Taking a Shower escrita por LadyB


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Porque nem mesmo Oda fala mal do meu homem.



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Existia um boato no Thousand Sunny (e no falecido *navio* Going Merry) que circulava desde os primórdios da tripulação, mas que tomou força na última semana graças à Sanji, que reclamou que o vice-capitão não era parâmetro bom gosto, visto que ele nem banho tomava.

A conversa era sobre a preferência das mulheres pelo ar misterioso que Zoro tinha e o modo felino com que se portava, e Sajin, é claro, começou a desdenhar da opinião dos companheiros — ele precisa ser bajulado e ter a reafirmação do seu absoluto charme fatal, que usurpava qualquer um, toda semana.

A maioria dos piratas estavam sentados, rodeando a mais nova piscina do navio. Luffy, Zoro e Jinbe tinham saído para comprar roupas, o que deixava o momento oportuno para Sanji destilar seu veneno.

— É claro que ele toma banho. Ele iria cheirar como um gambá se só tomasse uma vez por semana. Isso é só um mito — explicou Robin com paciência. “Muito provavelmente criado por você”, pensou, mas não vocalizou.  

— Não toma, não  — rebateu Sajin. — Ele só tem cheiro de perfume aos sábados. Parem de adular aquele marimo. — Bufou com deselegância e ficou amuado.

— E por que ele não cheira mal?  — indagou Usopp com uma sobrancelha arqueada, provavelmente de deboche.

— E eu lá vou saber como? Talvez ele tenha comido alguma fruta do diabo que inibe odores? — continuou Sajin.

Todos reviram os olhos com a teoria absurda e Nami finalmente se pronunciou.

— Acho que você não gosta é de perder. Parece uma criança birrenta e mimada — exclamou com firmeza, dando sinais de que estava perdendo a paciência.

Alguém deu uma risadinha e Sanji ficou vermelho.

— Eu não posso provar que ele não toma, mas vocês também não podem dizer que ele toma. — Sanji sorriu com malícia. — Ou vocês já o viram no banheiro alguma vez sem ser no sábado?

Ninguém falou nada e alguns até murmuraram em concordância pela lógica do argumento.   

— Nós não temos como descobrir, então. Fica um impasse — Robin disse, tentando encerrar o assunto. Só que o cozinheiro não parecia querer largar o osso.

— A gente pode colocar ele contra parede e fazer ele assumir — Sanji exclamou, os olhos brilhando com a ideia.

— Ou alguém pode segui-lo durante uma semana e depois dizer se ele toma banho ou não — opinou Brook.

— Ah, sim? E quem iria se ocupar de passar a semana toda atrás de Zoro no banheiro? — Nami perguntou em um tom cortante e zombador. Quando Sanji tentou se voluntariar, ela completou: — É óbvio que ele não vai te deixar segui-lo, Sanji. Você levaria era uma porrada. Vocês vão procurar saber quando ele faz cocô também?

Ele grunhiu uma maldição, mas Nami apenas voltou sua atenção para a revista cheia de modelos de biquínis, dando o assunto por encerrado.

— Você — Brook sugeriu depois de alguns segundos de completo silêncio.

Todos olharam para ele.

— Você, Nami — esclareceu.

— Eu? — Nami o encarou com incredulidade. Que audácia!

Brook assentiu, como se a ideia fosse completamente compreensível, fazendo com que ela respirasse fundo algumas vezes para evitar gritar alguma coisa. Esperou uma resposta adequada.

Você quer morrer, Brook?”, uma pessoa sussurrou.

— O Sanji levantou a questão e agora eu estou curioso. E já que ele quer tanto assim provar que estar certo, pode ter dar... um incentivo.

“Incentivo” queria dizer dinheiro. Muito mais dinheiro do que ela costumava ganhar em um mês. Essa palavra mágica era dita sempre que tentavam dissuadi-la a fazer alguma coisa estúpida. E, como sempre, funcionou.

As orelhas de Nami ficaram mais sensíveis e sua raiva se dissipou. Ah, ela estava mesmo precisando de um dinheirinho extra para comprar algumas roupas novas.

Ela voltou o seu olhar para Sanji, que deu um sorriso vacilante por um momento. Ele sabia que isso lhe daria muitíssimo prejuízo e colocou na balança o que custaria mais.

— Quanto? — perguntou, cansado. Era sua única opção para desmoralizar o Marimo, não perderia a chance.

— Meu salário trimestral. — Ela sorriu, cintilante.

— O quê? — ele quase gritou. — Isso é um absurdo — vociferou. — Tá achando que eu sou rico?

Nami apenas deu de ombros casualmente.

— Uma pessoa precisa saber o próprio valor.

— Vocês não acham que estão indo longe demais? — questionou Robin, o rosto adquirindo uma feição repreensiva, como raramente acontecia.

— Também acho isso desnecessário — Usopp disse. Mas todo mundo sabia de como ele gostava de Zoro, então…

— Eu sou apenas uma portadora de serviços que precisa se sustentar. E não é como se o Zoro fosse ligar mesmo — Nami assegurou, já imaginado um grande montante de dinheiro espalhado pela sua cama.

Sanji umedeceu os lábios, Robin suspirou profundamente e várias pessoas resmungaram, animadas com a possibilidade de ter uma fofoca nova para se distrair do tédio que recaiu sobre o novo mundo nos últimos tempos.

Derrotado, ele concordou.

— Mas só se você me trouxer provas concretas — alertou.

— Vou conseguir as melhores possíveis. E hai de você se não me pagar se a resposta não for o que espera. — Nami deu um sorriso doce, contrastando de sua ameaça.

Chopper, que tinha ficado estranhamente quieto durante a conversa, pensou que aquilo não daria nenhum pouco certo. Pelo menos era isso que o seu sexto sentido estava dizendo.

Depois de mais algumas conversas absurdas, a trupe se separou para cuidar dos seus próprios assuntos e Nami foi sondar os locais que Zoro passava mais tempo.

Depois de averiguar cada canto do navio — especialmente os banheiros —, ela sentou-se em uma cadeira com mais força que o necessário e resmungou de dor. Era tudo muito chato para falar a verdade. Ou ele treinava ou comia, bebia e caía inconsciente ou dormia. A semana seria bem chata, pensou com desânimo.

« ¤ »

 Nami mal conseguiu acabar o café-da-manhã quando Zoro saiu para treinar. Inicialmente, ela tinha planejado ficar na porta do quarto dele e anotar se ele tinha tomado banho ou não — o toilet perto do quarto era pequeno demais para não se escutar o som da ducha —, mas quando chegou lá, nem sinal dele. Depois de passar algum tempo o procurando, achou-o meditando com uma de suas espadas.

Ele ficou na mesma posição por duas malditas horas, para desespero de Nami, que era inquieta demais e precisou zanzar pelo pequeno espaço inúmeras vezes para espantar o tédio e o sono.

Depois, eles seguiram para a cozinha e ela o observou trocando farpas com Sanji, que lhe deu um olhar penetrante, que Nami devolveu com irritação. Bem, de qualquer jeito iria ganhar o dinheiro… o pensamento a acalmou.

Ela tinha plena consciência que Zoro estava estranhando sua presença de um lado para o outro, porém ele não comentou nada. Todos no navio sabiam que Nami era feita de fases e algumas delas eram para lá de estranhas. De qualquer modo, ela começaria a ser mais discreta no outro dia; precisava ser mais direta em um primeiro momento. E ele era indiferente demais para se importar, mesmo a detestando.

O dia passou sem grandes novidades, com Nami sempre perto o suficiente para ver os passos de Zoro, que tinha ido ao banheiro umas quatro vezes, mas ela não achava que fosse para tomar banho. Começou uma conversa com Chopper, que estava apenas a metros de distância de onde Zoro levantava alguns halteres gigantescos, que com certeza tinham o poder de fazer um grande buraco no chão.

— E parece que esse composto químico tem o poder… — Nami piscou com força para tentar se concentrar no monólogo do pequeno tripulante.

— Yee! — Zoro espreguiçou-se com um resmungo alto, de repente, tirando a concentração de Chopper, que o olhou com um misto de exasperação e admiração.

Nami observou que já estava perto do jantar e era nesse momento que ela sempre tomava banho, talvez Zoro seguisse uma linha parecida — um pequeno canto de sua mente desejou que ele tomasse banho ao observar o suor brilhar nos músculos proeminentes. Ah, qual  é? Não era cega.

— Vocês vão jantar agora? — questionou abruptamente.

— Eu vou esperar o Luffy chegar — respondeu Chopper, fazendo ela segurar o impulso de revirar os olhos.

E Zoro… Bem, Zoro apenas grunhiu alguma coisa que ela não conseguiu entender e saiu.

— Baka — ela gritou alto o suficiente para que todos escutassem.

Nami achou melhor esperar alguns minutos para disfarçar, pelo menos. Realmente achava que ele não fosse se importar, caso soubesse, mas preferiu não ser tão óbvia e ter que lidar com o humor infame dele.

Cerca de vinte minutos depois, caminhou até a cozinha, porém não o encontrou em lugar algum. Luffy já havia chegado e ela perguntou por Zoro à ele.

— Não sei! Eu conversei com ele na hora que cheguei, mas ele saiu e não vi mais — respondeu ele com a voz animada e um sorriso largo.

Nami tentou não bater em ninguém quando descobriu que Zoro já estava dormindo. Ela simplesmente perdeu as duas chances que poderia ter descoberto por pura bobagem.

De qualquer modo, teria que esperar até o dia seguinte. Foi tomar seu próprio banho e dormiu assim que deitou-se na cama.

« ¤ »

Os outros três dias que se seguiram não foram muito diferentes para ela, que estava chegando a conclusão que Sanji estava mesmo certo: Zoro só tomava banho aos sábados!

Tinha conseguido um total de zero pistas ou indicações que ele se banhava diariamente. E isso porque passava o dia todo na cola dele e nem mesmo ousava passar mais que dez minutos fora do alcance de Zoro. Ela rezava para que ele não pensasse que estivesse agindo como uma apaixonada obsessiva nem nada do tipo, pois os olhares irritados e profundos já estavam sendo dirigidos à ela.

O grande mistério era como ele conseguia não feder depois de treinar ou beber, como um gambá. Nami entrou no quarto dele e não achou nem um fraco sequer de perfume ou desodorante. Apenas um de óleo essencial para ofurô, provavelmente o que o deixava perfumado depois do banho da semana.

Aliás, ele tinha entrado no banheiro coletivo há cerca de dez minutos, o que pelo que Nami tinha aprendido, já tinha sido mais que o dobro do tempo que ele gastava. Com um dar de ombros sem esperança entrou no local apenas para confirmar que não existia qualquer box com água recente e…

Nami estancou, espantada. A visão que estava tendo… Zoro, ele estava…

Ela piscou duas vezes para se certificar que não estava sonhando com o corpo mais-que-perfeito dele banhado de água corrente, os músculos flexionando ao lavar o cabelo e, ela desceu os olhos e sentiu as bochechas ficarem rubras.

Como os pequenos compartimentos com a ducha não tinham porta ou algo que desse privacidade, ela tinha uma total visão dele. E, uau, que visão. Tinha noção que ele era bonito, mas não era apenas nos locais visíveis.

Sem contar que ele era mesmo grande, como nunca tinha visto (Estaria Nami falando da bunda ou de outra coisa?).

Sem que percebesse, Nami tinha se aproximado o suficiente para que sua presença fosse notada, mas só percebeu isso quando Zoro voltou-se para ela com as sobrancelhas arqueadas em uma expressão zombeteira.

Como se voltasse finalmente aos sentidos, ela olhou de um lado para outro em busca de uma desculpa.

— Algum problema, Nami? Parece que você está querendo me falar algo há uns dias — a voz dele estava mais clara do que de costume, quase maliciosa.

Nami abriu a boca um par de vezes, mas apenas engoliu o ar. Observou, com o coração trovejando no peito, ele dar quatro grandes passos e parar próximo demais e não fez o mínimo movimento para se afastar. Pelo contrário, encolheu-se em uma parede ao lado e tentou, desesperadamente, pensar em qualquer coisa para falar.

Estava confusa: por que não fazia nada? Queria, de algum modo, isso?

Se fosse com qualquer outra pessoa, faria uma brincadeira inapropriada e sairia com a cabeça erguida, mas era Zoro ali; e com ele sempre foi diferente. Seu sangue sempre esquentava quando era com ele com quem brigava, assim como era a primeira pessoa a pensar nos momentos difíceis. E por mais presunçoso que fosse admitir isso: ela achava que era recíproco de um jeito louco. Talvez por isso tenha topado a missão, percebeu por fim.

— Apenas fazendo um trabalhinho extra, você sabe — ela conseguiu responder, e agradeceu aos céus por sua voz não ter ficado tão trêmula quanto às próprias pernas.

— Hummm. — Ele deu outro passo e ficou tão próximo que passaram a partilhar o ar um do outro.

Zoro tinha cheiro de sabão e algo a mais, seu próprio cheiro natural, muito provavelmente.  

Nami sorriu com o máximo de tranquilidade possível — não muita — quando ele passou a mão perto de seu pescoço e rezou para sua pele não ficar arrepiada.

— O sabonete — ele disse.

— O quê?

— Não estou conseguindo pegar o sabonete. — Nami demorou um tempo para raciocinar o que ele disse, estava preocupada com aquela parte dele perto de sua pélvis. Iria beijá-la?, pensou esperançosa, com a boca seca de antecipação.

Quando entendeu que ele queria o sabonete que estava atrás de sua cabeça, já era tarde demais. Zoro riu gostosamente em seu ouvido. Com o máximo de dignidade possível, fez um malabarismo com o braço esquerdo e conseguiu pegar o famigerado sabonete e o entregou.

— Obrigado, Nami-chan.

A provocação fez com que ela inspirasse com força e mordiscasse os lábios. Alguma coisa definitivamente estava pulsando lá em baixo.

Não respondeu.

Zoro começou a se afastar, causando um misto de sensações estranhas em seu corpo. Antes, porém:

— Não vai dar hoje, mas se você quiser, quem sabe… tomar um banho comigo depois, eu vou ter o maior prazer em deixar você me ajudar, já que eu não sei tomar um banho sozinho, aparentemente. — Ele sorriu largamente, uma raridade.

Nami arquejou em choque, porque a) ele sabia o que ela estava fazendo o tempo todo; b) o olho dele estava brilhando travessamente com coisas muito, muito indecentes — até mesmo o olho da cicatriz; e c) talvez não resistisse ao convite tão tentador.

 No exato segundo que ele se afastou, foi o momento em que Nami provavelmente faria alguma besteira catastrófica. Nunca tinha imaginado que o austero vice-capitão seria tão direto e tão... charmoso.

Eles se encararam pelo que pareceu uma eternidade e, então, ela sorriu, já recuperada, e respondeu:

— Quem sabe assim eu vou ter a certeza que você não está mentindo e fingindo tomar banho.

E saiu.

Antes que fosse incapaz de conseguir.

O coração de Nami batia descompassado em suas costelas, a sensação era que tinha saído do próprio corpo e visto tudo aquilo como uma mera espectadora. Teria dificuldade para recordar se tinha sido um sonho, produto de uma fantasia ou pura realidade depois.

E, bem, talvez não fosse dizer aos amigos sobre a descoberta que, sim, Zoro tomava banho em outros dias a não ser o sábado — embora ainda não soubesse a exata frequência. Guardaria a informação e consideraria aquilo como um bom pagamento, ao menos a primeira parcela dele.

Com uma risada coquete, ela voltou para sala de jantar.




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Notas finais do capítulo

♠ História não beta. Em caso de erros, por favor, me avisem.

♠ Obrigada pela leitura.