O vermelho de Copenhague escrita por Letícia Matias


Capítulo 30
Trinta


Notas iniciais do capítulo

Bom dia pessoal!! E boa sexta (graças ao Pai meu Deus maravilhoso!) Essa semana demorou horrores pra passar. Será que foi só pra mim? Hauashajua
Eeeeenfim, estou trazendo o capítulo 30 pra vocês hoje. Mais um dessa história que eu amo tanto escrever.
Espero que gostem e ele está bem maiorzinho hoje ♡



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Tentei amparar Betty da melhor maneira que pude. Após alguns minutos em pé abraçada com ela, disse:

– Tudo bem, acho que devíamos descer lá para baixo e ficar na sala. O que você acha?

Ela apenas assentiu. Era a primeira vez que via Betty Berry ficar tão calada. Assenti desviando o olhar de seus olhos inchados e úmidos e deixei o quarto do sr. Zarch para trás, fechando a porta atrás de nós. A ajudei descer os degraus cuidadosamente, segurando uma de suas mãos. Betty Berry parecia tão vulnerável e ainda mais pequena naquele momento. Senti vontade de chorar, mas aquilo não seria de utilidade naquele momento. Eu precisava me mostrar forte e cuidar dela, para variar os papéis.

– Venha, sente-se aqui no sofá.

A conduzi até o sofá maior e a fiz sentar. Quando Betty o fez, peguei a manta que estava jogada no outro sofá e passei ao seu redor. Ela vestia um pijama de calça comprida e uma camiseta branca e simples estampada com uma flor vermelha. Seus cabelos lisos e escuros encontravam-se presos em um coque. No coque de sempre.

– Está com frio? - perguntei olhando atentamente para o seu rosto.

Ela assentiu com a cabeça e sua voz saiu como um fiozinho frágil.

– Mas vai passar.

Sentei-me ao seu lado e peguei suas mãos.

– Você quer beber um chá ou alguma outra coisa?

– Não, querida. Só fique aqui comigo.

Assenti e passei meu braço ao redor dos seus ombros.

–É claro que sim!

Fiz o que Betty Berry pediu. No momento ela necessitava mais de um abraço do que eu. Eu só estava querendo entender tudo aquilo. O sr. Zarch tinha mesmo tentado se suicidar com os remédios? Teria ele conseguido? Uma lavagem estomacal faria algum efeito? E Jullian? Como ele estaria? Nem consegui ver sua cara ao sair dali em disparada com o pai nos braços. E o que diabos ele quisera dizer antes que fosse interrompido pelo chamado urgente de Nigel?

Senti a montanha-russa de emoções das últimas quarenta e oito horas se transformarem em apenas uma: tristeza. No momento eu me sentia desolada, triste, amarga, com saudades de casa, querendo que estivesse presa em um pesadelo incrivelmente ruim. Meu choro foi silencioso ao passo que Betty Berry continuava soluçando de modo discreto, mas visível. As lágrimas transbordavam grossas e com intensidade, lavando meu rosto.

Passou-se praticamente duas horas até que Betty Berry adormeceu com a cabeça em minhas pernas. Ela estava deitada e encolhida no sofá e tinha a manta em cima dela. A televisão estava ligada no mudo. Passava um filme. Eu apenas encarava as imagens passando em completo silêncio enquanto as lágrimas escorriam. Minha cabeça doía intensamente, meus lábios tremiam. Eu não podia fungar ou fazer qualquer outro barulho. Não queria acordar Betty Berry.

Estava com medo. Tinha medo que o sr. Zarch não estivesse mais entre nós, pois ele era uma pessoa boa que, em pouco tempo, tinha me ensinado muitas coisas, feito com que eu parasse para refletir sobre muitos aspectos da minha existência. Eu queria que ele fosse forte e que tudo não tivesse passado de um mal entendido. Ele pareceu-me tão bem antes de sairmos... O que diabos tinha acontecido? O que faria Jullian se o pai tivesse conseguido tirar a própria vida?

Em meio à todas aquelas perguntas, em algum momento, meus olhos acabaram se fechando sem que eu percebesse. Por um momento, houve paz e apenas nada para se preocupar. Nenhum sofrimento, nenhuma dor física ou emocional, cansaço ou problemas. Não houve nada. Pude vislumbrar a ideia do sr. Zarch de que, um sono eterno seria sua única saída contra tudo aquilo.

***

Pude ouvir suas vozes de longe, misturadas. Não sabia qual voz era qual, mas haviam várias. Com isso eu acordei. Pisquei algumas vezes confusa. Estava deitada no sofá maior e tinha uma manta em cima de mim. Sentei-me abruptamente. Onde estava Betty Berry?

Ouvi as vozes vindo da cozinha. Elas falavam em dinamarquês. Meu coração disparou ao ouvir a voz de Jullian. Levantei-me do sofá apressadamente e fui para a cozinha. Pisquei diante da claridade que vinha da janela do ambiente. Quatro pares de olhos me encararam. Reconheci cada um deles. Os olhos azuis de Jullian estavam inchados. Ele tinha uma aparência horrível, exausta. Estava pálido. Nigel também parecia exausto, mas não tanto quanto Jullian e também me olhava. Pude vislumbrar um rápido sorriso em seus lábios. Mas era um sorriso amarelo, abatido. Não era bem um sorriso. Betty Berry estava ao seu lado, servindo café em uma caneca e também tinha os olhos inchados. Surpreendi-me ao ver os pares de olhos azuis da sra. Zarch me fitarem. Seus cabelos loiros como os do filho estavam presos em um coque arrumado. Ela também parecia cansada.

Olhei para Jullian novamente. Ele olhava agora para a mesa e parecia fazer uma força sobre humana para não chorar. E então eu entendi. Meu medo se concretizou. O sr. Zarch não estava mais entre nós.

Olhei para o rosto de Betty Berry. Seus lábios tremeram e o choro retornou. Nigel a abraçou. Meus olhos inchados voltaram a transbordar em lágrimas. Jullian pressionou os dedos em seus olhos. Tentava esconder seu rosto enquanto chorava. Aquilo acabou comigo.

Eu me aproximei dele e toquei em seu braço. Chamei seu nome como um sussurro e ele me abraçou. Foi um abraço desesperado e forte, como se ele quisesse se sustentar em pé, como se eu fosse uma espécie de pilar. Ou, como se eu estivesse prestes a me quebrar em pedaços e ele não quisesse deixar que tal coisa viesse à acontecer.

Fechei meus olhos sentindo as suas lágrimas molhando meu ombro. Mordi meu lábio inferior com força para impedir um soluço. Eu não sabia o que Valerie estava fazendo ali. Mas, infelizmente, senti a raiva do julgamento me atingir. E se o sr. Zarch tivesse feito o que fez por não suportar mais viver sem ela?

O silêncio na cozinha foi o que tivemos durante aquela manhã. Jullian me soltou logo depois sem olhar para mim e subiu. Eu não disse nada, apenas o observei sair da cozinha. Enxuguei minhas lágrimas e olhei para a sra. Zarch. Ela já me olhava. Não sabia bem o que sua expressão queria passar. Parecia com raiva? Surpresa? Um misto de ambos? Eu não sabia dizer.

– Temos qur comunicar à todos. - ouvi Nigel dizer. - O funeral será em Copenhague, afinal. O carro da funerária partirá nesta tarde.

***

Depois de tomar pequenas goladas de café, sentia minha cabeça latejando, como se nunca mais fosse parar. Até mesmo meus dentes pareciam doer junto. Eu me sentia anestesiada e de alguma forma, com dor. Era simplesmente muito difícil de compreender toda aquela situação. Em menos de vinte e quatro horas atrás, o sr. Zarch estava entre nós, e agora...

Saí da cozinha deixando as três pessoas para trás. Subi os degraus da escada em silêncio. Algumas lágrimas escorriam pelo meu rosto. Gostaria que aquilo não estivesse acontecendo.

Abri a porta do quarto onde o sr. Zarch estava ontem, esperando encontrar Jullian, mas ele não estava lá. Com as sobrancelhas unidas, fui até o quarto designado a mim e abri a porta. Jullian estava deitado na cama de costas para a porta.

Hesitante, entrei no cômodo. Ele ainda estava com a roupa da noite anterior, assim como eu. Eu nem sabia o que dizer naquele momento. Nem sabia se deveria dizer.

Aproximei-me da cama cautelosamente. Vi que Jullian estava com os olhos fechados. Dormindo talvez? Fechei a cortina branca em frente à janela e o quarto ficou um pouco mais escuro.

– Tranca a porta, por favor.

Sua voz saiu baixa e rouca. Me virei para olhá-lo. Seus olhos azuis estavam inchados e pequenos. Assenti em resposta mesmo não entendendo o motivo de seu pedido. Fui até a porta e girei a chave, trancando-a.

Voltei até a cama e sentei-me ao lado do corpo de Jullian. Encarei meus pés.

– Sinto muito, Jullian. - sussurrei balançando a cabeça. - Sinto muito mesmo.

Ele não disse nada. Até perguntei-me se ele tinha ouvido. Olhei para seu rosto. Ele estava me encarando. Passou a língua pelos lábios e disse:

– Eu também.

Bem, e quem sentiria a perda do pai mais do que ele?

– Ele... tentou...

– Não sei. Ele tomou doses extras de remédios, mas não sei. Ele teve uma parada cardíaca.

As lágrimas faziam um curso sem fim.

– Entendi. - assenti e fungei.

– Posso dormir aqui?

– Claro. - respondi e olhei para seu rosto.

Ele já estava dormindo, assim, tão exausto, tão de repente... e eu fiquei o observando. As palavras do sr. Zarch, as palavras que ele tinha dito... elas ecoavam em minha mente. Ele dissera que se preocupava com o que seria do filho quando ele morresse. E aquela era a minha pergunta. O que seria de Jullian Zarch a partir daquele momento?

Eu me levantei cuidadosamente da cama, para que não fizesse nenhum movimento brusco que acordaria Jullian. Ele estava exausto e precisava dormir. Ele necessitaria de forças para enfrentar o funeral do pai.

Deixei o quarto fechando a porta atrás de mim pensando que, quando chegasse a hora de eu lidar com o funeral dos meus pais, eu não saberia lidar com a situação. Não conseguia ao menos imaginar.


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Notas finais do capítulo

Como sempre, preciso perguntar: o que vocês acharam desse? E dessa visita inesperada da Valerie?!
Eu sei que muitos de vocês devem estar querendo me matar e com raiva e tristes também. Mas, meu plano sempre foi esse. Desculpa!!! Eu me sinto mal pelas mortes também. Odiei o John Green quando ele matou o Gus, e fiquei abalada com a morte da Alasca, mas, eu não mudaria nadinha em nenhum dos livros, pois cada um dos dois é incrível ♡
Anyway, espero que estejam gostando da história e eu espero vocês no próximo capítulo.
Vocês vão gostar dos próximos. Eu prometo ♡
Beijos e um ótimo final de semana.
Lê. ♡



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