Level Up: Almas Entrelaçadas (Interativa) escrita por Mast


Capítulo 8
Jovem Demais


Notas iniciais do capítulo

Olê!
O capítulo é mais curtinho dessa vez mas ainda achei sinistro
Espero que vocês tenham gostado hashahshas
Eu já estou meio que aceitando que mt provavelmente não vou ter mais gente nova que deixa comentário nos capítulos, mas tudo bem, eu aprecio de mais todo comentário que recebo HASHASH
Até lá em baixo!



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A noite havia chegado. Norman agradece à meia-elfa, que havia acabado de tratar suas feridas, antes que ela saísse do quarto da taverna. 

O mago anda até a janela e olha para a rua escura e vazia. Ele gentilmente põe as suas mãos nela.

Subitamente, seu rosto se contorce numa expressão de ira. O homem treme de ódio, e dá um golpe na madeira, ferindo sua própria mão e contorcendo o material levemente.

“Seu monstro.”, ele diz, entre os dentes cerrados. “Eu vou lhe matar. Eu vou lhe matar!”

 

Kairon se levanta de sua cama. Já havia passado da meia noite, e ele não conseguia dormir.

O ladino, se vestindo de maneira até casual, sai do seu quarto na taverna em que eles tinham ficado pela noite e desce escadas de madeira até o bar. Despreocupado, ele entra no local, sem olhar muito para seus arredores.

Kai alcança o balcão e põe um pouco de dinheiro sobre ele, se servindo com uma bebida. Enquanto ele a despeja sobre o seu copo, o tiefling finalmente percebe a elfa sentada por perto, a três metros de distância, também no balcão. Seu rosto se contorce com surpresa e um pouco de desgosto.

Ela mantém os seus olhos nele. Era Jessabella.

“Algum problema?”, ela pergunta.

“Claro que não.”

A moça aponta para o álcool, e quando o ladino percebe, ele vê que ainda estava despejando a bebida sobre um copo cheio.

Kairon cerra os dentes, irritado, e para de despejar, prestes a guardar a bebida de volta quando a mulher faz um gesto para ele, pedindo que se aproxime.

“Me vê um pouco disso também.”

O rapaz se move até ela a contragosto, mas lhe oferece o vidro de vinho. Ela faz que sim com a cabeça, agradecendo.

“Senta aí.”, ela pede, o que o jovem faz apesar de não estar muito afim.

Jessabella não estava com os cabelos em trança no momento, nem com seu equipamento. Não era muito diferente do estado atual do ladino.

“Por quê você está acordada a essa hora?”, ele a pergunta.

“Elfos não dormem. Nós apenas meditados por um tempinho e nos sentimos restaurados.”

Kairon levanta uma sobrancelha, e então sorri.

“Nossa. Deve ser incrível poder passar mais tempo acordado.”

A mulher vira o rosto para olhar para ele, então bebendo o vinho. A expressão dela permanece monótona o tempo inteiro.

“Depende. Algumas vezes você acaba sozinho numa taverna de madrugada. Quanto mais cedo se vai ‘dormir’, pior.”

“Ainda é algo invejável.”, o ladino diz. “Tenho certeza que muitas pessoas gostariam de ter nascido elfos.”

Ela não diz nada em resposta a isso, e apenas bebe um pouco mais.

“Precisar de menos sono, ter um rosto e um corpo perfeito naturalmente, viver por centenas de anos e permanecer forte e jovem.”, o tiefling diz. “Não acredito que existe outra raça que as pessoas desejam ser mais do que elfos.”

“Não é tão bom assim.”

Ele levanta uma sobrancelha.

“Não sei.”, Kairon ri. “Parece muito bom pra mim. Talvez se eu tivesse sido um elfo, minha vida não seria uma desgraça só.”

O jovem bebe um pouco do vinho.

“É bem solitário.”, Jessabella diz, mas seu rosto não aparenta nada. Talvez ela já tivesse aceitado isto como fato, ou talvez ela não se incomodasse com isso, no final das contas.

“Sério?”

“Mhm. Eu vou viver mais tempo que a maioria das pessoas que eu conhecer. Ainda sou bem jovem, então qualquer humano que eu ver nascer irá envelhecer e descer à cova antes de mim.”

O ladino se reclina um pouco para trás. É verdade.

“Não é fácil saber que qualquer amigo que você fizer que não seja um elfo irá morrer muito antes de você. Não é uma vida simples.”, ela diz.

“Verdade. Mas acho que ainda valeria a pena.”

“O quê?”, ela pergunta, levantando um olhar indagador e um pouco intimidante para o ladino.

“Ter amigos, acho. Ou, não sei. Tentar.”, Kairon diz, e sua cauda balança uma única vez.

“Não vejo a necessidade. Só vou ficar mais triste quando eles morrerem, não vou? Não tem porque se apegar.”, Jessabella responde, balançando a cabeça. “E se eu morrer antes, não quero ser um empecilho para ninguém.”

“Entendo.”

Os dois bebem em silêncio por um tempo.

“Você não sente vontade de ter uma vida normal, às vezes?”

Kairon olha para a elfa, curioso.

“Tipo, de nascer numa família humana normal, onde seus pais tem um trabalho normal e você é uma pessoa normal? Sem esse...não sei.”, ela gesticula um pouco. “Sem todo esse sangue e morte.”

O tiefling pensa um pouco. Era natural que ambos, sendo de raças mais distintas do que os comuns seres humanos, não seriam tão normais quanto.

“Às vezes. Ter uma família que sinceramente gosta de você seria bom.”, Kai ri. “E não ter que me preocupar em passar ou não o próximo dia encarcerado seria muito bom também.”

Ele se reclina um pouco mais na sua cadeira e bebe mais um pouco de vinho.

“Mas ainda gosto disso. Às vezes era uma desgraça mesmo, mas recentemente, vêm ficando melhor.”

“Hm. Entendo.”, a elfa responde. “Eu sinto um propósito no que faço, então não é tão ruim. A adrenalina de caçar monstros é algo bem único. Mas eu gostaria de ainda ter meus pais.”

“Veja pelo lado bom, pelo menos você se importava com eles. Pior é querer que parentes vivos morram.”

Jessabella não entendeu o que o rapaz estava querendo dizer, mas achou melhor não cutucar a questão.

“Pessoas comuns são tão….vulneráveis. Parece até bobo sentir inveja disso.”

Eles ficam em silêncio por um pouco.

“É bobo mesmo.”, Kairon diz. “Mas eu lhe entendo.”

A elfa ri um pouco, até que ela vê algo se movendo em cima do balcão. Ela pula da cadeira dela e anda para trás até uma outra mesa.

O tiefling levanta os olhos para ela, extremamente confuso, enquanto a moça aponta para algo em cima da mesa.

“A..A...Aranha!”

O ladino encara ela com uma expressão vazia, então se vira e vê uma aranha minúscula.

“Sério mesmo?”

“Mata ela logo!”, a moça grita, pisando no chão com força. Era engraçado mas ainda um pouco vergonhoso ver a mesma caçadora que não temeu ao enfrentar a mantícora ter pavor de uma pequena aranha. 

Ele põe a mão na frente da pequena criatura, que sobe em seu braço.

Kairon simplesmente a leva para uma janela e a deixa ir.

A arqueira, percebe que o grande perigo havia cessado e então nota que tinha parecido boba. Ela fica com o rosto vermelho, uma mistura de vergonha e raiva consigo mesma, e anda de volta para o seu quarto, seus passos batendo forte na madeira.

Kai pisca os olhos duas vezes, confuso.

“Ok, então.”

 

A manhã chega. Apesar de estar se coçando para sair da cidade, Norman decide ficar, como tinha sido ordenado pela guarda, até que a situação se resolvesse. Ele diz isso aos companheiros e chama Siegfried para que os dois possam comprar-lhe novos equipamentos.

Os dois seguem pela rua da cidade em silêncio, apenas apreciando o barulho de aves e das pessoas acordando para cuidarem de seu dia.

“Parece que faz tanto tempo que estamos nos aventurando.”

Norman levanta os olhos para o rapaz.

“Não faz tanto tempo.”

“Eu sei. Mas olha o que está acontecendo. Tanta coisa aconteceu durante apenas uma semana. É meio que loucura, não acha?”

O mago faz que sim com a cabeça.

“Sim. Mas não estou muito incomodado. É útil termos amigos para enfrentar os perigos que estão por vir.”

Siegfried põe os dedos de sua mão direita na esquerda. Ela havia se ferido um pouco ao segurar o escudo durante a última luta.

“Claro, claro. Não estou incomodado, também. Mas eu…”

O paladino para. Quando Norman percebe isso, ele para também.

“O que foi?”

Sieg pensa sozinho por um tempo.

“Eu...me sinto feliz. Eu gosto de estar perto de tanta gente. Mas acho que não vai durar para sempre.”

O mago vira o olhar de volta para o caminho a onde estavam indo.

“É. Não vai. Mas se tiver alguém que você queira manter contato, tenho certeza de que vai achar um jeito.”

O garoto sorri um pouco.

“Entendo. Acho que não tem porque me entristecer sem motivo.”

Norman dá de ombros e os dois continuam a andar, logo chegando a um ferreiro. Um anão limpa o suor do rosto e bate numa chapa de metal com seu martelo.

“No que posso ajudá-los?”

“Estamos procurando uma nova espada. E um escudo também.”, Norman diz.

O velho olha para eles com um olhar entediado. Eles não sabiam, mas esse tinha sido o décimo pedido por uma espada nesse mês. Do outro lado do balcão estavam algumas lanças, machadinhas, martelos e outras armas não usadas e que provavelmente não chegariam a ser compradas tão cedo.

O anão coça um pouco a barba branca e se levanta de sua cadeira, andando até a forja, onde uma espada nova e limpa estava pronta. Ele oferece aos dois e põe um escudo no balcão também.

“Quanto custa?”, o mago pergunta. Agora eles só tinham o dinheiro que o clérigo da vila tinham lhe dado.

“Bem, tudo isso vai ficar umas trinta e cinco moedas de ouro.”

“Ótimo.”, ele responde, olhando para o rapaz. “Escutou? Esses daqui são seus agora. Use-os bem.”

“Espera, Norman.”

Siegfried mantêm o seu olhar nas lanças encostadas na parede.

“Vamos levar essas daqui também! Eu tive uma idéia!”, o paladino diz, sorrindo para o seu amigo, que revira os olhos, mas se prepara para tirar mais moedas de sua carteira.

O anão esboça um sorriso largo, feliz de que alguém finalmente estivesse comprando essas coisas.

“Eu lhes dou um desconto!”

 

Os dois voltam pela cidade. Sieg tem uma espada embainhada, um escudo nas costas, e várias lanças curtas em uma grande aljava. Os dois passam por um estabelecimento conspícuo, que possui algumas mulheres draconatas vestidas de forma sedutora na porta.

“Ei, docinhos…”, uma delas diz enquanto os dois passam, sendo devidamente ignorada por ambos, que não possuíam interesse no local.

Tudo isto teria sido apenas um acontecimento comum e cotidiano, mas o que acontece pega os dois desprevenidos.

Uma mulher draconata já de idade avançada corre para fora do estabelecimento e, atrás dos dois, grita.

“Norman?!”

Os dois congelam. Siegfried levanta um olhar curioso e se vira para trás, para olhar para a mulher. Ela tem uma expressão de esperança, confusão e sofrimento. Ela deve ter uns sessenta anos de idade, e seu corpo já não é mais forte.

O mago mantém suas costas viradas para a mulher.

“Norman…? Norman, é você?”

Siegfried abre a boca para falar, mas o homem imediatamente agarra seu ombro com a mão esquerda, sem se mexer além disso. Os olhares dos dois se cruzam e Sieg vê uma indiferença que antes desconhecia no olhar do seu amigo. Ele estava claramente sendo ordenado para não dizer nada.

“Norman….Norman, se esse for você, por favor diga alguma coisa.”, a mulher diz, parecendo à beira das lágrimas.

O homem mais velho vira levemente o rosto para ela, apenas o suficiente para ter um contato visual, mas não o bastante para que ela visse o seu rosto inteiro.

A velha levanta os olhos a ele e então balança a cabeça.

"Me...me desculpe. Você é jovem demais para ser ele."

Ela se move rapidamente de volta para dentro do estabelecimento, e o mago anda ao longo do caminho o mais rápido possível.

Siegfried não faz idéia do que houve, mas ele não vai esperar uma explicação vir até ele.

À distância, ele vê Norman conversando com o chefe da guarda, que tinha se aproximado dele junto de alguns outros soldados. Eles parecem conversar sobre algo importante, e o paladino não duvida que seja relevante aos recentes ataques dos mortos-vivos.

Determinado a compreender o que está acontecendo, o garoto segue seu amigo, em busca de respostas.


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Notas finais do capítulo

Gostousse? Sieg ficou em shock
Até o próximo, galerinha