Your Eyes escrita por Myssih


Capítulo 1
Lembranças


Notas iniciais do capítulo

Hey princesas e princesos!
Há quanto tempo... hehe
Espero que não me odeiem nem nada... Terminei essa coisa linda esses dias, ainda não foi betada, mas já está nas mãos da beta ♥
Essa história é uma continuação da More Whiskey, não consegui aguentar aquele final triste, então tentei fazer algo mais felizinho! Se eu consegui, já é outra história kkk
Tomara que vocês gostem, tanto quanto eu gostei de escrever!



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Draco respirou fundo e olhou para dentro da galeria. O resultado de todo seu esforço estava ali dentro, e aquela pequena multidão iria absorver sua arte dali a poucos minutos. Durante os últimos meses, todos seus pensamentos tinham se voltado para seus quadros. Ele teve em suas mãos o desejo de todo estudante de arte. Não tinha sido apenas convidado para passar uma temporada como assistente de renomados artistas, na melhor escola de artes da Inglaterra - diga-se de passagem, mas também foi convidado para expor seus quadros, junto de outros artistas muito mais reconhecidos do que ele, em Chicago.

E naquela noite estava realizando o sonho de sua vida, ou ao menos a parte dela de que se lembrava. Sete anos atrás, ele havia sofrido um acidente grave. Milagrosamente se curou rápido e sem nenhuma sequela física, para o espanto dos médicos, mas infelizmente ficou em coma por meses, e quando finalmente acordou, toda a memória de sua vida até aquele momento tinha sido varrida de sua mente. Precisou até mesmo re-aprender coisas básicas a qualquer ser humano do século XXI, como utilizar um telefone ou ligar a TV.

Não foi o momento tranquilo na vida de Draco, mas ele conseguiu atravessar aquele rio obscuro. Claro que contou com muita ajuda, como a daquela senhora. Ela ajudou um rapaz completamente desconhecido para si, sem nome, endereço, dinheiro... Draco só conseguiu se reerguer graças à ajuda financeira dela, infelizmente nunca soube direito quem era ela, ou como a encontrar para pagar sua dívida.

Seus olhos piscaram ao se dar conta de que seu nome estava sendo chamado, no pequeno palanque no centro da galeria. Mais uma vez, inflou os pulmões com ar, reunindo sua coragem antes de subir no palanque. Sua pose altiva emanava uma confiança que Draco não sentia realmente, mas sabia que não deveria demonstrar seus receios.

— Boa noite, eu sou Draco Malfoy. Muito obrigada por comparecer esta noite e prestigiarem nosso trabalho. Acredito que falo por todos aqui - Olhou para os três artistas no palanque ao seu lado – que estamos ansiosos pela opinião de vocês. E as compras também. – A platéia riu junto, aquilo era ótimo! Draco sorriu mais confiante. – É uma oportunidade incrível estar aqui hoje, apresentando meu trabalho. Tendo apoio dos meus professores e colegas, pude criar algo que eu me orgulho de mostrar a vocês hoje. – Sorriu orgulhoso, não havia mentira em suas palavras. – Bom... Qualquer dúvida a respeito das obras, estarei andando pelo salão. Obrigado a todos e tenham uma ótima noite.

Draco passou o resto da noite dando voltas  pelo salão, hora observando as obras de seus colegas, hora respondendo perguntas sobre seus próprios quadros. Seu trabalho estava dividido em duas vertentes “Contos de Fadas” e “Esmeralda”. “Conto de Fadas” era composto por quatro telas, onde em cada uma havia um cenário, que por definição não poderia ser nada além de mágico. Um salão medieval de jantar enorme, com quatro extensas mesas e uma mesa principal no fim. Um lago congelado com a vista para um castelo ao fundo. Uma quadra de esporte, com aros tão altos que talvez só gigantes pudessem jogar, seja lá qual fosse o esporte jogado ali. Uma sala de estar enorme, com mesas, poltronas e uma lareira, toda decorada em verde.

Era incrível a precisão de detalhes em cada um. Toda vez  perguntaram a Draco de onde tirava inspiração para aqueles quadros, a resposta era a mesma: “As imagens simplesmente surgem na minha mente e eu coloco elas na ponta do pincel.” Ele parou na frente de seu outro conjunto, “Esmeralda Assim como as imagens que ele pintava em “Contos de fadas”, as imagens do rapaz moreno de lindos olhos esmeraldas, surgiam de tempos em tempos em sua mente. Draco achava que poderia ser alguém de seu passado, alguém que pelo visto, sorriu de lado, ele não havia esquecido completamente. Ele deveria ter amado muito aquele homem, porque seus olhos se impregnaram em sua alma tão profundamente que era incapaz de esquecê-lo. Mas infelizmente, ele não conseguia se lembrar de nada, que não fosse sua aparências e principalmente seus olhos. Imensos olhos verdes...

“Esmeralda” era composto por quatro quadros, onde em cada um, era possível ver o rapaz em algum ângulo, como se ele tivesse pousado para si. Os quadros se destacavam por não ter cor, tudo era em preto e branco, excluindo apenas os olhos.

— Draco?

— Sim? – Seu professor o chamava com um sorriso no rosto.

— Boas notícias! Todos os quadros do “Conto de Fadas” e um do “Esmeralda” foram vendidos. Parabéns filho!

Draco olhou rápido para onde seus quadros estavam. Dentro de si havia um mix de sentimentos, felicidade, tristeza,  orgulho, ciúmes. Riu de si, aquilo era loucura, sua primeira exposição e já havia conseguido vender cinco peças!

Olhou com carinho para suas obras.  O castelo que estava sendo retratado em suas obras, era um castelo mágico, cheio de aventuras e surpresas. Não podia contar a ninguém que tinha a sensação de que conhecia aquele lugar, se ele se atrevesse a dizer isso a alguém, o taxariam de louco. Draco já se taxava de louco, não precisava que mais ninguém dissesse isso a ele. Afinal, quem em sã consciência se apaixonaria por um homem imaginário.

Suspirou querendo se livrar dos pensamentos. Aquele era um momento de alegria! E era exatamente isso que ele deveria sentir.

— Vamos jantar hoje para comemorar? – Olhou para seu professor, tudo aquilo era graças a ele e a confiança que ele havia depositado em si,  um jantar não seria suficiente para agradecer tudo que o professor havia feito por si. - Eu pago.

— Eu agradeço o convite, mas prometi jantar com minha esposa essa noite. — As bochechas do professor coraram enquanto falava.

— Sem problemas, podemos marcar para outro dia. – Draco achava linda a dedicação que o professor tinha com a esposa.

Olhou em volta, o movimento já havia diminuído consideravelmente àquela hora. Ainda havia algumas pessoas aproveitando o Buffet oferecido. Riu ao ver uma velhinha colocar alguns petiscos dentro da bolsa, ele nunca imaginou ver aquela cena fora das telas. Saiu de sua distração quando ouviu alguém engasgar perto de si.

— Tudo be...

Sentiu seu coração falhar uma batida.

Era ele!

O homem de olhos verdes que rondava sua mente. O homem por quem se apaixonara. Sorriu inconscientemente, ele nunca se esqueceria daqueles olhos. Seu sorriso foi morrendo aos poucos ao perceber a expressão de tristeza e surpresa no rosto do outro.

— É você? – Draco perguntou incerto, sem perceber que sua pergunta não fazia o menor sentido.

Mas no mesmo momento viu o outro arregalar os olhos, morder os lábios e seus olhos se encherem de dor. Draco estendeu a mão para tocá-lo, o mundo a sua volta não tinha qualquer importância, sequer existia para si naquele momento. Sentiu seu sangue gelar quando viu o belo par de esmeraldas se fecharem para si, virar de costas e partir.

Seus pés não se moviam, ele apenas observou o outro sair do salão, o deixando para trás com mil perguntas na cabeça. Ele realmente tinha visto o homem dos seus sonhos? Tinha sido apenas uma loucura de sua cabeça ou ele era real? Mas se ele era real, então isso significava que eles se conheciam, não é? Não teria outro motivo para ele ter ido lá. Ou será que havia sido apenas coincidência? Uma maldita coincidência.

Não esperou nem mais um segundo antes de sair correndo, atrás do que parecia ser o amor da sua vida. Quando finalmente chegou a rua, as luzes dos carros atingiram seus olhos, o deixando ainda mais tonto. Sua cabeça girava de um lado para o outro, procurando qualquer vestígio do homem que acabará de sair às pressas da galeria.

Fechou os olhos tentando se acalmar, mas ao invés de se acalmar, mais uma vez,  imagens desconexas invadiram sua mente. Dessa vez ele estava andando pelos corredores do castelo do “Conto de Fadas”, com uma roupa minimamente esquisita, mas que deveria ser normal para aquele lugar, já que havia outras pessoas com as mesmas roupas. Do outro lado do corredor vinha caminhando em sua direção seus amados olhos, mas havia algo diferente neles... Raiva? Desprezo? O que estava acontecendo...

Draco soltou um grito alto e levou as mãos a cabeça ao mesmo tempo em que caia de joelhos no meio da rua, assustando quem estava em volta dele. Sua cabeça parecia que iria explodir de dor, nunca sentirá nada parecido com aquilo. Os gritos não paravam muito menos as lágrimas, que agora saiam uma atrás das outras.

— Draco fala comigo! – O professor tinha ido atrás de Draco, estranhando seu súbito desaparecimento. – O que está acontecendo?

— Eu nã... —Sua mente desligou antes que pudesse responder.

***

Draco não tinha o costume de abrir os olhos assim que acordava. Ele esperava alguns segundos, assim ele poderia avaliar a situação, onde estava e o que estava acontecendo a sua volta. E não ser pego de surpresa por estar sendo vigiado por um comensal da morte.

Abriu os olhos e sentou rapidamente, sua respiração acelerava a cada segundo, enquanto uma torrente de lembranças corriam por sua mente. Lágrimas saiam uma atrás da outra, encarou suas mãos, elas tremiam fortemente.

— Mas o que...

Se levantou cambaleante e quase caiu da cama no processo. Olhou em volta do quarto. O que estava acontecendo, onde ele estava? Que merda estava acontecendo ali. Mais uma vez sua cabeça latejava de dor e outra torrente de memórias o invadia. Tapou a boca ao sentir a ânsia de vômito. Caiu de joelhos no chão, agora todo seu corpo tremia.

Aquilo precisava ser mentira.

Já fazia algumas horas desde que tinha acordado e sua cabeça não havia parado de latejar desde então. Passou a maior parte do tempo deitado na cama, tentando não pensar naquela loucura e falhando miseravelmente. Quando se levantou já estava perto do horário de ir para exposição. Não importava que ele tivesse enlouquecido de vez, Draco precisava comparecer nos primeiros dias da exposição. Conseguiu tomar um banho descente, talvez com o cabelo arrumado, não percebessem que ele estava louco. Tocou o espelho a sua frente, sua cara estava horrível. Nariz vermelho, olhos inchados, seu cabelo estava uma zona. Riu, um feitiço poderia resolver tudo aquilo.Ele não havia tentado fazer nenhum até aquele momento, e nem iria tentar agora. Seria seu atestado de insanidade.

Quando estava prestes a sair, viu um bilhete em cima da mesa. A letra era de seu professor. Ele tinha escrito, que apesar do susto, Draco tinha apenas desmaiado, e um médico que estava na exposição disse que não tinha sido nada grave, provavelmente ele estava exausto e deveria ficar uns dias descansando. O que obviamente ele não iria fazer.

***

Sua aparência estava muito mais decente quando chegou à galeria. Não havia tantas pessoas quando na noite anterior, , mas ainda era quantidade boa. Draco sorriu ao parar em frente de seus quadros. Se desse sorte, todos eles seriam vendidos até o final da exposição.

— Draco! O que você está fazendo aqui?

— Professor… Eu sou o pintor dessas obras, eu preciso estar aqui. – Sorriu. – Além do que, eu to bem. Não sei o que aconteceu ontem, mas aparentemente não foi nada demais.

— Mesmo assim, deveria ter ficado em casa descansando!

— Eu já estou melhor, juro. - Olhou novamente para os quadros. - Eu não poderia perder isso.

— Não precisa se preocupar, você vai vivenciar isso mais vezes do que imagina. - Seu olhar transmitia todo orgulho que sentia de seu aluno.

Corou com as palavras do professor. Sabia que professor apostava em seu talento.  Ele adorava dizer como havia encontrado o pintor que iria ultrapassar os limites de arte. Um completo exagero é claro, mas Draco adorava ouvir tais palavras. Uma sombra de tristeza passou por seus olhos, se todas aquelas lembranças forem reais, aquela era a primeira vez que ele era elogiado por seu próprio mérito, por algo bom que ele havia feito, sem ajuda de terceiros...

Observou todas as pessoas ao seu redor. Seu problema estava ali, ele simplesmente não conseguia acreditar que odiará todas aquelas pessoas por serem diferentes, por não terem algo que ele supostamente tinha. Aquilo era insano e idiota demais. E Draco Malfoy não era um idiota.

Falando em idiota, um acabava de entrar em sua visão. Henrique Dominique, seu ex-namorado, ex-melhor amigo, ex-colega de quarto.

Quando Draco foi convidado para ir para Londres, Rick foi completamente contra, e como Draco não desistiu do convite, ele terminou um relacionamento de dois anos, por conta de uma viagem de seis meses. Se isso não bastasse, o canalha ficou noivo algumas semanas depois do embarque. E agora estava ali, na sua frente, o encarando feito bobo.

Draco fuzilou-o quando notou que o outro se movia em sua direção.

— Oi Dray... – Henrique, disse desconcertado. Draco não respondeu, continuou apenas o encarando. – Eu  soube que vendeu quase tudo...

— O que você está fazendo aqui, Henrique?

— Eu vim te ver. – Se aproximou um pouco mais. – Você não atendia minhas ligações. Eu não sabia mais... Onde te encontrar.

— Talvez porque eu não queria ser encontrado por você! – Deu as costas para o rapaz e saiu. Não queria ter aquele encontro naquele momento, muito menos ali. Afinal já havia pagado sua cota de vexame na noite anterior.

Henrique puxou o braço de Draco, o segurando no mesmo lugar. O pintor voltou seus olhos repletos de raiva para o rapaz, não havia nada no mundo que Draco detestasse mais que alguém tentar o controlar, de qualquer forma que seja. Henrique o soltou no mesmo instante que sentiu o peso de seu olhar.

— Olha Dray... – Draco respirou fundo ao ouvir o apelido, ele não tinha o direito de usá-lo, não mais. – Eu só quero conversar, não precisa ser aqui. – Olhou em volta, vendo que algumas pessoas já começavam a parar para observar a cena. – Só quero me explicar...

— Duas e meia, no café, amanhã. Você vai ter o tempo d’eu tomar um chá. Agora saia daqui! – Os olhos frios de Draco naquele instante seriam capazes de congelar qualquer vulcão. – Não se atrase, eu não vou te esperar.

— Estarei lá.

***

Como não poderia ser diferente, Draco passou todas as horas até aquele momento, tentando adivinhar o que Henrique poderia dizer. Qual seria a desculpa que ele iria usar para tentar, inutilmente, convencê-lo a perdoá-lo.

Bom, não importava, porque ele já tinha respostas para cada possibilidade. Se ele dissesse que sua mãe o obrigará a casar, para unir as empresas da família, ele diria que já havia superado e o que Henrique fazia da vida, não era mais da conta dele. Se ele dissesse que a mulher o obrigou a casar, e estava ameaçando matar Draco, sua família e todos os amigos, ele diria que já havia superado e o que Henrique fazia da vida, não era mais da conta dele. Se ele dissesse que ele havia se apaixonado perdidamente por ela a primeira vista, ela era o maior amor da vida dele e ele não pode fazer nada para evitar, ele diria que já havia superado e o que Henrique fazia da vida, não era mais da conta dele. Se ele dissesse que era uma questão de segurança nacional, ele diria que já havia superado e o que Henrique fazia da vida, não era mais da conta dele.

Sorriu quando entrou no Café, Draco amava o cheiro de grãos de café sendo moídos na hora, bolos assando... Era malditamente delicioso. Sentiu falta daquele lugar, eles vinham praticamente todos os dias ali. Se ele tivesse a oportunidade, um dia gostaria de pintar bem ali, no meio do salão, enquanto estranhos tomavam seus cafés, cappuccinos, e chás, e Mike assava mais uma leva de tortinhas e preparava um novo pedido.

— O de sempre Mike! – Deu dois toques altos no balcão, o suficiente para chamar a atenção do dono do Café. Quando ele sorriu para si confirmando que havia ouvido o pedido, foi em direção a alguma mesa desocupada.

Olhou no relógio, era pontualmente duas e meia quando se sentou. Pelo que suas novas/antigas memórias lhe diziam, continuava pontual como qualquer bom britânico. Não olhou para trás quando ouviu alguém entrar espalhafatosamente, não precisou mais do que alguns segundos para saber que se tratava de Henrique, já que o mesmo praticamente se jogou na cadeira a sua frente. Fechou a cara, por um momento esqueceu porque estava ali e quase permitiu que um sorriso surgisse em seu rosto.

— Dr-draco... – Sua respiração era ofegante e dolorida. Havia corrido todo o caminho do metrô até o café. Sabia muito bem que Draco não era exatamente do tipo que demorava comendo, e era muito bom em cumprir suas promessas. Não iria o esperar nem um segundo sequer. – Desculpa, o metrô demorou um pouco pra chegar.

Draco lançou seu melhor olhar de “Não me importo”, calando o rapaz. Seu chá e um pedaço de bolo Red Velvet chegaram à mesa pelas mãos de Mike, foi impossível conter o sorriso nesse momento. Não era apenas seu lugar preferido, mas seu bolo preferido. Henrique acompanhou hipnotizado o sorriso de Draco, não tinha dúvida de que ele tinha o sorriso mais lindo que já virá. Mas esse sorriso morreu ao mesmo tempo em que Mike dava as costas para mesa.

— Então. – Cortou um pedaço de bolo levando a boca. – O que você quer comigo, Henrique?

— Eu queria explicar... – Engoliu seco, nunca havia visto Draco tão frio e sem expressão daquela forma. – Explicar o que aconteceu.

— Você tem o tempo do meu chá. Seja rápido.

— O nome dela é Laura. A gente se conhece desde criança. Começamos a namorar quando estávamos com dezesseis. – Mais uma vez

Henrique ignorou e continuou sua história. – Nós tínhamos uma relação incrível, éramos amigos, amantes e companheiros. Até que ela decidiu que queria fazer uma pós-graduação na França.

Olhou para Draco, será que ele já estava começando a entender? Afinal foi na França que eles tinham se conhecido.

— É claro que no começo eu dei todo meu apoio, eu pensei... Eu tinha certeza que ia dar tudo certo, que iríamos ficar bem. Mas não deu, o primeiro ano foi repleto de brigas atrás de brigas, então decidimos dar um tempo, pelo menos até ela voltar. – Precisava acelerar a história, o chá de Draco já estava pela metade, e o bolo não demoraria a acabar. – Eu resolvi ir visitá-la, tentar reatar o namoro, fazer da certo... Mas quando eu cheguei lá, ela já estava com outro, outros...

Suspirou, agora vinha à parte difícil, podia sentir seu coração começar a apertar. Seus olhos fixaram na mesa, não tinha coragem de olhar para Draco naquele momento.

— Foi quando eu te conheci. Você estava lá, tão lindo, sentado no meio do chão da Trocadero, encarando a Torre Eiffel. E eu... Eu achei que seria uma ótima oportunidade pra esquecer os problemas.  Eu estava certo. Você me fez esquecer toda a dor que eu estava sentindo, toda a solidão. No começo... – Parou alguns segundos, para retomar o fôlego. – No começo eu estava apenas usando você pra esquecer a Laura. Mas então, eu me apaixonei por você. Não tinha como não me apaixonar.

Olhou para cima, Draco mantinha a mesma face inexpressiva enquanto comia. Como se não estivesse prestando atenção ou sequer ouvindo o que estava falando. Mas Henrique sabia que ele estava ouvindo cada palavra.

— Quando eu te convidei pra vir morar comigo, eu queria isso mais do que tudo. Eu realmente queria construir uma vida do seu lado. Mas então você decidiu ir pra Londres. – Pela primeira vez Draco mudava sua expressão, arqueou uma das sobrancelhas o desafiando a dizer que o término deles era sua culpa. – Eu sei... Eu sei que não tinha nada haver, você não era

, mas eu... tive medo. Medo que acontecesse tudo de novo.

Draco colocou o último pedaço de bolo na boca, faltava apenas mais um gole do chá, e o tempo do outro acabaria. Mas ele iria esperar, ele queria ouvir toda a história.

— Ela chegou alguns dias depois que você saiu do apartamento. Eu... – As lágrimas desceram pelo seu rosto, e Henrique não tentou fingir que elas não estavam ali. – Eu não sabia, não percebi que ainda a amava. Eu ainda era completamente louco por você, mas ela... Foram oitos anos Dray, eu não podia simplesmente... Eu não podia, entende?

Esperou alguns segundos, antes de tomar o último gole de seu chá. O sorriso de escárnio em seu rosto daria orgulho ao seu eu do passado. Se não fosse pelas malditas lágrimas que desciam por seu rosto naquele exato momento, as palavras que diria, iriam parecer reais.

— Eu já superei isso, Henrique. O que você faz da sua vida não é da minha conta. Espero que esteja se sentindo melhor agora. – Se levantou da mesa, jogou algumas notas em cima da mesma, e saiu do Café.

***

Estava parado na frente da estação sem conseguir decidir se deveria entrar ou não. Seriam quatro tortuosas horas até chegar a Wiltshire.

Havia voltado para Londres há duas semanas. E Draco simplesmente, não sabia o que havia se passado em sua mente do momento em saiu do Café até aquele momento. Encarou a passagem em sua mão, tinha exatos vinte minutos para decidir se entraria no trem ou não.

Respirou fundo. Ele precisa colocar sua mente em ordem, precisava entender o que estava passando dentro de si, quem ele realmente era e o que iria fazer dali em diante.

‘Vamos por partes, Draco... ’— Pensou. – ‘Bruxos existem. E aparentemente você é um deles, mas não qualquer bruxo, você é um Malfoy, um sangue puro.’— Revirou os olhos, aquilo realmente já teve alguma importância na sua vida? – ‘Você sofreu um acidente onde perdeu toda sua memória, depois de passar pelos piores anos da sua vida. E a mulher que te ajudou no hospital, que você pensava ser uma desconhecida bacana, na verdade é sua mãe... Sua mãe bruxa.’— Olhou mais uma vez para o relógio. Dez minutos. – ‘Seu ex-namorado é um completo trouxa! Não, trouxas são não-bruxos. Um completo idiota, que te usou para esquecer a ex e depois te trocou por ela.’— Se agachou, chamando atenção de algumas pessoas a sua volta. Cobriu a boca com o cachecol que usava, e soltou um grito, comedido, mas um grito. Respirou fundo e sorriu.—  ‘Pelo menos você vendeu sete dos seus oito quadros em exposição.’

Levantou-se e correu para dentro da estação. Era melhor entrar de uma vez, se pensasse mais um pouco, aquela passagem se juntaria as outras três em cima de sua mesa. Na primeira vez, Draco rasgou a passagem em um impulso. Na segunda ele simplesmente ficou encarando o relógio, segurando a respiração, esperando o tempo passar e perder o horário do trem. Na terceira vez, encheu a cara de bebida e não acordou a tempo de pegar o trem.

Ele não perderia a viagem novamente, não daquela vez. Até porque não podia ficar gastando o dinheiro dos quadros  para comprar passagens de trem.

Segurou firmemente a passagem, não a querendo entregar, quando o maquinista pediu, mas acabou por dá-la.  Acomodou-se em sua cabine. Aquilo trazia a tona todas as memórias do trem para a tal escola bruxa, que pelo o que parecia, ele tinha frequentado. Olhou para seu reflexo na janela. Abaixo de seus olhos, profundas olheiras. Seu cabelo, totalmente desgrenhado. E possivelmente, ele estava pálido, mais do que o normal. – ‘Eu já fui mais arrumadinho.’

Pelas próximas horas, Draco ficou repassando tudo que podia das lembranças, tentando não ficar repetindo que aquilo era tudo uma loucura, e que deveria era pegar um trem direto para um hospital psiquiátrico, não para um lugar que ele imaginava existir.

Depois das quatro horas de trem, ainda teria ao menos meia hora de ônibus antes de chegar à cidade. Desceu do ônibus quatro horas e meia depois. Já passava das três da tarde. Não havia comido direito nos últimos dois dias, nada parava em seu estômago. A ansiedade de ir até o condado onde havia vivido a maior parte de sua vida, era enorme.

Wiltshire era exatamente como se “lembrava”, uma vilazinha muito simpática. Draco sentia como se estivesse no século XIX com aquelas construções. Se ao menos tivesse trago seus materiais, poderia fazer uma pintura daquele local. Era lindo. Mas ainda não era seu destino final. Olhou em volta mais uma vez, aparentemente não parecia que ali havia chegado uma nova invenção chamada táxi, então ele teria que usar seus pés para chegar até lá.

Não teve pressa para chegar ao destino. Podia sentir algo estranho se remexer dentro de si, cada vez que se aproximava mais do local. Quando finalmente estava de frente aos grandes portões com dois M desenhados, sua respiração acelerou. Apoiou suas mãos no joelho, seu coração palpitava loucamente e sentia que podia desmaiar a qualquer momento, e ainda havia aquela sensação estranha em seu interior aumentando, não ajudando em nada!

— Malfoy, se recomponha! - Respirou fundo, algumas vezes, tentando recuperar sua calma. Se bem que, está não existia há algum tempo.

Antes que pudesse pensar em algum modo de entrar naquele lugar, ao tocar no portão para se levantar, este simplesmente abriu para si. Draco hesitou por um momento, mas acabou entrando sem pensar muito no assunto. Era aquilo que ele precisava. Aquilo iria definir se ele estava completamente louco, ou se tudo o que vivera nos últimos sete anos, era uma ilusão.

Cada passo que dava em direção a porta sentia seus pés ficarem mais e mais pesados. Viu ao longe alguém abrir a porta e fechá-la logo em seguida. Estancou, será que estavam chamando a polícia? Afinal aquilo era uma invasão domiciliar. E ele não poderia alegar que entrou ali porque suas “memórias de bruxo” disseram que morou ali tempos atrás.

— Foda-se, eu me preocupo com isso depois! – Continuou andando, agora ainda mais rápido.

Parou alguns centímetros da porta. Fechou os olhos e respirou fundo, sua mente era invadida por todas as lembranças daquele lugar. Percebeu que não tinha muitas daquele ângulo da porta. Pelo visto, bruxos não tinham o costume de usar a porta da frente.

Quando abriu os olhos, uma mulher com lágrimas nos olhos e uma expressão em choque o encarava.

— Dr... Oh Merlin... Draco! – Cobriu a boca, interrompendo o soluço.

— Oi... Mãe.

Narcisa Rosier Black Malfoy, era uma mulher que poderia ser definida por sua força. Ela suportou toda a corja de comensais da morte em seu lar, fez um pacto de morte para proteger seu filho, aturou humilhações dentro de sua própria casa, e mentiu para o próprio Lorde Voldemort por seu filho. Ela foi forte quando deixou o filho sem memória e sem magia, em um mundo completamente desconhecido para si, somente para não trazer de volta todas as memórias ruins de sua vida até ali. Mas ela não teve força nenhuma quando viu um Draco de vinte sete anos, com uma barba para fazer, completamente assustado e acabado, a chamar de mãe, pela primeira vez em nove anos.

Draco não sabia o que sentir. Sua mente havia ficado em branco, seus joelhos falharam e ele só percebeu que estava chorando como uma criança quando sentiu que suas lágrimas encharcaram o vestido de Narcisa, que o abraçava.  E então apagou.

***

Quando abriu os olhos  reconheceu imediatamente  o teto. Era o mesmo teto que ele via desde que nasceu. O primeiro pensamento de Draco foi que estava tudo bem. Ele tinha tido um pesadelo, onde ele perdia a memória e se tornava um trouxa. Mas só precisou passar a mão no rosto para perceber que aquilo era mais real do que gostaria. O Draco de dezenove anos definitivamente não tinha barba, ainda mais uma para fazer.

Sentou na cama bagunçando o cabelo. Olhou em volta, tudo parecia exatamente do mesmo jeito que havia deixado da última vez que esteve ali. Sentiu sua cabeça latejar. Mas seu corpo estava muito melhor, se tivesse um espelho na sua frente, veria que sua aparência estava muito mais saudável também.

— Filho?

Se assustou ao ouvir uma voz chamando da porta. Ele tinha melhorado ao descansar por um tempo, Narcisa por outro lado, parecia péssima. Suspirou e abaixou os olhos, cravando, sem saber, mais uma faca no coração de sua mãe. Bateu a mão no colchão, convidando-a para sentar do seu lado. Ela não hesitou em ir até ele, mas o fez em passos lentos.

— Você não tinha o direito...

Narcisa não falou nada. Ela sabia exatamente qual havia sido seu crime, e que este não tinha perdão, e não o esperava.— Era a minha vida. Você não podia simplesmente fazer o que bem quisesse, mesmo que acreditasse ser para o meu melhor. Era a minha vida.

— Eu não me arrependo do que fiz, Draco. – Narcisa puxou sua mão, a apertando entre as suas. -  Sei que o que fiz não foi certo, e senti sua falta a cada segundo. Mas não me arrependo do que fiz.

Draco apertou a têmpora. Olhou para o rosto da mãe, ali estava a Narcisa Malfoy que conhecia, podia ver a dor em seus olhos, mas seu rosto não demonstrava o mesmo.

— Eu sou um pintor, um bom pintor... – Draco sabia que não adiantaria insistir naquela conversa, era desnecessário insistir em algo do passado. Em algo que não podia ser alterado. - Vendi praticamente todos meus quadros na minha primeira exposição.

— Isso é maravilhoso, Draco. Eu adoraria ver suas pinturas, querido.

— Eles não se mexem. – Sorriu de lado, ao se lembrar das pinturas bruxas.

— Eu não me importo. – Narcisa puxou a cabeça de Draco com carinho e beijou sua testa. Naquele instante Draco sentiu todo o peso em seu coração se desfazer. – Eu te amo, Dragão. Não me arrependo do que eu fiz.

— Eu sei... – Riu. Corou quando seu estômago roncou alto, arrancando um pequeno riso de sua mãe. – Hun...

— Se troque e desça, o jantar vai ser servido daqui a pouco. – Se levantou para se retirar do quarto.

— Eu não acho que as roupas irão servir, mãe.

— Draco querido... – Narcisa piscou para ele. – Nós somos bruxos.

Ele era um bruxo.

Ele era um bruxo de verdade. Se deixou cair na cama. Levaria um tempo para se acostumar com a idéia. Abriu o closet, dando de cara com várias capas e túnicas, não conseguiu evitar fazer uma careta. Depois de alguns anos entre os trouxas, Draco aprendeu a ter um certo tipo de gosto para vestuário, e definitivamente não incluía peças que faziam parecer que estava de vestido. Suspirou aliviado ao encontrar uma calça e uma blusa, aquilo ele conseguiria usar sem problemas.

Ficou receoso de sair do quarto. A mansão era enorme, ele costumava se perder quando criança. Não duvidava que poderia se perder agora.

— PUTMERDA – Pulou ao ouvir um estalo atrás de si e dar de cara com um elfo doméstico. Se havia uma coisa que ele iria demorar a se acostumar, era a existência de todas as criaturas mágicas. – Desculpa. Eu.. Aah... Oi...

— Senhor Malfoy, meu nome é Turkey, senhor. – O elfo olhou com estranheza para Draco. Definitivamente, ele não estava acostumado a receber pedidos de desculpas. Narcisa não tratava seus elfos mal, de forma alguma, mas ela não os tratava como iguais, tão pouco.  – A senhora Malfoy ordenou que eu o levasse até a sala de jantar.

— Claro... Obrigado, estava com medo de me perder no camin... – Parou de falar ao ver o olhar assustado do elfo. Riu, seu pai não se orgulharia de vê-lo falar daquela forma com um elfo. E sinceramente, ele adorava isso. – Vamos?

— Por aqui, Senhor Malfoy, senhor.

Os corredores ainda eram os mesmos, mas a aura que eles emanavam era totalmente diferente. Draco já não sentia o peso, a escuridão e a dor por toda parte. O ar estava muito mais limpo e calmo. Era como se quase toda a magia obscura, que sempre existirá na Mansão Malfoy, não existisse mais.

Parou na entrada do salão de jantar. Aquele lugar não tinha boas lembranças, ainda podia ver Voldemort sentado na cabeceira da mesa. Pensando bem, se ele fosse um trouxa, com certeza teria ganhado um prêmio pela melhor maquiagem, se, é claro, não estivesse concorrendo contra Margaret Thatcher. Aquele rosto horrível não podia ser real.

— Senhor Malfoy? – Draco piscou algumas vezes e voltou sua atenção para o elfo. – É por aqui.

Ao lado da porta que dava para o salão, havia outra, que Draco tinha quase certeza que não existia antes dele ter ido embora. Andou em direção a ela, o elfo abriu a porta para que entrasse, o que foi uma sensação esquisita. Já que nos últimos anos estava acostumado a abrir as portas por conta própria, mas parte de si, aquela que estava com todas as memórias recuperadas, estava lidando bem demais com tudo aquilo - elfos, servidão, magia, morar em uma mansão, etc.

Quando entrou no que imaginou ser outro salão de jantar, se surpreendeu a ver uma sala pequena, de acordo com o que seria pequeno para um Malfoy é claro. Sua mãe estava sentada à mesa, uma de apenas dois lugares, os pratos e copos estavam dispostos na mesa.

— Draco querido, venha se sentar.

— Mãe. - Foi em direção a mesa e sentou-se. Olhou confuso em volta. – Essa sala não existia antes, não é?

— Não, eu criei essa sala de jantar um pouco depois do... – Se calou, não queria e não iria mais tocar naquele assunto. – Era solitário e não me trazia boas lembranças estar naquele salão enorme.

Draco quase pulou da cadeira quando viu a comida surgir em seu prato depois de um estalar de dedos de Narcisa, que acabou dando um pequeno riso pela reação do filho, o fazendo corar.

— Não estou mais acostumado a ter comidas surgindo do nada. – Riu constrangido, sua expressão suavizou nitidamente. Em seu prato havia sua comida preferida. Ela ainda lembrava.

— Você vai ficar por quantos dias, querido?

— Oh. Eu não pretendia vir para ficar na verdade. Minha passagem de trem para Londres é para... – Olhou para o relógio em seu pulso. – Meu trem sai daqui duas horas. E eu ainda preciso pegar um ônibus para chegar até a estação.

— Você pode dormir aqui hoje Draco. Deve estar cansado. – Colocou sua mão por cima da dele. – Podemos aparatar amanhã se você quiser peg-

— Mãe. – A interrompeu e segurou carinhosamente sua mão. – Eu preciso ir para casa.

— Eu entendo, querido. – A expressão de Narcisa se fechou um pouco, ao ouvir Draco chamar outro lugar de casa, mas logo seu semblante suavizou. - E quando você pretende voltar?

— Logo. – Sorriu. – Temos que colocar a conversa em dia, não? E não pretendo me separar da senhora novamente, mãe. – Piscou para ela.

Narcisa sorriu, soltou a mão do rapaz e voltou a comer. Aquilo era como um sonho para ela. E quantas vezes não havia realmente sonhado com isso? Draco voltando para casa, perdoando-a e ficando ao seu lado. Não iria apressar as coisas, sabia que assimilar todas aquelas novas informações não seria fácil para ele. Mas dessa vez, ela estaria ali, para ele, quaisquer que fosse sua decisão. Sua atenção foi atraída por um limpar de garganta de Draco.

— Hun... Onde está Lucius?

— Morto.

— Oh... – Arregalou os olhos, não estava esperando por aquilo. – Eu sinto muito.

— Eu não. – Disse, surpreendendo Draco. – Ele teve o que mereceu. Eu o amava, mas odiava o homem que ele havia se tornado depois que Voldemort voltou.

Draco não disse nada. Ele também amava seu pai, ele havia sido um bom pai, na medida do possível. Mas tinha perdido completamente a razão, por um homem que não valorizava sequer sua vida. Tinha destruído a si e sua família, colocado ela em risco, por ideais idiotas e sem sentido. Draco amava seu pai, mas assim como sua mãe, odiava o homem que ele havia se tornado.

Depois de jantarem, Narcisa levou Draco até a estação de trem, de carruagem. O que foi incrível e esquisito. Prometeu que voltaria na próxima semana, dessa vez para ficar alguns dias com a mãe.

Ele precisa de um tempo para organizar as coisas em casa e em sua cabeça. Estava tudo ainda muito confuso e embaraçado, era estranho ter respostas onde até alguns dias atrás ele havia lacunas vazias, e não eram quaisquer respostas, eram respostas mágicas. Draco riu e encarou seu reflexo na janela do trem. Sua aparência estava mil vezes melhor, do que quando chegara. Surpreendeu-se como a magia podia ajudar.

Não tinha pensado nisso nos últimos dias, mas o que ele faria quanto a sua própria magia? Quando acordou em seu antigo quarto na mansão, por alguns segundos a decisão mais sensata, pareceu ser pedir que sua mãe removesse o selo, mas o pensamento acabou se perdendo entre os outros. Agora que podia pensar calmamente sobre o assunto, já não tinha certeza se era realmente a coisa certa a se fazer.

Precisava pensar nos prós e contras de ter sua magia de volta. Para sociedade bruxa Draco Malfoy estava desaparecido, para alguns, até mesmo morto. No mundo bruxo Draco não era nada além de um comensal da morte, o vilão da história. Não conseguia imaginar tendo qualquer futuro em uma carreira bruxa. Pocionista está totalmente fora de cogitação, riu amargurado, era bem pouco provável que alguém tivesse coragem de tomar qualquer poção que ele produzisse. Ser professor de poções então, nem pensar. Que pai em sã consciência deixaria seus filhos terem aula com ele? E duvidava que poderia conseguir um cargo no ministério.

É claro que ele estava pensando nas piores situações, mas era necessário, ele precisava estar preparado para o pior.

Em contrapartida, se ele tivesse sua magia de volta, poderia voltar a voar, um sorriso animado surgiu, suspirou lembrando-se da sensação de voar, livre, solto, sem nenhuma preocupação que não fosse cair da vassoura. Não havia nada no mundo trouxa que se comparasse a isso. Se ele continuasse como um trouxa, nunca mais poderia fazer magia, e mesmo que não a tivesse feito nos últimos anos, era estranho se imaginar sem algo que fez parte de sua vida durante dezenove anos, algo que agora Draco sabia que existia em si. Por outro lado, ele não era ninguém no mundo trouxa, e por mais bizarro que isso soasse agora, ele gostava disso. Gostava de saber que poderia andar pelas ruas, sem sentir olhares o julgando por seus erros do passado. Que poderia fazer o que quisesse e seria reconhecido apenas por quem era e pelo que fazia ali naquele momento.

Outro suspiro, essa seria um decisão difícil. Mas ele teria tempo para decidir, era exatamente por isso que precisava voltar para casa e ficar sozinho. Queria pensar em cada ponto.

— Senhores passageiros, o trem acaba de chegar a Londres, queiram se retirar.

Draco jogou a mochila nas costas e desceu do vagão. Aquela seria uma semana longa.

***

Já fazia três dias que estava pensando sobre o assunto, e Draco sentia que estava enlouquecendo completamente. Precisava respirar, precisava sair daquele apartamento e se livrar daquela loucura, mesmo que por algumas horas.

Assim que saiu de casa, começou a andar a esmo. Ele queria pensar em outra coisa que não fosse “Devo recuperar minha magia, ou continuar um trouxa?”, e infelizmente a única outra coisa que ele conseguia pensar era “Meu ex é um babaca manipulador que me usou.”. Começou a andar ainda mais rápido com raiva.

— Draco Malfoy, você precisa de um whiskey! Agora!

Entrou no primeiro bar que pareceu interessante e decente. Não estava muito cheio, na verdade o clima era bem gostoso, a música era boa e as pessoas não pareciam ser inconvenientes. Foi direto ao bar, ignorou o catálogo de bebidas no balcão, normalmente ali você só conseguia encontrar drinks enjoativos que por algum motivo eram famosos entre os jovens. –

— Suspirou e esperou que o atendente notasse sua presença ali, o que não demorou muito.

— Draco! Meu Deus! Eu não acredito que você voltou cara. – O atendente parecia muito feliz com a sua presença ali. Mas tinha certeza que nunca havia pisado naquele lugar antes. – Quanto tempo... Como vocês estão?

— Desculpa... Mas eu te conheço? – Draco tentava caçar em suas novas e antigas memórias quem era o rapaz, ironicamente ele tinha uma ótima memória para pessoas. – Eu não... Desculpa, mas não me lembro de você.

— Oh será que me enganei? – O atendente parou seu movimento, ele já estava colocando um copo de whiskey na frente do pintor. – Você não é Draco Malfoy, o pintor?

— Sim... Mas como você me conhece? – Estranhou que o outro já soubesse seu pedido, mesmo que não tenha dito nada.

— Ora, você vinha sempre com seu namorado aqui, acho que um ano e pouco atrás. Não se lembra?

— Na verdade... Não! – Sua expressão demonstrava claramente como estava confuso com aquela conversa. – Que namorado?

— Acho que o nome dele era... Huun,  Harry Potter. – Alguém chamou o atendente do outro lado do balcão. – Já volto.

Draco engasgou em sua própria saliva. Que maluquice era aquela? Ele já havia estado naquele bar antes, e não só isso, com um “namorado” que não era ninguém menos que Harry Potter?

Sentiu sua mente estalar. Na noite de apresentação das peças, foi nessa noite que ele havia recuperado sua memória. Mas como? O que tinha acontecido para desencadear todas as lembranças? Havia chegado ao salão, se apresentado, cumprimentado algumas pessoas, passeou pelo salão observando as obras dos outros artistas, e quando voltou para perto de suas peças, tinha alguém as olhando, e quando essa pessoa virou para si... Verde. Ele tinha os mesmos olhos verdes de sua tela... Os mesmos olhos verdes de Potter!

Arregalou os olhos. O que estava acontecendo, porque Potter havia ido a sua exposição? Porque aquele atendente dizia que eles eram namorados? Tomou seu drink em um único gole.

— Fala sério... – Apoiou a cabeça nas mãos e segurou os cabelos. – Era pra ser uma noite sem problemas, sem problemas... Potter seu idiota, o que você queria indo naquela exposição?

— Tudo bem ai? – O atendente chamou.

— Sim... Sim... Me vê mais um! – Disse batendo o dedo no copo. – Qual é o seu nome mesmo?

— August. – Secou a mão no pano pendurado à cintura e estendeu a Draco, que aceitou prontamente.

— August... Pode me contar mais sobre quando eu vinha aqui com o Harry?

Draco passou o resto da noite ouvindo histórias dele e de Potter naquele bar. Como haviam bebido juntos, dançando, se divertindo. Draco perguntou por que ele achava que os dois eram namorados, e August disse que era pela forma que Potter o olhava. Era impossível que aquilo não fosse amor, sem falar que eles estavam sempre se tocando

. Nessa hora Draco corou. Ele não tinha nenhuma lembrança daquelas noites. Achava que tinha recuperado tudo, mas pelo visto estava enganado.

Draco voltou para casa confuso, sem saber se deveria ou não acreditar nas palavras do bartender. Era insano demais imaginar que ele e Potter podiam conviver um com outro pacificamente, e pior, gostarem um do outro. Mas como o atendente conhecia ele e Potter, ao mesmo tempo.

Se isso realmente aconteceu, porque ele não se lembrava de nada daquilo?

Ele voltou outras noites ao mesmo bar, Shandria. Ouviu outras histórias sobre ele e Potter. Era tão estranho, ele conseguia se reconhecer em todas as histórias. O Draco trouxa. Riu, era totalmente diferente do Draco bruxo, essencialmente ele ainda era o mesmo. Mas sem todas as memórias da guerra Draco era livre. Podia entender porque Potter estranharia, mas não porque se apaixonaria.

Quando menos percebeu, já havia se passado uma semana, e ele precisava voltar para Mansão Malfoy, ele havia prometido.

Dessa vez não fora um sofrimento para entrar na estação, e embarcar no trem. Draco tinha devolvido o apartamento, e pedido umas férias para seus professores, coisa que ele não havia feito desde que começara a trabalhar com eles. Pelos dois meses seguintes, Draco estaria imerso na Mansão Malfoy com sua mãe, definindo os próximos passos de sua vida.

E era exatamente nisso que ele deveria estar pensando naquele instante, mas a única coisa que rondava sua cabeça era Potter, e porque ele não se lembrava dos momentos que passaram juntos. Pelo que August tinha dito, eles se reencontraram um pouco depois que Draco chegou a Londres. Eles passavam praticamente a noite inteira juntos sempre que se encontravam, o único momento em que se separavam era quando Draco ia para pista de dança, coisa que Potter detestava. Um sempre acabava pagando a conta do outro, como se fossem um casal. Harry só ia embora, depois que se certificava de que Draco entrara no táxi direto para casa. Pelo que o bartender se lembrava, a última vez que ele viu os dois no bar, foi um dia em que Draco chegou com os olhos vermelhos de choro antes do horário de abertura, entregou um papel com endereço para August e pediu para que ele desse para Potter, quando este chegasse.

Draco ao menos sabia que dia era esse, o dia em que descobriu que Henrique ia se casar. Mas não se lembrava de sair de casa naquele dia. Na verdade suas memórias daquele dia era vagas. Vagas demais para seu gosto.

Quando saiu da estação, percebeu que muitas pessoas olhavam na mesma direção. Seu rosto corou intensamente, enfiou um boné na cabeça, tentando esconder o rosto. Uma carruagem o esperava do lado de fora da estação. Não conseguia se ver se acostumando aquilo.

***

A viagem até a mansão foi feita rapidamente. As coisas de Draco já haviam sido enviadas nos dias anteriores. Só levava consigo uma mochila e uma bolsa de mão, com seus últimos pertences. Antes mesmo que chegasse a porta, um elfo à abria, o convidando a entrar.

— A Senhora Narcisa está com convidado na sala de estar.

— Oh... Eu vou para meu quarto então.

— Ela pediu que fosse ao seu encontro assim que chegasse, senhor Malfoy.

— Tudo bem...

O elfo guiou Malfoy até a sala de estar, mesmo que ele tenha dito que não havia necessidade, já que ele conseguia ao menos chegar até a sala. Esperou do lado de fora enquanto o elfo anunciava sua chegada para mãe. Respirou fundo antes de entrar, ele não se sentia preparado para lidar com um bruxo naquele momento.

— Draco, que bom que você voltou! Se lembra de Harry? – Narcisa o abraçou assim que entrou na sala. Com muito esforço Draco conseguiu corresponder o abraço, mas seus olhos estavam cravados na expressão assustada de Harry.

— Viu um fantasma, Potter? – Sorriu de canto.

— N-na escola tem aos montes, Malfoy. – Harry encarava atônito, a chegada de Draco. O que ele mais temia realmente tinha acontecido. Ele tinha recuperado a memória, e provavelmente a culpa era sua... – Fico feliz de saber que está bem e que tenha voltado, Malfoy.

— Jura? – Seus olhos analisaram o rosto de Harry ironicamente, mas logo sua expressão voltou ao normal e sorriu para Potter. – Obrigado. Estou feliz de estar de volta.

Harry engoliu seco. Sua respiração começava a ficar descontrolada. Ele tinha cometido um terrível erro indo até aquela exposição. Mas... Estava bem ali, o sorriso pelo qual estivera apaixonado. Abaixou os olhos, corado. Respirou fundo e voltou a levantar a cabeça. Não sabia dizer se Draco havia recuperado as memórias que ele trancou. Não sabia sequer se queria que ele tivesse recuperado ou não... Precisava sair dali e pensar no que iria fazer.

— Narcisa, muito obrigada pelo chá. Eu combinei de ir ver o Teddy hoje e...

— Teddy? – Interrompeu Draco.

— Ele é neto da Nymphadora.

— Bom eu não quero atrapalhar. Semana que vem no mesmo horário, Narcisa?

— Claro, Harry. Estarei te esperando.

— Foi um prazer, Malfoy.

Harry mal saiu da vista dos Malfoys e desaparatou. Seu coração batia alucinadamente em seu peito e sentia sua respiração falhar várias vezes. Assim que chegou em casa, se jogou no sofá, sem força nenhuma para fazer qualquer outra coisa. Suas mãos passavam furiosamente em seu cabelo, enquanto sua mente trabalhava a mil, tentando entender os últimos acontecimentos.

— Tá tudo bem Harry. Respira! Você precisa respirar, se acalmar e agir como um bom auror que você é, e analisar a situação da melhor forma possível.

Na sua mente passava tudo que aconteceu nos dois últimos anos, depois que se encontrou com Malfoy no bar. Lembrou na noite em que bloqueou a memória dele. Das vezes que o observava escondido para se certificar que ele estava bem. De como seus encontros com Narcisa – que já vinham acontecendo muito antes do encontro com Draco. – passaram a ter Draco como tópico. Como descobriu que o pintor finalmente iria expor suas obras, e a dualidade que viveu por dias decidindo se iria ou não. Dos olhos dele, quando se reencontraram na galeria...

Naquela noite, Harry havia bebido alguns copos de whiskey em casa, e em um ato de impulsividade, pediu um portal de urgência para Chicago. Fazia meses desde a última vez que ele vira Draco, parte de si sabia que era idiotice e que poderia acabar muito mal, ele ir até lá. Mas outra parte, falou mais alto, estava morrendo de saudades e desejo de revê-lo. Prometeu para si mesmo, que aquela seria a última vez, que depois daquela noite, ele não voltaria a procurar por Malfoy. Pelo bem dos dois.

Mas então, quando ele chegou à galeria, em um segundo, seu coração foi ao céu e desceu para o inferno. Draco se lembrava dele, ele se lembrava de Harry. Essa era a única explicação para estar de frente com seus próprios olhos pintados na tela. Seus traços não eram nítidos, mas alguém que prestasse minimamente um pouco de atenção, veria que era Harry Potter naquelas telas. Deu um passo vacilante para trás, não sabia o que pensar sobre aquilo, e estar alterado pela bebida não ajudava. Uma risada ao seu lado chamou sua atenção. Sentiu seu corpo congelar ao ver que se tratava de Draco. Sua mente simplesmente desligou dali para frente, saiu correndo da galeria, entrou no primeiro bar que viu e se embebedou mais. A partir dali, não se lembrava de mais nada, nem mesmo como voltara para casa.

Jogou a cabeça para trás. Então Draco realmente se lembrava de tudo. Harry não sabia o que fazer, ele deveria ir atrás do pintor e tentar se explicar? Mas não sabia se ele havia apenas recuperado a memória antiga, ou se havia recuperado tudo. Bom, ele não parecia o odiar quando se encontraram na mansão. O que era uma coisa boa, não?

Respirou fundo, contendo a vontade de pegar um copo de whiskey na cozinha. Aquilo não ajudaria em nada, precisava pensar racionalmente e decidir o que faria a partir dali. Levantou-se e foi até o quarto, um banho relaxante poderia ajudar. Enquanto caminhava a passos lentos dentro de casa, tentava ignorar uma vozinha lá no fundo de sua mente, se perguntando se ele teria alguma chance com Draco, agora que ele estava de volta.

***

— Mãe? – Se voltou para Narcisa, depois de alguns segundos observando a porta por onde Harry saiu. – O que Potter estava fazendo aqui?

— Ora querido, Harry vem tomar chá comigo todas as quintas, há muitos anos. – Sua mãe voltou a se sentar no sofá, como se não fosse nada demais Harry Potter, o garoto-que-salvou-o-mundo-bruxo frequentar a casa da viúva de um comensal.

— É... Mas... Porque ele vem aqui todas as quintas?

— Me fazer companhia. Contar como foi a semana... Trazer Teddy para me ver... Somos amigos querido, qual problema?

— Que? – Draco franziu as sobrancelhas. – Amigos? Você e Potter, são amigos?

— Draco, pare de implicância! Somos e pronto. Lide com isso, querido. – Estalou os dedos, um elfo trouxe outra xícara de chá e encheu a que Narcisa estava tomando. - Achei que a essa altura do campeonato, sua rixa com Potter já teria acabado.

— Não existe rixa nenhuma! – Draco corou levemente, constrangido e se sentou. – É a primeira vez que o vejo desde que minha memória voltou... Quem é Teddy?

— Oh... Você não chegou a conhecê-lo antes do acidente... – Disse mais para si do que para o rapaz. – Teddy é seu sobrinho/primo, filho de Nymphadora. Harry é o padrinho do menino.

Draco suspirou aliviado, inconscientemente, por um instante imaginou que Teddy pudesse ser filho de Harry, e se tinha filho, tinha uma esposa, e se tinha uma esposa Harry não poderia ficar com... Parou seu pensamento no mesmo instante. Porque ele estava aliviado de que Harry não tivesse uma família? Até segunda ordem, eles eram inimigos de escola, só isso. A lembrança de August falando sobre como Harry parecia gostar dele, fizeram a coloração em seu rosto aumentar.

— Filho? Está tudo bem? Você está corado. – Levantou a mão para medir a temperatura do rosto de Draco, mas ele segurou sua mão antes de encostar-lhe, apertou gentilmente entre a sua e depositou um beijo nela.

— Está tudo bem, mãe. Estou cansado da viagem, acho que vou deitar um pouco, ok?

— Claro, querido. Te chamo para o jantar?

— Pode ser... – Se levantou e seguiu para seu quarto.

Precisava resolver aquilo o quanto antes. Precisava saber por que Harry estava na exposição. Se o que August havia dito, era verdade. Passou as próximas horas encarando o teto do quarto, pensando no que poderia fazer para resolver a situação. As memórias de seus anos na sonserina estavam sendo bem úteis, já havia maquinado vários e vários planos, mas nenhum parecia que realmente iria funcionar.

— Draco?

Se assustou ao perceber que sua mãe estava no meio do quarto.

— Estou te chamando faz tempo, como você não respondia, tomei a liberdade de entrar. – Apontou para porta atrás de si. – Você não quer descer para jantar?

— Mãe você tem o endereço do Potter?

— Sim, mas pra que você precisa?

— Você pode me dar? – Ignorou a pergunta de sua mãe. – Queria conversar com ele, pedir desculpas pelos velhos tempos... – Se sentiu culpado ao ver o brilho de orgulho nos olhos dela.

— Deve estar em algum lugar em meu quarto, vou pedir para um elfo procurar, enquanto isso, jantamos.

Saiu do quarto sem esperar uma resposta de Draco, deixando claro que ele teria de jantar com ela se quisesse o endereço. A janta correu normalmente, outra vez Narcisa mandara que fizessem um de seus pratos preferidos. Ele ainda não havia se acostumado totalmente a ter alguém fazendo sua comida, muito menos com ela aparecendo do nada em seu prato, mas não se assustou, como na primeira vez.

Draco quase não conseguiu dormir durante a noite de tão inquieto que estava. Sua vontade era ir assim que recebesse o endereço, mas ele não era mais um bruxo, não podia simplesmente desaparatar na frente da casa de Harry, nem mesmo utilizar o pó de flu. Teria que utilizar os bons e velhos modos trouxas para chegar até lá. E para isso ele tinha que esperar até o dia seguinte.

Esperou o relógio marcar seis horas e ponto, e saltou da cama direto para banheiro. Tomou um longo banho, tentando relaxar os músculos, que permaneceram flexionados durante a noite inteira. Sua roupa já havia sido decidida em sua mente durante a madrugada, então não demorou muito a se trocar, o que se tratando de Malfoy, era raro. Se olhou uma última vez no espelho antes de sair do quarto. Estava bonito, nem arrumado demais, ao ponto de Harry achar que tinha se preparado especialmente para vê-lo – mesmo que fosse verdade – nem largado demais, ao ponto dele achar que Draco não se importava que o visse “feio”. Suspirou e virou os olhos. O que ele estava fazendo. Ele realmente estava se importando com o que Potter iria achar de sua aparência?

Olhou para o relógio novamente. 5h45. Ele tinha enrolado tudo que podia, se saísse de casa agora, chegaria em quatro horas em Londres. Se tudo fosse de acordo com seus planos, no máximo as 10h30 estaria na frente da porta de Potter. Só esperava que ele estivesse em casa, para recebê-lo.

***

O relógio em seu pulso marcava 11h18. Assim como havia previsto, havia chegado as 10h30 ao endereço que sua mãe o havia dado. E desde então estava parado do outro lado da calçada, sem coragem de atravessar a rua e apertar a campainha.

Respirou fundo mais uma vez.

— Fala sério Draco, não é tão difícil assim! É só atravessar a rua, apertar a campainha, esperar Potter atender e perguntar ‘Hey, eu não sei se você sabe, mas eu tive amnésia e recuperei minha memória há pouco tempo... A propósito, a gente já namorou, tipo há uns dois anos atrás?’ Super tranquilo.

Virou de costas para a rua. O que ele estava fazendo ali, porque aquilo o incomodava tanto? Se ele não se lembrava só daquilo, então não teve tanta importância assim, certo? E Potter não foi atrás de si, o que significava que ele não queria mais saber de Draco, certo? Isso é... Se tudo aquilo fosse real.

— Que se dane!

Esperou um carro passar, atravessou a rua correndo, e sem se dar oportunidade para pensar no assunto, apertou a campainha. Seu coração disparou no mesmo instante, a vontade de sair correndo aumentava a cada segundo de espera. Quando deu o primeiro passo para trás, para ir embora a porta abriu.

— Draco? – Harry o encarava assustado. Limpou a garganta, tentando recuperar a compostura. Como Malfoy tinha conseguido seu endereço, e porque diabos ele estava ali?

— Bom dia, Potter. – Olhou para o rapaz a sua frente. O cabelo estava totalmente desgrenhado, não que fosse diferente antes, mas pelas roupas que ele usava, parecia que ele havia acabado de sair da cama. — Eu posso entrar?

— Hun... – Harry saiu do transe que entrara ao ver Malfoy em sua porta, corando. – Claro, claro. – Abriu mais a porta e deu espaço para que ele entrasse. Fechou a porta assim que ele entrou. – Como você sabe onde eu moro?

— Minha mãe. – Draco esfregava as mãos, já não tinha tanta certeza se foi uma boa idéia ir até lá. – Eu precisava conversar com você.

Harry engoliu seco. De tudo que imaginou que podia acontecer com a volta de Draco, ele ir pessoalmente e por conta própria até sua casa, não estava na lista.

— Aceita alguma coisa? Whiskey? – Harry olhou para Draco, tentando analisar sua reação com as palavras. Mas ele sequer piscou ao ouvir.

— Adoraria Whiskey. Obrigada.

Harry deixou Draco na sala enquanto foi buscar dois copos, muito necessários, para eles. Draco passou os olhos pela sala. Era exatamente como imaginou, cafona e com muitas coisas vermelhas, riu. Em cima da lareira havia alguns quadros, se aproximou deles para ver quem eram. Em um deles, estavam Ronald, Hermione e Harry sorrindo, curiosamente era uma fotografia trouxa. No outro quadro havia um casal em uma fotografia bruxa. Draco sorriu, não precisava de muito para saber que aqueles eram os pais de Harry.

Ouviu um barulho atrás de si, se virou e deu de frente com Harry o encarando com dos copos na mão. Harry ofereceu um para Draco, que pegou rapidamente.

— Você tem os olhos da sua mãe.

— É o que dizem. – Harry sorriu com as palavras, mesmo que já houvessem dito milhares e milhares de vezes, sempre sentia um formigamento de orgulho ao ouvir. – Então... Você disse que queria conversar.

— É... Eu quero... – Tomou um gole do whiskey, esperando que fosse lhe dar mais coragem. – Hun... Não sei se minha mãe te contou que eu sofri um acidente, um pouco depois da guerra.

— Sim. – Seu coração batia loucamente, Harry não sabia o que Draco lembrava ou não lembrava, não sabia o que podia ou não dizer, e aquilo era enlouquecedor. Apontou para o sofá, oferecendo para que ele se sentasse.

— Então deve saber que eu perdi minha memória... – Sentou no sofá. – E que só recuperei recentemente. – Viu Harry engolir seco.

— Algumas coisas ainda estão bem confusas, e depois de tantos anos como trouxa, nem sei se consigo acreditar em todas as memórias. – Riu sem graça. – Existem algumas memórias, que estão um tanto bagunçadas, queria saber se você pode me ajudar.

— Eh... Eu não... Eu...É...- Respirou fundo antes de voltar a falar. Precisava se acalmar. – Eu adoraria ajudar Malfoy, mas porque eu?

— Você me ajudou tanto dois anos atrás, achei que poderíamos repetir a dose.  

Tomou mais um gole. A carta estava jogada. Era só esperar pela reação dele. Se ele desmentisse, e Draco não notasse nenhum traço de mentira, poderia só dizer que suas memórias estavam bagunçadas, e pronto. E não precisou esperar muito, assim que Harry ouviu o que disse, quase deixou o copo que segurava cair.

Harry se atrapalhou com o susto. Ele se lembrava, e veio pedir uma explicação. Colocou o copo sobre a mesa de centro, com um rápido feitiço limpou o sofá e o chão, tirando o cheiro forte de whiskey que subiu no ar.

— Draco... – Colocou a mão nos olhos. – Olha, eu posso explicar.

— Mesmo? – Seus olhos fecharam perigosamente para Harry, não iria admitir que não se lembrava de nada, queria que ele confirmasse a história. – Pois eu vou adorar ouvir.

— Do que você... – Olhou para Draco de canto, não queria passar por aquilo, mas ele precisava se explicar. Draco merecia isso. – Do que você lembra?

— Eu quero que você me explique desde o começo, Potter. Você... Você sabia que eu tinha perdido minhas memórias quando nos revimos?

— Não! – Disse assustado. – Eu juro. Eu não sabia de nada quando nos reencontramos. Eu achei que... – Esfregou a mão no cabelo nervoso. - Eu achei que você queria recomeçar... Fingir que nada aconteceu, que nós não nos conhecíamos.

— Então minha mãe não te contou o que ela fez? - A expressão de Draco era indecifrável para Harry.

— Nós não falávamos sobre você. Narcisa nunca foi atrás de você, então eu achei, assim como todos, que você tinha sumido ou estava morto, e ela nunca negou ou afirmou isso.

— O que te fez pensar que eu queria recomeçar, Potter?

— Você... Você se aproximou de mim – Harry sorriu de lado, se lembrando de sua primeira conversa no bar. – E bem, não se parecia em nada com o Malfoy que eu conheci em Hogwarts. Você sorria, dançava com estranhos, ajudava pessoas que talvez nunca mais fosse ver na vida... Não tinha como eu saber que você tinha perdido a memória, mas pensando bem, isso faria muito mais sentido do que você querer recomeçar. – Riu triste e sem graça.

— Minhas memórias ainda não estão completamente estáveis. – Draco respirou fundo e se ajeitou no sofá. – Nós estávamos juntos naquela época? – Limpou a garganta, não conseguiu impedir que suas orelhas corassem levemente. – Digo, nós estávamos... namorando?

Harry olhou assustado para Draco, mas logo em seguida sorriu. Ele teria adorado ter Draco em seus braços naquela época, teria adorado que ele fosse apenas seu e de mais ninguém. Assim nunca teria de vê-lo chorar daquela maneira.

— Não. Você tinha terminado há pouco tempo. – Sorriu constrangido, e coçou o nariz. – Eu cheguei a me confessar, mas levei um fora.

— Oh... – O coração de Draco batia loucamente em seu peito, suspeitava até que Potter fosse capaz de ouvir. – Por que não me lembro disso? – Se levantou. – Quero dizer, quando eu sofri o acidente, minha mente bloqueou todas minhas memórias até ali. Mas me lembro de tudo do dia que eu acordei do coma em diante. Mas não consigo me lembrar de ter te visto nos últimos anos. – Acabou confessando inconscientemente, o que não passou despercebido por Harry.

— Eu pensei que você tinha dito que suas memórias estavam confusas, não que não se lembrava de nada, Malfoy. – Harry também se levantou, parando atrás de Draco.

— De fato, eu não me lembro. – Se voltou para Harry. – Eu voltei ao bar essa semana, e August me reconheceu. Ele começou a contar um monte de história sobre mim, que eu simplesmente não me lembrava... – Olhou para próprias mãos. Aquela tinha sido a primeira vez que se sentiu incomodado por não ter suas memórias. – E você estava em todas elas. Eu... Sinto muito por ter mentido, Potter, mas eu precisava saber o que aconteceu comigo, entende? – Se aproximou de Harry, o olhando nos olhos.

Harry se afastou de Draco e foi em direção a mesinha, onde tinha deixado seu copo. Tomou todo o conteúdo de uma única vez. Precisava de uma ‘dose de coragem’ para o que iria dizer. Voltou a olhar para o homem parado no meio da sua sala. Ele não tinha mudado muito nos últimos dois anos. O cabelo estava um pouco maior, e agora estava preso em um rabo de cavalo. Harry adorava vê-lo jogar o cabelo de um lado para o outro no meio de uma dança. Suspirou e olhou dentro dos olhos de Draco.

— Fui eu. – O outro o encarou confuso. – Eu tranquei sua memória sobre nós, sobre Shandria, sobre... tudo que me envolvia.

— O que? – Draco deu dois passos incertos para trás. – Com que direito...

— Eu pensei que fosse o melhor para você, Draco. Tive medo que me ter por perto pudesse trazer à tona todas as memórias ruins do passado, que você mesmo trancou e que sua mãe se sacrificou para deixar pra trás. – Tentou se aproximar dele e tocar sua mão, mas ele desviou. –Não queria te fazer sofrer mais ainda.

— Você disse que minha mãe não tinha te contado nada, como você sabia? – Os olhos de Draco ficavam cada vez mais vermelhos, mas nenhuma lágrima caia.

— Eu... – Harry baixou os olhos, envergonhado. – Li sua mente, na nossa última noite juntos.

As luzes da casa começaram a piscar, algumas coisas levitavam, mas Draco não parecia perceber o que estava acontecendo, muito menos que era ele quem estava provocando aquilo.

— Mas o que... Que merda você e minha mãe têm na cabeça? Vocês acham que sabem o que é o melhor pra mim, Potter? – Draco empurrava o peito de Harry com dedo, exaltado. – Eu passei a porra da minha vida inteira tendo quem dissesse o que era melhor pra mim! Eu sei o que é melhor pra mim! Não você, muito menos minha mãe. – Vidros em volta da casa se quebravam, enquanto as portas dos armários batiam incessantemente. – Vocês não tinham o direito de fazer o que fizeram comigo, Potter. Eu não era a porra de uma criança indefesa, eu passei por aquela guerra tanto quanto qualquer um. Eu sei me cuidar sozinho. Seu cabeça rachada idiota! – As lágrimas já caiam descontroladamente por seu rosto, mas ele não se importava. – O Santo Potter achou que poderia me salvar também? Sabe quando eu precisava ser salvo? Quando o maldito Voldemort invadiu minha casa, quando ele torturou pessoas na minha frente, me obrigou a matar Dumbledore, em troca de não matar minha família. Mas ninguém iria ajudar um sonserino mimado filho de comensal, não é mesmo? – Riu tristemente.

Harry caiu no sofá, sem reação. As coisas começavam a voltar para o lugar e as luzes se apagaram. Não sabia o que fazer, muito menos o que falar para Draco.

— Eu quero minhas memórias de volta, Potter.

— O que? – Harry olhou sem entender.

— Minhas memórias. Você trancou elas, eu as quero de volta.

— Hun... Draco eu... Claro. – Se levantou e foi a passos tortuosamente lentos até Draco, respirou fundo antes de olhar em seus olhos de novo. – Eu sinto muito.

Assim que suas memórias foram voltando, suas lágrimas voltaram a cair. Fechou os olhos quando Harry terminou. Um turbilhão de emoções se mexia dentro de si, como um furacão.

Não conseguia lidar com tudo aquilo agora, precisa descansar. Precisava ficar longe de Potter, e seus malditos olhos verdes tristes e preocupados, seus lábios, que agora Draco se lembrava do gosto, e seu cheiro. Precisava sair dali, agora!

— Eu tenho que ir.

Pegou seu casaco, que estava jogado no sofá e foi em direção a porta, mas Harry segurou sua mão.

— Draco...

— Potter, não! Eu não... Não posso lidar com isso agora. – Sentiu seu coração doer ao ter sua mão solta, mas não olhou para trás. Abriu a porta que dava para rua, e saiu da casa o mais rápido que pode.

***

Harry ficou horas sentado no sofá, apenas olhando para porta por onde Draco havia saído.

A tristeza e decepção nos olhos de Draco eram tudo que tentava evitar durante aqueles dois anos. Havia cometido um erro terrível com ele, não só tinha invadido a privacidade dele, mas também modificara sua mente sem sequer tentar saber qual seria a vontade dele. Harry realmente acreditou que estava fazendo o melhor por Malfoy.

Mas depois de tanto tempo, sempre pensando naquilo, sabia que não havia feito a coisa certa. Perguntou-se várias e várias vezes se houvesse uma possibilidade de esquecer tudo o que tinha acontecido, as mortes, a guerra, Voldemort. E a resposta era mesma. Não. Esquecer tudo era esquecer seus melhores amigos, Ron e Mione. Esquecer a família Weasley. Esquecer a verdade sobre seus pais. Esquecer Sirius e Remus. Esquecer Hogwarts.

Ele não queria esquecer, e tinha quase certeza que Draco também não.

Foi à cozinha buscar a garrafa de whiskey, iria precisar de uma ajuda pra dormir aquela noite. Tentou pensar em modos de desfazer seu erro, mas só o pensamento de ter Malfoy o odiando novamente, o assustava. Ele não saberia lidar com o olhar frio e as palavras ácidas dele, não agora que estava apaixonado pelo outro. Riu enquanto enchia mais um copo, ele era um maldito egoísta, não queria lidar com a própria dor, então deixava Draco perdido em meio a memórias vazias.

Mas já não importava mais, Draco tinha recuperado toda a memória. Ele sabia o que Harry tinha feito, e quando Potter tentou explicar, ele deixou bem claro que não tinha cabeça para ouvir suas palavras. Levou a garrafa consigo para o quarto. Talvez ele devesse tentar ter um coma alcoólico, e quem sabe esquecer aquele dia.

— Fechou os olhos, após se jogar na cama. Ia ficar tudo bem, ele só precisava dormir.

***

Draco ficou em Londres por mais uma semana. Ligou para mãe para avisar que não voltaria por hora para casa, mas até o fim de semana estaria de volta. Alugou um quarto em uma pousada próxima de sua escola de arte. Ele passava os dias divido entre tentar entender os sentimentos que invadiram seu coração desde que teve todas suas memórias, inclusive as de Potter, de volta e tentar esquecer tudo aquilo.

Era coisa demais para ele lidar. Estava surpreso de não ter enlouquecido ainda. Primeiro ele descobria/se lembrava que era um bruxo, e não um ser humano normal, sem magia, como acreditou ser até aquele momento. Então o seu ex joga em sua cara como só havia o usado como bode expiatório para superar a ex, com quem ele por acaso se casou. Se não fosse desgraça suficiente, ele descobre que ainda haviam lembranças que não tinha recuperado, e que essas envolviam Potter. E a cereja do bolo era descobrir que o cara, por quem fora apaixonado quase sua adolescência inteira, tinha se apaixonado por ele, mas foi burro o suficiente para apagar sua memória ao invés de deixar rolar.

Levantou-se quando ouviu a campainha tocar. Não se lembrava de estar esperando visitas. Quando abriu a porta, deu de cara com um entregador e um pacote enorme ao seu lado.

— O senhor é... – Olhou a ficha em suas mãos. – Draco Malfoy?

— Ele mesmo.

— Assine aqui, por favor?

— Obrigado. – Disse enquanto o rapaz ia embora. Olhou novamente para caixa, pelo tamanho se tratava de um quadro.

Puxou-o para dentro do apartamento, o levou até o quarto e o deixou encostado na parede. Naquele momento tudo que ele queria era um banho e se arrumar, essa noite ele iria sair, e dessa vez pretendia não arranjar mais problemas ainda.

***

 A porta bateu com força, acordando alguns vizinhos. Risos entre beijos podiam ser ouvidos enquanto eles caminhavam sem se separar até o quarto. Uma blusa foi jogada no chão, uma jaqueta no sofá. Na tentativa de tirar as calças, os dois foram parar chão.

— Talvez a gente devesse parar de se beijar um pouquinho pra tirar a roupa. – Disse Draco ainda beijando o rapaz.

— Acho que você tem razão. – Ele segurou a cintura de Draco, o afastando lentamente, rindo. Ambos estavam completamente bêbados.

— Vem. – Se levantou e puxou o outro para cima, o levando para seu quarto. – Fica a vontade, eu vou tomar um banho.

— Posso? – Apontou para o pacote no chão.

— Desde que você não o roube. – Piscou para o rapaz, tinha quase certeza que se chamava Luís. Entrou no banheiro da suíte. Não tinha saído de casa com pensamento de transar naquela noite, então não havia se preparado para ocasião. Ligou o chuveiro quente, não queria perde totalmente a sensação de letargia que a bebida ainda estava gerando em seu corpo.

Não demorou muito para sair do banho. Não se deu ao trabalho sequer de se secar antes de voltar ao quarto. Encontrou Luís deitado na cama, completamente nu, sorrindo maliciosamente para ele. Subiu em cima da mesma parando de quatro em cima do rapaz, que não tardou em levar as mãos ao corpo de Draco.

— Acho que tirei a sorte grande... – Lambeu o pescoço de Draco, arrancando um gemido.

— Ah é?

— Além de gostoso, você é um ótimo pintor. Talvez você pudesse me pintar um dia desses. – Draco rolou olhos, típico pedido de alguém quando conhece um artista. – Aquele olho verde, ficou incrível.

Draco se afastou no mesmo instante. Olho verde? Olhou para trás, se deparando com a pintura que havia feito há muito tempo. Os olhos do homem que o acompanhava em seus sonhos, os olhos de Harry.

Sentiu toda excitação morrer no mesmo instante.

— Vai embora. – Seus olhos não desgrudaram da pintura. – Desculpa, eu acho que não estou me sentindo muito bem. Não to mais no clima. – Se levantou da cama, pegou uma cueca limpa no armário e a vestiu. Luis não tentou insistir para continuar ou ficar ali. Simplesmente vestiu sua roupa e saiu do apartamento, claramente irritado. – Droga, Draco! Qual o seu problema...

Sentou novamente na cama, observando o quadro. Ironicamente, havia se esquecido nos últimos dias, que havia pintado aquela tela. Mas olhando para ela agora, se lembrava perfeitamente de quando a pintara. Os olhos de um homem, que agora sabia que era Harry, invadiam seus sonhos todas as noites. Eram sempre os mesmos olhos, sempre intensos, e às vezes com um brilho de raiva. A primeira vez que havia pintado aqueles olhos, eles eram exatamente assim, intensos e raivosos. Mas depois que voltara para Londres, eles estavam diferentes. Agora conseguia ver um vislumbre do rosto dele, e os olhos... Olhos agora o olhavam com ternura e amor. E foi exatamente assim que os pintou pela segunda vez.

Suspirou, e se jogou para trás. Quem ele estava tentando enganar? Mesmo tendo perdido todas as memórias, mesmo Potter tendo trancado a memória dos dois, ele nunca havia esquecido aqueles imensos olhos verdes. Ele sempre fora apaixonado por Potter, e pelo visto, ainda o era.

— A vida podia ser um pouco mais fácil... – Fechou os olhos e se deixou levar pelo sono.

***

Harry ouviu a campainha soar pela casa, mas não sentia a menor vontade de sair da cama. Queria continuar ali, não para sempre, mas até sua folga no trabalho acabar. Ele se sentia patético. A primeira folga que ele pedia no trabalho, desde que começara a trabalhar foi por conta de um coração partido.

Pressionou o travesseiro nos ouvidos, tentando ignorar o incessante aperto que a pessoa fazia na campainha.

— Vai embora... – Disse, mesmo sabendo que quem quer que fosse do lado de fora, não iria ouvir.

— POTTER, EU SEI QUE VOCÊ ESTÁ AÍ! ABRE A PORTA!

    Harry levantou em um pulo. Ele tinha ouvido certo? Malfoy estava parado na sua porta? Encarou as garrafas vazias pelo quarto, ele não estava alucinando? O som estridente da campainha o despertou de seus devaneios. Saiu correndo do quarto, sem sequer se importar com sua aparência moribunda. Abriu a porta o mais rápido que pode, dando de cara com Malfoy prestes a tocar a campainha novamente.

—Draco!

— Potter, você está horrível.

— O que você está fazendo aqui? – Seus olhos se arregalaram, seria possível que ele estivesse sonhando, mas ao ver Draco franzir a sobrancelha, soube que não. – Não quer entrar?

— Adoraria. – Passou por Harry, sem fazer cerimônia. Foi em direção a sala, o único cômodo que conhecia. – Estava dormindo, Potter?

Harry olhou de imediato para a própria roupa, corando ao perceber que não só estava com uma roupa, digna de seus dias com os Dursley, como estava fedendo a álcool. Só esperava que Draco não tivesse reparado na última parte.

— Eu vou... Eu já volto, fica à vontade.

Saiu da sala antes mesmo que Draco pudesse responder. Suas roupas foram saindo de seu corpo, quase por conta própria, sendo largadas ao longo do caminho até o banheiro. Ligou o chuveiro assim que entrou no box, soltou um pequeno grito de susto quando sentiu a água gelada bater em suas costas, antes de começar a esquentar. Seu banho durou o tempo necessário, para esfregar o corpo e tirar aquele cheiro impregnado de si. Queria tomar um mais longo, se arrumar direito, mas não tinha tempo para aquilo agora. Secou o cabelo com um feitiço, por algum motivo não queria que Draco soubesse que ele havia tomado banho. Pegou a primeira roupa decente que achou no armário e voltou para sala, onde encontrou Draco folheando um livro trouxa, que havia deixado em cima da mesa.

— Desculpa a demora, Malfoy. – Esfregou as mãos, nervoso. – Não estava esperando visitas.

— Tudo bem, eu vim sem avisar. – Largou o livro de volta na mesa. – Gosto muito dessa escritora, as histórias dela são fantásticas.

— Eu não sabia que gostava de livros trouxas, Malfoy.

— Potter, eu fui um trouxa pelos últimos anos. – Riu.

— Oh... É claro, eu... Sinto muito. – Coçou a cabeça, constrangido. Harry não dava uma dentro.

— Não tem porque se desculpar. – Deu a volta no sofá, o pacote que tinha trago consigo estava apoiado no mesmo. – Potter, eu vou direto ao ponto, isso é pra você.

Abriu o pacote e tirou de dentro o quadro com os olhos que vinham perturbando seus sonhos. Entregou para Harry, que olhava para ele sem entender, até que viu o que estava no quadro. Sua expressão era um misto de surpresa, alegria, confusão e vergonha. Harry já havia visto aquele quadro antes, no dia da galeria, mas vê-lo tão perto, em suas mãos era totalmente diferente.

— Como assim? Eu não posso aceitar, Draco. Isso deve valer muito. – Não conseguia tirar os olhos do quadro, e sequer havia percebido que estava sorrindo. Além do fato de ter os olhos parecidos com os de sua mãe, Harry nunca se ligou muito neles, já escutou milhares de vezes como tinha olhos bonitos, mesmo de pessoas que sequer conheciam sua mãe. Mas naquele momento, ele não conseguia deixar de pensar que aqueles olhos eram lindos. – Eu não...

— O quadro é meu, Potter, e eu escolho o que fazer com ele. E no momento eu quero te dar.

— Eu... – Pela primeira vez, desde que viu o quadro, olhou para Draco. – Obrigado! – Desviou os olhos novamente para tela. – Mas por quê?

— Porque eu gosto de você. – Os olhos de Harry arregalaram ao ouvir tais palavras. – Sempre gostei, antes mesmo do acidente.  E mesmo depois do acidente, apesar de não lembrar quem você era, você nunca saiu da minha mente. – Apontou para o quadro. – Você sempre esteve presente de alguma forma. – Deu alguns passos para frente, por fora ele parecia tão calmo e tranquilo, mas dentro de si, sua mente gritava, seu coração explodia, e suas pernas estavam prestes a criar vontade própria, e sair correndo dali. – Você não tinha o direito de trancar minhas memórias. Foi errado, mas... – Suspirou – Eu ainda gosto de você... Harry. – Sorriu, um tanto incerto.

— Draco. – As palavras dele haviam sido como tiros, um atrás do outro, invadindo sem piedade seu corpo. Respirou fundo, com cuidado apoiou o quadro do lado, e sem pensar muito sobre o assunto, puxou Draco para seus braços, o apertando forte. Naquele exato momento, Harry teve certeza que estava sonhando. Porque era a única forma dele ter Draco em seus braços. – Você... Eu... Eu não... – Se afastou o suficiente para ver o rosto dele, que estava completamente corado. – Eu também. Eu ainda te amo.

Draco afundou a cabeça no peito de Harry. Riu ao perceber que o coração de Harry estava tão acelerado quanto o seu. Fechou os olhos absorvendo aquele momento. Sentiu os braços em volta de si, o apertarem ainda mais forte. Draco passou os braços em volta da cintura de Harry, retribuindo o abraço. Ficaram parados daquela forma, apenas apreciando a presença do outro, absorvendo os detalhes daquele momento, registrando que o que sentiam era recíproco. Quando se afastaram, não sabiam dizer quanto tempo tinham ficado daquele jeito.

Harry deslizou os dedos pelo rosto de Draco, observando cada detalhe do rosto dele, sem a mínima vergonha. Draco sorriu, levemente corado, ao ver os olhos que inundavam seus sonhos, olhos cheios de amor. Harry não esperou nem mais um segundo para tomar os lábios de Draco para si. O beijo não foi calmo e suave, como era esperava, mas violento e cheio de desejos - guardados há muito tempo.

Não demorou muito para que ambos percebessem a onde aquele beijo estava os levando. Harry puxou as pernas de Draco para cima, fazendo com que ele tivesse que se segurar em si, mas sem nunca deixarem de se beijar. Harry caminhou a passos lentos e cambaleantes, arrancando risos de Draco sempre que batiam em algum lugar, até chegar a seu quarto.

Depositou Draco na cama, e deitou em cima dele. O beijo foi se acalmando gradativamente, até estarem apenas selando-os hora ou outra. Harry e Draco abriram os olhos ao mesmo tempo, suas pupilas estavam dilatadas, exalando prazer. Harry olhou mais intensamente para Draco, perguntando se ele queria continuar, o que foi prontamente respondido com um aceno. Eles não precisavam de palavras naquele momento, eles não queriam palavras naquele momento.

As mãos de Draco foram até a barra da blusa de Harry, a puxando levemente para cima. O pedido foi prontamente atendido, e Harry arrancou a própria blusa e em seguida tirou a de Draco. Parou alguns segundos observando a pele pálida do rapaz abaixo de si. Seus dedos traçaram as cicatrizes no peito dele, enquanto uma expressão de culpa se instalava em sua face. Draco se apoiou em seus braços, chamando a atenção de Harry, selou seus lábios lentamente. Diferente do começo, ele queria fazer amor com Harry, com calma, devagar, para gravar cada momento em sua pele.

Harry sorriu de lado ao sentir os lábios do outro, a culpa ainda existia dentro de si, e tinha certeza que sempre iria existir, mas não queria estragar aquele momento com tristezas. O empurrou com delicadeza, para que voltasse a se deitar na cama. Seus lábios desceram pelo pescoço dele, em direção a seu peito, se demorando em cada pedaço, arrancando suspiros cada vez mais longos de Draco.

Sua mão desceu até a calça de Draco a abrindo. Um gemido escapou dos lábios de Draco ao sentir a mão quente de Harry invadir sua cueca e o tocar sem demora, seu membro que já estava desperto, não demorou muito a enrijecer, assim como seus gemidos não pararam de sair. Harry continuar a trilhar beijos e mordidas pelo peito de Draco, mesmo depois de senti-lo fincar unhas dele em suas costas, o arranhando.

Draco puxou os cabelos da nuca de Harry o obrigando a parar seus movimentos, uma de suas mãos desceu até a virilha dele, acariciando seu pênis, ainda preso dentro da calça. Com movimentos rápidos, trocou de posição com Harry, ficando por cima dele. Arrancou ambas as calças, deixando os dois completamente nus. Os olhos de Draco brilharam de excitação em ver o corpo do amado, mas não perdeu muito tempo apenas olhando. Harry gemeu alto ao sentir Draco fincar os dentes em seu pescoço e em seguida, lamber com carinho o local magoado.

Draco, assim como Harry, começou a descer seus beijos pelo peito do outro, mas ao contrário deste, continuou descendo até chegar em sua virilha. Harry arregalou os olhos, arqueando as costas ao sentir a boca molhada de Draco engolir seu pênis e logo em seguida voltar até a ponta, repetindo os movimentos sem parar. Suas mãos foram aos louros cabelos, os segurando com força, mas sem machucar, incentivando-o a continuar. Quando Harry sentiu que estava prestes a gozar, puxou o cabelo de Draco com mais força, o obrigando a largar seus pênis. A imagem de Draco corado, com os olhos lânguidos é confusos, e uma linha de saliva entre sua boca e seu membro, foi um teste de resistência para Harry.

Ele puxou Draco para cima, e novamente as posições foram invertidas, mas dessa vez Draco estava de bruços, deixando sua bunda complementarmente exposta. Draco soltou mais um gemido alto ao sentir a boca de Harry beijando e lambendo suas costas, enquanto Harry - que em algum momento, a qual ele não havia percebido, tinha pegado algo para usar de lubrificante - penetrava sua entrada com dedos completamente lambuzados.

Não demorou muito para que nem Draco, nem Harry, não aguentavam mais esperar.Com toda calma que Harry conseguiu reunir naquele momento, ele colocou a camisinha e começou penetrar Draco, que se agarrava aos lençóis da cama, tentando inutilmente conter seu gemido.

Harry se deitou em cima de Draco, tentando se acalmar e esperar até que o outro tivesse se acostumado. Mas assim que sentiu Draco rebolar, buscando mais contato, toda sanidade em sua mente sumiu. As estocadas não paravam um segundo, o ritmo só aumentava. Os gemidos poderiam ser percebido a quadras dali, mas eles não se importavam.

Draco sentiu seu corpo vibrar, dando claros sinais que estava perto do orgasmo. Virou-se como pôde, buscando por um beijo, antes do final, que foi prontamente atendido. O beijo foi interrompido pelo gemido de ambos, ao alcançarem o orgasmo.

Harry mal conseguia abrir os olhos, nunca tinha sentido nada parecido com aquilo. Soltou um último gemido, ao sair de dentro de Draco. Tirou a camisinha com cuidado, amarrando-a logo em seguida. Jogou-se ao lado de Draco. Apesar do que havia acabado de acontecer, Draco sentiu seu rosto corar ao sentir o peso do olhar de Harry sobre si, sorriu para ele, recebendo um sorriso igual em resposta. Harry lançou um feitiço de limpeza em ambos e no quarto, puxou um cobertor que estava no pé da cama para cobri-los. Não se importava que ainda fosse de manhã, ele só queria dormir ao lado do amor de sua vida, e não demorou muito a cair no sono.

Draco ficou um tempo apenas olhando para o sorriso no rosto de Harry. Sentia- se naquele momento, a pessoa mais feliz do mundo. Ele sabia que tinha feito a escolha certa indo até ali, teriam muito o que resolver, e muito pelo que passar. Mas naquele momento, ele tinha feito as melhores lembranças,  pretendia fazer muitas mais. E dessa vez, ele não iria se esquecer.


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Notas finais do capítulo

Deixem seus comentários princhipescos!! Vou adorar saber o que acharam ♥