A rua estava calma. Não havia sinal algum de automóveis, crianças barulhentas e os miados habituais dos gatos da velinha da esquina. A mesma familiar rua com pequenas mudanças, mas de grandes efeitos, em que usavam para chegar até em casa, sendo o caminho mais demorado, escolhido propositalmente. Embora os pássaros continuam cantando, aquele mínimo detalhe não era, de fato, incômodo para nenhum dos dois.

O fim de tarde era perceptível pelo aviso que o sol lhes dava, em palavras subentendidas, escondendo-se pouco a pouco atrás das montanhas ao longe. Tsukki observava o céu, descontraído, sem realmente estar a pensar em alguma coisa. Os ombros descontraídos eram um explícito sinal do quanto almejava chegar logo em casa, porém, a outra parte de si desejava passar mais tempo ao lado de Tadashi. Uma intensa batalha ocultada a olho nu. Contestava suas próprias escolhas.

Não via a hora do mês acabar para lançarem, finalmente, o jogo que tanto esperava; assim, também conseguiria uma desculpa para chamar Tadashi novamente para passar a tarde em sua casa.

— Não é ruim, Tsukki?

— Hm? — Virou-se para Tadashi, que igualmente observava o céu. Mas havia algo de diferente em sua atmosfera. Algo que, antes embora não estivesse ali e tampouco fazia falta, agora, apareceu tão de repente que sequer podia-se notar o que realmente era. Imaginou ser o sorriso tímido, mas essa resposta aparentou ser demasiada pouca para Tsukki. Então, quem sabe fosse seu humor quieto. Ah, devia ser isso. Por mais que pouco falasse, Tsukki tinha facilidade em constatar as coisas ao seu redor. Um observador nato, por assim dizer; embora em busca de quê? No fim, por mais bom que fosse com aquele excêntrico hábito, Tadashi permanecia sendo um desafio. Um livro aberto, mas não tanto assim. Uma incógnita. Aquele tipo de pessoa pela qual você pensa saber tudo, e logo te mostra o quão errado era a sua ideia. Superando-se, surpreendendo todos ao seu redor e, principalmente, mudando a vida, rotina e o modo de Tsukki ver o mundo. Indescritível, inacreditável.

— A primavera acabou de iniciar e, mesmo assim, as flores de cerejeira já contém uma aparência quase morta. Elas duram cerca de uma semana. Não acha ruim ter uma vida tão curta? — E então, Tsukki percebeu que ele não olhava para o céu, e sim para algo mais intrigante. Tadashi não continuou, e os dois deram uma pausa na caminhada para suas respectivas casas. Não havia um real motivo, senão um movimento involuntário, como se parecesse ser a coisa certa a se fazer. E, antes de continuar, Tadashi fixou seu olhar em Tsukki, logo prosseguindo — É um tanto triste quando paro para pensar sobre isso.

Foram tampados pela sombra dos galhos; o calor dissipou-se com a inusitada aparição do vento. A situação em que estavam lembrou muito Tsukki o evento Hanami. Nunca tinha participado e não carregava interesse algum por ele. Afinal, o que as pessoas achavam de tão interessante sentar-se embaixo de árvores rosadas, beberem e festejarem, em baixo tom, com seus amigos? O que mais de estranho, para Tsukki, foi o pensamento de ser algo mais religioso, íntimo do que pensava. E então achou que, beijar Tadashi sob as pétalas de cerejeira, pudesse ser, sim, uma boa ideia.

Mas não o fez.

Sua visão falhou por um milésimo de segundo, como se tivesse saído da Terra e voltado logo após. Não poderia mais adiar sua visita ao oftalmologista, e o porquê estava cada vez mais evidente. Sentia-se péssimo, e pouco sabia do motivo disto.

— De acordo com a lenda, um velho samurai fez um desejo, debaixo da flor de cerejeira, para ela florescer apenas mais um vez, que seria o bastante para ele. Em troca, daria-lhe sua própria vida. Não é incrível? Ele acabou morrendo, mas ela continuou viva por causa do seu desejo, no final. — O olhar de Tadashi foi desviado ao tronco da árvore. Apreciava lendas, ainda mais quando continham uma grande lição. Era verdadeiramente apaixonado pela literatura japonesa, tanto que era bastante óbvio, já que um sorriso nascia cada vez que falava sobre sua tamanha paixão pelo assunto.

E Tsukki desejou poder beijar Tadashi algum dia, sem que seus sentimentos lhe atrapalhassem. Na verdade, não importaria se morresse logo após; até porque, sabia que não chegaria a tomar iniciativa.
Ao menos não enquanto sua amizade corresse risco com a tentativa.