A Rainha do Fogo escrita por gwenhwyfar


Capítulo 2
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

Esse cap ficou gigantão uú



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No capitulo anterior...

- Vamos menina, não chore. Sei o que é melhor pra você, tem que confiar em mim. É pra isso que estou aqui, pra cuidar do seu futuro e lhe conseguir um bom marido que cuide da minha pequena e linda cabeçinha de vento.

Se ele estivesse zangado com ela, Sakura poderia ter continuado na rebelião. Mas como vou me queixar de um pai que só quer o meu bem?, pensou desanimada.




Capitulo II




Lá longe, no Norte, o inverno chegou com muito mais força do que o comum. A maior parte do dia era escura e quando o sol aparecia por algumas horas, os homens saiam para caçar, mas as mulheres eram condenadas a ficar no castelo.

Hanabi só levantou os olhos de sua costura quando sentiu um vento gélido atingir seu rosto em cheio. Levantou os olhos para a porta e disse numa leve censura:

- Hinata minha querida, quer matar todas nós congeladas? Está muito frio para isso e você não passou o dia se queixando de frio?

- Eu não me queixei – protestou Hinata, corada com a censura da tia – é que essa sala está tão abafada e a fumaça da lareira está me sufocando. Só queria um pouco de ar fresco.

Mesmo assim, a moça fechou a porta e voltou para perto da lareira, tremendo:

- Sinto frio desde que cheguei aqui.

- Eu sei – comentou Hanabi – o pequeno passageiro aí rouba todo o calor do nosso corpo. É sempre assim.

- Sorte que a pior parte do inverno passou e os dias têm ficado mais claros – disse uma das criadas – Talvez daqui a dez dias a senhora já tenha seu filho...

Hinata não respondeu, continuou encolhida junto ao fogo, tremendo. Observando-a assim, Hanabi se surpreendeu com a aparência de Hinata. A moça parecia uma sombra do que tinha sido antes. Com o rosto pálido e excessivamente magro, Hinata conservava uma aparência cadavérica, contrastando com a enorme barriga grávida.

Sob os olhos haviam círculos roxos e as pálpebras estavam sempre vermelhas, como se Hinata chorasse todas as noites. Hanabi sentiu o coração se apertar. Eu a consolaria, mas como, se ela não chora na minha frente?

O belo cabelo escuro de Hinata estava embaraçado, como se não o penteasse à dias. A tia ficava exasperada com esse desleixo da sobrinha. Uma ou duas vezes viu Hinata fungar e seus olhos se encherem de água, mas não viu uma lágrima descer pelo rostinho cansado.

- Não deve demorar muito agora, Hinata – disse Hanabi ternamente – Daqui duas semanas você deve ter seu filho nos braços.

- Filha – concertou Hinata – Finalmente esse tormento vai acabar.

- Vou aumentar o fogo – disse uma das criadas levantando-se. Dirigiu-se a lareira, tropeçou num pedaço de madeira e quase caiu. – Gaara, pelo amor de Deus, limpe essa sujeira!

Jogou a madeira no fogo e Gaara, de sete anos, deu um grito de protesto: as madeiras eram seus exércitos! De um salto o menino correu e salvou seu soldado da morte. Hanabi disse a ele aborrecida.

- Está na hora dos soldados descansarem Gaara.

Com ar amuado, o menino empurrou os pedaços de madeira, guardando um deles no bolso da túnica. Era o mais bem feito de todos, feito por Hinata assim que chegara na corte, quase nove meses atrás.

- Você faz outro samurai pra mim Hinata?

- Agora não Gaara – respondeu a moça com as mãos nas costas – Minhas mãos estão doendo de frio. Amanha eu faço.

Mal-humorado, ele se aproximou de Hanabi e se apoiou nos seus joelhos, dizendo:

- Quando vou poder sair pra caçar com papai, Nagato e Sasori?

- Ah, algum tempo ainda – disse a mãe rindo – Você só poderá sair quando for grande o suficiente para não se perder na neve.

- Mas eu sou grande! – disse o ruivinho com as costas bem retas – Não tem nada pra fazer aqui dentro!

- Posso te ensinar a costurar – ofereceu Hinata, pegando a agulha e a toalha de Hanabi. Gaara recuou, olhando feio para os instrumentos.

- Eu sou um samurai! Samurais não costuram!

- Mas existe a história de um guerreiro que costurava. – disse Hinata e Gaara aproximou-se dela interessado. – Não Gaara, você não pode se sentar no meu colo, sente-se aqui do meu lado. Isso aconteceu num país bem distante daqui com um guerreiro chamado Aquiles. Ele foi amaldiçoado por uma feiticeira que disse a mãe dele que ele morreria em combate. Por isso ela o vestiu como uma menina e ele aprendeu a costurar e fiar com as mulheres.

- E ele morreu em combate? – perguntou Gaara de olhos arregalados.

- Morreu sim, quando a cidade de Tróia foi sitiada todos os guerreiros foram para a batalha e Aquiles se revelou o melhor de todos.

- Quando eu for pra corte de Naruto – disse Gaara com os olhos arregalados como pires – serei o melhor guerreiro e conquistarei todos os prêmios. O que aconteceu com Aquiles depois da batalha?

- Não me lembro Gaara – disse Hinata, colocando as mãos nos rins como se sentisse dores – Ouvi essa história a muito tempo, quando estava na corte de Minato...

- Conte alguma coisa dos guerreiros famosos de Naruto, Hinata. Você viu mesmo o Sasuke? É verdade que ele matou mesmo um dragão só com duas kun...

- Pare de aborrecê-la Gaara – pediu Hanabi – ela está doente. Vá até a cozinha e veja se tem algum bolinho pra você.

O menino parecia aborrecido, mas tirando o guerreiro de madeira do bolso, saiu conversando com ele:

- Então, sir Sasuke, vamos sair pra matar alguns dragões...

- Suponho que todo garoto tenha o seu herói – suspirou Hanabi, vendo os flamejantes cabelos de Gaara desaparecerem – Ele só sabe falar em guerras e do seu precioso Sasuke, como se não bastasse ter Neji longe com Naruto, nas guerras! Espero que quando Gaara crescer haja alguma paz nessa terra...

- Sim, a paz virá – sussurou Hinata, com um ar distante – Mas isso não terá mais importância, porque ele morrerá pelas mãos do seu melhor amigo....

- Que! – exclamou Hanabi assustada, mas os olhos de Hinata estavam longe, como se estivessem vendo um outro mundo. A tia sacudiu-a levemente:

- Hinata, você está se sentindo bem?

Hinata piscou e olhou surpresa para Hanabi, sacudindo a cabeça:

- Desculpa tia. Você disse alguma coisa?

- O que foi que eu disse? Ora essa, o que é que você disse? – Mas Hinata abaixou a cabeça outra vez, aquela misteriosa dor surgindo na sua face. Hanabi então acariciou a face da sobrinha, atribuindo ao delírio as palavras sombrias da sobrinha. – Vamos Hinata, você deve estar com fome. Não tem comido muito e está só pele e osso...

- Não zombe de mim tia! – exclamou a moça, empinando a barrigona.

- Mas olhe para seu rosto e suas mãos... Você teve o treinamento de sacerdotisa e sabe controlar seu corpo, mas seu bebe não está preparado pra suportar a fome...

- Eu devia era ter acabado com isso quando tinha tempo – interrompeu Hinata sentando-se ao lado de Hanabi. A tia apenas disse:

- Agora é tarde demais pra ficar se lamentando. Deixe-me pentear esse seu cabelo, está tão embaraçado!

Pegou o pente e começou a passar pelos fios sedosos de Hinata que afastou a cabeça e disse:

- Deixa amanha eu faço isso tia...

- Quieta cher. – mandou Hanabi, segurando os cabelos da sobrinha com firmeza – Lembra que eu penteava seus cabelos quando você era pequena em Tintagel? Eu sempre quis ter uma filhinha pra cuidar, mas Orochimaru so me deu meninos que pensam em guerras e batalhas. Agora você tem que ser minha filhinha...

Uma lágrima solitária molhou o rosto de Hinata e ela fechou os olhos, tentando controlar o pranto. Hanabi percebeu e abraçou a sobrinha.

- Vamos minha garotinha, isso vai acabar logo, não se esqueça de que eu tive quatro filhos sendo que o primeiro nasceu quando eu tinha apenas dezesseis anos! Eu ainda brincava com minha boneca quando Neji nasceu, eu era uma criança! Você já é uma mulher feita...

- Sei que sou muito velha pra ter meu primeiro filho – disse Hinata, mas se agarrou a Hanabi, que afagou sua cabeça enquanto terminava de arranjar os cabelos da sobrinha no alto da cabeça. Notou então que a moça estremecia.

- O que foi Hinata?

- Minhas costas doem – respondeu a moça inquieta – Fiquei sentada por muito tempo, deve ser isso.

Levantou-se e começou a andar pela sala. Hanabi, no entanto, notou que a sobrinha apertava os rins com caretas de dor e embora não tivesse a Visão, seu sexto sentido de mulher lhe dizia pra preparar os panos e deixar as parteiras a postos.

Orochimaru e seus homens conseguiram pegar um cervo velho e três coelhos gordos. Prepararam então um banquete no castelo real e nem mesmo Hinata recusou a carne do roedor, quando lhe foram oferecidos os pedaços mais nobres.

- Não gosto muito de carne, mas é estranho, não consigo parar de comer – comentou ela, devorando a carne de coelho.

- Seu filho quer isso – explicou Hanabi – Coma um pedaço de cervo também...

- Não posso comer carne de gamo. Comi isso no ritual sagrado e .... e.... e esse cheiro me dá náuseas.

E essa criança foi gerada no ritual sagrado... Porque será que Hinata fica tão perturbada? Essas recordações deveriam ser agradáveis pensou Hanabi, mas no fim chegou a conclusão que Hinata talvez tivesse realizado o ritual com um homem bruto que não conhecia muito das mulheres e deve ter sofrido algo como um estupro, o que explicaria parte de sua raiva com a primeira noite de amor e a gravidez.

Orochimaru, sentado do outro lado de Hanabi, pegou o pequeno Gaara no colo que tinha o rosto brilhante de gordura da carne.

- Daqui alguns anos você poderá ir comigo caçar, você e o pequeno rei das montanhas Hyuuga, é claro.

- Quem é o rei Hyuuga, papai? – perguntou Gaara.

- Ora, o bebê de Hinata – respondeu Orochimaru sorrindo, e Gaara ficou tempo olhando com o rosto franzido para Hinata.

- Mas não estou vendo nenhum bebe, papai.

A prima deu um muxoxo, pouco a vontade:

- No próximo mês eu o mostrarei a você Gaara.

- A Virgem da Primavera vai trazer ele?

- Pode-se dizer que sim – respondeu Hinata, sem conter o riso.

- E como um bebe pode ser rei?

- Meu pai era o rei Hyuuga e eu sua única filha legítima. Quando Naruto subiu ao trono, deu Tintagel a mim, e meus filhos herdarão aquelas montanhas, se eu tiver algum.

Hanabi, olhando para a moça, pensou Seu filho está mais perto do trono que o meu Neji. Eu sou tia de Naruto e Neji é seu primo... Mas o filho de Hinata será sobrinho de Naruto... será que ela já pensou nisso?

- Hinata, porque não canta um pouco para nós? – Pediu Orochimaru, secundado pelas pessoas ali em volta.

- Comi demais pra poder cantar. – desculpou-se Hinata e Gaara correu para ela.

- Canta pra mim, canta Hinata. Canta aquela musica sobre o dragão.

- É muito comprida pra hoje Gaara. Mas vou cantar, se é isso que todo mundo quer.

Hinata pegou um violão pequeno, feito de bambu e pinheiro, afinou algumas cordas e começou a cantar uma canção maliciosa dos soldados no acampamento de guerra, que foi secundada por todos os homens da mesa. As vozes masculinas se elevaram, seguindo o timbre harmonioso de Hinata:

“Os rebeldes chegavam da escuridão
Quando todos estavam dormindo
E matavam todas as mulheres, pois
Preferiam dormir com os porcos no chiqueiro!”


- Isso você não aprendeu na corte de Minato – sorriu Orochimaru, provocando o riso de muitos.

- Canta mais! – gritou Gaara do colo do pai.

- Agora não Gaara. Estou sem fôlego. – recolocou o violão no chão e começou a andar novamente, em seguida apanhou a agulha e linha, mas quase imediatamente as largou e refez os passos.

- Mas o que é que você tem moça? – perguntou Orochimaru – Não para quieta um minuto.

- Minhas costas doem quando fico sentada, e aquela carne está me fazendo mal. Estou com cólicas...

De repente, Hinata se curvou como se tivesse sentido uma câimbra. Deu um grito assustado e Hanabi percebeu o quimono ficar ensopado até os joelhos.

- Hinata, você fez xixi! – gritou Gaara – Você é muito grande pra mijar na roupa, minha mãe me bateria se eu fizesse isso.

- Quieto Gaara! – mandou Hanabi, correndo para a sobrinha que estava corada de vergonha.

- Tudo bem Hinata. Sente dores aqui? E aqui? Foi o que pensei. Você está em trabalho de parto, não sabia?

Mas como Hinata poderia saber, era sua primeira vez. Ordenou que a levassem para as parteiras e tomassem as providências iniciais. E disse ao marido:

- Tenho que ficar com ela. É a primeira vez e ela ficará com medo.

- Não tenha pressa querida – disse Orochimaru bocejando preguiçosamente – Você terá a noite inteira pra ficar segurando a mão dela – e sorriu ironicamente, de um jeito que apenas ele conseguia – Está com tanta pressa em trazer o rival do nosso Neji ao mundo?

- O que quer dizer? – perguntou Hanabi rispidamente.

- Que Naruto e Hinata nasceram do mesmo ventre e o filho dela está mais perto do trono.

- Naruto é jovem – disse ela friamente – Pode fazer dezenas de filhos, porque precisaria de um herdeiro?

- A sorte é inconstante – comentou Orochimaru sem se abalar – E se a mágica que a Senhora de Atlantida conferiu a Naruto falhar, gostaria que Neji estivesse mais próximo dele. Pense bem, hime. Hinata pode muito bem perder essa criança ao nascer, sabe como a vida de uma criança é frágil, ainda mais se ficar perto de uma janela em pleno inverno... E a moça não ficará chateada, vi como ela odeia essa criança...

- Como eu poderia fazer isso com ela! Hinata é como uma filha pra mim, aliás, toda a mulher sente isso na primeira gravidez – irritou-se Hanabi, recuando – Acha que eu também não quis tomar um daqueles preparados quando estava grávida de Neji?

- Você é mãe amante Hanabi – disse o marido, pegando afetuosamente o queixo de sua mulher. – E eu fico satisfeito por isso, mas pense nisso. O reino do Norte é pequeno demais para quatro príncipes, mas se Neji for Hokage, haveria terra para todos os quatro.

Hanabi sacudiu a cabeça, desalentada. Orochimaru não gostava de Naruto, assim como nunca gostou de Minato.

- Preciso ir ver minha sobrinha.

Orochimaru sorriu por trás dela.

- Pense bem no que eu lhe disse, minha mulher.

No pequeno quarto, Hinata andava de um lado para o outro com a parteira. A lareira fora acesa e um panelão de sopa fora levado para o quarto: a noite seria longa. Tudo aquilo tinha um clima de festa e era realmente uma festa para as outras mulheres.

Assim que Hanabi se aproximou, Hinata ergueu o rosto franzido e perguntou:

- Demora muito tia?

- Ora, você não deve pensar nisso querida. Pense que a cada contração seu filho está mais perto de nascer, assim tudo andará mais rápido.

Porém, a rainha pensava consigo Ela é tão pequena e está tão relutante em dar a luz! Sem dúvida não será um parto nada fácil.

- Tia, trouxeram um gato pra cá, por quê?

- Você nunca viu uma gata dar a luz? Quando as gatas vão ter filhotes ficam ronronando o tempo todo e assim o prazer que ela sente ao dar a luz talvez se transmita a você também – explicou Hanabi, afagando o gato – Sente-se agora para descansar querida, e segure a gata no colo.

Hinata afagou o gato, mas logo se dobrou em dores e as parteiras insistiram para que ela se levantasse outra vez.

- Assim vai mais depressa querida, prometo que não falta muito – disse Hanabi começando a ficar preocupada. E se não houvesse dilatação? E se o feto morresse dentro da barriga de Hinata? Um arrepio percorreu sua espinha até a nuca, e Hanabi tentou afastar os maus agouros. Porém, a noite avançava e Hinata andava, andava e andava mais, sem qualquer indício do bebê descendo.

- Estou tão cansada, tão cansada... – gemeu.

E ficará ainda mais cansada, até que tudo acabe pensou a tia, limitando-se a apoiar a moça e ajudar com os passos trôpegos.

- Vamos minha menina, apóie-se em mim...

- Você é como minha mãe... – murmurou Hinata, agarrada a tia, com o rosto contorcido como se fosse chorar – Queria que minha mãe estivesse aqui...

E mordeu o lábio, lamentando aquele momento de fraqueza.

As horas arrastavam-se, lentas. Algumas mulheres dormiam, mas como eram muitas, podiam se revezar em apoiar Hinata na sua caminhada. A moça ia ficando cada vez mais pálida.


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O sol despontava no horizonte, e as parteiras ainda não disseram que Hinata podia deitar na cama, embora estivesse tão cansada que mal podia colocar um pé na frente do outro. Sentia frio e se agarrava num cobertor de algodão, pra logo em seguida tira-lo dizendo que se sentia queimar. Repetidas vezes teve cólica e vomitou. As mulheres forçavam-na beber preparados de ervas, que ela engolia sedenta. Mas logo em seguida recomeçava a vomitar tudo.

Hanabi observava a sobrinha, pensando no que Orochimaru dissera e avaliando se iria fazer muita diferença agora. Era muito provável que Hinata não sobrevivesse ao parto.

Por fim Hinata não conseguiu mais andar e deixaram-na deitar, ofegante, mordendo os lábios com as contrações. Hanabi ajoelhou-se ao lado e, pegando a mão da sobrinha, perguntou-lhe docemente:

- Ele... o pai da criança... era muito maior do que você? As vezes quando a criança demora tanto a nascer, significa que o pai e que é grande demais para a mãe.

Pensava, como havia pensado inúmeras vezes, em quem seria o pai dessa criança. Viu Hinata olhar para Sasuke, quando este viera ao reino buscar o tributo para Naruto. Se ele era o pai da criança, estava explicado a irritação de Tsunade, que expulsou Hinata de Atlântida... ou será que a moça é quem saiu por conta própria? Para Hanabi aquele seria um mistério fora do seu alcance.

As horas arrastaram-se. O sol já havia nascido e Hanabi desceu para a sala, onde Orochimaru e seus homens jogavam durante o café da manhã. Orochimaru, com uma das criadas no colo, observava as peças, enquanto com uma das mãos brincava distraidamente com os seios dela. Quando Hanabi entrou, a moça olhou-a apreensiva e começou a deslizar dos joelhos do rei, mas Hanabi atalhou secamente:

- Fique onde está não precisamos de você entre as parteiras, nem atrapalhando nosso trabalho.

A moça baixou a cabeça. Orochimaru virou-se para a esposa:

- Como está Hinata, querida?

- Nada bem, nunca vi alguém ter tanta dificuldade – respondeu a mulher, em seguida inquiriu com raiva – Você rogou uma praga pra que Hinata morresse no parto?

- Não desejo mal a Hinata. – disse Orochimaru surpreso, sacudindo a cabeça – Você é quem conhece magia e encantamentos. Deus sabe como eu odeio perder uma bela mulher e Hinata é uma bonita, apesar de sua língua afiada!

Hanabi sorriu afetuosamente para o marido. Orochimaru podia escolher brinquedos bonitos para sua cama – inclusive a criada em seu colo – mas entendiam-se bem os dois.

- Mamãe, onde está Hinata? – perguntou Gaara – Ela disse que ia fazer um soldado pra mim.

- Ela está doente filhinho – Hanabi suspirou novamente, preocupada.

- Ela ficará boa logo, Gaara – emendou Orochimaru rapidamente – e então você terá um priminho pra brincar. Será seu irmão de criação e seu amigo. Há um ditado que diz que laços de criação duram mais que laços de parentesco, e o filho de Hinata terá laços de parentesco e de criação com você. Ele será mais do que seu irmão.

- Eu queria ter um amigo – sorriu Gaara – Eu podia emprestar os meus soldados e a gente podia sair juntos caçar o dragão de sir Sasuke!

- Bem, o filho de Hinata será seu amigo quando crescer um pouquinho – disse Hanabi – A Deusa ouve as orações das crianças, filho, por isso você deve rezar para que ela dê a Hinata um filho forte, e que ele não venha como o enviado da Morte...

E de repente começou a chorar. Espantado, Gaara ficou olhando a mãe, enquanto Orochimaru indagava:

- Ela está tão mal assim, querida?

Hanabi assentiu com um gesto. Enxugou as lágrimas com as mãos, não havia necessidade de assustar seu filho. Gaara então olhou para o alto e exclamou:

- Por favor Deusa faça a prima Hinata ter um filho forte, pra que possamos crescer juntos e sermos samurais juntos.

Hanabi riu contra a vontade e acariciou o rosto gorducho:

- Tenho certeza de que a Deusa ouvirá sua prece. Agora vou voltar para junto de Hinata.

Sentiu porém, os olhos de Orochimaru a acompanharem quando saiu da sala, quase para lembrar-lhe em pensamento do que dissera antes- que seria melhor para eles se o filho de Hinata não sobrevivesse.

Voltou para o quarto. As parteiras tinham feito Hinata ajoelhar-se sobre um monte de panos, para ajudar a criança a deslizar do ventre dela; ela porém tombava entre as mulheres como um corpo sem vida, de modo que duas das criadas tinham que segura-la. Hinata soluçava, mordendo os lábios para não gritar, tentando ser corajosa. Hanabi ajoelhou-se ao seu lado, nos panos sujos de sangue e segurou as mãos da sobrinha. Hinata olhou para ela quase sem reconhecê-la.

- Mãe! – gritou – Mamãe, eu sabia que você viria...

Seu rosto contorceu-se e ela mordeu novamente os lábios para não gritar. Fios de sangue escorriam pela boca machucada, mas ninguém ousava falar nada.

- Segure-a senhora – pediu uma das parteiras a Hanabi, enquanto abaixava e abria as pernas de Hinata – Não, tem que ser por trás, assim, mantendo-a reta...

E Hanabi, segurando a moça pelas axilas, sentiu-a estremecer em contrações e soluços. Seus partos não foram nada em comparação com o de Hinata. Hanabi fechou os olhos, sem querer ver a sobrinha que se contorcia em suas mãos e gritava para ela “Mãe! Mãe!”.

Hinata soltou um grito agudo e caiu nos braços da tia, inconsciente; um forte cheiro de sangue invadiu o quarto e a parteira levantou uma coisa escura e desarrumada. Aproximou-se e limpou a gosma branca da boca da criança. Houve um som agudo, irritado, o grito de um recém nascido chorando com fúria por ter sido trazido para um mundo frio.

Hinata, porém, jazia nos braços de Hanabi, enquanto as mulheres tentavam reanima-la. Seus batimentos cardíacos estavam muito fracos...



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- Hinata... Hinata meu bem... Hinata minha filha está vendo como eu faço? Vamos, tente de novo, não é tão difícil quanto parece. – dizia a mãe com sua voz cheia e terna. Kushina trançou o fio dourado e deu um nó por baixo da roupa.

Hinata então realizou o mesmo movimento da mãe. Sabia usar seus olhos para observar os mínimos detalhes, e trançou o bordado belo de seu primeiro quimono feminino. Por um momento olhou sua obra contente, mas o fio mal preso soltou-se e desfez todo o trabalho.

Os olhos de Hinata encheram-se de lágrimas e Kushina a pegou no colo, beijando sua face:

- Não tem importância minha fadinha, você conseguiu fazer um trançado melhor que o meu. Estou orgulhosa de você.

E então Hinata viu o castelo e sua mãe começarem a girar e gritou. Kushina encolheu, os cabelos tornaram-se curtos e louros e quando tudo se endireitou, Hinata viu que estava segurando Naruto no colo, e ao longe Kushina que corria, virava-se e recomendava irritada:

“Hinata tome conta do bebê...”

“Tome conta do seu irmãozinho...”

“Hinata eu lhe recomendei que cuidasse do menino!...”

“Cuide do seu irmãozinho Hinata, ame-o...”

Um rapaz, de cabelos louros e olhos azuis, a encarava. Seu rosto estava manchado de sangue, o sangue do gamo, o sangue da vitória e conservava um sorriso amoroso no rosto.

“Não importa quantas mulheres eu venha a ter, durante toda a minha vida, sempre me lembrarei de você, e a amarei e a abençoarei. Prometo a você.”



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Hinata quase morreu. Teve de ser ressuscitada, mas as parteiras disseram já estar fora de perigo. Ela agora dormia pesadamente ao lado do recém-nascido. Hanabi aproximou-se e pegou o bebê no colo, olhando as minúsculas feições.

Tinha uma saudável cor rosada e até mesmo as pequenas unhas eram cor-de-rosa. Cabelos escuros bem finos, e uma penugem escura e macia ao longo dos braços e pernas – sim ele nascera como uma fada, como Hinata. Poderia mesmo ser filho de Sasuke, portanto duplamente próximo ao trono.

Hanabi então pensou nas palavras de Orochimaru “Está com tanta pressa em trazer o rival do nosso Neji ao mundo?”

Ah, o filho de Hinata e Sasuke seria herdeiro do trono e da velha linhagem real de Atlântida... os velhos clãs e as tribos não teriam dificuldades em aceitar aquele menino como Hokage...

Se ao menos tivesse certeza de que era filho de Sasuke!

Não tenho a Visão, mas tenho as duas mãos recitou o ditado com bom humor, fechando as portas do quarto.

Quando era mais nova e morava em Atlântida, a velha sacerdotisa que cuidava dela ensinou-lhe alguns encantamentos despreocupadamente, com bom humor, como quem satisfaz uma criança. Bem, agora Hanabi iria se utilizar de um deles.

Acendeu o fogo da lareira, cortou alguns fios de cabelo da criança e alguns de Hinata. Furou o dedo do bebê com seu punhal, acalentando-o depois para silenciar o choro vigoroso.

Aproximou-se da lareira e jogou o sangue e os cabelos, junto com algumas ervas combinadas, murmurou a formula mágica e orou:

“Oh Grande Deusa, Mãe do mundo, mostre-me de quem veio esta semente!”

Prendeu a respiração em silencio quando as chamas tornaram-se verdes, e morreram. Então, um rosto a olhou – um rosto jovem, envolto em cabelos claros, sombreados pelos galhos que escureciam os olhos azuis, tão parecidos com os de Minato...

Hinata dissera a verdade ao afirmar que o homem se aproximara dela como o deus da tribo... Mas havia mentido quando dissera que não o reconheceu... Hanabi devia ter compreendido; haviam celebrado o Grande Casamento para Naruto, antes de sua coroação.

Teria Tsunade planejado isso também, uma criança que viesse de duas linhagens reais?

Houve um ruído atrás de si e Hanabi voltou-se. Hinata conseguira se erguer sobre os cotovelos e olhava-a com o rosto branco como a morte. Seus lábios mal se mexeram:

- Hanabi – disse ela – jure, se você me ama, jure que não contará a ninguém. Jure, ou eu a amaldiçoarei para sempre.

A tia levantou-se e foi até Hinata, empurrando-a carinhosamente de volta para cama.

- Deite-se menina, repouse agora. Temos que conversar sobre isso. Naruto! Por quê? Foi Tsunade?

- Jure não dizer nada – disse Hinata, lágrimas correndo sobre o rosto, cada vez mais agitada – Jure nunca mais falar disso! Jure! Jure!

- Hinata minha filha...

- JURE! Jure ou eu a amaldiçôo pelo fogo, mar e terra...

- NÃO! – Hanabi tapou a boca de Hinata – Está bem, está bem, eu juro!

Não queria ser amaldiçoada por uma sacerdotisa do grau de Hinata. No entanto, ao ver a sobrinha adormecer novamente, Hanabi desejou não ter jurado. Mas nem tudo estava perdido. A criança começou a chorar e Hanabi a levou do quarto rapidamente, antes que a mãe acordasse e quisesse pega-la.

Este é o filho de Naruto. Não importa quantos filhos ele tenha, este é o seu primogênito e ele um dia terá de acertar as contas com o menino, embora seja um filho nascido do incesto e não possa subir ao trono. Mas a sorte de um jovem Hokage é inconstante. É isso! Agora, ele será o filho adotivo de Orochimaru, e teremos sempre essa arma contra o Grande Kage. E tenho certeza que quando estiver recuperada, Hinata vai ficar contente em poder deixá-lo aqui aos meus cuidados, com se fosse meu filho. Farei isso.


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