Um momento de placidez escrita por Meizo


Capítulo 1
Depois da tempestade, vem o silêncio


Notas iniciais do capítulo

A saga dos corvos deveria ser mais reconhecida, aquele negócio é bom demais!



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Após as desventuras ocorridas no final da busca de Glendower, Gansey achou que todos eles mereciam um descanso apropriado e, com toda sua boa intenção, sugeriu que passassem um final de semana longe da cidade de Henrietta. Talvez em alguma das casas de campo da família. Sugestão essa que foi prontamente rejeitada por Adam, que aproveitou para lembrá-lo das provas que teriam na semana seguinte. Por mais que estivessem cansados, a vida não parava só por eles terem salvado o dia. Além, é claro, da sugestão também ter sido veemente rejeitada por Blue, que não achava a ideia de ter um passeio às custas do dinheiro da família do seu recente namorado uma forma ideal de relaxar.

No final acabaram decidindo unanimemente que a Barns era mais do que adequada para este fim. Então, no sábado abafado e com algumas nuvens, os garotos se reuniram na varanda da atual moradia de Ronan e permitiram-se ficar largados pelo chão, desfrutando da companhia uns dos outros. Henry surpreendera a todos fazendo torradas com uma receita secreta de uma de suas avós e Blue levara o suco. Havia também uma pequena cesta com umas frutas exóticas colhidas, ali na Barns mesmo, pelo próprio Ronan.

Conversas sem importância rolavam entre o grupo de amigos até que Henry os relembrou da oferta de saírem viajando para a Venezuela (ou seria Peru?) e Blue e Gansey riam agora que viam uma real possibilidade na tal oferta. Antes, apesar de terem achado a ideia atraente, por saberem da previsão da morte certa de Gansey não a cogitaram com seriedade. Atualmente, no entanto, o céu era o limite. Ou talvez nem o céu pudesse ser um limite visto que Richard Gansey III estava envolvido.

Adam, exausto dos trabalhos do dia anterior, descansava apoiado na parede, vez ou outra dando longas e preguiçosas piscadas. Algo que não se permitia sempre, já que o passar dos anos o fizera ser tão perceptivo e atento quase em tempo integral. Durante os outros dias antes de matarem o demônio, havia também a preocupação angustiante dos apelos de Cabeswater e a incessante procura pelo rei adormecido, mas agora que havia certa paz e tranquilidade ele podia desfrutar para descansar um pouco. Ou pelo menos até que voltasse a seu dia-a-dia corrido na segunda-feira.

E percebendo o estado sonolento do outro rapaz, Ronan sentou-se ao lado dele, o puxando para que descansasse a cabeça em seu ombro. Adam não resistiu. Aquela altura não havia a menor necessidade de fingirem não terem algo. Mais ao longe, a Garota Órfã trotava de um lado para o outro se divertindo com objetos estranhos que achava por aí, e Motosserra voando ao redor dela, grasnando como se a censurasse, fechava o cenário confortável construído naquele dia.

— É, sério. — Henry balançou uma torrada enquanto olhava sonhadora mente para o horizonte. — Um dos meus sonhos é usar um daqueles ponchos peruanos e cantar as músicas típicas de lá como um verdadeiro nativo.

— Sem roupa por baixo, tipo a toga da sua festa? — o comentário de Blue fez Gansey rir ainda mais e Ronan fazer uma careta. Ele se sentiu poupado de não precisar ter visto a turma de Henry (e Henry) vestindo nada além de um lençol branco.

Henry sorriu pra ela sem perder nem um pouco do seu bom humor.

— Acho que isso não seria visto com bons olhos pela população local. — Gansey acrescentou, enroscando os dedos com os de Blue.

— Sim. E não queremos ser presos, não é mesmo? Pelo menos não tão rápido assim. Qualquer coisa uso o poncho sem roupas por baixo somente dentro do carro.

Gansey o encarou horrorizado.

— Nada de nudismo dentro do Pig!

— Então isso é uma confirmação de que iremos? Já até sabe que iremos no seu carro! Preciso preparar minha lista de lugares para visitar quando estivermos lá.

Gansey deu de ombros.

— Bem, tenho nada contra irmos. O que acha, Jane?

Henry já estava no meio de uma resposta atrevida quando Ronan chamou a atenção deles.

— Aquilo na mão dela é uma abelha?

No mesmo instante Henry se virou para a direção da Garota Órfã e viu a menina segurando uma vasilha transparente e comprida com uma abelha zumbindo dentro.

— Abelhabô! — gritou, tão horrorizado quanto Gansey pareceu ao proibir nudismo no Pig, e saiu correndo atrás da menina que trotou ainda mais rápido para não se deixar alcançar.

Ainda na varanda, Blue se aconchegou mais em Gansey e tomou um gole de suco. Um pensamento rápido sobre se teria sido melhor ter levado iogurte no lugar de suco lhe ocorreu, mas logo deixou pra lá ao ver o desespero estampado na face de Henry.

— Não deveríamos ajudá-lo? A Garota Órfã parece estar se divertindo... — torceu a boca ao pronunciar a maneira que se referiam a menina tirada dos sonhos. — Tinha nome melhor não, Ronan? As vezes sinto como se estivesse ofendendo ela ou algo assim.

Ronan apenas encarou a correria desesperada de Henry com um sorrisinho satisfeito nos lábios.

— Eu a chamava assim porque era como ela me parecia quando a achei. Posso pensar num nome pra ela agora, se quiser.

Gansey e Blue se entreolharam rapidamente. Ambos pareciam pensar que Ronan não era muito bom em dar nomes visto que tinha nomeado a pobre filhote de corvo de Motosserra. As vezes sentiam pena da pobre ave.

— Que acha de Amélie? — o jovem de rosto presidencial sugeriu de repente.

Ronan balançou a cabeça de leve, tentando não se movimentar muito para não acordar Adam.

— Estava pensando em Opala.

Blue piscou surpresa.

— Tipo a pedra Opala? Nossa, não sabia que você podia ter uma ideia tão boa.

Ronan pensou em informar que na verdade a referência do nome era sobre carros, mas preferiu deixar Blue pensar o que quisesse. Ele não tinha o dever de dar informações sobre inspirações de nomes, que aliás eram muito bons modéstia à parte.

— Tem alguma reclamação sobre Motosserra, Sargent?

Sorrindo e nem se dando o trabalho de responder, Blue se levantou e correu para ajudar o membro mais recente do grupo a capturar Opala. Pouco depois Gansey também se levantou e correu para oferecer uma mãozinha, mas não antes de fazer uma rápida troca de olhares com o greywaren, daquelas que havia uma conversa inteira sem pronunciar uma palavra sequer. Ronan sabia que mais cedo ou mais tarde eles, de fato, partiriam em uma nova aventura. E sabia também que era incapaz de se afastar da Barns agora que finalmente voltara a ter direito de frequentá-la. Apesar disso, não se sentia abandonado ou excluído como achara que ficaria. Gansey era uma pessoa irrequieta e era surpreendente que tivesse ficado num canto só por tanto tempo. Desde antes da descoberta de Cabeswater, Ronan se vira imaginando seus caminhos se separando depois que Glendower fosse achado. Por isso não havia espaço para surpresa.

Suspirou vagueando o olhar entre os pratos com algumas torradas restantes e os três que vibravam por terem finalmente pegado o recipiente com a abelha. Aquela era uma ótima tarde.

*

Adam só acordou no anoitecer. Tinha sido levado para o sofá da casa e deixado numa posição confortável com Motosserra empoleirada confortavelmente perto de sua cabeça. A ausência das vozes barulhentas de Henry, Gansey e Blue, deixou claro que os outros já tinham ido embora, portanto dormira bem mais do que o esperado. Com o cuidado para não derrubar o corvo do lugar, Adam se sentou esfregando os olhos, meio sonolento. Havia som de panelas ou algum outro utensílio doméstico sendo usado na cozinha — e também um cheiro bom de comida sendo preparada — e pensou em ir para lá, mas antes que pudesse se levantar a menina com cascos apareceu trotando apressada com uma colher mordida na boca e algumas outras nos braços.

— Opala, volte aqui agora e me devolva essas colheres! — Ronan ordenou aparecendo logo atrás dela com a blusa preta suja de farinha.

Havia algo de tão caseiro na cena que uma quentura agradável se formou no peito de Adam. Opala não se afastou muito mais, pois o tom de voz de Ronan indicava que não era uma boa ideia prosseguir com aquilo. Então, relutante, ela voltou e estendeu a porção de colheres para Ronan.

Adam se levantou e caminhou até eles.

— Então seu novo nome é Opala? — perguntou olhando diretamente nos olhos escuros da menina.

A garota assentiu parecendo feliz em vê-lo acordado, enquanto Ronan o avaliava dos pés a cabeça como se procurasse rastros de cansaço.

— Quer comer, Parrish? Não está muito bonito, mas é comestível.

A quentura aumentou mais um pouco no peito e Adam não conseguiu evitar o sorriso leve, e até meio bobo, de aparecer.

— Por favor não me diga que deu esse nome por causa daquele carro brasileiro, Lynch. Isso foi coisa sua, não é?

Agora quem sorria divertido era Ronan, um pouco orgulhoso de Adam ter entendido sem ter precisado explicar. Ele gostava de Adam conseguir ler algo das confusões de linhas que ele sabia ser.

— Se não quer que eu diga, então não pergunte.

Adam suspirou, aceitando a mão que Opala estendia e dando um ligeiro beijo nos lábios de Ronan. No sofá Motosserra crocitou, informando que estava acordada também.

— Vamos lá ver o que você cozinhou dessa vez. Espero não morrer envenenado.

 

 


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Notas finais do capítulo

Uma ficzinha só pra demonstrar o meu amor por esses meninos ♥



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