OneShot - Para casa escrita por Miss Krux


Capítulo 1
Para casa




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Sociedade de Zoologia de Londres, Inglaterra – Dezembro de 1928

“Sendo assim cavalheiros, após todas as provas apresentadas, diante dos voluntários que estão dispostos a se submeterem nessa aventura, creio que só nos resta mais uma instituição ou duas a financiar tal expedição”.

Dois dos cavalheiros sentados mais afastado do palco, não puderam evitar e de forma espontânea seus olhares se dirigiram para entrada, no entanto as portas mantiveram-se fechadas, desde o começo da reunião até o presente momento, afinal lá fora era inverno e os ventos açoitavam as ruas da velha Londres, passava das 23 horas, poucos seriam loucos para sair esse horário, principalmente por conta do frio congelante que havia feito nos últimos dias. Mas ainda assim eles não puderam deixar de recordar e até esperar para que o mesmo fato que ocorreu há 9 anos atrás se repetisse, no entanto nada aconteceu, nenhuma das portas se abriu, ninguém entrou e somente quando uma das universidade manifestou-se a respeito de financiar a futura expedição que a atenção dos mesmos voltaram para o palestrante, Professor Hamilton, o qual dizia ter novas descobertas na América Central, um novo mundo, inexplorado, o qual denominava como “O centro da terra”.

O homem assim que descobriu esse “mundo”, procurou por Challenger, convidando-o para que fosse junto explorar o lugar, dizendo que seria uma nova aventura, que lhe faria bem, mas o cientista negou, alegou estar velho demais para esse tipo de coisa, além de também desejar lidar com o luto sozinho, Jessie havia falecido há menos de 6 meses e o homem ainda não acreditava que a tinha perdido, depois que retornou do platô os dois ficaram mais próximos do que jamais estiveram, viajavam juntos, saiam juntos e a ciência, bem até mesmo a sua ciência havia sido colocada em segundo lugar, mas agora, tudo havia mudado, talvez se não fosse por Roxton ao seu lado, Deus sabe o que teria feito.

O caçador por sua vez desde o retorno, antes de qualquer coisa, tentou casar-se com Marguerite, convence-la a ficar, que a protegeria, mas não demorou uma semana após sua volta, para que a herdeira sumisse, na festa que comemoraria o retorno dos três exploradores, ela não apareceu, não deixou rastros, era como se nunca tivesse retornado, Roxton quase enlouqueceu procurando-a por toda a Inglaterra, contratou mais que um detetive, depositou dinheiro e mais dinheiro para que a encontrassem, no entanto nada, absolutamente nada e nem ninguém a tinha visto. O tempo foi passando e junto com ele suas esperanças, desde lá cinco anos haviam passado, nesse interino sua mãe, Lady Elizabeth Roxton faleceu, devido a idade já avançada e foi John que assumiu todos os negócios da família, aliás foi graças a nova responsabilidade que  herdou que se viu ocupado, ocupado o suficiente para não perder o juízo e não pensar tanto em Marguerite, ao menos durante o dia não pensava, mas a noite era quase que inevitável, perdeu as contas de quantos sonhos e pesadelos com a mulher havia lhe tirado o sono, muitas vezes, nas suas piores noites procurou consolo nas bebidas e cigarros, mas quando não encontrou sabia que nada poderia suprir a ausência da mulher, uma ou duas vezes tentou encontrar “carinho” em outros braços, tentativas frustradas, nada adiantava, era Marguerite que via no lugar daquelas mulheres, mas quando tocava a pele ou os lábios, não era o dela que sentia, sendo assim, virava as costas e voltava para casa, mais uma vez decepcionado, perdido em seus pensamentos, lembranças e medos, de que nunca mais fosse vê-la, que estivesse em perigo, que algo lhe tivesse acontecido ou pior que estivesse morta, esse era o teu pior medo, o que mais lhe assustava.

E agora, aqui estavam os dois amigos, era bem verdade que nunca se separam desde o seu retorno, mas no último ano devido os negócios John quase não ficou em Londres e George se isolou um pouco mais depois de sua perda, porém a reunião sobre um novo mundo a ser descoberto os atraiu, sabiam que não largariam tudo e partiriam para mais uma aventura, não como fizeram um dia, mas a curiosidade nesse momento falava mais alto e a também a oportunidade de se encontrarem mais uma vez, não perderiam por nada. Terminada a reunião, como de costume os homens se juntavam no grande salão, bebiam, fumavam, conversavam, discutiam entre si sobre todos os assuntos, ou seja, era uma noite para e dos homens da sociedade. Challenger e Roxton tinham cada um a sua dose de Whisky, o olhar para além das paredes da sociedade, mas sim para lá das vidraças da janela a sua frente, conversavam sobre assuntos triviais.

R - Sabe George por um momento pensei que acompanharia o professor Hamilton.

C - Não meu amigo, já não sou mais o mesmo, a idade esta pesando e não acho que eu esteja muito bem preparado para me arriscar em algo assim, não ainda.

R - Pode ser que esteja certo, mas se isolar nem sempre é a melhor escolha, eu não sou a pessoa mais indica para lhe dizer isso, sabe que é verdade, mas se continuar assim vai acabar adoecendo e não acho que era isso que Jessie desejaria.

Challenger não pode deixar de olhar para Roxton, ele estava tentando anima-lo, ainda que soubesse que naquele momento poderia ser algo impossível, aliás ele sabia melhor do que ninguém, havia perdido a mulher da sua vida, talvez pior do que a morte, do que a certeza era a incerteza, a duvida, o cientista perdeu a esposa, sim perdeu e como isso lhe doía, mas era uma certeza, enquanto que para John, nada era certo, nada sabia sobre Marguerite, é claro que isso também lhe causava dor, mas de certo modo era ela a ciência de John e apesar de tudo o homem sobreviveu, lutou cada dia, mantendo para si mesmo que ela estaria viva e iria encontra-lá, mais cedo ou mais tarde, talvez deveria fazer o mesmo, manter sua Jessie viva dentro de si e não decepcioná-la.

C - Não, com certeza não era o que ela desejaria, esta certo John e acredite você é a pessoa mais indicada para se ter uma conversa como esta, não acho que confiaria em mais alguém assim, quer dizer a não ser naqueles dois que estão no platô ou a nossa Marguerite.

R - Presumo então que seja o mais próximo que tenha de momento, a menos que queira aproveitar a oportunidade que estamos aqui diante da sociedade de Zoologia e dar a ideia de uma expedição de retorno, fazer uma visitinha para Verônica e Malone.

“- Bem, eu financiaria essa expedição de retorno caso houvesse Lorde Roxton, ainda que me custasse cada libra, ter que viver por mais dois ou três anos naquele lugar esquecido por Deus e aguentar as suas malditas experiências Challenger”.

Os homens congelaram onde estavam, como se todo frio que fazia lá fora tivessem congelado ambos, ainda que estando dentro de um local devidamente aquecido, se sentiam petrificados, era difícil, senão impossível de acreditar quem estava diante dos seus olhos, mas difícil ainda falar, como se a garganta e todas as palavras estivessem embaraçadas, como um nó forte e apertado, nem mesmo piscavam, John não sabia se aquilo era uma visão ou verdade, afinal depois de tantas, ou talvez a bebida, mas não havia bebido tanto assim e outra Challenger também estava vendo-a, ou seja, era real, era Marguerite, sim ela estava lá, bem a sua frente, como aquilo era possível, ele não sabia, não tinha a minima ideia, depois de todas as buscas sem sucesso, mas quando ouviu o som de sua risada, que obviamente era por conta das expressões que eles deveriam ter estampado em seus rostos, suas dúvidas sumiram e incrivelmente seu coração não pode deixar de acelerar, se sentiu aquecido, como muito não sentia e seus olhos brilharam, ela ainda estava mais bonita do que se recordava, sua aparência tinha sido melhor conservado do que a dele mesmo, mas não pode deixar de perceber que a mulher pareceu mudada também, algo tinha acontecido.

M - Então, vocês dois vão ficar a noite inteira me olhando como se estivessem vendo um fantasma ou vão me cumprimentar, para que logo voltemos para aquele maldito platô?! Já que pelo o que percebi é isso que estão planejando ou pretendem.

Challenger foi o primeiro capaz de se mexer e abraçar a herdeira, estava tão pasmo como John, tanto que naquele momento até juntar às palavras em uma frase estava sendo mais complicado que parecia, mas vendo que o amigo passava por situação pior que a sua, acabou por tomar a frente.

C - Ah...bem, eu... Eu não sei por onde começar minha cara, mas certamente é ... É bom revê-la e você sabe, aquele lugar não seria o mesmo sem você.

M - Hahaha... Não mesmo, vocês ficariam entediados sem que eu os acompanhasse, afinal toda e qualquer encrenca é culpa minha mesmo.

C - Ora nem todas eu diria, talvez a grande maioria, mas você não era a única culpada, não é mesmo John?

John nesse momento foi grato ao amigo por estar perto, por tê-lo tirado daquele transe, daquela hipnose, que por um instante julgou que ficaria assim o resto da noite, como a própria Marguerite havia dito.

R - Não, não era, eu acredito que posso levar uma parcela na culpa. E claro, se ainda quiser cuidar para que a sua parcela não aumente.

A herdeira lhe concedeu um de seus mais belos sorrisos, ele ainda a amava, esperou todos esses anos por ela, seu cavalheiro de armadura reluzente, quando seus olhos se encontraram suas duvidas pareciam se dissipar, como se nunca estivessem lá antes, sentiu como se o próprio coração fosse saltar para fora de seu peito, depois de todos esses anos, nunca o esqueceu, manteve cada detalhe vivo em suas memória, mas nesse instante nenhuma  de suas recordações, memórias era mais viva que o próprio diante de si, ter que deixa-lo sem nem sequer dar uma satisfação, ou explicação, foi mais doloroso que podia imaginar, custou noites de sono, lagrimas e mais lagrimas derramadas e um vazio dentro de si, um buraco que nada a preenchia, desejou nunca ter saído do platô, nunca ter voltado para Londres, ao menos assim estaria com ele ao seu lado e mais seguro do que estar aqui, pelo menos quando teve que fugir, foi a melhor escolha que teve, sumir, sem deixar rastros, não importava o quanto iria doer, mas isso do que pagar com as suas vidas, não suportaria que algo acontecesse com ele, com nenhum deles, foi mais do que preciso e agora, depois de tudo, finalmente poderia voltar para Londres, sem segredos ou disfarces, mas o medo naquela noite quase a fez desistir, as perguntas em sua mente lhe perturbavam a cada passo, cada vez que se via mais próxima da sociedade, “Será que estarão realmente lá? Será que irão se voluntariarem para essa nova expedição? Espero que não, caso contrário teria que ir junto, não quero ter que começar tudo de novo, ir para mais uma das aventuras do Challenger, é claro que se ele for, John irá junto, jurou protegê-lo até o inferno, como se aquele platô já não estivesse sido o suficiente, se bem que pra lá eu voltaria, depois de tudo que vive aqui, qualquer coisa é melhor do que ficar. E John, não soube mais nada sobre ele, apenas que assumiu de uma vez por todas o negócio da família, deve estar mais podre de rico do que antes, e junto com o dinheiro, vem as mulheres, será que casou? Não, não é possível, seria notícia em todos os jornais, mas ele pode muito bem ter sim arrumado alguém e eu nem posso cobra-lo sobre isso, afinal foi eu quem sumi, ele não tinha obrigação de esperar, mas ... Mas Marguerite pare de se torturar, você nem sequer sabe o que aconteceu, até parece que nunca lidou com situações piores, é só Challenger e John, eles, eles são meus amigos e não inimigos, porque me importo tanto. Pelo amor você enfrentou Shangai Xan e não passou tanto medo e insegurança, porque isso tudo agora?”.

M - Sempre cavalheiro, mas aproveitando que ofereceu, sim eu ainda quero que cuide para que a minha parcela de culpa não aumente, afinal alguém tem que fazer.

Era o que Roxton precisava ouvir, era a certeza que lhe faltava, a partir da ultima palavra que herdeira pronunciou, esqueceu de todas as etiquetas, de onde estava, quem ao seu redor estava, dos cinco anos de distância, de toda dor e sofrimento e talvez até mesmo de Challenger ao seu lado, não havia mais nada diante de si, a não a própria Marguerite, seus impulsos foram impossíveis controlar, ainda que lá no fundo muitas duvidas lhe assombravam, seu amor gritava mais alto e ela parecia aberta a aceitar, como nunca tinha visto antes, nem mesmo naquela caverna que ficaram aprisionados, estava sem nenhuma proteção ou reserva, seus muros destruídos e agora em seus braços, ele mau podia acreditar, a abraçava, se perdendo naqueles cabelos tão negros, enrolando seus braços  em seu corpo, a apertando como se para certificar que era real e não mais um de sonhos, e claro que não era, ela estava ali, ele podia senti-la, o que era ainda mais impressionante, ela em nenhum momento recuou, pelo contrário, retribuiu seu toque, sem excitar e quando permitiu olhar em seus olhos, havia um misto de saudades, de alegria, mas também palavras não ditas, um pedido de desculpas não pronunciado, ele ainda podia decifra-la, sentir seu medo, sua dor, quer seja o que a fez partir, foi muito mais forte, muito mais necessário do que seu desejo de ficar, mas agora tinha acabado, e era justamente o aqui e agora que importava, depois daquele olhar, ainda um no braço do outro, tão próximos, como há muito não sentiam, a respiração acelerada, quente, quase que como um respirasse o ar do outro, logo os lábios se encontraram, John podia sentir como se aquele beijo o trouxesse de volta a vida, o sentido de viver, esqueceu-se do copo do Whisky que segurava, o qual agora cai no chão, até mesmo do barulho do vidro quebrando, nada importava.

Marguerite, não pensava diferente, na verdade o que antes escondeu e reprimiu, poderia gritar neste momento, estava de volta, de volta para o amor da sua vida, o beijo só lhe afirmava o que viu naqueles olhos, sim ele esperou, ela ainda se recordava das palavras dele no platô quando disse que sua alma não era lavada há tempo, “Bem, é um trabalho sujo, mas alguém tem fazer é por isso que estou aqui sempre”. Sim, ele sempre esteve ao seu lado, ainda que longe ou sem nem seu paradeiro saber, ele nunca desistiu dela, e agora nos seus braços, era como se só os dois existissem, como se o tempo nunca tivesse passado, lhe confiaria a vida hoje e sempre, como tantas vez já havia feito, mas agora, agora poderia lhe confiar e entregar também seu coação, sua alma, nada mais a impediria de fazer.

Quando seus lábios se separam, mas ainda entrelaçados, todos da sociedade de Zoologia lhes encaravam, Challenger ao lado, tinha um sorriso estampado, ainda que envergonhado, que seu rosto estava rubro, não podia deixar de sorrir, já os dois ao seu lado, pareciam não se importarem com os olhares alheios, não surpresa quando ouviu a declaração dita entre eles, quase que juntos, confessando seu amor, quando tomaram tempo para respirar, mas ainda com os rostos próximos.

R&M - Eu te amo

Agora cientes dos outros, de ter toda a atenção da sociedade de Zoologia de Londres, foi John quem se manifestou primeiro, não que Marguerite não fosse capaz, mas afinal ele não queria expô-la, não mais do que já haviam feito.

R - Bem senhores, peço desculpas por já estar de retirada, mas vocês sabem uma nova aventura é sempre bem vinda e ela não espera, portando boa noite a todos e Professor Hamilton, desejo-lhe sorte com a sua viagem para o centro da terra, agora se me permitem eu tenho uma viagem para programar.

Os homens conseguiam falar, pronunciar nem que sequer uma palavra, balbuciavam algo entre si, mas eram incapazes de formular frases coerentes, enquanto que John atravessava o salão de mãos dadas, sem tirar os olhos da bela morena ao seu lado, que por sinal agarrava-se ao seu braço e tinha sorriso mais dos lábios aos olhos estampado, tamanha foi a sua surpresa quando ela parou e o puxou já próximo as portas, olhando para trás.

M - Hey George, andou tomando um de seus experimentos para ter congelado aí onde esta?! Vamos logo com isso, não temos a noite inteira. Ainda há muito que fazer.

Challenger não sabia que jogo era aquele que a herdeira estava jogando, se é que estava jogando, entendeu muito menos o que ela queria com isso de não ter a noite inteira, mas sabia a partir do momento que a viu, que ela não era apenas a ciência de John, talvez fosse a sua própria, a vida podia ter lhe tirado a esposa, amigos e outras, mas uma família como aquela que viu sendo construída no platô, era mais do que poderia desejar, Marguerite era certamente uma mulher admirável, na verdade uma filha que se pudesse escolher faria, o cientista logo alcançou o casal, que seguia em direção ao automóvel que os esperava, deixando todos para trás, sem nada entender, somente então com o automóvel em movimento, distanciado-se da sociedade que a perguntou surgiu.

C - Então, minha cara, para onde vamos com tanta presa?

M - Para onde mais George?! Até parece que não sabe que não se deve brincar com a Sra. Krux. Para o platô é claro, não falei brincando quando disse que financiaria uma nova expedição, não só falei, como fiz, amanhã pela manhã estaremos partindo. Vamos para casa.

FIM


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Notas finais do capítulo

Uma oneshot, com gostinho de quero mais, pra matar um pouco da saudades.



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