Wait - Dramione escrita por LeslieBlack


Capítulo 1
Capítulo Único




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Draco saiu batendo a porta de casa. O casamento não estava sendo fácil, lidar com a morte do pai dele também não. Mas isso não justifica nossos problemas que só crescem. A verdade, ou parte dela, é que é difícil administrar nossas diferenças, e ainda mais as semelhanças. Somos parecidos, mesmo depois dos anos passados. Nosso orgulho é grande demais para desistir do amor que ora une, ora aprisiona e que Merlin, como dói! O motivo? Simples, um Malfoy não desiste.

Esse é o sobrenome que assino, mas ainda sou a Granger Sabe-Tudo de Hogwarts, a que não admitia ficar atrás dele nos estudos. Gostaria de pensar que permanecemos juntos não só pela teimosia, mas nessa relação tóxica não há muita coisa que sobra para ser chamada de boa. A essa altura do campeonato já deveríamos ter nos rendido ao mundo à nossa volta, que desde o início nos classificou como inadequados um para o outro, a escolha impossível. Então por que eu te aceitei com todos os seus defeitos, Draco? Se essa não é a forma mais desesperada de amor, juro que não sei qual é.

Fui contra tudo e contra todos para viver algo que deveria ser melhor do que isso, e sei que mereço. Admito que tendo a ser injusta quando estou com raiva, mas para me retratar há algo que preciso dizer: O sonserino preconceituoso que não suportava me olhar sem soltar um insulto, se tornou o homem que abriu mão de viver entre os bruxos para morar comigo na Londres trouxa, onde tenho as últimas recordações de meus pais. Após saber que morreram em um assalto que aconteceu na Austrália, onde os mandei desmemoriados, não havia muito de mim para doar a outro alguém. Me isolei do mundo, entretanto o reencontro justo com essa pessoa conhecida meses depois me devolveu a vida, ainda que eu usasse meu sopro vital para brigar. O primeiro beijo foi no meio de uma discussão, que levou a primeira transa, que levou a... Céus, como vou contar?

Pego o celular e abro as mensagens. O grupo dos meus amigos do hospital está movimentado. Suzanne está de namorado novo, finalmente superou o traste anterior. Eu deveria estar feliz por ela, quem sabe uma hora consiga. Alex mudou de cidade, mas continua se fazendo presente online. Seu rosto molhado e o cabelo sujo de lama me faz abrir um mínimo sorriso de lado. "O mesmo descuidado de sempre quando se trata de si", penso enquanto leio suas ofensas ao tempo, a própria cabeça por esquecer o guarda-chuva e ao sádico motorista de ônibus - palavras dele, juro. - Sinto falta deles, mas daqui a oito dias minhas férias acabam. Coloco o celular no sofá novamente e de um modo automático volto a olhar para a porta.

Minutos atrás ele estava bem ali gesticulando e falando alto. "Não tenho culpa, querido, se alguém reparou no que você não nota. Por que tanto ciúme em um relacionamento desgastado?" O barulho de porta batendo foi minha resposta. Ele já foi mais educado, e eu? Mais atenciosa. A vida parece querer nos empurrar para a frente, dizem que quer nos fazer evoluir. Não posso acreditar nisso simplesmente por que em momentos como esse a vontade que tenho é de ser a mesma que outrora. A bruxa brilhante, a médica feliz em salvar alguém. Gostaria que me fosse permitido ser alguma dessas Hermiones por uma última vez, sentir um doce gosto antes de me despedir definitivamente. Tantas coisas por aí são definitivas, mesmo não sendo despedidas. Não sei por que tenho que ser uma exceção.

Após perceber que estava de braços cruzados e cenho franzido, jeito que ele dizia ser uma graça, desfaço a postura emburrada e pego novamente o celular. Não há mensagens de quem me interessa agora, então pra mim não tem mensagens. Alex pode continuar seu relato, o grupo ficará silencioso como estou agora. Decidida a não deixar o comportamento de Draco me incomodar mais ainda é que mexo distraidamente em todos os aplicativos do celular, sem que preste de fato atenção em algum deles. Ao desistir volto até a tela principal que mostra uma foto do nosso casamento. Sete anos se passaram muito rápido. No canto inferior direito está minha válvula de escape, o ícone em forma de fone de ouvido. Só de ler o título das músicas sei que não são adequadas ao meu estado de espírito lastimável, teria que buscar outra estratégia. Continuo só para passar o tempo e quatro letras passam por meus olhos, uma palavra que me fez parar. Não, não era amor. Wait, me informava o visor. Não lembrava dessa música, mas fui ver as informações dela com desconfiança. Maroon 5, bom sinal. Pus para tocar. Como eu não me lembrava de uma música da minha banda favorita? "Draco realmente está mexendo com a minha cabeça", lembro de reclamar. Aperto o play e pego o primeiro presente que ganhei dele, anos atrás. Orgulho e Preconceito, quanta ironia! Rio ao constatar pela milésima vez que essa é sempre minha reação ao lembrar da história do livro.

Na noite seguinte ao nosso reencontro inesperado e escandaloso no restaurante italiano, ele foi lá na esperança de me ver novamente. Confesso que sair do estado de inércia foi ótimo, apesar de fazer isso com a intenção clara de brigar. Sem combinar nos encontramos. Draco estava vestido como um trouxa, sim, mas um muito rico. Alguns hábitos nunca mudam, disso sabia. Carregava o livro que agora jazia em minhas mãos e tentou ser agradável durante o jantar. Provavelmente sabia da minha perda, porém nunca me interessei em perguntar. Meu primeiro riso verdadeiro em meses foi naquela noite quando cheguei em casa, pois ao folhear a obra de Jane Austen uma tira de papel caiu perto dos saltos gastos. Era um marcador de páginas que de um lado tinha uma garotinha lendo, do outro era branco. Eu não esperava por aquilo, mas a verdadeira surpresa foi quando ao colocar o marcador na primeira página vi a dedicatória. Uma caligrafia elegante como quem a escreveu pedia o seguinte: "Aceite esse pequeno presente em nome do amor que eu sei que em algum lugar você sente por mim". Chorei de rir, mas após me acalmar peguei a antiguidade que chamava de celular da bolsa e mandei um SMS. Céus, aquilo foi na época do SMS! Achei o número de Draco na memória e digitei: "Agradeço pelo presente, embora não possa deixar de notar tamanha ironia. PS: não seria no coração?". Fui tomar banho para me livrar de tudo daquela semana, exceto o que envolvia o loiro. Já vestida, li a resposta que me aguardava: "E eu lá sei onde a senhora guarda os sentimentos? Deve ser em algum subsolo dentro de você".

Draco, meu outrora doce Draco... Minha memória termina aí, mas enquanto fecho os olhos e deito no sofá macio facilmente te diria que gostaria de guardá-los em uma caixa. Seria bem mais fácil lidar com essa bagunça que se tornou nossa vida.

Vou até nosso quarto evitando olhar as tantas fotografias de momentos felizes, a última coisa que preciso agora é deixar nossas boas lembranças me entristecerem. Volto para o sofá com caneta e papel e me ponho a escrever.

"Guardo meus sentimentos dentro de uma caixa de madeira que fica ao lado da cama. Assim como eu, ela é simples e não parece ser muita coisa. Alguns até diriam que não há nada valioso ali dentro, mas o que é valioso para um pode não ser para o outro. Ela fica tão exposta que chega a fazer parte da paisagem naturalmente. Chegar lá que é difícil.

Para chegar até onde meu corpo fica inerte você tem que cruzar várias barreiras, o lugar é seguro por si só. Passe pela sociedade, atravesse família, amigos, nós dois e chegará até mim. Atravesse meu corpo, meus conceitos, pensamentos, opiniões, supere a nós dois. Olhe nos meus olhos e não veja a cor, passe pela íris. É uma boa ideia saudá-la. Você só chegará até aí.

Passeio por todo o espaço disponível, mas não é um passeio. Eu observo as coisas e vejo onde posso me esconder. Sim, é possível se esconder dentro da própria cabeça. De nada. A voz da consciência me puxa para cima, ela é severa. Encontro um lugar novo e escondo lá o inimigo que não posso jogar fora. Sou instável em relação a ele, pois em horas de cansaço lhe sou indiferente, mas de revolta o explodiria, mesmo que virássemos chamas juntos.

Não sou do time do sacrifício, mas alguém acabou de me pedir pra esperar. Pelo quê, Adam? Pelo alfabeto inteiro? Ficarei aqui dando voltas, rodando ou dançando e será assim.

Escrevo para pôr para fora, para ir para fora. O que tem lá? Acho que o que não tem aqui. Mas o que falta? Ele só diz espere.

O pedaço de madeira está longe agora, senão eu poderia pegar paciência. Sono, quero dormir para sonhar exatamente com isso. Tudo bem se não, mas explique-se, por favor. Ele diz não querer perder meu amor. Não deveria se preocupar, pois eu guardei em um lugar que não tenho acesso imediato. Você tem um lugar especial para guardar seus souvenires também?

Minha compulsão por destruí-lo com as próprias mãos vem só de imaginar segurá-lo. Não é uma questão de justiça. Você diz que ele é só outro garoto malvado. Não, eu não digo. Ele é mais que isso, mas é exatamente isso também. Você não pode arrumar as coisas. Esqueça, não espere. Não podemos voltar ao que era antes de eu descobrir como me esconder.

Não vou deixar que se desculpe. Você tem culpa, por acaso? Não acredito na sua inocência, tampouco na necessidade de condenação. Ainda assim te mandaria embora para um lugar que eu não exista, vá pra outro sol. Eu sou um corpo, mas não celeste. Seja como for você receberia olhares feios, os meus. Ninguém te ensinou a não ficar onde não é bem-vindo, amor? Você não passa de um moleque atrevido na maior parte das vezes, parece não ter ideia de onde está se metendo e na gravidade da situação. Você não vai mudar ou mudar-se, e eu não quero compartilhar o esconderijo com você. Não vê? É justamente de você que me escondo. É mais que atrevimento se disfarçar de coisas mais brandas e sorrir amigavelmente, é crueldade.

Você deveria ser meu e não eu sua, mas sou esperta o bastante pra admitir minha impotência e não reclamar posse. Posso tentar te enganar por toda a vida, mas sabemos que eu vou me render e perder mais que a vitória, a batalha ou a guerra. Você diz que eu sou só outro cara. Não, você é só outro garoto malvado, mas eu não disse isso. Vá embora, sim? Eu deveria te segurar entre os dedos, apertando até esmagar e destruir. Ou não.

Ele está prestes a dizer espere, de fato disse, mas acho que notei um pouco do seu jogo. Somos correspondidos, afinal. Eu quero destruir pessoalmente a coisa linda e preciosa que você é, e mesmo que eu não tenha os seus adjetivos, seu desejo em relação a mim é o mesmo. Esperando ou não. Vamos nos destruir, amor. Nem eu sei se isso é um desejo, pedido ou constatação. Será que é por isso que ele me pede pra esperar? Mas até quando, senhor? Eu realmente não sei quais perguntas fazer. Ele só diz espere".

Paro de escrever, pois a música acabou. Coloco para reproduzir automaticamente quando acabar, e então Adam Levine cantará a mesma coisa de novo e de novo. Continuo.

"Tenho sentimentos, mas não sei mais o que fazer com eles. Eu digo que os sentimentos são meus por que me deram, direcionam a mim. Amizade está lá por causa disso, mas só há um pouco. Ela é trocada, eu jogo no ar também. Ela é uma aventureira que se apega, incomum combinação. Mas enfim, ela viaja. Solta no ar, vai pra onde quer, onde é bem tratada. Me leve junto, quero ficar longe do amor. O que ele me fez? Você só pode estar de brincadeira!

Ele é seu primo de segundo grau, amizade, mas prefiro ficar perto de você. Não venha até mim, quero sair daqui só se deixá-lo para trás. Por mais que seu rosto me lembre o dele, você não costuma ser tão cruel. Pode até ser, é verdade, mas talvez tente se controlar assim como eu.

Você eu não quero destruir sempre, assim como é com ele. Nada tão definitivo para nós dois, eu posso simplesmente ir embora. Nada que sumir no ar não resolva, não é mesmo? Sem nada a esperar, exceto talvez a despedida.

Tenho que ter a prova, mesmo que uma pequena prova, de todos vocês, sentimentos. Não te guardo nessa caixa, eu te aguardo nela. Aí sim posso dizer que espero. Recebo pelo ar, e por ele também te jogo. Não fora, só para fora. Te solto no ar para voar para quem quer, para quem quero bem. Com você a palavra é troca, não doação ou espere. Conosco as coisas são mais fáceis de resolver.

Vou em direção ao singelo pedaço de madeira. Há coisas minhas nessa caixa também, que em momentos apropriados são usadas. Visto minha máscara de indiferença, troco pela de raiva, coloco lá dentro de novo e tranco. Desse jeito os sentimentos são mais fáceis de administrar, não sendo meus. Por isso escrevo sobre eles, para ver se assim fazem mais sentido. O sentir transformado em palavra não vira entendimento na maioria esmagadora das vezes, mas não é como se eu tivesse opção. Então desço a escada da minha consciência até alcançar o porão de mim e guardo a caixa para usar quando tiver que ser assim"

Passo a mão pelo cabelo e suspiro em mais uma tentativa de autocontrole. Esqueci que mais cedo prendi a franja que insistia em cair no rosto com uma presilha em forma de coração. Pego o objeto inocente, o analiso, e um sorriso triste é inevitável. Me ponho a escrever novamente.

"Imagina que louco se eu só tirasse o amor da caixinha como se fosse uma presilha de cabelo e brincasse com ele, o amor, e com ela, a presilha. Algo que existe aos montes e não tem valor real, mesmo em forma que os românticos dizem ser o coração. Abrir, fechar, enfeitar e perder. Amor ou objeto criado com o intuito de prender fios de cabelo? Posso também perguntar o que aprisiona, na verdade posso perguntar o que quiser.

Rodo o amor na mão e vejo que não tem nada de especial nele, é um objeto com sua utilidade, admito, mas ainda assim passageira. Posso quebrá-lo tão facilmente que a mera possibilidade me dá a pulsão de fazer exatamente isso, quebrá-lo e ver que não é tudo de bom que diziam, e em contrapartida, me sentir mal pelo meu poder de destruição. Não ser capaz seria melhor? Para mim agora, provavelmente. É só mais um objeto em um mundo cheio de objetos, onde eles são tratados como nada por serem muitos.

Guardo meu brinquedo, pois não quero mais brincar. O amor que parece brincar comigo, e essa inversão da ordem das coisas me deixa insegura e magoada. Talvez só chateada, mas músicas profundas resgatam o que está melhor escondido em nós, bem lá no fundo. Músicas profundas me deixam triste. Essa não manda, pede que eu espere. Eu? Bem, eu que estou ouvindo.

Seja o que for, espere. Só pare e pense, podemos fazer as coisas do jeito certo dessa vez? Faça as perguntas corretas, criança. O que é certo? Esperar, ele dirá isso. Sua voz é bonita e conhecida. O rosto também, mas seus hábitos não.

A pergunta, a chave deve estar na pergunta. Talvez entre minhas posses exista uma chave para algum portão de uma casa que não exista mais, mas a chave não precisa servir. Ela só precisa estar comigo, eu só preciso tê-la.

Não aguento mais o amor. Ele faz questão da minha companhia para me ferir, mande-o embora. Você só faz as coisas da forma errada, querido. Ou eu posso estar errada achando que há jeito certo, que ele exista de fato. O certo, não o amor.

Eu já pensei ter visto seu sorriso contente e suas lágrimas de frustração. Mas como? Aqui não tem espelhos. A imagem que tenho de mim está escondida no lado de dentro do interior da minha mente. O amor sou eu, quero me separar de mim. É o esconderijo que me faz pensar isso. Não sei se já disse, mas é escuro aqui dentro.

Passo por mim, supero parcamente passado e futuro, para no presente só esperar. Me parece desperdício, mas tento me recuperar de uma dor que nem sabia que tinha. Justamente por ela ser diferente é que consegue se camuflar por tanto tempo. A indiferença, o desânimo e até mesmo o não sentir são os inimigos agora.

A música está programada para se repetir até que eu mude isso ou até que a bateria que diz estar com trinta e nove por cento de sua capacidade chegue ao zero e desmaie. O carregador será vida para o celular, para mim a resposta não é tão fácil. Mas pode ser que esteja tão óbvia que eu não escute, por mais que há tanto tempo o cantor dessa banda me diga justamente para esperar. Acho que não é a resposta que eu quero, mas por mais que não seja certa, tem lá sua razão. É uma possibilidade, mas não é o bastante para que eu me agarre a ela.

Guardo o amor por dentro para que de lá ele possa derrubar minhas barreiras por mim, já que eu não consigo. Mas ele é meu inimigo, não é certo que me ajude. Bem, esperarei. De qualquer forma, não tenho escolha. Em alguns meses nosso filho nascerá, e em um rompante de coragem contarei. Estou pensando em presentear essa família com mais uma constelação, dessa vez Scorpius. Se for menina pode se chamar Rose, uma linda rosa quebrando o concreto e mostrando sua beleza ao mundo. Ora, o que estou dizendo? Draco também precisa opinar, no caso de conseguimos manter uma conversa.

Músicas me relaxam, já não estou pensando muito bem. Just wait, can you come here please? 'Cause I wanna be with you".

Abraço a barriga que ainda não denuncia minha situação e sinto o desejo de mais cedo ser atendido, sono. Minha próxima lembrança é de ouvir o barulho característico de chave na porta. O perfume forte que geralmente me ataca a alergia e ele insiste em usar para me irritar, hoje me incomoda por um motivo diferente. Sou levada novamente pelo sono, e diferente de quando fui dormir, acordo coberta. A expressão preocupada de Draco é a primeira coisa que realmente registro com meus sentidos embotados pelo sono. "Cante de novo, Adam, não quero ouvir mais discussões", penso antes de vê-lo segurar o caderno para o qual me confessei. Seus olhos cinzentos me olham com o amor de antes, é o Draco pelo qual me apaixonei. Então valeu a pena esperar, ele voltou.


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