Yellow - Dramione escrita por LeslieBlack


Capítulo 8
New Perspective




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Andaram por ruas cada vez menos movimentadas, até que no fim de uma quase deserta Hermione parou em frente a uma casa cor de terra e ficou indecisa. Para os garotos ela parecia, mesmo de costas. Em menos de dois minutos já havia ensaiado dar um passo e desistido logo em seguida, para repetir o processo alguns segundos depois. Harry rompeu o silêncio adquirido a muito custo, um momento de paz entre os três era difícil de acontecer.

— É aqui, não é? Sua casa, eu digo.

Hermione se virou e primeiro olhou para Draco, mas como ele não disse nada, o olhar dessa vez foi para o amigo.

— Sim. Sabe, eu comprei um livro sobre os Black e pretendia entregá-lo ao Monstro quando chegasse a Hogwarts, mas esqueci no meu quarto. Como ficamos no Largo Grimmauld até pouco mais de uma semana antes do retorno as aulas, os momentos aqui foram muito intensos.

— Então por que não entramos?

— Não sei, Harry. Eu só... - e suspirou, frustrada. - Quer saber? Esqueça! Eu não tinha nada que voltar aqui. Mesmo que eles se lembrem, eu não mereço.

A garota tentou ir embora, sendo impedida pelo moreno.

— Espere um pouco. O senhor e a senhora Granger estão com as memórias restauradas, não estão?

— Sim.

— Então do que eles poderiam não lembrar?

— Esqueça, Harry!

— E por que droga você não mereceria?

— Eu apaguei a memória deles! Eu tive sorte que as coisas tenham dado certo, sabia? Sorte somente. Eu não mereço que eles lembrem de que... Oh, droga! Eu só quero ir lá e ver se eles lembraram, mas tenho medo de qualquer resultado possível.

— Mione, querida... Do que infernos você está falando? Se eles lembraram que tem uma filha quando voltaram não faz sentido esquecer agora.

— Eu não me refiro a isso.

— E então?

Hermione sentou-se na calçada e pôs-se a falar.

— Como sabe, meu aniversário é em 19 de setembro, mas as aulas começam no dia primeiro. Minha mãe começou uma tradição que se estendeu até... - Pigarreou, constrangida. - Enfim... Como eu não passaria meu aniversário aqui, ela falou com meu pai e eles me compraram um presente.

— A caixinha de música. - Harry riu ao constatar. - Mas é claro. Você só levou as coisas extremamente necessárias para a caça às Horcruxes, mas ainda assim tinha uma caixinha de música na bolsa. Eu lembro que derrubei e você quase me bateu. E olha que nós somos bruxos e poderíamos ter arrumado com magia, caso quebrasse. Na hora pensei que estivesse daquele jeito por causa do medalhão, Mione.

— Não, Ron é que estava com ele. Mas esse foi só o primeiro, todos os anos alguns dias antes de embarcar, tinha algo sobre a minha cama e um papelzinho escrito "sentiremos sua falta".

— E esse ano não tinha nada por que passaram pouco tempo juntos...

— Ou quem sabe por que coisas tão pequenas assim não voltaram.

— Se fossem pequenas não te deixariam desse jeito. Vamos lá para dentro conferir, que tal? Não precisa passar por isso sozinha. E tenho certeza que eles ficarão felizes com a surpresa.

— Eles costumam ficar no consultório até o meio da tarde.

— Mesmo assim.

— E o livro dos Black? - Draco entrou na conversa. Os outros dois se sobressaltaram, pois esqueceram que ele estava ali. - Nada que um Accio não resolva.

— Malfoy tem razão, pelo menos no que diz respeito ao Monstro. Você não precisa sequer ir ao seu quarto, só diga aonde está que eu mesmo busco.

— Não, tudo bem. Vamos lá.

— Já que está no inferno, abrace o diabo.

— Obrigada pela frase motivacional, Harry. Me sinto mil vezes melhor agora.

Se Hermione sentia-se assim ou não, não fez diferença. A questão é que ela se levantou de onde estava sentada e finalmente fez o trajeto que tanto teve receio de fazer. Só alguns passos foram necessários para que atravessasse a rua e abrisse a porta da casa, convidando os garotos a entrar primeiro. Quando já estavam dentro, observou os detalhes do lar por um bom tempo, prestando demasiada atenção em cada coisa. Enquanto Draco ficou na sala, Harry pediu um copo d'água e eles foram juntos buscar. Quando voltou viu o sonserino segurando um porta-retratos. Reconhecia todos ali, com esse não foi diferente.

— Eu costumava ficar nessa cadeira ao lado da minha mãe. - Com o susto o objeto caiu da mão do rapaz, que olhou para ela alarmado. Hermione estava encostada na parede e continuou calmamente depois de sacar a varinha e consertar o objeto - Quer dizer, minha imagem costumava ficar aí. Junto com a minha lembrança, minha imagem sumiu dessa casa. O que é uma pena, eu estava tão feliz aí com as orelhinhas da Minnie. Merlin, eu adorava aquela tiara.

— Mione, eu... - Harry, que acabara de entrar no cômodo, teve que se calar ao ouvir o som de chave na porta e uma voz masculina cantar.  

And the way you like to dress

(E o jeito que você gosta de se vestir)

Won't you come on over

(Por que você não vem aqui?)

Stop making a fool out of me

(Pare de me fazer de bobo)

Why don't you come on over, Valerie?

(Por que você não vem aqui, Valerie?)

Eles olhavam para aquela cena incomum e nem lembraram de se esconder, pois logo um homem entrou carregando uma sacola de compras e cantando o refrão da música de Amy Winehouse.

— Valerie, Valerie, Valerie... - Ele cantava com verdadeiro gosto até olhar na direção dos jovens ali parados e deixar a sacola cair no chão, enquanto os encarava. Mas rapidamente se recuperou e foi em direção a Hermione. - Filha!

David então abraçou a garota com todo carinho, e os dois que estavam atrás dela puderam ver a maneira que o rosto do homem se iluminou com o sorriso que deu e como os olhos marejados deixavam o senhor Granger com uma aparência muito mais feliz.

— Papai.

— Que surpresa maravilhosa, princesa. Está tudo bem? - Ele a segurou pelos ombros no fim do abraço para ver se Hermione tinha alguma fratura exposta, só então reparou nos dois garotos observando tudo. - Oh, me desculpem! Fiquei tão feliz em ver Hermione que até esqueci o resto do mundo. Vocês são os amigos dela, não?

— Sou Harry Potter, senhor Granger. É um prazer. - Harry estendeu a mão e sorriu.

— O prazer é todo meu, rapaz. E me chamem de David, por favor. - Então se dirigiu a Draco. - Você deve ser Ronald. Pensei que fosse ruivo, que cabeça a minha.

— Sou Draco Malfoy, senhor.

O senhor em questão apertou a mão dele e tinha um sorriso conspiratório no rosto quando imediatamente se virou para a filha e perguntou.

Draco?

Hermione corou e disse que Ron não pôde vir. Notando a falta de jeito dela, o senhor Granger pediu licença e garantiu que voltaria em um minuto. Enquanto ele subia as escadas, Draco olhava desconfiado para a garota. Sua curiosidade era grande, mas o orgulho era ainda maior. Não demonstraria interesse no pai dela, por mais que tivesse. E muito menos na casa, que além de ser mais modesta do que a Mansão Malfoy, também tinha coisas que ele não fazia ideia da serventia. Não gostava de aparentar qualquer fraqueza, ainda mais se fosse de inteligência e Hermione estivesse presente. Deu as costas aos outros dois e pôde ouvir a tentativa frustrada de sussurro que Harry fez.

— Mione?

— A resposta é não.

— Você não sabe o que eu ia dizer.

— Não preciso sequer usar Legilimência para saber exatamente o que ia perguntar. A resposta é não.

— Sabe-tudo.

— Pare de me elogiar.

— Interprete como quiser.

— Valerie, Valerie, oh, Valerie... - David descia a escada cantando. - Como eu amo o nome da sua mãe! Estou tão feliz por lembrar disso.

E então a expressão que Harry tanto via no rosto da amiga estava de volta. A diferença é que agora ele sabia exatamente o que passava na cabeça dela para ficar assim. O principal sentimento era a culpa, não só pelo que fez, mas pelo que poderia ter perdido. O senhor Granger ignorou esse fato, o motivo era a empolgação absurda que sentia enquanto ia para outro cômodo e convidava todos a sentar. Hermione estava ao lado do pai, tentando a todo custo mandar os pensamentos ruins embora. Os garotos estavam no outro sofá, só um pouco afastado.

— Sempre soubemos que você era especial, querida, e não estou falando de poderes. Eu e sua mãe te amamos muito, e por toda a vida foi assim. Quando éramos Zoey e Michael, um casal absolutamente comum na Austrália, falo por nós dois quando digo que faltava algo. Não era uma lembrança, era uma sensação. O amor deixa marcas, princesa. Mas nem em um momento tão conturbado como o que passamos, mesmo sem saber, você desapareceu para a gente. Além do sentiremos sua falta de costume - ele pegou um papel dobrado e entregou a ela, - dessa vez te damos algo que possa ser usado na escola e que te lembre que em uma rua de Londres, em um quarto muito bem organizado, há um objeto que te ajuda a olhar seu tão amado céu. Há duas pessoas, e há amor. Muito, minha querida.

— O senhor comprou uma luneta para mim?

— Sim, e um brinde também. A luneta não pode ser levada, já isso...

Ele tirou do bolso um broche em forma de luneta feito de prata e com uma pedrinha na lente. Na parte traseira a inscrição "perto do peito, dentro do coração" estava gravada, mas só Hermione pôde vê-la.

— Isso é tão perfeito!

— Porque ainda não viu como a do seu quarto é.

— Vou ver... - disse já se levantando. - Com licença.

Quando Hermione desapareceu na escada, o senhor Granger se dirigiu aos rapazes.

— Eu nunca vou poder agradecer o suficiente. Ainda assim agradeço de coração.

— A que se refere, senhor Granger? - Harry quis saber.

— Já disse para me chamar de David, garoto. Eu só sou imensamente grato a vocês por cuidarem tão bem dela. Hermione tem o gênio forte, mas não passa de uma pessoa amorosa.

— E briguenta. - O moreno soltou. Ao contrário do esperado, o pai dela riu.

— Com certeza, mas ela luta pelo que acredita. E costuma estar certa. - O orgulho era visível.

— Não diga que me ouviu falar isso, mas sempre está. E nós cuidamos um do outro, não é nenhum favor. Sem ela, Ron e eu já teríamos... Oh, o livro!

— Como?

— Preciso lembrá-la de uma coisa, senhor... -  Harry corrigiu-se a tempo diante do olhar de alerta do pai da amiga. - Desculpe, David. Se importa se eu for lá em cima falar com a Mione por um instante?

— À vontade, filho. É a segunda porta à direita.

— Obrigado.

Harry foi em busca da grifinória, mas Draco ficou tão surpreso pelo modo simples e acima de tudo afável do dono da casa que não ouviu quando este lhe chamou. Onde já se viu, chamar alguém que nunca deve ter visto na vida de filho. Ridículo, para dizer o mínimo.

— Garoto, seu nome é mesmo Draco ou isso é algum tipo de brincadeira?

— Não é a primeira pessoa a achar meu nome engraçado hoje, senhor.

— Não achei engraçado. Quero dizer, o tamanho da coincidência é curioso, mas é algo para ser apreciado... Esse é realmente seu nome? - Diante do olhar ultrajado do garoto, David completou. - Só estou perguntando para garantir, conheço esse seu jeito orgulhoso. Acho que você odiaria ser pego mentindo por causa disso.

— E como o senhor pode saber disso?

— Hermione, é claro.

— Claro, a Granger deve ter falado tudo a meu respeito.

— Está muito enganado. Ela nunca mencionou uma pessoa com o seu nome. Ora, eu sei disso por que você é muito parecido com minha filha. Ela é um doce, mas muito orgulhosa também.

— O senhor definitivamente não está bem. Eu parecido com a Granger?

Granger? Você gosta mesmo do nosso sobrenome.

Draco bufou, David riu.

— Nós somos tão opostos quanto é possível duas pessoas serem.

Draco— O pai de Hermione deixou claro que não trataria o garoto com tanta formalidade. - Vou te deixar achar que tem razão, está certo? Tenho certeza que já notou as semelhanças também.

— Claro... - O garoto disse pensativo, mas sem deixar claro com o que concordava. Sua curiosidade em relação aos pais de Hermione estava insuportável, mas o senhor a sua frente também tinha suas dúvidas.

— Então, filho, qual a origem do seu nome? Sabe me dizer se é por causa do legislador ateniense, a constelação ou o significado em latim?

— Pelo jeito a Granger não é a única sabe-tudo da família.

— Não, ela não é. A mãe dela também é muito esperta. - David falou com humildade, mas acima de tudo, muito carinho. - Mas eu sei disso por causa de Hermione, desde pequena ela sempre foi apaixonada pelo céu. Antes de dormir eu contava as mais variadas histórias para ela, não só sobre isso. Eu e Valerie falávamos sobre os planetas, as estrelas, constelações, os mitos de todas as partes do mundo... Minha filha sempre foi curiosa, e saber das coisas lhe deu bagagem para avaliar bem suas possibilidades e escolher corretamente. Eu tenho muito orgulho da mulher que ela se tornou, por mais que saiba que sempre a verei como minha garotinha.

— A constelação, senhor. - Ele resolveu ignorar a história e se concentrar na pergunta. -  E em parte o poder atribuído a palavra em latim. Não imaginei que se interessasse por isso.

— O que posso fazer? Eu gosto de histórias.

— Bom, minha mãe nasceu na família Black.

— Um sobrenome bonito e imponente, ao que parece.

— Ah, o senhor nem imagina... É uma das vinte e oito famílias tradicionais do mundo bruxo. Os Malfoy também. - Draco limpou a garganta e preferiu omitir que a tradição consistia em manter a linhagem "limpa", para que o sangue das gerações seguintes não fosse manchado por alguém que não pertencesse igualmente a uma família só com bruxos. Que trouxas como ele, ou nascidos trouxa e mestiços não eram bem-vindos em famílias com tanta tradição por não serem considerados dignos. - E somado a isso, os nomes das pessoas dessa família são nomes de estrelas ou constelações. Órion, Sírius, Régulus, Andromeda... Enfim, tudo muito tradicional e imponente, como o senhor mesmo disse.

— Só há um problema.

— Qual?

— Ou para com essa história de senhor ou te expulso dessa casa agora. Hermione não o traria aqui se não fosse alguém de confiança.

Draco Malfoy adoraria acreditar naquilo. Céus, como queria. Mas o pobre senhor Granger pelo visto não fazia ideia da natureza de sua relação com a filha dele. Se sequer sonhasse com o modo que sempre tratou Hermione e o que sempre pensou dos trouxas, Draco não estaria ali há muito tempo. Era um fato incontestável que a garota era amada. E por todos, o que era incrível. Se o próprio Príncipe da Sonserina se rendeu aos encantos daquela grifinória, por mais que ninguém soubesse, qualquer um era capaz de algo belo. Mas ele tentou ser um pouco mais honesto, dessa vez.

— Com todo o respeito, David, mas o melhor amigo dela é o Cicatriz. Nunca me dei bem com eles.

— E por que isso?

— Implicância juvenil levada aos limites por teimosia. O orgulho também sempre teve um papel importante.

— Até agora, pelo menos. Está se saindo muito bem, Draco.

— Desculpe?

— Imagino que queira se redimir pelo que fez, seja lá o que for. Não é por isso que está aqui?

— Não mesmo. - O sorriso arrogante se alojou no rosto do rapaz. - Não tive muita opção, sabe? Eles foram embora e nós tínhamos que ficar juntos, então tive que ir atrás.

— Conte essa história direito.

E ele contou. Desde a seleção dos grupos, passando pelas aventuras que tiveram desde que chegaram ao orfanato, obviamente omitindo a parte das brigas. Mas tão aliviado que estava em poder contar sua história sem ser julgado, deixou escapar que fez coisas das quais se arrependeu.

— E o que fez, Draco?

— Merlin, o senhor quer entrar na minha cabeça assim como ela! Agora sei o motivo da irritante sabe-tudo ser irritante.

— Serei mais direto, então. Por que a revolta?

Draco não soube responder. Só conseguiu dizer que desde a infância até um passado recente foi ensinado a odiar e que agora estava difícil voltar atrás.

— Está tudo bem. Se livrar de velhos preconceitos é muito difícil, por mais que não seja comum imaginar alguém jovem como você com essa carga emocional tão desgastante. Entendo que passou por muita coisa, mesmo sem ter muita ideia de quais coisas sejam essas. Mas tenho uma coisa a dizer que espero que reflita seriamente, filho. O ódio é como uma doença. Não qualquer uma, é como a AIDS. Uma doença, mas transmissível. É obrigatoriamente transmitida por alguém. Seja lá o que foi ensinado a odiar e o deixou tão afastado das pessoas, não deixe mais que te contamine. Você é jovem e todas as pessoas precisam de referências, mas agora já pode ver sozinho o que é correto. A questão agora é se quer seguir por esse caminho.

— Para falar a verdade, eu não sei. Não quero voltar de forma alguma a minha antiga vida, mas também me recuso a ser uma dessas pessoas patéticas e boazinhas.

Risos puderam ser ouvidos, e as vozes ficavam cada vez mais altas. Eles se viraram para a entrada do cômodo e Hermione apareceu com um sorriso radiante no rosto e com uma mochila nas costas. Harry estava quase tão animado quanto. Vendo-os, a realidade atingiu o sonserino com toda a força, arrancando-o do universo particular que dividiu com o senhor ligeiramente calvo que refletia o sorriso da filha. Senhor não, David. Por mais que a palavra senhor fosse uma demonstração de respeito. O que Draco estava pensando, afinal? Seu eu de um ano atrás o castigaria cruelmente somente pelas palavras que acabou de pensar, elas sendo ou não verdade. E droga, de fato eram verdadeiras. David parecia só... ser ele.

O que Draco julgou em tese ser a maior besteira do mundo, já que até uma hora atrás nem conhecia aquele senhor. Mas a realidade era diferente, já que ele parecia tão autêntico quanto era possível alguém ser. Lá estava ele, no sofá de sua casa chamando um garoto que acabou de conhecer de filho e se abrindo, aconselhando. Draco tinha a impressão que por mais que Hermione nunca tivesse tocado no seu nome naquela casa, o pai dela soubesse que eles não eram amigos. Sentiu que David soube bem antes que ele só chamasse a garota pelo sobrenome, algo que um amigo não faria. Sim, o senhor a sua frente era inteligente, mas também observador. Mas se tivesse que definir aquela pessoa simpática que lhe falava, o adjetivo seria outro. Bom. David Granger era um bom homem, sensível, com um humor peculiar e extremamente agradável. Draco gostou até do fato de ele não levá-lo inteiramente a sério. O senhor Granger era o pai carinhoso que toda criança deveria ter, mas também tinha a sinceridade para educar um jovem e a humildade para que os filhos adultos o buscassem como exemplo.

Draco se pegou com inveja de Hermione ao admirar o pai dela, e se perguntou se a garota tinha a mínima noção da sorte que teve. O rapaz julgou-se bobo por ter falado contra os pais trouxas da garota por tantas vezes. Será que ele trocaria de lugar com ela, se pudesse? Ora, tinha seus prós e contras. E por mais que o próprio garoto se surpreendesse com a facilidade que diria sim a troca, um único ponto negativo o faria declinar a oferta não feita. A Marca Negra. Ele jamais trocaria de vida com ela por causa desse detalhe, ela não merecia sofrer tanto e ser marcada por isso. A verdade é que de fato tinha marcas, todos os envolvidos tinham. Mas o que era o Mudblood feito pela tia de Draco em comparação a marca que os Comensais da Morte levariam consigo até o fim da vida? O sangue dela não era ruim, Hermione sabia disso. Ela parecia ter orgulho de suas origens, não só o que dizia respeito ao pai e a mãe, sua família imediata. Parecia mesmo ter orgulho de pertencer a outro mundo também, conhecer os mistérios de dois mundos tão diferentes. Já Draco só poderia se envergonhar de ter o símbolo de lealdade ao maior bruxo das trevas de todos os tempos marcado em seu corpo, era alguém fraco. Não desejaria isso a ela jamais.

A garota perguntou sobre o que conversavam e seu pai respondeu que a respeito de futebol americano, após notar o incômodo do loiro. Os quatro saíram para almoçar, mas ao voltar para o subúrbio Harry e Hermione insistiram em fazer o jantar surpresa que David planejou para Valerie ao chegar mais cedo em casa. Enquanto isso Draco aprendia sobre os conceitos básicos para um trouxa, como eletricidade, transporte público e ar-condicionado. Vez ou outra os grifinórios ouviam uma exclamação de surpresa, gritos ou gargalhadas. As últimas por conta de David, é claro. Seja qual fosse a reação de Draco a algo que ele mostrava, o senhor Granger ficava verdadeiramente feliz. Malfoy parecia um menino descobrindo o mundo, e quem pode dizer que aquilo não estava acontecendo? Por uma tarde se permitiu viver sua vida sob uma nova perspectiva, e era possível que isso trouxesse consequências para ele.

Infelizmente a senhora Granger não chegou a tempo de ver a casa cheia, pois no horário estipulado para o fim da visita ao orfanato os jovens aparataram o mais próximo que puderam de Hogwarts. Valerie Granger desfrutaria de um jantar feito especialmente para ela quando chegasse, sem imaginar que nesse dia os sentimentos de três pessoas que não estavam mais ali passaram por tantas mudanças. Qual teria sentido mais... Um moreno de olhos verdes e cabelo bagunçado que pretendia ficar em paz, mas provocou muito a amiga? Um rapaz loiro com olhos de tempestade e nome de constelação que deixou o preconceito de lado e se permitiu coisas novas, mesmo que por um dia? Ou seria a garota mais inteligente da geração, que apesar de ser da casa dos corajosos também tinha seus medos? Perguntas pertinentes, talvez. Mas teria uma resposta plausível quando falamos de sentimentos? Será que apenas uma resposta, simples ou complicada, é suficiente? Seja como for eles sentiram, e não há armas ou magia que possa defender das dores tão gostosas que constituem os sentimentos.


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