Batedores escrita por pamyei


Capítulo 1
Sangue, sangue, sangue


Notas iniciais do capítulo

Eu não vou conseguir colocar em palavras com perfeição essa história, mas por agora espero ter feito o meu melhor



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—Se concentre, tente novamente. -Era a terceira vez que Adriele tentava acertar o alvo.

Ela arrumou o corpo na posição certa em cima do "X" no chão, respirou fundo e enfileirada com mais dois alunos se concentrava no alvo, pegou mais uma faca prateada de cima da balcão vermelho e a fitou.

—Todos mais uma vez.

—Okay. -Ela, respirou fundo, prendeu a respiração e lançou a faca. Errou de novo. 

Ela se retirou e sentou em um banco verde no canto da sala do lado de alguns meninos que estavam desinteressados, vendo o resto da turma que (com exceção de um ou outro) acertarem os alvos com facilidade.

Eu coordenava o resto das crianças, sobre posição dos ombros e como arremessar as facas da forma correta, só algumas coisas pra melhorar as técnicas que eles mesmos já tinham. Observei o olhar de frustração em Adriele. Ela e o irmão -que tinha seus dezesseis anos- eram novos na Vila,  chegaram não faziam nem quatro meses e ainda estavam na fase de adaptação, eles vieram sozinhos, ninguém sabe de onde vieram e como sobreviveram lá fora tanto tempo. Eles eram muito quietos. 

Ao sinal do lanche o resto da turma foi pra área de refeição. Sentei ao lado de Adriele e passei a mão pelos fios loiros dourados da menina.

—Ei, tá tudo bem? 

—Não. -Ela suspirou.- Eu sou péssima nisso.

—Não diga isso, você é nova aqui, é diferente, as crianças dessa sala estam treinando a pelo menos um ano e meio, elas tem que ser boas, assim como você também será. -Disse isso em um tom provavelmente agradável.

—Não criaria expectativas se fosse você. -Ela disse com um sorriso tristonho. -Eu nunca precisei fazer nada sabe? Mesmo lá fora, meu irmão sempre me protegeu, ele é ótimo nisso, e antes dele meus pais protegeram.

—Eu reconheço um talento quando eu vejo um. - Disse levantando puxando ela para cima. - Você é nova ainda, vai conseguir.

—Você não é muito mais velha do que eu e é ótima.

—Eu nasci dentro desses muros, vi eles sendo construídos desde criança, essas coisas que te ensinam me ensinaram logo que eu nasci, tenho que ser boa mesmo.

Quando andávamos em direção a porta ouvi o alarme alto e extritende de emergência, tive um leve e súbito susto quando o ouvi. Nesse momento minha adrenalina subiu e meu coração disparou. 

—Adriele, pega o máximo de facas que puder, fica na sala e tranca a porta, só abre quando te avisarem que o perigo passou.

—O que está acontecendo? 

—Eu não sei.

Sai pra fora da sala e a fechei, as pessoas corriam desesperadamente, treinadores tentando proteger os alunos, seus olhares amedrontados, no meio da multidão eu vi o cabelo escuro do meu irmão que tinha um semblante arrasado. 

—Lucas! Lucas! O que está acontecendo?

—Houve uma falha na segurança, entraram pelo portão norte, há muitos mortos. -Quando ele disse isso meu peito estremeceu.

—Leve eles pros auditórios 2 e 3, leva todo mundo que puder, tranque as portas e espere as coisas estarem sob controle. Tem uma garota dentro da sala aqui, leve ela também. Manda o pedido de socorro pro Esquadrão de Elite.

—Já mandei.

—Okay. -Ele começou a correr- Lucas!

—Oi! 

—Salve todos. -Ele acenou com a cabeça dando a entender que faria o seu melhor.

Peguei minha arma e corri em direção ao portão norte, eles invadiram justo na área onde ficavam guardadas as munições, isso era muito perigoso. Fui correndo entre os corredores desesperada e alerta, no meio do caminho encontrei Vitor, ele levava seu grupo de crianças o mais rápido que podia, ele levava duas meninas no colo e tentava guiar o resto, tinha um ar muito preocupado.

—Betina, a minha irmã sumiu, -agora eu entendi o olhar aflito- eu não acho ela em lugar nenhum, ela estava tendo aula na quadra, mas não chegou até o refeitório ainda.

—Eu vou achar ela, -prometi- não se preocupe, leve as crianças em segurança pros auditórios, o Lucas vai te esperar lá.

—Você está com a arma carregada?

—Sim.

—Pega a minha, eu estou seguro, você vai precisar.

Peguei a arma dele e voltei a correr pelos corredores, eles eram Protetores, eu era Segurança, uma dos poucos em plantão hoje, mas que merda, por que isso estava acontecendo justo hoje? Se fosse qualquer outro dia os estragos seriam menores.

Ainda corria quando encontrei um dos Negadores, tirei a arma e atirei. Ele caiu no chão ainda tentando me abocanhar, foi quando eu peguei a faca e dei corte em seu pescoço. Dali pra frente não era seguro, comecei a andar em alerta, as paredes tinham marcas de sangue  e isso fez meu coração pesar.

Quando virei o próximo corredor eu vi o corpo, Hery, um menino de nove anos, nasceu na Vila, cresceu aqui. Me ajoelhei perante ao corpo e tentei ver a respiração, um corte feito pela causa de um Negador foi preciso na sua garganta, ele ainda sangrava, tentei o reanimar, mas já era tarde, senti uma tontura, quase caí, nisso dois Negadores apareceram, fiz um disparo certeiro na cabeça do primeiro, ele caiu no chão, O segundo tentou se lançar em mim, peguei a minha faca e arremessei na garganta dele, ele caiu em cima do corpo do primeiro. 

Sentia uma dor forte, por mais que eu tivesse crescido neste mundo faziam muitos anos que eu não via a dor da perda tão de perto. Levantei e continuei meu caminho. Quanto mais andava mais pensava na Isabeli, a irmã de Vitor, ela era melhor amiga da minha irmã mais nova e cresceu no nosso quintal junto com nós, era uma irmã pra mim também e a ideia de perder-la me fez estremecer os ossos. Fui passando  e ouvi um barulho dentro de uma sala, era Rafaela e sua turma. 

—Esta tudo bem? 

—O que está acontecendo? Tivemos que nos trancar aqui, é a única sala resistente a Negadores.

—Eu não sei como aconteceu, cadê a Isabeli? - Procurei o rosto dela no meio das crianças de cinco anos, mas não a vi.

—Ela tinha ido ao banheiro com uma colega, o alarme soou, eu as perdi. -Ela disse com os olhos enchendo de lágrimas. -Por favor tente salva-las.

—Vou salva-las. Tenho que ir, continue aqui, não se arrisque lá fora.

—Á Deus. -Ela disse em um tom fúnebre.

—Á Deus.

Corri mais um pouco e achei Gustavo, ele era um Segurança como eu, estava tentando salvar uma criança de sete anos. Fui junto a ele.

—Oi.

—Me ajuda, ela tá sangrando, muito.- A menina nos braços dele tinha um corte fundo na barriga, sangrava muito e estava totalmente suada, devia estar doendo muito.

—Foi ferida pela calda? -Perguntei.

—Não, foi as garras. -Ele disse tentando fechar a ferida com as mãos.

—Então dá pra salvar.

—Eu sei, mas não sei como fazer isso.

—O Esquadrão já esta vindo para o resgate, apenas estanque o sangue, a Rafaela está na sala ali, ela vai te ajudar. -Tirei a minha blusa da cintura e amarrei ao redor da barriga dela pra ajudar a estancar o sangue.

—Você vai sozinha?

—Vou, mas ficarei bem. Devem haver outros Seguranças nas outras linhas de corredores.

—Á Deus. -Ele disse enquanto levava ela para a sala da Rafaela.

—Á Deus.

Meu coração a mil, estava totalmente aflita, completamente desesperada. Só continuei andando, suava frio, tinha medo do que encontraria pela frente. Minhas mãos estavam encharcadas de sangue e eu não sabia mais de quem era.

Cheguei no começo das coisas, o portão norte, que dava acesso a vários pontos da escola. O número de Negadores que estavam chegando era gigantesco, ao me verem vieram em minha direção, esses bichos me enojavam, chamar eles de bichos era uma ofensa pelos animais que eu conheci.

Peguei a arma e matei o primeiro com facilidade, três vieram atrás. O segundo caiu em seguida. As balas acabaram no terceiro. Meu coração disparou, peguei a arma que Vitor me deu. O quarto chegou bem perto, quase não escapei dele. Quando vi o último estava pulando em mim, só conseguia pensar em desviar do rabo dele. Vi ele caindo na minha direção, o rabo mirando em mim, atirei nele e me joguei pra lado, foi só o suficiente para o rabo não me perfurar, mas o corpo pesado caiu em cima da minha perna quase esmagando-a.

Gritei alto e agudo, doía, e doía muito. Tirei a perna de baixo, tentei ficar de pé e cai no chão, doía. Levantei de novo e dessa vez não me permiti cair. 

Andei quase me arrastando, tinha que fechar o portão que dava pro lado de fora da Vila, era só isso que eu precisava fazer. Fui até a porta fechar, quando. A luz do Sol ao meio dia chegou  meus olhos por uns segundos,olhei para o lado de fora e vi minha mãe segurando Isabeli.

—Mãe? O que você estão fazendo? Entrem, é mais seguro aqui. -Disse em meio a gemidos de dor.

Quando elas viraram eu vi minha mãe com a arma apontada para a cabeça da Isabeli, ela estava chorando enquanto a Simone (minha mãe) permanecia estática. Não sorria, nem chorava, não estava preocupada com os Negadores que a observavam como uma presa fácil, mas por algum motivo eles não estavam indo em sua direção, só observando ao longe.

—Mãe, o que você está fazendo?

—Meu amor eu preciso te dizer algo: somos o câncer, nós mesmos nos matavamos, como células infectadas, nós mesmos criamos eles, -ela apontou para os Negadores- nós fizemos a nossa própria cura, e agora que ela está ai -Ela fez algum sinal que fez com que os Negadores saíssem da inércia e viessem com sangue nos olhos em direção a ela- devemos ultiliza-la.

Os Negadores vinham rápido e desenfreados. O medo me tomou, eram mais de vinte indo em direção a Simone e a Isabeli, peguei a minha arma e tentei atirar neles, mas eu tremia e quase não acertava. Sai correndo tentando chegar na Isabeli, eu havia prometido trazer-la em segurança. Simone então apontou a arma pra mim e atirou, pensei que aí fosse o meu fim mas nessa hora Isabeli reagiu, deu uma cutuvelada no tórax que foi o bastante para que ela errasse o tiro.

Assim Simone se teve em ódio e reagiu pegando a arma, antes que ela pudesse atirar na Isabeli eu atirei. Dessa vez o tiro foi certo, pegou no pescoço, minha mãe caiu, morta. Senti um súbito desespero, mas ao ver Isabeli bem me veio um estranho alívio. Cedo demais. Um Negador pulou em cima da Isabeli. O grito alto que ela deu subiu em mim um arrepio que eu nunca tinha sentido, nessa hora um outro Negador me atacou, eu que já estava fraca e cai,  atirei nele e atirei no que atacava a Isabeli com uma reação impulsiva.

Nessa hora o Esquadrão chegou, com força e em peso, eu me arrastava no chão em direção a Isabeli enquanto eles eliminavam todos os Negadores, fazendo com que os que não tinham atacado ainda dessem meia volta e voltassem pras ruínas da cidade. Eu cheguei na Isabeli, ela ainda respirava, tinha um corte fundo no peito e outro na barriga, cuspia sangue e tentava não engasgar, levantei a cabeça dela, segurei a ferida enquanto o Esquadrão se aproximava, Deus por favor não, tudo que eu queria é que não tivesse sido a cauda que tivesse a cortado, tudo que eu precisava era que ela não tivesse sido ferida pela cauda

O Esquadrão chegou em mim e me tirou do chão, comecei a implorar e balbuciar pra que salvassem ela, eles repetiam que estava tudo bem, que eu tinha sido forte, olhei eles pegarem Isabeli e correrem com ela nos braços pra dentro da Vila. Assim que vi a saída da vila sendo fechada vomitei em cima do homem que me levava. Depois disso a visão foi fechando, os cantos estavam escurecendo, tudo mexia muito rápido, quase não enxergava mais, sedi a dor. Apaguei.

 


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Notas finais do capítulo

Espero que gostem ;)



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