Respondendo a Sua Pergunta escrita por Nonna


Capítulo 1
Pasárgada


Notas iniciais do capítulo

É só um pensamento guardado.



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Me perguntaram como eu consigo escrever tanto... Escrever a única saída que eu encontro para o sufocamento que as vezes a vida me causa. Sinto como se fosse a válvula de escape que Deus me deu. Quando escrevo, eu não penso nesse mundo, eu viajo para outros, onde existe sentido. Lá não me sinto só, eu consigo prolongar os momentos de felicidade que eu tenho aqui quando estou escrevendo. Eu pego esse sentimento, seja bom ou ruim, e o transformo numa história.
Eu pego meus amigos e os multiplico numa multidão que estará sempre perto de mim. Pego meus problemas e transformo num monstro a ser derrotado numa batalha. Pego aquele abraço que me fez falta e faço acontecer. Pego o adeus e transformo em chuva, para que passe e seja boas novas para uns.
Lá eu posso ser frágil e haverá alguém para cuidar de mim. Eu posso ser forte e serei necessitada. Lá eu posso ser má e perceber que o que faço só traz veneno. Eu posso ser boa e curar os males. Eu posso ser tudo e posso ser nada. Posso até ser o passarinho cantando na janela que você não percebeu.
Por que eu escrevo tanto? Porque eu consigo diminuir a carga da dor com as minhas palavras. Por que eu escrevo tanto? Porque minha alma precisa de descanso e unguento. Por que escrevo tanto? Porque sou uma alma solitária que cria iguais para se sentir preenchida. Eu escrevo porque posso ter, ainda que por dez páginas, aquilo que nunca tive ou nunca vou ter. Eu escrevo porque me encho da divina criação e aguento mais um dia. Eu escrevo porque preciso me enxergar em algum momento e me elogiar ao entender que em algum momento eu estou escrevendo bem.
Escrevendo desabafo, choro, grito, berro, me animo, comemoro, felicito, me apaixono, amo, perco, ganho, derroto, sou derrotada, vivo, morro, ressuscito como fênix, existo e não existo ao mesmo tempo.
Posso dizer aquilo que o meu altruísmo e a censura do mundo não me permitem porque me importo demais com os outros. Posso transformar meus defeitos em qualidades e não ser julgada por pensar diferente. Posso fazer o mundo ouvir o que eu tenho a dizer e até, quem sabe, concordar comigo. Posso acusar culpados, salvar inocentes, reclamar das minhas dores sem pensar nas consequências, ter razão ao menos uma vez e não me sentir culpa porque eu disse a verdade para alguém. Posso ser fria e quente, posso amar e odiar, posso concordar e discordar, posso criar e destruir. Posso não ter medo de me expor e ser quem eu sou, porque ali não há grilhão que me prenda e nem monstro que seja mais forte que a minha espada, nem alvo tão distante que a minha flecha alcance, nem obstáculo tão duro que meu machado não derrube.
A escrita é mais que uma cadência de palavras com significados pré estabelecidos. É uma forma de me conectar com que há de mais profundo em mim, de abraçar e perdoar os meus demônios, de sorrir enquanto choro e digo adeus, de dar forma aos sentimentos, de conversar com Deus ou de ouvi-Lo, de dar a mim mesma uma existência válida e um propósito.
Eu posso voar muito mais longe, carregando pedras que sempre me puxam para baixo, para as profundezas. Eu posso ser feliz sem motivo e ser triste com todos os motivos do mundo e no fim das contas. Eu posso viver sem ter nada. Sou o homem mais feliz do mundo, cuja camisa curaria as mazelas das pessoas, mas não tenho camisa alguma. Estou despida.
E ao fim de tudo, eu ainda serei essa pessoa cujo os olhos verdes tudo contemplam.


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Notas finais do capítulo

Era só isso mesmo.



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