Calmaria escrita por Hyukshi


Capítulo 1
Capítulo único: Calmaria




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/758889/chapter/1

 

Calmaria:

1. Ausência de ventos. 2. Grande calor sem vento.

 

 

Hyukjae e Donghae são duas pessoas normais. Absolutamente normais. Talvez, até normais demais para dois rapazes de 16 anos.

Mentira, Hyukjae já fez 17, em abril!

Sempre foi assim, Donghae nunca conseguiu (e isso é óbvio) alcançar a idade de Hyukjae. E isso o deixava triste. Não por que ele queria ser o hyung, mas sim porque ele queria comemorar o aniversário dos dois no mesmo dia, no mesmo instante.

Ainda era julho, férias de julho, e Donghae já se preocupava com seu aniversário, daqui a três meses, em outubro. Ele estava preocupado se o bolo seria de chocolate ou de morangos com chantili. Mas, dessa vez, diferente do ano passado, ele tentaria convencer sua mãe a fazer o gosto de seu melhor amigo.

00h48, marca o relógio digital na escrivaninha. Hoje é dia 18 de julho de 2003, sexta-feira, segundo o calendário pendurado com um prego enferrujado na parede. Está calor, e os dois, Donghae e Hyukjae, estão sentados no chão, nas posições que mais julgaram confortáveis; o ruído do ventilador é a única coisa audível por ali. Os pais de Donghae precisaram ir para outra cidade, e Hyukjae o convidou para dormir em sua casa no fim de semana. Algo absolutamente normal para dois amigos próximos. Porém, o clima acabou ficando meio pesado após uma conversa mais íntima, na qual ambos acabaram descobrindo que são dois virjões.

Qual é, que Donghae era um todo mundo já sabia, seus colegas de classe viviam tirando sarro e fazendo piadas, quela coisarada toda… mas, e o Hyukjae? Que história era aquela de namorada peituda e primeiro beijo na chuva?! “Donghae, você é a única pessoa do mundo (será que os pais dele não sabiam também?) que sabe que isso não é verdade, por favor, não conte nada!” Naquele momento, Hyukjae quase suplicava de quatro no chão. Seu estilo todo descolado estava indo para o vinagre. Aliás, já tinha ido, porque Donghae achava legal aquele exemplo todo.

“Eu não vou contar. Só não precisava mentir tanto desse jeito pra mim.” E então, os dois ficaram quietinhos, olhando para o teto, ou olhando para a janela aberta. As luzes da rua iluminavam sutilmente o quarto, já que a lâmpada do teto estava apagada. A noite estava bonita – serena, lua visível e céu perfurado de estrelas –, bonita demais para ser desperdiçada de uma maneira tão fútil.

— Hyukjae? — Donghae chamou, baixo, apreensivo.

— O quê? — Hyukjae respondeu, meio seco, na verdade, constrangido.

— Então você nunca beijou? Mesmo?

— É.

— Por que disse aquilo? Por que ficou contando aquelas coisas?

— O que queria? Que eu contasse que a única pessoa que eu beijei na boca, além dos meus pais, foi a minha irmã? — Donghae riu em um sopro, e Hyukjae ficou sério, quase decidindo se deveria rir, ou não, assim como Donghae.

— Já sabe da minha fama, não tenho muita coisa pra falar! — Agora, Donghae sorria para Hyukjae, como se dissesse “ tudo bem, cara, até parece estranho com a nossa idade, mas, tudo bem, eu te entendo”. Seus dentinhos tortos são verdadeiramente um charme.

— Nunca? Nunquinha, Donghae? Com ninguém?

— Com meu travesseiro. E com um primo, uma vez. Mas a gente era criança.

— Mas! O seu primo! — Hyukjae passava uma expressão de espanto. “Dois garotinhos”, ele pensava, “isso não certo, ?”

— Sim, meu primo! Ah, e um dia, ele nos viu na rua, juntos. Ele disse que deveríamos nos beijar…

— O-o que… quê? — Hyukjae agora sentia uma sensação inédita. Sentiu seu rosto esquentar repentinamente, esquentar tanto, que ardia. E sentiu algo em seu corpo, algo que ninguém sabe o nome. Não, quer dizer, até sabem, mas existem várias variações; será isso mesmo? Umas borboletas no estômago, mas, assim, umas borboletas bem nervosas, mesmo. Hyukjae ficou paralisado, com os seus olhinhos meio arregalados e os lábios imóveis – mas, ainda assim, um pouco trêmulos.

— Hyukjae!? — Donghae chamou, preocupado.

— Ele disse isso… Por que ele disse isso?

— Ele me falou que não vale muito a pena dar seu primeiro beijo em qualquer um, então, devia ser alguém que eu goste muito. Mesmo que eu tenha que esperar, entende?

— Você… você gosta de mim…?

— H-hyukjae… é claro que eu gosto. Nos conhecemos desde os onze anos, o que acha? — Donghae deveria dar uma resposta (bem) melhor, mas não conseguiu; suas palavras morriam antes mesmo de chegar em sua garganta. E proferir essas poucas coisas que conseguiu foi um sacrifício pra ele, principalmente com um coração martelando dentro das costelas.

— Olha, eu também gosto de você. Mas… Eu não te beijaria… Não, não mesmo.

— Ah, eu também não sei se aceitaria fazer isso com você… — Oh, Donghae, o que está fazendo? Todos aqui já sabem que você está mentindo…

Ambos, então, ficaram em silêncio por alguns poucos minutos.

— Sabe, — Hyukjae tomou a iniciativa de conversa — eu queria beijar logo.

— Não quer tentar? — Donghae falou, da boca pra fora, sem medir que estava dizendo. Não sabia se devia se arrepender por isso. Os dois, então, encararam-se assustados; e, quando perceberam, estavam perto demais, quase fechando os olhos, pois a força do momento implorava para que ambos se inclinassem mais, para, finalmente, se encontrarem naquele gesto tão íntimo.

Porém, em vez de olhos fechados e um selinho, o que tiveram foi uma porta sendo aberta, e a mãe de Hyukjae, com sua camisola comprida e seu cabelo levemente desgrenhado, mais o rosto inchado de sono, aparecendo como um vulto no escuro.

— Garotos, vão dormir, está tarde. — Ela bocejou, fechou a porta devagar e arrastou os pés até seu quarto, assim como foi possível ouvir de onde Donghae e Hyukjae estavam.

— Hyukjae… — Donghae sussurrou — Hyukjae, desculpa.

— É melhor eu aceitar logo que nenhuma garota vai me dar bola tão cedo.

— Hã?

— Me beija logo.

— Hyukjae!

— Anda!

— T-tá.

O que Donghae sentia era praticamente impossível de ser dito com palavras. Um misto de sentimentos, chocando-se violentamente uns nos outros, como em um liquidificador, ha. Esse sentimento tinha gosto de vitamina.

A respiração dos dois era falha e apressada, e, conforme se aproximavam ainda mais, era possível sentir o calor das bochechas rubras um do outro, e o hálito quente que, às vezes, escapava pela boca, como em um atalho.

Donghae finalmente desviou seu olhar direto para o de Hyukjae, agarrando seus ombros trêmulos, e, logo após, fechando os olhos, porque assim era melhor. Seu primo havia lhe contado isso também.

— Hyukjae…

— H-hm?

— Feche os olhos. — Donghae nunca havia tomado uma iniciativa tão complexa em sua vida.

Um fragmento de segundo bastou para aquele tão esperado, e tão sutil toque acontecer. Era macio, era delicioso, era de tirar o fôlego. Os corações frenéticos batiam no mesmo ritmo, em uma frequência única. Na calmaria daquela noite quente, abraçaram-se, pela primeira vez, de uma forma

cúmplice, como em uma promessa de que jamais iriam se esquecer da sensação que acabaram de compartilhar.

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Calmaria" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.