Meu mundo escrita por Alice Alamo


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

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Não ousou, nem mesmo por Athena, mover-se, não quando possuía o seu mundo inteiro logo ali, em seus braços. Permaneceu sentado, na terra, a sujeira em suas roupas nunca o incomodara, não seria agora a começar. As estrelas no céu brilhavam, fortes, os desenhos das constelações dos cavaleiros de ouro mais do que as outras, afinal, eles estavam de volta, vivos, pela misericórdia de Zeus.

Ikki se apoiou novamente nos braços esticados atrás do corpo, as pernas estendidas e abertas no jardim, o peito servindo de repouso para o outro cavaleiro. A respiração de Shaka era calma, profunda, e Ikki viciou-se no suave som que ela produzia. O corpo dele também era quente, afastava o frio da brisa noturna, e trazia ao coração um sentimento reconfortante.

Há duas semanas, os cavaleiros de ouro tinham voltado. Ikki nem ao menos estava na Grécia quando aconteceu, mas foi o primeiro a pegar um voo do Japão para o santuário. Saori o recebeu com serenidade, ela sabia o que lhe dizer, a quem ele procurava ali no templo de Athena onde os cavaleiros de ouro estavam sendo mantidos até que seus cosmos se estabilizassem.

Em três dias, o céu se abriu, pelo menos o de Ikki sim. As nuvens cinzentas sumiram como se os olhos azuis de Shaka revelassem o mais limpo e belo céu, e Ikki não se importou com os olhares surpresos quando se apressou para ajudar o cavaleiro de Virgem a andar até seu templo.

Ele estava fraco, visivelmente instável, abatido como se sua alma ainda remoesse os horrores vividos no mundo inferior. Ikki o ajudou a entrar no templo, mas Shaka o afastou assim que pisou nele. Os olhos azuis estavam fixos em uma única direção, e ele viu Shaka seguir a passos curtos e lentos até o jardim sagrado. Os joelhos cederam assim que os pés descalços tocaram o solo, e, naquele momento, Ikki não só viu um dos cavaleiros mais poderosos desabar ao chão com dificuldade de erguer-se sobre os próprios braços, ele viu o homem mais próximo de Deus chorar.

As lágrimas manchavam a face enquanto o choro quebrava a harmonia do jardim, um pranto de agonia e dor, que Ikki reconheceu ser a exteriorização da mais profunda ferida, aquela que se instaura na alma de quem já esteve uma vez perdido e recebe uma nova chance.

Não desviou o olhar, não se aproximou, respeitou. Shaka era orgulhoso, era forte, ele se ergueria sozinho, como Ikki tinha certeza de que faria, e só então o cavaleiro de Fênix o envolveria sob suas asas queimadas.

Abraçou-o quando Shaka se sentou, a cabeça erguida com os olhos buscando nas estrelas a resposta para suas dúvidas. As mãos de Shaka tremiam, estavam frias e sujas de terra, mas Ikki não se importou com isso quando teve seu rosto segurado.  Os dedos hesitavam, contornavam-lhe os traços enquanto os olhos o observavam atentamente, como se aquele fosse o primeiro encontro deles.

Sentiu o gosto das lágrimas quando Shaka se aproximou, trêmulo, para unir os lábios. Um toque tão suave que era o mesmo que arrastar com carinho uma pétala em sua boca.

Tentou transmitir firmeza, tocou-lhe o rosto e beijou com devoção e cuidado cada parte dele, os dedos acariciaram os cabelos longos, e não houve resistência quando puxou Shaka para que ele deitasse a cabeça em seu ombro.

Aquilo havia se repetido nos dias seguintes, sempre que Shaka acordava no meio da noite com um pesadelo. E não havia como disfarçar. Deitado ao lado do cavaleiro de Virgem, despertava no exato momento em que o corpo em seus braços passava a se agitar e não demorava para Shaka abrir os olhos e sentar-se de súbito. Caminhar pelo jardim o acalmava, então Ikki pegou o hábito de acompanhá-lo. No fim, descobriu que o jardim ainda trazia paz a Shaka, apesar do sangue que manchara o solo sagrado.

Shaka insistia em sentar-se com as costas apoiadas no que havia sobrado de um dos pilares, era desconfortável, mas Ikki sabia que era a forma dele de manter um pouco do orgulho. Sentava-se ao lado e, quando o sono voltava a cair sobre os olhos celestes, Ikki puxava Shaka para si, como uma ave a levar o filhote de volta ao ninho.

Shaka sorria, amargo, mas fechava os olhos com as batidas do coração de Ikki tão próximas ao ouvido. Sentava entre as pernas do cavaleiro de Fênix, deitava a cabeça em seu peito e deixava que a mão dele brincasse com seu cabelo até que o sono viesse.

E Ikki não dormia, ambos sabiam que não, mas nenhum argumento do mundo, nem mesmo do homem mais próximo de Deus, faria com que ele tirasse sua atenção de Shaka. Os deuses tinham colocado Shaka de volta em seus braços, e ele morreria antes de permitir que alguém, cavaleiro ou deus, tirassem-no de si novamente.


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Notas finais do capítulo

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