Lia, todos os anos, seu exemplar já surrado de O Pequeno Príncipe. Alguns anos lia cinco vezes, outros, uma única, e ainda havia os que estava mergulhada em melancolia, lendo nada menos que doze vezes.

Gostava das formas como Antoine de Saint-Exupéry sabia contar uma história, era gentil o bastante para que o lesse desde a infância, mas cada vez que lia um detalhe que parecia novo lhe chamava atenção, tirando de si a sensação de uma leitura leve, era pesado e delicado, o que só lhe dizia como era doce sua forma de contar uma história.

Gostava das formas como se via naquele piloto, tão só e que abria mão de sua imaginação, o que explicava porque costumava desenhar jibóias engolindo elefantes em seus braços, e não chapéis. Queria contar a todos sobre como o fundo do mar era interessante, e ainda assim se contia, mostrando o quanto sabia de física.

Era o menino, e a rosa, e a raposa e ainda a serpente. Aquela história a descobria por inteiro, e a sacudia com suas frases que poderiam ter tanto impacto quanto um soco. Havia sido cativada, e se perguntava se aquilo fazia deles responsáveis por si.

Ainda assim, pensava apertando o livro contra seu peito dolorido, aquilo não tornava mais fácil construir pontes. Nem muros. Estava mergulhada na tristeza da perda, ainda que não soubesse muito bem o que perdera, porque nunca poderia dizer que aquele garoto um dia lhe pertencera.

Ele ficara por pouco tempo, mas levantou-se e partiu, não para um asteróide, mas longe o bastante para que seu coração ardesse em mágoa. Ele não havia sido cativado, e para ele, era uma garota como cem mil outras.