós.

– Isso é perfeitamente compreensível, sr. Zarch.

– Por favor, Frederick. - disse olhando-me nos olhos.

Meus olhos pairaram em sua boca retorcida por um momento e eu desviei o olhar sorrindo. Voltei a me sentar na poltrona. Agora estávamos frente à frente.

Antes que eu pudesse dizer algo, ouvi passos entrando pela sala. Olhei para cima e vi um rapaz jovem, talvez com a minha idade ou um ou dois anos mais velho adentrando o cômodo onde nos encontrávamos. Ele estava todo vestido de preto, com uma calça jeans e uma blusa de malha e gola V. Seu cabelo tinha um tom claro e um pouco caramelizado e eram grandes, alguns centímetros acima do ombro, com ondas nas pontas. Os olhos eram azuis. Ele me olhava parecendo impassível e até mesmo um pouco mau-humorado.

– Não poderia ter esperado por mim, pai? - perguntou fechando a porta atrás de si.

Desviei o olhar de seu rosto e olhei para minhas mãos em meu colo.

– Não podia deixar srta. Cooke esperando. - disse daquele jeito difícil de compreender, como se sua língua estivesse um pouco pesada.

O rapaz loiro pareceu resmungar algo que não entendi.

– Srta. Cooke, este é meu filho, Jullian.

Olhei para a poltrona poucos centímetros à minha direita, numa espécie de diagonal de onde eu estava. Este me olhava impassível e infeliz, como se minha presença não fosse bem-vinda ou como se quisesse estar em qualquer outro lugar do que ali.

– É um prazer conhecê-lo. - disse formalmente.

Não obtive resposta então desviei o olhar. No mesmo momento a porta por onde o sr. Zarch e o filho tinham entrado se abriu, e Betty Berry entrou carregando uma bandeja com ambas as mãos, sorrindo simpaticamente.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Podemos parar para admirar a beleza desse ser chamado Jullian? Ai ai... ❤❤❤ suspirando.
Adoraria saber o e acharam desse capítulo. No próximo a gente vai ter uma interação desses personagens e... bom, não posso contar mais nada.
Estamos bem no comecinho da história e tem muita coisa pela e, muita mesmo!
Até sexta ♡
Lê.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "O vermelho de Copenhague" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.