Eu, Ela e o Bebê escrita por Lara


Capítulo 12
O Primeiro Chute


Notas iniciais do capítulo

Oii Cupcakes ♥! Desculpa a demora para postar. É que esse dias eu passei muito mal e fiquei impossibilitada de escrever. Para compensar, escrevi esse capítulo super fofo para deixar vocês bem felizes. Espero que gostem!

Muito obrigada Jujah, MiMartin, Isabelle, Titânia, Juliana Lorena, Observadora0805, LittleFairy, Little Olicity Shipper, kaialasilva, Marluci, SaLu, Nadii, LiRibeiro, Renataafonso, Aninha, Jade, Mrs Ackles, Lari, Mockingjay, Bruninha, Náthani Soares e isabelsilva pelos comentários de apoio e incentivo. Eu realmente agradeço por não desistirem da história e continuarem acompanhando. Isso é muito importante para mim. Boa leitura...



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Capítulo XI – O Primeiro Chute

 

“E foi o meu erro número dois. Assim que meu nariz entrou em contato com o tecido que vestiu a pele de Bernardo por boa parte daquele dia, meu corpo reagiu de um completamente inédito para mim. Eu queria ficar com a camisa para sempre e dormir com ela todas as noites, porque, por mais que um leve cheiro de suor estivesse impregnado nela, o aroma me lançou um transe inebriante. Até me esqueci de continuar chorando. Na verdade, eu passei a ter vontade de bater palma e cantar Aleluia. Deus do céu, eu queria aquele homem para mim, apesar de toda a empáfia e da falta de trato social.”

Azul da Cor do Mar – Marina Carvalho

 

Duas e quarenta e dois da manhã. O celular toca de maneira estridente, acordando-me justo quando eu finalmente havia conseguido pegar no sono. Eu havia passado a maior parte da noite investigando as vidas de Charles e Quentin em busca de pontos em comum que eles poderiam ter e que pudessem levar Bruce a matá-los. À contragosto, levo minha mão ao criado-mudo ao lado de minha cama, ainda de olhos fechados. Solto um alto suspiro. Abro os olhos e vejo o nome de Felicity brilhar na tela. Meu coração se acelera e antes mesmo de atender, eu já estava procurando alguma roupa para vestir. Levo o aparelho ao meu ouvido, enquanto visto uma calça jeans qualquer que encontrei dentro do armário. Pego uma blusa qualquer e jogo sobre a cama.

— Felicity? O que houve? Você está bem? E o bebê? - Atendo, atordoado, enquanto encarava meu relógio.

— Oi Oliver. Está tudo bem. Não aconteceu nada comigo e nem com o bebê. — Afirma Felicity e pelo seu tom de voz, realmente parecia estar tudo bem. Solto o ar preso em meus pulmões, suspirando aliviado. 

— Mas, se não aconteceu nada, por que está me ligando a essa hora? - Pergunto confuso, voltando a me sentar na cama. 

— É que... bem... não sei como te dizer isso. — Confessa a garota, sorrindo nervosa do outro lado da linha. - Sinto muito ter te acordado a essa hora, mas lembre-se que você disse que ia fazer tudo que eu mandasse por causa da aposta.

— O que você aprontou dessa vez, Felicity? - Questiono, imaginando o que ela poderia ter feito de tão grave para estar me acordando na madrugada de uma quarta-feira. 

— Eu não fiz nada! - Exclama, parecendo insatisfeita com o meu comentário. - Eu apenas estou com vontade de comer frango assado ao suco de laranja. Ah, eu também quero um copo gigante de limonada. Só de pensar, eu já fico com água na boca.

— Felicity, são quase três horas da manhã. Onde eu vou encontrar um frango assado ao suco de laranja? - Indago, pacientemente, enquanto volto a me deitar. - Não pode esperar até o almoço? 

— Mas está tão longe... - Choraminga, suspirando em seguida. - E eu estou com tanta vontade de comer. É como se minha vida dependesse disso.

— Acredite em mim. Sua vida não depende de um frango assado. - Respondo, revirando os olhos.

— Frango assado ao suco de laranja. - Corrige a loira e eu quase bufo diante de sua insistência. - Por favor, Oliver. Eu realmente quero muito comer. Quero tanto que não consigo dormir ou pensar em outra coisa.

 São três horas da manhã, Felicity. Você acha mesmo que eu vou conseguir encontrar um frango assado e, pior, ao suco de laranja? Quem faria um prato elaborado como esse em plena madrugada de quarta para quinta-feira? - Resmungo, cansado. - Eu entendo que queira comer, mas não acha que isso está além das coisas que posso fazer por você?

— Mas... - Ela suspira com tristeza e decepção. - Você tem razão. Desculpa, Ollie. É só que eu estou desejando tanto esse frango que já estou perdendo a minha sanidade. Desculpa te acordar a essa hora e fazer esse pedido sem noção. Boa noite e até de manhã.

— Eu não acredito que estou fazendo isso. - Sussurro para mim mesmo, suspirando. Eu simplesmente não conseguia dizer não para a loira. Não quando ela realmente parecia estar tão ansiosa para experimentar desse maldito frango. - Espere, Felicity.

— Sim? — Responde a loira, fracamente.

— Eu vou dar um jeito. - Afirmo e quase consigo ver o sorriso largo se formando em seu rosto. Ouço ela tentar comemorar de maneira discreta do outro lado da linha.

— Obrigada, Ollie. De verdade. - Agradece Felicity e, por incrível que pareça, somente a felicidade em sua voz foi o bastante para eu sentir que valia mesmo a pena ir atrás de um frango para assar às três horas da manhã.

— Até mais. - Despeço-me, encerrando a ligação em seguida.

Suspirando, exausto, levanto da cama e coloco a blusa que havia escolhido anteriormente. Vou ao banheiro e lavo meu rosto, tentando me despertar por completo, enquanto pensava como faria esse frango assado ao suco de laranja, como a loira havia ressaltado e especificado. Assim que pego minha carteira e a chave do carro, vou à cozinha, procurando algum frango em minha geladeira e, como era de se esperar, não havia nenhum. Sem saída, eu precisaria encontrar algum mercado aberto de madrugada onde eu pudesse comprar o maldito frango e os outros ingredientes que usaria para fazer a receita.

As ruas de Star City estavam vazias e o sono dificultava meus pensamentos. Todos os mercados próximos a meu prédio estavam fechados e, como era de se esperar, não havia nenhum lugar onde pudesse vender o frango assado àquela hora da madrugada. Resignado e sem alternativas, dirijo até o outro lado da cidade, com a esperança de encontrar algum mercado vinte e quatro horas. E depois de procurar por aproximadamente uma hora e meia, eu enfim consigo encontrar um supermercado aberto.

Não demoraria muito para amanhecer e eu ainda precisava preparar a receita por conta própria. Então, para tornar as coisas mais fáceis, busco a receita na internet e assim que encontro uma que parece ser a menos complicada, procuro os ingredientes necessários pelo hipermercado. Os poucos funcionários que havia no lugar me encaravam confusos. Eu não os culpava. Quem em sã consciência vai fazer compras às quatro da manhã de uma quinta-feira? Não era exatamente a atitude mais comum de uma pessoa que bocejava a cada cinco minutos. Mas quando enfim, consigo tudo o que eu precisava, suspiro aliviado, ainda que soubesse que a parte difícil estava por vir.

Com todas as compras no carro, sigo às pressas para a casa de Felicity. Eu apenas torcia para que eu conseguisse fazer o tal frango assado ao suco de laranja que ela tanto desejava. Não era exatamente a receita mais simples do mundo e sendo uma negação na arte de cozinhar, eu não tinha nenhuma certeza de como me sairia e apenas desejava ser capaz de saciar a vontade de Felicity.

Em menos de quarenta minutos, consigo chegar a residência da loira que estava a ponto de me enlouquecer com suas loucuras. Estaciono o carro de frente a sua casa, pego todas as sacolas com as compras e, com a chave reserva que ganhei de Felicity para o caso de emergências, abro a porta e entro. Assim que fecho a porta, ouço o barulho inconfundível da loira digitando freneticamente em seu notebook. Suspiro e dou uma leve risada. Ainda que eu dissesse diversas vezes que ela precisava dormir, a loira afirmava que seu descanso era escrever matérias que poderia fazer alguma diferença no mundo.

O único cômodo da casa com as luzes ligadas era a cozinha. Aproximo-me com cautela e assim que chego a entrada, observo a loira concentrada em seu trabalho. Por detrás das lentes de seus óculos, os olhos de Felicity brilhavam, animados com o que liam. Sorrio mais uma vez. Era evidente o seu amor pela profissão. Quando eu a observava, concentrada em seu trabalho, era nesses momentos que eu via a mente brilhante da loira entrar em ação e ela se perder no mundo das palavras. A imagem séria e compenetrada transmitida em sua postura não lembrava em nada a garota tímida, atrapalhada e imprevisível que tanto me enlouquece.

Ela pega o copo gigantesco que estava na metade e dá um gole generoso no suco. Logo identifiquei como sendo sabor limão. Reviro os olhos diante de seu fascínio pela fruta. Todos os dias, em todas as refeições, Felicity fazia questão de tomar comer ou tomar algo que levasse limão e ela pudesse sentir o sabor azedo da fruta.

— Você não enjoa de comer limão não? – Questiono, relembrando que eu precisava preparar o maldito frango assado.

— Ah, você chegou! – Felicity desvia o olhar de seu notebook e bate palmas, animada. – Eu e o bebê estamos morrendo de fome e a limonada foi a melhor solução para nós te esperarmos.

— Não deveria estar descansando? Quantas vezes eu vou ter que dizer que você precisa...

— Dormir e descansar, porque eu preciso repor minhas energias e pode fazer mal para o bebê. – Completa Felicity, revirando os olhos. – Você age como se fosse meu pai. Eu não sou uma garotinha frágil, Ollie. Eu e o bebê estamos bem. E eu te disse pelo telefone. Essa minha vontade de comer frango assado ao suco de laranja está quase me enlouquecendo. Eu não consigo dormir. – Ela suspira e me encara esperançosa. – Falando nisso, você encontrou?

— Não. – Respondo, colocando as compras do lado da mesa que havia no meio da cozinha e onde estava o notebook da loira. Ela me encara desanimada e posso ver a tristeza assumir o brilho de seus olhos. Reviro os olhos ao ver o tamanho da importância que ela estava dando para esse maldito frango. – Mas, eu falei que ia dar um jeito. Então, terá que se contentar com a minha comida.

— Você vai cozinhar para mim? – Felicity pergunta surpresa.

— E eu tenho outra opção? – Questiono, tirando os ingredientes das sacolas. Pego meu celular e coloco na receita mais uma vez. – Eu te disse. Ninguém vende frango assado em plena madrugada durante a semana. Como eu encontraria alguém vendendo algo tão específico como o seu tão desejado frango assado ao suco de laranja?

— Não reclame. Você prometeu que faria tudo o que eu mandasse. – Responde, sorrindo divertida. – Na verdade, agora eu estou planejando te tornar o meu cozinheiro particular. Que mulher não deseja ter um homem bonito cozinhando para ela. Isso é incrivelmente sexy.

— O quê? – Paro o que estou fazendo e a encaro, incrédulo. Felicity ri de minha reação e eu sinto meu ego inflar um pouco com as palavras da loira. – Então quer dizer que você me acha incrivelmente sexy?

— Você não ia cozinhar? Pare de enrolar e faça logo o meu frango assado ao suco de laranja. Você está atrasado! -  Responde Felicity, envergonhada, mudando de assunto. Essa foi a minha vez de ri de sua reação.

— Eu prometi que faria, mas como você pode agir de maneira tão fria depois de ter me acordado de madrugada, rodar pela cidade toda atrás do seu desejado frango e ainda ter que cozinhar para você? Não sente nenhum pouquinho de culpa? – Brinco, bem-humorado. E como Felicity continua sendo uma incógnita para mim, ao invés de me retrucar, ela permanece em silêncio.

— Obrigada. – Agradece Felicity, parecendo realmente tocada com a minha atitude. Encaro-a pelo canto do olho e somente o sorriso que ela possuía em seus lábios foi o suficiente para me fazer sorri satisfeito.

Temendo que a receita pudesse dar errado, passo a prestar atenção no que fazia e cada movimento meu era feito com cuidado. Eu tinha que acertar essa receita. Felicity e o bebê estavam contando com isso. E quando finalmente chega a hora de colocar o frango para assar, percebo que estava sendo observado com atenção por Felicity. Correspondo ao olhar, confuso. Havia algo de diferente na maneira como ela me olhava.

— O que foi? – Pergunto, curioso. – Por que está me olhando assim?

— Nada. – Responde a garota, desviando o olhar, enquanto acariciava a barriga. Ela parecia envergonhada com por ter sido pega.

Com a chegada do quarto mês de gestação de Felicity, já não estava mais sendo possível esconder a gravidez. Ainda que discreta, a loira já exibia a barriga um pouco maia avantajada e seus enjoos, mudanças de humor e a fome insaciável não estavam passando despercebidos pelos nossos colegas de trabalho e, principalmente, pelo tio, que a encarava desconfiado todos os dias que ela apresentava uma reação atípica de seu comportamento.

Tommy e eu nos mantínhamos vigilantes e tentávamos a todo custo não deixar tão evidente a nossa preocupação, o que não era uma tarefa fácil, tendo em vista que Felicity é a pessoa mais desastrada do mundo. Por outro lado, eu também me sentia cada vez mais envolvido e disposto a participar de cada etapa da gravidez de Felicity. Isso me trazia lembranças de minha mãe e minha irmã. E, surpreendentemente, eu me sentia bem por isso. Era como ter um pouquinho delas de novo.

E meu cuidado excessivo com Felicity também gerava desconfiança em nosso departamento, ao ponto que já estava sendo um pouco complicado saímos juntos mesmo que fosse para trabalhar. Tommy também não era a pessoa que mais ajudava. Com sua perspicácia, ele já havia notado que eu me sentia mexido por Felicity e fazia questão de me provocar e criar situações embaraçosas para me fazer expor meus sentimentos.

Foi complicado admitir a mim mesmo que eu estava mesmo apaixonado por Felicity, mas depois de tudo que já havíamos passado e em tão pouco tempo, eu também já não era mais possível negar a mim mesmo que estava gostando de Felicity. E isso era assustador. A intensidade de meus sentimentos me assustava. Eu nunca havia me sentido tão balançado por alguém como eu sentia por ela. Nós nem mesmo havíamos nos beijado e eu já sentia uma necessidade absurda de protegê-la de tudo.

Eu sabia que muita da minha proteção era paranoia. Felicity é desastrada e impulsiva, mas também é uma mulher forte e saudável. No entanto, não havia momento algum em que eu não a encarasse, mexendo discretamente em sua barriga e eu não me lembrasse de minha mãe e Thea. Inevitavelmente, eu me via preso ao passado, temendo pela vida das duas mulheres que eu mais amava. E sendo o garoto sem qualquer poder para mudar aquela situação, elas morreram antes que eu tivesse ao menos a chance de me despedir.

 E tudo que me restou de minha mãe e irmã foram lembranças dolorosas e amáveis de dias que jamais voltarão. Então, como se a vida tivesse me dado uma segunda chance, Felicity aparece de maneira inesperada e atrapalhada. Como em um campo minado, eu sentia que precisava estar sempre em alerta quanto as atitudes da garota e o mais estranho nisso tudo é que eu não me sentia incomodado ou irritado por ela ter se tornado o centro da minha atenção.

Eu já não sentia mais vontade de sair e nem de me envolver com outras mulheres. Eu até mesmo havia tentado ir a uma balada com Tommy, mas me senti deslocado, como se eu já não pertencesse mais àquele mundo. Por isso, uma hora foi o máximo que consegui suportar antes de deixar meu amigo nas mãos de outras quatro mulheres e retornar para casa, ligar para Felicity para garantir que ela estava bem e ir dormir.

No fundo, por mais que eu não quisesse admitir, Felicity havia me mudado muito mais que eu gostaria. E eu sabia que na verdade, a culpa era dessa criança que a loira carrega em seu ventre. Como um imã, eu me sentia cada vez mais ligado a ela e ao bebê, que Felicity afirma que é uma menina. Eu não sabia dizer qual o motivo que me levava a amar tanto essa criança, sem nem mesmo ter qualquer ligação com ela. A única coisa que eu sabia explicar era que meu maior desejo nesse momento, é permanecer ao lado de Felicity o máximo que eu puder. Nesse momento, ainda que ela possa não me ver como eu a vejo, somente o fato de poder ser a pessoa em que ela mais confia é o suficiente para mim.

— Você já... sentiu o bebê mexer? – Pergunto, aproximando-me de Felicity. Ela me encara e suspira, dando de ombros.

— Não. Eu achava que sentiria em pouco tempo o bebê se mexer, mas parece que ela não está disposta a me dar essa emoção. – Murmura, encarando a própria barriga.  Encaro o mesmo lugar que ela e sinto uma estranha vontade de acariciar seu ventre, assim como eu fazia em minha mãe quando era criança. – Você quer tocar?

— Como? – Questiono, surpreso. Ela me encarava com um sorriso doce e compreensível em seus lábios.

— Minha barriga. Você quer tocar na minha barriga? – Pergunta novamente e depois ri, envergonhada. – Eu jamais imaginei que perguntaria isso a um homem que não fosse o meu falecido marido.

— Eu posso? – Digo, hesitante. Eu sabia que Felicity tinha alguns problemas toques por causa dos problemas que sofreu quando criança por causa da profissão da mãe. Ela não gostava que as pessoas a tocassem e muito menos de que invadissem seu espaço pessoal. – Quero dizer, eu sei que...

— É estranho, mas, diferente das outras pessoas, eu me sinto segura com você, Oliver. – Felicity me interrompe e ajeita os óculos sobre o rosto, envergonhada. – Depois de tudo, eu não tenho receio de ficar sozinha em um lugar com você. Me sinto segura quando seguro sua mão. De todas as pessoas nesse mundo, você é o primeiro homem com quem me senti assim. Eu não sei explicar. Eu só... sinto isso.

— Nem mesmo com Ray? – Questiono, ansioso por ouvir sua resposta. Mas logo me arrependo ao ver Felicity assumir uma postura mais séria.

— Ray foi alguém muito importante em minha vida. Ele foi a primeira pessoa a acreditar que eu não era somente a filha de uma atriz pornô. Que por detrás da fama da minha mãe, havia uma garota quebrada e que precisava de amor. Mas havia um problema. – Responde, encarando-me com sinceridade. – Por mais que eu tentasse, jamais consegui me encaixar no padrão de esposa perfeita de Ray. Por isso brigávamos com tanta frequência. Ele queria que eu fosse alguém que jamais eu conseguiria ser. Eu o amava e acho que ele também me amava. No entanto, eu queria que antes de ser meu marido, ele fosse meu melhor amigo, alguém em quem eu pudesse contar qualquer coisa. Nunca fomos assim. E somente agora, depois de superar um pouco a dor de perder alguém que se ama e de começar a refletir sobre nossa relação, eu vejo que nossa relação estava fadada ao fracasso.

Permanecemos em silêncio por um tempo. A culpa ainda estava presente em seus olhos e a dor era nítida em sua voz. Ainda que tivesse aceitado a morte de Ray, isso não significava que ela tinha superado a culpa pela morte do homem. Suspiro. A pior parte de se amar uma pessoa era se sentir incapaz de tirar sua dor. E eu estava aprendendo isso da pior maneira possível. Eu não queria ver Felicity assim. Eu queria que ela se sentisse amada e feliz.

— Eu... quero tocar a sua barriga. – Respondo, retornando ao nosso assunto anterior.

Felicity sorri e levanta um pouco a blusa, revelando a leve protuberância em sua barriga. Nervoso e ansioso, aproximo-me da loira. Eu sabia que não fazia sentido algum eu me sentir tão abalado somente com o fato de tocar pela primeira vez a barriga de Felicity, mas ter aquele contato com ela e o bebê me deixava feliz. Era como se as lembranças felizes de minha infância voltassem a minha mente naquele momento. Os dias em que minha mãe permitia que eu conversasse com Thea em sua barriga e até mesmo contasse histórias infantis para as duas, alegando que estava treinando para ser um bom irmão mais velho. O mesmo sorriso presente nos lábios de Felicity estava presente nos de minha mãe em minhas lembranças. Sorrio nostálgico.

Ajoelho-me ao lado da cadeira de Felicity e levo minha mão a barriga da loira. Sinto a pele macia de minha colega de trabalho e passo a acariciar o local. Por alguns instantes não há reação alguma. Mas eu me sentia feliz. Aquele momento era especial para mim, ainda que a bebê continuasse quieta. Sorrio como uma criança. Céus, era exatamente a mesma emoção que senti quando toquei a barriga de minha mãe pela primeira vez! Eu preciso me segurar para que as lágrimas não se formassem em meus olhos.

— Quando minha mãe estava grávida de Thea, eu gostava de acariciar a barriga dela. – Conto e Felicity me encara com interesse. – Eu me lembro que eu contava histórias para a minha ela, afirmando que Thea conseguiria me ouvir. Eu desejei tanto ter uma irmãzinha e quando soube que era uma menina, eu não podia ter ficado mais feliz. Agora, tocando na sua barriga, as mesmas emoções que senti naqueles meses mágicos voltaram como as lembranças de um doce sonho que ficaram para trás. Eu realmente espero que você nasça bem e saudável, bebê. Seja homem ou mulher, torço para que cresça e se torne uma boa pessoa, assim como desejei que Thea se tornasse.

E parecendo me dar sua resposta, o primeiro chute do bebê é dado. Forte e repleto de vida. Felicity me olha assustada, como se questionasse se estava realmente acordada. Era inexplicável a sensação. As lágrimas se formam nos olhos da loira e ela sorri largamente. Com certeza era um momento único para ela. Era a primeira vez que ela realmente sentia carregar uma vida dentro de si. E como dois bobos, as lágrimas escorrem por nossas faces. Eu não entendia o motivo de estar chorando. Eu apenas sentia que aquele momento era tão especial como quando ouvimos o coração do bebê.

— Ela se mexeu, Ollie. – Sussurra, rindo emocionada. – Ela finalmente se mexeu!

— Sim. – Respondo, atordoado. Por instinto, aproximo-me ainda mais de Felicity e toco minha testa em sua barriga. – Obrigado por me responder, bebê.

Mais uma vez sinto o chute da criança e isso faz Felicity ri ainda mais. Ela leva sua mão a minha cabeça e acaricia meu cabelo. Olho para ela e a felicidade presente em sua expressão era única. Afasto-me de sua barriga e me levanto. Limpo as lágrimas que manchavam sua face e volto a acariciar sua barriga, sentindo vez ou outra o agito do bebê. E mais lembranças de minha irmã mais nova voltam a minha mente, mas diferente de todas as vezes em que me sentia mal, pensar em Thea naquele momento me trouxe conforto e amor. Como se eu pudesse senti-la mais uma vez.

E nós permanecemos assim por quase uma hora, até que o frango estivesse pronto e os raios de Sol dessem seus primeiros sinais de vida. Felicity e eu não trocamos palavras alguma. Permanecemos em nosso próprio mundo, curtindo o momento. Mesmo depois de ter se acalmado novamente, minhas mãos se tremiam e formigavam com as sensações indescritíveis que eu havia presenciado naquele momento com a loira.

 Assim que sirvo o prato de Felicity com o tão amado frango assado ao suco de laranja. Preparo a sua tão amada limonada e, como uma desesperada, ela começa a comer freneticamente. O dia já havia amanhecido e brilhava intensamente, deixando claro que o dia seria quente. Observo a janela da cozinha e encaro o céu pintado em diversas cores. O azul e o amarelo se misturavam e davam uma linda visão para nós. Um sorriso escapa de meus lábios. Algo me dizia que aquele dia seria muito bom.

— Ollie. – Felicity me chama, parando de comer. Ela estava pensativa e uma de suas mãos pousava sobre sua barriga. Ela parecia nervosa e incerta. Encaro-a, paciente. Ainda que estivesse curioso, respeitaria o tempo da garota. Ela respira fundo e me lança um sorriso hesitante. – O que acha de dar mais uma chance a sua irmã?

— O que você quer dizer com isso? – Pergunto, confuso. Como eu poderia dar mais uma chance a minha irmã? Felicity me encara com carinho e se levanta. Com passos suaves e um sorriso gentil, a loira segura as minhas mãos.

— O que eu quero dizer, Ollie, é que essa garotinha aqui dentro de mim – Felicity pega em minha mão e a leva até sua barriga. Sinto a criança se mexer mais uma vez. – irá se chamar Thea. Assim como um dia, ainda que muito pouco, sua irmã pôde experimentar um amor tão grandioso e puro que você deu e a felicidade que recebeu em retorno, eu quero que essa criança possa curar todas as cicatrizes de nossos corações tão machucados. Então, Oliver Queen, o que você me diz?

E como resposta, a única coisa que consigo fazer é levar uma de minhas mãos a nuca de Felicity e acabo com a distância que ainda havia entre nós. Nossos lábios se tocam de maneira intensa, ainda que fosse apenas um selinho. Eu não conseguia pensar direito, estava agindo apenas por impulso. Surpreendentemente, Felicity abre levemente os lábios e aquele era o sinal que eu desejava para que pudesse aprofundar aquele beijo. Era mágico, único. Uma bomba de sentimentos explodia dentro de mim.

Nossas bocas se moviam em um ritmo intenso e enlouquecedor. A sanidade e a loucura andavam lado a lado. Meu corpo inteiro parecia embriagado pelo sabor único de Felicity. O gosto de frango, laranja e limão se misturavam ao seu próprio sabor. E aquela mistura nunca pareceu tão saborosa como naquele momento. Eu explorava cada canto de boca, preso naquela sensação inexplicavelmente apaixonante. E quando nós nos separamos em busca de ar e nossos olhos se encontraram, o azul intenso dos olhos claros de Felicity me trouxeram a certeza de que independentemente do que veria a seguir, eu lutaria por ela. Lutaria por nós. Por Thea.


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Notas finais do capítulo

Oii Cupcakes ♥! O que acharam? E depois da votação acirrada, o nome Thea foi escolhido com 28 votos contra 24 do nome Olivia. Foi realmente incrível essa votação. Espero que esse capítulo tenha agradado vocês. O próximo será mais intenso e teremos a participação de Donna para deixar tudo mais divertido. Ah, e participem dos meus grupos de leitores. Os links estão logo abaixo. Beijocas ♥!

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