No Pain no gain escrita por Ariane Munhoz


Capítulo 1
A pior dor que pode ser sentida


Notas iniciais do capítulo

O que você não me pede sorrindo que eu não faço ein, nee-chan?



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/758684/chapter/1

Quando se conheceram, aquela noite, no bar, tinha certeza que seria só uma noite de farra, a diversão de dois bêbados que queriam curtir a noite sem compromisso algum. Quando, na manhã seguinte, não o encontrou no quarto barato de motel que dividiram, teve certeza daquilo.

No Pain, no gain.

Sentia o corpo todo dolorido, a cabeça latejando e um certo ar de diversão em si. O cheiro de álcool e sexo impregnava o quarto, e tinha certeza que ao menos uma garrafa de vodka havia sido consumida por ali.

Tentou se lembrar de alguma coisa, qualquer coisa que pudesse ter gerado aquele furacão.

E então, aos poucos, as lembranças fragmentadas começaram a se juntar, no exato momento em que a porta da suíte barata se abriu, revelando o torso desnudo e o sorriso despojado na cara de quem sempre tinha tudo o que queria e queria tudo o que tinha.

− E aí, pronto pra outra?

X

A música era alta demais, de estourar os tímpanos, mas Kawarama gostava daquele tipo de ambiente, onde podia facilmente misturar-se às outras pessoas do recinto. Fato é que, no passado, antes que fosse encoleirado, costumava visitar aquele tipo de estabelecimento com o irmão do meio, Tobirama. Mas desde que ele havia começado a namorar firmemente, estava sozinho. E isso tornava suas caçadas... um tanto monótonas.

Mesmo assim, decidiu arriscar-se naquela noite. Imerso pelo tédio da morosidade, querendo algo que despertasse por inteiro seu interesse e o tirasse do marasmo. Foi quando viu o anúncio daquela boate, onde o DJ Pain tocaria suas mixagens que prometiam causar as mais intensas sensações em seus ouvintes.

Música eletrônica nunca fora o seu tipo favorito, mas por algum motivo, Kawarama sentiu-se tentado a saber do que se tratava o tal show prometido pelo DJ, cujos olhos estavam estampados no panfleto que havia apanhado no trabalho naquela mesma manhã.

E agora, ali estava ele, com um copo de uma bebida alcóolica colorida qualquer, enquanto o observava de longe.

Pain como simplesmente era chamado, parecia concentrado no que fazia, mas tudo em que Kawarama prestava atenção, eram nos cabelos ruivos desgrenhados, ponteados pelas luzes coloridas e nos piercings simetricamente colocados em seu rosto.

Havia algo distinto naquele olhar, algo que não conseguia discernir de longe. Mas, de quando em quando, Pain olhava em sua direção e Kawarama o capturava com os olhos, o sorriso despojado ponteando os lábios agora tingidos pelo tom da bebida quando sorveu um gole longo.

Kawarama estendeu o copo na direção dele, convidando-o, sabendo que jamais receberia uma negativa. Não era uma palavra que definitivamente não constava no vocabulário Senju. Ao menos no dele e no de Tobirama. Já Hashirama... bem, ele era o amorzinho da família ao lado do caçula, Itama.

Durante o resto da noite, alheio a todas as investidas das pessoas ao redor, Kawarama permaneceu com os olhos fixos no DJ. Sua resposta era sempre a mesma: estou acompanhado. Embora ninguém nunca chegasse, fato que não passou despercebido pelo último cara que tentou cantá-lo.

− Estou esperando. – Kawarama limitou-se a responder, o sorriso divertido nos lábios.

− O quê? – O homem perguntou.

− Meu DJ. – Novamente, estendeu o copo na direção de Pain. E teve a impressão, apenas por um momento, que ele havia sorrido.

X

− Você não se cansa nunca? – A voz soou rouca quando tentou falar. Buscou algo para beber, mas não havia nada além de vodka ali. E foi com isso que Pain encheu o copo, sorvendo um gole generoso que o fez torcer a cara. O estômago vazio protestou, sentindo-se queimar.

− De quê? – Kawarama jogou-se no colchão ao lado dele, ouvindo as molas protestarem. O corpo úmido do banho cheirava à colônia e sabonetes baratos de hotel de quinta.

− De ser um cretino.

Kawarama gargalhou. Sua risada era um tanto contagiante e fez Pain olhá-lo de canto.

− Não me canso. – Apoiou-se nos cotovelos, encarando-o por um momento. Vendo Pain terminar a bebida e deixar o copo vazio ao lado do criado mudo. Puxou-o pelo braço, fazendo com que o corpo do outro caísse sobre o seu. Visualizando as marcas da noite anterior e sorrindo orgulhoso de sua arte. – Você não se cansa?

− De quê? – Devolveu a pergunta, as pernas se prendendo firmemente à lateral do corpo de Kawa.

− De sentir dor. – Seus dedos deslizaram sobre um hematoma especialmente roxo em suas costelas, proveniente de suas mãos firmes apertando-o quando estava em cima de Pain. Kawarama não era adepto de causar dor aos parceiros, exceto quando insistiam naquilo. Mas, para ele, parecia ser prazeroso.

− Não. – A resposta veio faceira e Pain inclinou-se sobre ele, mordiscando o lóbulo de sua orelha. – Nunca ouviu o ditado? No pain, no gain.

Kawarama sorriu. Girando o corpo sobre o dele. Se Pain queria sentir dor, Kawarama teria prazer em fazer de seu desejo uma prazerosa realidade.

X

Quando finalmente estava livre do trabalho, sentou-se ao lado do homem que lhe encarara como uma refeição durante a noite toda. Era impossível não notar. Era impossível não se sentir atraído por aqueles olhos predadores. E ele era a presa. Mas não se importava nem um pouco com isso. Não se ele conseguisse tirá-lo do torpor do qual só se livrava enquanto tocava suas mixagens.

− Traga duas doses de tequila. – pediu ao barman, vendo-o expressar um sorrisinho sacana, ao tempo que o homem cheio de piercings direcionou um olhar para si.

− O que te faz pensar que gosto de tequila? – perguntou, derrubando uma pitada de sal no punho, o limão entre os lábios pronto para ser chupado. Kawarama observou aqueles lábios, desejando-os em outro lugar.

− Você parece um cara de tequilas. – respondeu com simplicidade e, sem fazer cerimônia, tomou a própria dose, sendo prontamente acompanhado pelo DJ. – Senju Kawarama. – Estendeu a mão na direção dele.

− Pain. – Apertou a mão do outro homem, sentindo a firmeza de seus dedos, os calos espalhados pela palma. Kawarama arqueou uma das sobrancelhas, aquele sorrisinho irritante em seus lábios.

− Pain? Só isso? – perguntou. – Por que Pain?

− Porque tudo começa através da dor.

O sorriso de Kawarama aumentou. Pelo visto, havia encontrado uma caça interessante naquela noite.

X

O gemido rouco de prazer que saía dos lábios do ruivo a cada vez que o penetrava, deixava Kawarama insano. Deitado de costas para si, os cotovelos apoiados sobre a cama e o rosto entre eles, Pain apenas se deleitava enquanto Kawarama observava as cicatrizes em suas costas. Agarrou os fios ruivos, puxando-o pela nuca até que sua orelha se colasse à boca desejosa.

− Me fala. – exigiu. – Me fala como você quer que eu foda você.

Havia algo no jeito sujo com o qual ele lhe tratava que deixava Pain inebriado. Tivera muitos amantes – tinha marcas para provar –, mas Kawarama era o primeiro que parecia tocá-lo tão fundo. Na alma. Era possível se apaixonar à primeira foda?

Um suspiro escapou-lhe entredentes, já sentindo-o dentro de si. Os olhos se estreitaram, à medida que Kawarama afastava o pênis para dar-lhe tempo para pensar.

− Quero que você me foda até a exaustão. – respondeu. – Me foda até os meus pulsos presos pelas cordas sangrarem, até eu implorar pra que você pare porque a dor será maior que tudo. É assim que eu quero que você me foda, Kawarama.

Kawarama não sabia que era possível se sentir mais excitado do que aquilo. Mas agarrou os cabelos dele com mais força, puxando-o até que sua coluna se curvasse em forma de U.

− Seu desejo... é uma ordem.— sussurrou em seu ouvido. Completamente viciado naquele jeito louco de Pain.

X

Kawarama não sabia como haviam saído do bar, os pés trançando o caminho todo até o carro. Dirigir havia sido uma tarefa insana, mas Pain não parecia se importar com sua loucura ou com as curvas perigosas.

Tinham parado em uma loja de conveniências e comprado uma garrafa de vodka. E ali no estacionamento mesmo, começaram a se beijar de maneira intensa, o gosto do álcool se misturando nas bocas.

Pain tinha os lábios macios e uma cicatriz no canto da boca que Kawarama sentiu ao deslizar a língua. Provavelmente teriam continuado ali mesmo no carro se o dono da loja não tivesse batido no vidro do carro, exigindo que a pouca vergonha cessasse. Em resposta, Kawarama mostrou-lhe o dedo médio e deu uma risada insana.

Pain observou aquilo com curiosidade, achando que havia encontrado alguém muito interessante naquela noite e se permitiu sorrir. O que ele reservava para si?

X

Então, Kawarama fodeu com Pain. Literalmente. Das formas mais foderosas possíveis. Amarrara seus pulsos com sua camisa na cama. Tão firmemente que a circulação havia parado. Deixara-o de costas, beijando cada cicatriz deixada por algum objeto diferente, imaginando que tipos de serelepices Pain havia aprontado durante toda sua vida para que chegasse àquele estado.

O que seu irmão, Hashirama, um psicólogo tão renomado diria?

“A infância dele deve ter sido difícil, Kawa. Provavelmente, uma de suas figuras fraternas o agredia. Isso explicaria o motivo para buscar a dor. Talvez a culpa de algo feito no passado. Ou o misto de sentimentos. Ele pode espelhar na dor seus verdadeiros sentimentos. Em sua intensidade.”

Poderia rir disso mais tarde. Mas, para falar a verdade, não se importava muito. Ele queria dor? Kawarama o faria sentir dor. Mas não queria ser apenas mais uma cicatriz em suas costas, da qual Pain se orgulharia como um troféu.

Não.

Kawarama não era apenas mais um. Ele era único.

A língua passeou por cada marca, por cada estigma em sua pele. As unhas marcaram as laterais de suas costelas. Deixou uma mordida especial na curva de seu pescoço, ouvindo-o gemer de prazer.

− Vou te machucar da pior maneira que alguém pode ser machucado.

Pain estava ansioso. O que ele faria? A que tipo de tortura o submeteria?

Foi então que sentiu.

Os beijos cálidos espalhando por suas costas. O cuidado ao espalhar o lubrificante lentamente com um dedo, depois o outro. E penetrá-lo cuidadosamente após colocar o preservativo.

Pain arregalou os olhos, não compreendendo o que ele queria dizer até que fosse tarde demais. Até que sentisse os beijos regados por algo que até então desconhecia.

Era aquilo que chamavam de amor? Era possível sentir amor assim?

X

De alguma forma, o deus dos bêbados os guiou até aquele motel, onde não pediam identidade ou qualquer outra coisa além de dinheiro vivo. O quarto tinha os papéis de parede amarelados e descascados pelo tempo, mas pelo menos os lençóis eram limpos. Cheiravam a água sanitária.

Não se importaram com isso.

Deixando a garrafa de vodka no criado-mudo, ambos os corpos caindo na cama (por sorte não no chão) e se beijando, se desejando. Mais do que tudo, querendo sentir-se. Cada moléculas dos próprios corpos em colisão.

− Me faz sentir vivo. – murmurou na orelha de Kawarama.

Ele compreendeu sobre o que falavam.

A dor o fazia se sentir vivo. Então Kawarama o faria viver.

X

Não era seu corpo que doía quando Kawarama caiu exausto ao seu lado, mas algo incômodo em seu peito. Como se queimasse. Como se trouxesse uma estranha sensação de irrealidade.

Como era possível amar dessa maneira? Em uma única noite?

Não.

Apenas nos contos de fadas. Certo?

Certo?

Pain não sabia o que dizer quando sentiu os braços de Kawarama o envolverem. Quando o cheiro do sabonete barato se misturou ao seu suor. Quando ele lhe depositou um beijo sutil na nuca.

Doía. Mas não da mesma forma que doía todas as vezes em que haviam atacado seu corpo.

X

E viveu.

Naquela noite, sentiu-se mais vivo do que quando tocava. Mais vivo do que quando a música vibrava em seu corpo.

Era a dor que o fazia sentir. Que o fazia ter certeza de que um coração ainda batia em seu peito.

A dor que o permitia continuar em frente.

A dor, a dor, a dor.

X

E se permitiu adormecer novamente. Nos braços de Kawarama, até que seu corpo exausto descansasse.

E quando despertou, a cabeça latejante pela ressaca e não o encontrou, aquele calor em seu peito aumentou. Como uma inflamação que se alastra, como uma dor intensa que queima. O incêndio de uma floresta.

Ao lado, no criado-mudo, havia um bilhete.

Pain hesitou em abri-lo, observando a caligrafia tremida escrita. Por um tempo, apenas observou aquilo, sem saber o que pensar. Mas sorriu.

“A pior dor que pode ser sentida:

Amor.

Nos vemos em breve.”

Junto, o número de seu telefone. E Pain soube, a partir daquele momento. O amor era a única dor que ele queria sentir.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Eu adoro um bom crackship, não preciso de motivos, só faço e tá valendo! Espero não ter desapontado com esse aqui, pois foi um casal tão gostoso de trabalhar que quero fazer mais vezes sim!

Espero que vocês gostem, meninas!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "No Pain no gain" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.