Yellow - Dramione escrita por LeslieBlack


Capítulo 4
Capuleto


Notas iniciais do capítulo

Olá, bbs! Tenho uma confissão a fazer, nunca superei o fato de que o Harry mal sabia pedir um café no mundo trouxa. Ele viveu até os 11 anos sem saber que era um bruxo, afinal. Então como está escrito no primeiro capítulo, considerem que depois da guerra ele se interessou pela cultura trouxa e a consumiu bastante.
Boa leitura



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— Tem certeza, papai?

— Claro, querida. Você confia em mim?

— Confio.

— Então vamos, sua mãe já está nos esperando lá fora.

— Espere.

— O que foi, princesa?

— Vocês ficarão bem sem mim? E se precisarem de cuidados, como vou saber?

— Eu e sua mãe já somos grandinhos, Hermione - o senhor Granger se abaixou para ficar da altura da filha de onze anos e continuou sua fala em um tom conspiratório, apesar de estarem sozinhos no quarto da menina. - Quando há amor, ele nos protege. Ele nos deixa feliz. Saber que a pessoa que amamos está bem é o suficiente para nos deixar mais feliz ainda. Então aproveite bem a sua vida na nova escola e não se preocupe conosco. Eu sempre soube que você era especial, meu bem.

— Está certo, vou mais tranquila agora. Mesmo com a vontade de ficar tão perto de vocês quanto os dentes dos seus pacientes quando estão de aparelho.

Nesse instante seu pai riu, e era isso mesmo que Hermione queria. Foi o sorriso dele que a encorajou a descer as escadas de sua casa no dia primeiro de setembro de mil novecentos e noventa e um. Ao abrir a porta, a primeira coisa que viu foi a expressão severa de sua mãe. Estranhou, já que ela não era assim. Mas foi quando a senhora Granger falou que as coisas ficaram ruins.

— Quem é você?

Hermione acordou assustada do sonho com a mão de Gina fazendo pressão em seu ombro esquerdo. O sentimento ruim que estava em todo o seu ser não era o que às vezes temos por acordar abruptamente de um sonho, o problema é que no sonho sua mãe não a reconhecia.

— Mione?

O semblante alegre de Gina por se divertir com a dificuldade que a amiga tinha em se levantar de vez em quando deu lugar a uma sobrancelha levantada, sinal de desconfiança e preocupação. A morena sentou-se na cama e colocou as mãos no rosto ao bufar. Suspirou e respondeu já se levantando, não antes de olhar para o porta-retrato com a foto de seus pais que estava em cima do criado-mudo.

— Bom dia.

— Dia... Quer me contar o que houve?

— Não muito.

— Ok, deixe-me reformular. Conte o que houve.

— Sonhei com os meus pais, Gina - a garota disse de uma forma exasperada enquanto arrumava suas roupas e livros que usaria no dia.

— E isso não é bom?

— Foi no começo. Na verdade era uma lembrança do dia que vim para Hogwarts pela primeira vez, até certo ponto. Conversei com meu pai de novo. Ele sempre foi um bom homem, sabe? Ainda é meu herói. Mas quando nós íamos para o carro eu vi minha mãe, ela perguntou quem eu era. O olhar dela me dilacerou. Minha mãe parecia tensa e incomodada, era uma outra pessoa... E então você me acordou. Agora estou me perguntando como seria se eles continuassem suas vidas na Austrália.

— Mas eles foram encontrados. Estão com as memórias restauradas e voltaram a ser os Granger.

— Eu sei, mas me sinto culpada mesmo assim.

— Não sinta. Fez o que tinha que fazer e sabe disso.

— Obrigada, amiga.

— Ah, por favor. Pare com isso agora.

— Certo - ela respondeu com um pequeno sorriso.

— E Mione?

— Diga.

— Foi por isso que você chegou tão tarde ontem? Quando fui dormir você ainda não havia chegado.

— Não, eu estava lá fora pensando em algumas coisas quando Harry apareceu. Nós ficamos conversando e perdemos a noção do tempo.

— Ele disse mesmo que ia atrás de você. Nós ficamos preocupados com o seu sumiço e sugeri que ele visse sua localização no mapa. Espero que não se importe.

— Está tudo bem.

— E não leve a mal eu ter te acordado tão cedo. Temos quase uma hora livre.

— Sério?

— Aham. Estou morrendo de fome, então até mais.

— Até, Gina - a ruiva pôde ouvir enquanto se virava para sair do dormitório, já a outra foi tomar banho.

Esta se sentia estranha ao pensar nos pais e em tudo o que poderia ter acontecido com eles. E então se permitiu pensar na noite anterior e tentou prever a reação de Harry depois do choque. Agora sim ele teria tempo para pensar no absurdo que descobriu. A hora da verdade se aproximava e era melhor enfrentá-la logo. Ao sair do banho se arrumou como faria em um dia qualquer, mesmo sabendo que não seria. Ia enfrentar o que quer que fosse, a esperança estava impregnada em si. Aquele era Harry Potter. Para ela não era o menino que sobreviveu, era o garotinho corajoso e amigo que junto com Ron Weasley a salvou de um trasgo montanhês de quatro metros de altura em um Dia das Bruxas. Isso ainda no primeiro ano deles na escola. Aquele era o verdadeiro Harry. Aquele era seu irmão, que nunca falhou com ela e não iria. Foi pensando nisso que saiu de seu dormitório e quase imediatamente ouviu.

— Bom dia, Mione. Você está bem?

Hermione Granger não teve uma vida comum. Sempre conseguiu se destacar através de muito esforço, mas tinha algumas habilidades natas. A garota que era conhecida por ser a bruxa mais inteligente de sua idade já era esperta antes de entrar no mundo mágico. Dedicada aos estudos, ela sempre prezou muito a lógica. Talvez por esse motivo estivesse olhando para Harry agora como se ele tivesse batido em sua cabeça com um bastão ou jogado um prato de comida em seu rosto sem um motivo aparente. A garota pensou que se por um acaso descobrisse que o melhor amigo estava apaixonado por alguém que já tivesse o prejudicado muito, no mínimo não aceitaria muito bem o fato. Mas ali estava ele sentado no salão comunal da Grifinória esperando Ron Weasley chegar como costumava fazer e a cumprimentando cordialmente. Algo estava errado. Notou que de fato estava errado um mundo onde ela se sentia atraída pelo inimigo, então o correto gramaticalmente era dizer que algo estava mais errado que o comum. Ainda com a expressão perdida, disse tímida.

— Bom dia. Estou sim, obrigado por perguntar. E você?

O garoto se virou para ela, lhe concedendo total atenção.

— Na verdade não estaria tão surpreso mesmo se o próprio Voldemort tivesse me dito que era meu pai e cortado a minha mão fora, mas não posso dizer que eu esteja mal. Fico feliz que esteja tudo certo.

— Tem certeza?

— Absoluta, está tudo bem entre a gente. Por você também?

— É claro, Harry. Não quero me sentir desconfortável perto de você, e talvez seja pedir muito, mas não quero que você se sinta assim comigo.

— Está tudo bem, Julieta, acredite.

— Julieta?

— O quê? Vai dizer que a sabe-tudo de Hogwarts, e diga-se de passagem, a maior nerd que eu conheço não reconhece uma das maiores histórias de amor já escritas?

— É claro que eu conheço. Só acho um disparate me chamar assim.

— Não vejo problema, é um clássico. Você sabe que eu jamais revelaria o seu segredo, sem contar que por ser uma história trouxa quase ninguém vai fazer a conexão. E mesmo se acontecesse você não deve se preocupar, seu Montecchio é improvável demais para ser um suspeito logo de cara.

Meu Montecchio? Quer dizer que eu tenho um Montecchio agora, Harry Potter?

— E por que não? Se você for parar para pensar, essa é a alcunha perfeita.

Alcunha? Acho que eu estava feliz sendo a única nerd da turma e não sabia.

— Deixe de querer monopolizar as palavras difíceis e que eu mostre que aprendi uma palavra nova.

— Desculpe, majestade.

— Concedo-te o perdão, plebeia. Não me bata, por favor.

— Sou tão previsível assim? - ela riu ao perguntar.

— Anos de prática. Felizmente pra mim, Ron costuma ser o alvo.

— Certo, desenvolva a sua teoria.

— Na verdade é bem simples, Capuleto. Na história original temos dois jovens que pertencem a famílias que se odeiam e fazem a coisa menos recomendada devido a situação, eles se apaixonam. Não preciso te dizer a rivalidade que sempre houve entre Sonserina e Grifinória, certo?

— Até aí tudo bem, mas eu não lembro em nenhum trecho Julieta Capuleto ser chamada de sangue-ruim pelo apaixonado Romeu Montecchio.

— Ainda bem. O ponto aqui é que a história deles lembre a sua, não queremos que isso termine em tragédia.

— Claro, por que se nos colocarem em uma sala nós definitivamente não vamos querer nos matar, não é mesmo?

— Ele eu já não sei, mas você anda muito violenta esses dias. Já pensou em fazer algum esporte para canalizar essa tensão?

— Que tal boxe? - perguntou com uma raiva crescente.

— Não! - Harry disse rápido demais, fazendo a garota rir - Quer dizer, não é muito recomendado por precisar de equipamentos e exigir demais. Você não quer pôr seus estudos em segundo plano, não é mesmo? - foi uma saída desesperada, mas era a que o garoto tinha na hora - O que acha de correr? Você só precisaria de um par de tênis e roupas confortáveis.

— Certo, isso te livra de uma possível vingança da minha parte. Estando cansada eu não vou conseguir te dar uns cascudos.

— Eu gostaria que isso soasse de um jeito que não evidenciasse uma falta de coragem da minha parte, mas sua mão é pesada. O que eu posso fazer?

— Me responder uma coisa. Qualquer grifinório apaixonado por um sonserino, ou o contrário, seria comparado com Romeu e Julieta?

— Não, essa honra é só sua. E do Montecchio, é claro.

— Não sei se você notou, mas o Montecchio não odiava a Capuleto.

— Elementar, minha cara Watson. Mas vocês representam as diferenças de um jeito tão intenso que não percebem o quanto são parecidos, eu acho. Por enquanto deixe alguns detalhes de lado, sim? A história não precisa ser igual ou se repetir.

— E você precisa decidir qual referência seguir. Não que eu não fique feliz com tanta erudição, mas acho que em algum momento eu não faça justiça aos personagens. E nada contra Watson, mas eu seria Sherlock Holmes com certeza - disse com um certo orgulho.

— Ora, vejam só. Nem passou para o lado negro da força ainda e já se comporta como uma autêntica sonserina. Caso não se lembre, Capuleto, eu descobri algo muito importante ontem e acho que mereço os créditos.

— Foi sorte, apesar do contexto.

— Deixe eu aproveitar meu momento. Até por que eu fiz a conexão e deduzi o que a situação significava. "Quando eliminamos o impossível, o que resta, ainda que improvável, deve ser a verdade".

— Eu gostaria muito de brigar com você, mas estou muito orgulhosa e com vontade de te apertar por causa disso. Seria mais seguro você esperar Ron no Salão Principal, seu CDF - Hermione disse rindo. - Não é por que estamos em um canto afastado do salão comunal que ninguém vai aparecer e ouvir nossa conversa. Apesar de tudo fico feliz que seja você a saber do meu segredo, eu não poderia o confiar a uma pessoa melhor - disse abraçando o amigo. - Desça que eu vou lá em cima chamar o Ron. Não é normal ele se atrasar para comer. Nos vemos lá embaixo.

— Então até breve, Capuleto.

— Até breve, gentil senhor - e fez uma reverência, segurando a capa como se fosse um vestido.

De fato a vida de Hermione Granger não foi fácil e dificilmente seria, mas enquanto subia a escada para chamar o amigo ruivo e cantarolava uma música qualquer, ela pensou na dádiva que era ser amada e ter alguém de confiança sempre por perto, capaz de aceitar uma parte de si que nem ela aceitava muito bem. Podia não se dar bem no amor, mas com certeza tinha o melhor amigo que existia.


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