Tessaiga escrita por Karina Ferreira


Capítulo 1
Libhertador


Notas iniciais do capítulo

Lembrando que se não leu Eu sou a lenda ainda vai encontrar spoilers aqui.

Glossário de termos no antigo idioma nas notas finais



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Existiam muitas histórias que os antigos gostavam de contar. Tinha a historia dos deuses chamados de Ômega e Virgem Escriba que viviam em guerra desde os primórdios da criação.

Existia a historia de uma pedra, intitulada de joia de quatro almas, com poder absoluto, motivo da maior rivalidade entre esses dois deuses, já que, Odin, o pai de todos os deuses, presenteou a Virgem Escriba e sua raça de criaturas com o objeto, causando assim, a inveja e o rancor de Ômega que com o apoio de Thot, o deus da sabedoria e suas criaturas chamadas de humanos, ordenou que sua própria raça de criaturas roubassem a pedra de formato esférico, desencadeando a maior batalha já travada sobre a terra, já que todos os outros deuses e suas criaturas foram envolvidos nessa

Existia a historia de um espirito maligno que vagava pela Terra e certa vez tomou a forma de uma bruxa com a intenção de devastar a terra e escravizar todas as criaturas como seus súditos, conseguindo assim, a única aliança já registrada entre elementais – criaturas de Ômega – e vampiros – criaturas da Virgem Escriba. Foi por conta desse espirito e sua promessa de retornar na pele da criança nascida da junção do sangue elemental ao vampírico, que as crianças dessas duas espécies passaram a nascer com seus pares marcados, evitando o contato com qualquer outro que não o seu emparelhado

Existia a história, não tão antiga assim, da humana que se apaixonou não por um único elemental, mas por todos eles e a sua causa. Após perderem a batalha pela posse da joia de quatro almas, como castigo, elementais receberam o exílio como punição, as terras sobre seu domínio foram cobertas por uma cúpula de energia de onde nunca poderiam sair

Os humanos, por se associarem a raça de Ômega, como punição, perderam o convívio com os deuses e tiveram sua capacidade mental reduzida, os deixando somente com dez por cento de seus cérebros. E para lembra-los eternamente de que escolheram o lado errado naquela luta, deveriam todos os anos, após a colheita, entregar uma pequena parte de seus proventos aos elementais para que esses sobrevivessem, já que dentro da cúpula não tinham como produzir alimento algum

E foi durante uma colheita que ela se apaixonou. O que poderia ser considerado repulsivo já que tinha um marido e acabara de dar a luz um filho, poucos meses antes, mas mesmo sabendo que era errado, não pode evitar

Naquele ano, seu marido estava muito doente e incapacitado de realizar as atividades encabidas a ele como chefe daquela família, Esme nunca fora o que poderiam chamar de frágil, era uma mulher de pulso firme, competente e capaz de tomar as rédeas da própria vida

O marido, antes que a doença o enfraquecesse completamente, conseguira realizar a colheita daquele ano, mas ambos sabiam que ele não teria forças para levar uma parte dessa a fronteira para ofertar aos elementais

Ela sabia que se não cumprisse com a designação dos deuses, tudo o que tinham colhido apodreceria assim que o sol se posse no fim do dia. Abusando da coragem e determinação que tinha, juntou as sacas de doação no celeiro, as prendeu em um cavalo e partiu para a fronteira antes que o marido acordasse

Em torno da gigantesca barreira, muitos homens a olharam torto por cima de sua arrogância e machismo, mas ela não se deixou intimidar por tais olhares hostis. Quando o momento chegou, todos começaram a infiltrar a barreira com suas oferendas e a mulher engoliu em seco sentindo o estomago revirar ansioso com o que encontraria atrás daquele campo de força. Os boatos que corriam, eram que elementais eram cruéis e desprovidos de sentimentos

Percebendo que restava somente ela parada ali, respirou fundo, segurou a rédea do cavalo e caminhou para o desconhecido. Quando atravessou o campo de força parou olhando embasbacada tudo a sua volta

O chão de terra vermelha era rachado pela falta de umidade e nenhuma vegetação era vista por todo o território que seus olhos alcançaram. A cúpula impedia que o céu fosse visto o que deixava tudo sombrio pela falta de luminosidade do sol

E o ar era rarefeito, expeço, tornando ser difícil respirar ali. Viu os homens que a olhavam torto desprenderem suas sacas dos cavalos com expressões carrancudas no rosto e a jogarem ao chão com brutalidade, em seguida saiam dali

Olhou a frente, a poucos metros de distância, estavam os temíveis elementais. Os senhores dos elementos aguardavam pacientemente que os humanos terminassem de despejar o alimento ali, mesmo a distância, podia ver o quanto estavam ansiosos por aquilo. Principalmente as crianças que esfomeadas, se mexiam no lugar enquanto encaravam firmemente as sacas ao chão

Engoliu em seco, dessa vez não em temor pelo o que poderiam fazer a ela, mas em compaixão pelo que faziam a eles, era claro a ela que estavam famintos e maltratados em suas roupas feitas de sacas. Olhou com remorso as duas sacas que trouxera imaginando quanto tempo aqueles grãos iriam durar

Mais uma vez, foi deixada para trás pelos demais que pareciam não importar-se com o fato de que estava ali sozinha. Rapidamente, ainda mantendo em mente o texto de que elementais são cruéis, começou a desamarrar as sacas do cavalo tendo uma certa dificuldade com essas

Uma das sacas rasgou a borda no processo despejando todo o grão de trigo que continha ao chão. Imediatamente, a mulher se ajoelhou tentando juntar o alimento de volta ao que restara da saca. Tinha consciência de que algumas sacas dos demais humanos também tinham rasgado derramando o alimento e que eles não se preocuparam com isso. Mas não queria ser como eles, não queria agir como se estivesse jogando lavagem aos porcos

— Pode deixar, eu junto – a voz masculina falou de maneira calma próximo a ela. Levantou os olhos para o macho que se abaixava a frente dela, e com um grito se jogou para trás caindo sentada ao chão encarando de olhos arregalados os dois olhos escuros, tais como buracos negros, a encarando aparentando culpa – Eu não vou te machucar! – falou rápido o macho levantando as duas mãos em rendição – por Ômega, eu juro que não irei machuca-la

Esme desfez a expressão de choque completamente incapaz de estar tranquila na presença do elemental, olhou a volta, vendo que todos os outros começavam a recolher as sacas, tentando manter uma certa distância de onde ela estava e completamente indiferentes a presença da humana ali, claramente, estavam muito preocupados em recolher a comida o quanto antes. As crianças, comiam as frutas caídas ao chão com empolgação, como se aquele fosse o primeiro alimento que viam em dias

Olhou mais uma vez o elemental loiro ajoelhado a sua frente recolhendo os grãos de cabeça abaixada, tal como se soubesse que seus olhos eram o motivo de maior perturbação causada a ela. Sem dizer nada, Esme se recompôs e começou a ajuda-lo a recolher os grãos

Quando finalmente haviam acabado, ambos colocaram-se de pé e mais uma vez a mulher olhou com um nó na garganta toda a clara miséria em que aquele povo vivia

— Muito obrigado por sua ajuda e doação – falou o loiro ainda de cabeça baixa lhe estendendo a mão. Esme olhou a mão estendida com preocupação e quando o macho já ia recolhe-la convencido de que era uma péssima ideia, a apertou rapidamente. A pele do elemental era quente, muito quente. Não a ponto de lhe queimar, ou causar algum desconforto, mas a ponto de ser possível diferenciar o toque dele de um toque humano – Eu sou Carlisle, rei dos elementais e em nome de todo meu povo agradeço sua doação – o macho ousou olha-la rapidamente mas desviou os olhos antes que a assustasse novamente

— Eu sou Esme, me perdoe por não ser o suficiente – pediu em constrangimento e o outro assentiu

— Não se preocupe com isso. Era o que podia nos ofertar e somos gratos – respondeu educado recolhendo as sacas do chão

Não, não era. Poderia ter trazido mais e tal constatação era o que a perturbava, assim como todos os outros humanos, trouxera a pior e menor parte de sua safra. Sem coragem de encarar o elemental novamente, dessa vez não por temor, mas por vergonha de seu egoísmo em negar algo que tinha em fartura a quem nada tinha. Esme abaixou a cabeça, pegou a rédea do cavalo e saiu da cúpula escura

Durante todo o caminho de volta para casa, a mulher sentia a culpa a corroendo a ponto de sentir-se sufocada tanto quanto ainda estava dentro da cúpula mal arejada. Em sua mente inúmeras suposições do que poderia ser feito para ajudar aquele povo, ainda que soubesse que seria considerada louca se dissesse as palavras voz alta, desejava em seu íntimo que os elementais pudessem vencer aquela guerra

E foi assim, que a humana chegou a conclusão de que ela iria ajuda-los a vencer. Cavalgou ate sua casa em trotes rápidos. Quando entrou o primeiro que viu foi o senhor grisalho sentado a mesa com expressão preocupada, o homem a olhou imediatamente quando passou pela porta, com olhos preocupados, tal como se já soubesse a que conclusão a filha chegara após o encontro com os elememtais

Nenhum dos dois disse palavra alguma, a mulher passou por ele indo ao quarto onde o marido ainda dormia. Com a mão mediu a temperatura do homem constatando que essa se normalizava, suspirou o olhando uma última vez, e então foi até o berço

O bebê de cabelo claro e ralo estava acordado brincando com os próprios pés e abriu um sorriso banguela quando a viu parada ali. Com um sorriso no rosto e de olhos marejados, a mulher pegou o garotinho no colo o apertando contra ela

— Eu te amo muito meu amor, e espero que um dia possa compreender minhas ações. Existe uma injustiça sendo cometida e eu tenho como impedir que ela continue. Para onde eu vou não é um lugar bonito e você não pode ser feliz lá, ninguém pode. Por isso vou ter que te deixar aqui, onde sei que vai crescer bem, com alimento e amor. E que um dia se tornará um grande homem – olhou a porta onde o senhor estava parado a olhando em reprovação. Beijou o alto da cabeça do pequeno aspirando fundo o cheiro dele e o colocou de volta. Com o coração sangrando de dor, passou pelo homem na porta a passos duros

— Não é da nossa conta Esme – falou o homem como se tentasse a trazer de volta a razão

— E é da conta de quem então? – perguntou carrancuda – Tem crianças lá papai. Crianças passando fome

— E você tem uma criança aqui, uma criança que é sua.

— Promete que vai cuidar dele? Promete que vai educa-lo com o mesmo amor e cuidado que teve para comigo? E que ele vai ser um homem de bem que não aceita injustiças tanto quanto eu?

— Esme... – suspirou o homem dando-se por vencido. A mulher nada mais disse, virou as costas e correu para longe dali antes que desistisse. As lágrimas correndo por seus olhos. Montou no cavalo e foi para a fronteira

Chegando lá, não tinham elementais ali o que achou um grande alívio, teria mais algum tempo para reforçar sua coragem antes de encara-los novamente. Cavalgou em linha reta e logo podia ver as casas feitas de pedra

A medida em que se aproximava, mais elementais se uniam no centro da pequena vila a olhando com curiosidade e expectativa. Alguns pareciam atentos, como se previssem uma luta

— O que faz de volta? – perguntou Carlisle a olhando receoso a frente de todo o grupo

— Vim me unir a vocês,

— Vá para casa!

— Quero dar meu apoio nessa guerra! – falou decidida

— Não quero ofende-la, mas em que pode uma única humana nos ajudar? Vá para casa! – ordenou virando-lhe as costas

— Existe uma lenda não existe? Uma criança que colocará fim a guerra. Alguém com junção de dois sangues, o mais forte e o mais fraco – o elemental se voltou novamente a ela com surpresa

— Faz ideia do que está propondo? - O macho a olhava intensamente e os olhos negros não lhe pareciam mais tão aterrorizantes quanto outrora

— Completamente! – respondeu de queixo erguido

...

E assim, finalmente chegávamos a história dele. O menino profetizado muitos anos antes. O libhertador* que colocaria um fim na guerra, devastando uma das espécies e dando finalmente paz a outra. O garoto que tivera o nascer planejado e comemorado, que ainda feto, já carregava sobre os ombros todo o peso das expectativas depositadas sobre ele. O menino que não era nem de longe tão excepcional e forte quanto todos idealizavam que seria

— Acorda! - Um enorme jarro de água foi jogado no rosto do garoto que acabara de entrar na adolescência o despertando de seu sono, o susto o fez saltar na cama olhando de maneira atordoada para os lados. Logo viu o loiro, apenas alguns dias, quase um mês, mais novo que ele o olhando em diversão

Quando Esme atravessou a fronteira cheia de ideias revolucionarias se oferecendo para gerar a criança da profecia, Carlisle já havia conhecido sua shellan* e se unido a ela

Fora exigência da rainha, quando o hellren* apareceu com uma humana dizendo que precisava gerar um filho com ela, que ele também lhe desse um herdeiro legítimo, do contrário, a fêmea ameaçara matar a humana e sua cria antes mesmo que vingasse

— O que foi bastardo? Eu apaguei o seu fogo? – gargalhou de forma cruel – oh, é verdade, você nem acendeu ainda – continuou rindo enquanto jogava uma bola de fogo para o ar - Anthony está chorando, minha mahmen* ordenou que vá cuidar dele – após anos do nascimento de James, a rainha gerara um novo filho

Edward respirou fundo e se levantou já indo de encontro ao pequeno príncipe recém-nascido do qual a rainha o nomeara thutor*. Não era um sacrifício cuidar do pequeno, na verdade o agradava. O que era um grande sacrifício, era aturar James e todas as suas provocações de filho legitimo do rei

...

Naquela tarde, após ser liberado dos cuidados de Anthony e dos ensinamentos do antigo idioma por Aro, Edward fez o que mais gostava de fazer, fugiu da caverna onde habitava a primeira família* para ir a aldeia

Na aldeia, o menino tinha destino certo, mas no percurso, precisava encarar todos os aldeões retorcendo os narizes para ele conforme passava, o que fazia o menino se encolher em seus ombros. Sabia que o comentário, era que ele não deveria ter nascido, que tinha sido um erro tentar burlar a lenda e planejar o nascimento da criança profética

Edward era o menor dos meninos de sua idade, o mais magro e frágil, os olhos idênticos aos da mãe, gritavam o quanto era fraco por ser humano. Na verdade, assim como todos os outros, o menino acreditava verdadeiramente que não nascera para ser libhertador* de ninguém

— Trahyner*! – gritou o garoto de mesma idade, correndo para fora de sua casa assim que o viu se aproximar – Olha Edward! Olha! – gritava eufórico pulando na frente do ruivo. Alec era o único amigo que tinha e a companhia do sempre espevitado menino era a única alegria que possuía naquele fim de mundo

O garoto parou de pular assumindo uma expressão concentrada enquanto esticava a mão para o chão. Em seguida a terra começou a tremer até que um punhado saltasse para a mão do menino que comemorou apresentando-a ao amigo

— Os seus poderes despertaram! – falou com falsa empolgação, Edward tentou colocar uma expressão de comemoração no rosto pela conquista do outro, mas falhara nessa missão já que o amigo o olhou de maneira culpada jogando a terra de volta ao solo

— Não é nada demais – deu de ombros, tal como se fosse errado comemorar sua vitória quando os poderes do amigo ainda não tinham sido despertos

— Hei como não? Seus poderes despertaram, você finalmente é um elemental. Isso é um máximo! – o garoto sorriu de maneira tímida desviando os olhos do ruivo

— Você logo vai acender também Edward – falou a mulher se aproximando dos garotos – Só precisa ter um pouco de paciência – Elizabeth, mãe de Alec, era como uma segunda mãe para o híbrido, às vezes era como a primeira já que Esme vivia ocupada atendendo ao rei

O rei, que diziam ser seu pai, nunca agira como um pahmen* para ele. Edward era o bastardo do rei e sempre fora tratado como tal, James, o filho legítimo, era quem tinha todas as honras de um príncipe. O hibrido sabia bem que a indiferença do macho muito mais do que por ser bastardo, se devia ao fato de que claramente, Edward nunca seria o guerreiro que ele idealizara quando concordara em concebe-lo

— Ou eu posso nunca ascender. Sabemos que eu sou mais humano do que elemental – respondeu melancólico

— Isso com certeza! – debochou Alec – Olha só pra esses olhos, que coisa horrorosa – gargalhou, arrancando também um sorriso do híbrido que nunca se importava com as brincadeiras do amigo sobre seus olhos claros, diferentes dos negros de qualquer outro elemental

— Parecem lindos para mim – a fêmea respondeu gentilmente afagando os cabelos do menino - Ainda que não ascenda, você nasceu para ser grande Edward, não sabemos como, mas quando chegar o momento, você será exatamente o que nasceu para ser

...

Naquela noite, Edward estava mais uma vez, com um pedaço de carvão, fazendo os exercícios de antigo idioma que Aro lhe passara como dever, como sempre, o garoto o fazia com um enorme bico de insatisfação no rosto

Não conseguia ver sentido em estudar o idioma dos deuses, a muito, depois de ver a mãe, Elizabeth, a própria rainha e tantos outros implorarem a Ômega por socorro, quando suas barrigas doíam pela fome, e o auxilio não vir, compreendeu que o tal deus não importava-se com o sofrimento do povo. Não perderia seu tempo falando com a tal divindade aparentemente muito ocupada para atender as preces de suas criaturas

Todas as vezes que expressava sua insatisfação em aprender o idioma, Aro, após o repreender por ofender o deus da raça, sempre alegava que ele era o príncipe, e como tal, deveria ser bem instruído. O que fazia o híbrido odiar ainda mais aquele estudo

Todos sabiam que ele não era, nem nunca seria, reconhecido como príncipe. Ainda que fosse mais velho do que James, era o loiro quem sucederia Carlisle no trono, e se James morresse antes disso, Anthony o faria. Ele não era ninguém além do bastardo concebido para libertar o povo, e que claramente não o faria já que era um fracoide. Bufou sonoramente jogando longe o carvão

Puxou os cabelos revoltos para trás, nem o cabelo era a favor dele, os fios em um tom que assim como seus olhos, somente a mãe tinha, nunca paravam no lugar. Lembrou que logo a mãe estaria ali para coloca-lo para dormir e que lhe daria uma bronca se o dever não estivesse pronto, então colocou-se de pé para ir buscar o pedaço inútil de carvão

Uma forte vertigem o atacou no momento em que se equilibrou sobre as pernas e ele fechou os olhos apoiando a mão na parede da caverna. Agitou a cabeça tentando se livrar da sensação desagradável quando uma voz feminina começou a proferir palavras indecifráveis para ele

Abriu os olhos e piscou diversas vezes tentando desembaçar a visão mas era inútil, sentia sua mente girar lentamente enquanto a voz continuava a falar sem parar. A sua volta, mesmo com a visão embaçada podia ver uma nuvem expeça de neblina o cercando, agitou os braços tentando tirar aquilo de perto dele, mas o corpo cambaleou para trás e ele precisou se segurar a parede novamente ou iria ao chão

Com os olhos fechados se concentrou na voz feminina irreconhecível para ele. Ela falava palavras estrangeiras era o idioma dos deuses, tinha certeza, a voz tinha uma fluência perfeita nas palavras, tal como se fossem nativas para ela, nem mesmo o próprio Aro era capaz de falar com tanta naturalidade o idioma das divindades, o que fez o garoto acreditar que era alguma deusa falando com ele

Tentou interpretar o que lhe estava sendo falado, mas quando conseguia lembrar-se da tradução de uma palavra, ela já tinha dito outras três. A voz ficou em silêncio e o híbrido abriu os olhos assustado quando uma segunda voz, gélida, sombria e totalmente aterrorizante soprou em sua mente, se segurando na parede, o garoto olhava a volta procurando por quem lhe falava

A voz feminina falou uma única frase da qual o hibrido conseguiu identificar as palavras morte e marca e então aconteceu. Uma dor profunda lhe rasgou a alma e ele caiu prostrado ao chão gritando por sua mãe

Sentia que alguém o dilacerava de dentro pra fora enquanto um zumbido ensurdecedor estremecia sua mente o impedindo de pensar. A voz sombria repetiu as palavras e dessa vez ele reconheceu a palavra desejo. Queria correr para longe dali, mas não conseguia se levantar, a voz feminina também repetiu a frase, agora com mais empolgação e dessa vez reconheceu a palavra desejo também na fala dela. Ela desejava a morte, alguma coisa com marca idêntica

Antes que conseguisse concluir o que aquelas palavras significavam, a dor aumentou ainda mais e ele gritou mais alto enquanto se debatia no chão tentando escapar daquela tortura. Abriu os olhos enquanto se contorcia e assustou-se ao notar, mesmo com a visão desfocada, que não estava mais em sua caverna, estava em um lugar que nunca tinha visto, com coisas que não saiba o que eram

Ajoelhada a sua frente tinha uma fêmea, concluiu que era uma fêmea por que mantinhas os cabelos longos abaixo do peito, mas não podia ver-lhe o rosto com clareza, mas ela estava sorrindo, tinha certeza, ela o olhava sorrindo, se divertia de sua dor

— O que deseja de mim? – A voz sombria repetiu e dessa vez ele conseguiu traduzir a frase inteira. Olhou para o outro lado vendo uma figura completamente desconhecida para ele mas que mesmo desfoque, não parecia ser algo bom

— Desejo a morte daquele que possuí uma marca idêntica a minha – o híbrido abriu a boca surpreso voltando a olhar, com o rosto enterrado ao chão, a garota ajoelhada a frente dele. A visão da fêmea não durou muito já que a dor triplicou e ele gritou ainda mais alto, ele próprio implorando para que o espirito o matasse logo. Pode escutar a gargalhada da fêmea apreciando seu desespero

O espirito repetiu a pergunta por uma quarta vez e ele travou o maxilar enquanto a escutava repetir sua resposta. Não ia mais gritar, não iria dar o gosto daquela fêmea de vê-lo gritando. A dor aumentou como se o estivessem rasgando por inteiro para o tirar de dentro de si, ao contrário do que queria, ele gritou, gritou de lábios travados o que transformou o som em um longo gemido seguido de diversos grunhidos espaçados o que pareceu divertir ainda mais a garota

A pergunta foi repetida por uma quinta vez e ele não tinha mais forças, não tentaria impedir o grito, não tentaria lutar pela vida. Já podia sentir essa o deixando. Espremeu os olhos pronto pra mais uma onda de sofrimento, mas esta não veio. Abriu os olhos identificando que estava de volta em seu quarto sozinho. Não tinha neblina, não tinham vozes pedindo pela morte dele no antigo idioma, era somente ele, ele e o corpo moído pelo sofrimento de instantes antes

— Edward! – a voz alarmada da mãe invadiu o quarto mas não tinha forças para virar-se para ela – Edward o que houve? – a mulher o tirou do chão o depositando na cama logo em seguida. Olhou sofregamente para a mãe que parecia preocupada e então forçou um sorriso para acalma-la

— Está tudo bem. Eu só estou cansado – claramente a mulher não acreditara em suas palavras. Mas não o questionou. Deitou-se ao lado dele o embalando em seus braços enquanto cantarolava uma canção de ninar. Discretamente, em meio ao aperto da mãe, Edward olhou a marca do dragão no pulso e uma única lágrima rolou por seus olhos

...

— Você está tão quieto hoje – observou Alec naquela manhã enquanto os dois garotos estavam sentados ao alto da casa do dominador de terra

— Minha shellan* tentou me matar ontem – murmurou, os olhos perdidos no tempo. Alec imediatamente se virou para ele o olhando embasbacado

— Do que é que você está falando? – perguntou em assombro

— Ontem a noite, alguma fêmea fez algum tipo de ritual macabro para matar o macho com quem ela é emparelhada, e eu era o único jogado ao chão gritando e chorando. Eu nem a conheço, e ela tentou me matar – o outro, se possível, abriu ainda mais os olhos o fitando como se buscasse algum sinal de que ele morreria ali na sua frente naquele momento mesmo

— Como isso é possível? – perguntou espantado

— Eu não sei, vai ver que ela é algum tipo de bruxa, ou sei lá. Mas seja o que for, não deu certo. Eu estou vivo

— Você é um elemental, elementais não podem ser vinculados a bruxas

— Eu não sou, um elemental Alec! – esbravejou, o outro engoliu em seco sem saber o que falar e o hibrido desviou os olhos dele

— Ela pode tentar de novo – alertou em preocupação. Edward suspirou

— Eu sei

Antes que os amigos pudessem finalizar a conversa, ou pensarem em uma maneira de evitar que Edward fosse morto nos próximos dias. Um dragão esverdeado sobrevoou sobre eles rugindo de maneira feroz

O bicho encheu a boca de ar e cuspiu fogo na direção dos dois. Imediatamente, Edward se jogou por cima de Alec cobrindo o corpo do dominador de terra com o seu. O hibrido não tinha acendido, mas sabia que o fogo não o feria, comprovara isso nos inúmeros treinamentos com Carlisle, onde o rei da espécie lançava fogo sobre ele em uma falha tentativa de fazê-lo acender a força. O rei sempre se zangava em tais treinamentos dirigindo palavras de acusação aos fracassos dele em corresponder as expectativas que toda a raça depositara sobre ele, até que desistiu dos tais treinamentos e desde então, sequer olhava o garoto sem que retorcesse o nariz insatisfeito

Quando a rajada de fogo cessou, os amigos olharam o dragão, vendo James sentado sobre ele sorrindo de forma zombeteira. Alec imediatamente se colocou de pé pronto para brigar com o príncipe idiota em defesa do amigo. Mas antes que tivesse oportunidade de jogar a primeira pedra, o dragão branco se aproximou com um orgulhoso Carlisle montado nele, comemorando a conquista do filho que seria seu sucessor ao trono

Edward engoliu em seco vendo os dois dragões voarem lado a lado para longe dali com os machos jogando fogo um no outro em provocação enquanto riam de maneira descontraída. O hibrido se colocou de pé, pronto para voltar a seu buraco na montanha

— Hei não fica assim – pediu Alec – é só um dragão patético

— O único patético aqui sou eu – respondeu chateado – vai ver foi por isso que a tal fêmea a quem sou vinculado quis me matar. Deve ter ficado sabendo o quão inútil eu sou. Vamos orar a Ômega que ela tenha êxito a próxima vez que tentar

— Não fale assim cara – pediu Alec, mas o híbrido não deu atenção, pulou do telhado indo de cabeça baixa em direção a montanha

...

Dias depois, Edward ainda estava deprimido em seu quarto enquanto tentava evitar James e toda a soberba por ter conseguido um dragão. Elementais de fogo eram extremamente raros dentro da espécie, e a muito tempo não nascia alguém com tal dom fora da primeira família*, eram considerados superiores, por suas habilidades em dominar o fogo, o rito de passagem de um dominador de fogo era a conexão com um dragão

Logo quando um garoto ascendia, ele escalava a montanha mais alta dentro da cúpula e aguardava que um dragão o escolhesse. Segundo a crença, o dragão só o escolhia quando estivesse pronto para ingressar na vida adulta e assumir o verdadeiro poder do fogo

Carlisle dizia, que mais do que preparado para a nova fase da vida, o elemental tinha que provar ser merecedor da confiança do bicho, precisava demonstrar os mesmos valores e desejos. Para o rei, a união de um elemental e um dragão, era um encontro de almas. Aparentemente, o híbrido não tinha sequer o poder de um elemental, quem dirá a metade faltante da alma de um dragão

O agitar da parede em que a cama do hibrido ficava fez Edward levantar-se assustado olhando as pedras se afastarem com agitares ruidosos para então, revelar um babaca dominador de terra se exibindo. Edward revirou os olhos e voltou a deitar na cama com os braços atrás da cabeça, mesmo não tendo mais parede ali, ignorando completamente o macho que se juntou a ele na cama

— Você poderia ter entrado como qualquer outro elemental. Não se esqueça que aqui ainda é a casa da primeira família*, pode ser punido por tamanho desrespeito

— Eu só derrubei a parede do bastardo, ninguém vai se importar com isso – provocou

— Eu me importo!

— Que seja – desdenhou – redecoro toda essa espelunca depois, agora precisamos ir – Edward o olhou confuso

— Ir onde?

— Buscar o seu dragão – respondeu empolgado. E o hibrido ficou esperando a parte em que ele diria que era uma brincadeira. De péssimo gosto aliás

— Você sabe que eu não ascendi – respondeu quando se deu conta de que o outro estava falando sério

— E daí? Você é meio elemental de fogo, com certeza tem uma alma dragão esperando por você

— É impossível chegar ao topo da montanha sem poderes Alec

— E é por isso que eu vou com você. Eu serei os seus poderes

— Você enlouqueceu? Não pode subir a montanha. Tem dragões lá, que cospem fogo nos invasores. E você não é a prova de fogo

— Mas você é. Eu serei os seus poderes, você será meu escudo. Formaremos uma ótima dupla – completou empolgado

— Esta pedindo a minha ajuda para morrer? É disso que se trata?

— Se isso for fazer o meu melhor amigo parar de se encolher por ai, se considerando inferior a tudo e a todos, sim, é disso que se trata. Estou disposto a morrer por você. O que não estou disposto é a continuar aqui, vendo você definhar sem poder fazer nada

...
Já chegando ao fim do território dos elementais, iniciava-se o domínio dos dragões, a montanha mais alta dentro da fronteira era frequentemente visitada pelos cuspidores de fogo

Escalar a rocha gigante não estava sendo difícil como imaginara, na verdade, ter consigo um dominador de terra era de grande valia, Alec manipulava as rochas para que fossem formando degraus por onde a dupla subia facilmente

Os amigos riam divertidos de sua aventura quando sem que ao menos vissem de onde veio, um dragão surgiu cuspindo fogo neles. Edward imediatamente abraçou Alec o prensando contra a parede

Olharam de um para o outro e se colocaram a correr, o dominador de terra em sua inexperiência com o elemento que manipulava se esforçava para manter a concentração em criar novos degraus

A medida em que iam subindo, mais dragões surgiam incomodados da visita dos elementais, a essa altura, Alec já fazia escudos de pedras para si, visto que claramente somente o corpo de Edward não era suficiente para protege-lo

O elemental não queria confessar, mas estava apavorado com o pensamento de que não conseguiria cuidar de si próprio e ainda garantir que Edward não morreria no percurso. Se esforçava para criar degraus para si e para o híbrido e erguer escudos na hora certa

Quanto mais se aproximavam do topo, mais frio ficava, até que finalmente, chegaram. Alec se deixou cair ao chão coberto de gelo respirando em arfadas enquanto sentia alguns pontos de suas pernas e braços arderem devido a queimaduras que sofreu

O garoto olhava para cima o campo de energia que quase podia tocar de tão próximo a si que estava, através dele, podia ver sombras das bestas voando, como se decidissem se os atacariam novamente ou os ignorariam

—Você está bem? – perguntou Edward se arrastando até ele claramente exausto também

— Vou sobreviver – respondeu de olhos fechados se esforçando para não transparecer o quanto suas queimaduras estavam doendo

— Foi uma péssima ideia – murmurou o outro com a cabeça encostada na sua

— Você está brincando? Foi uma ótima ideia! Chegamos ate aqui e você vai ter o seu dragão – o híbrido não o respondeu, apenas se sentou com gemidos de dor e Alec imitou o ato dele

Edward segurava o tornozelo enquanto gemia baixinho. Alec encarou o membro do amigo arregalando os olhos ao ver o pé do outro em uma posição estranha

— Mas que merda Edward! – gritou, as próprias dores esquecidas

— Você não está melhor do que eu – rebateu e o dominador de terra encarou as próprias feridas fazendo uma careta para elas. Em seguida se posicionou próximo do pé do amigo

— Vamos ter que colocar no lugar – Edward somente assentiu, segurou o pé torcido e o híbrido cobriu o rosto com as mãos – Um, dois, três – Edward gritou sonoramente quando teve o pé virado de volta pro lugar correto

O hibrido ainda estava proferindo palavras de maldição ao amigo quando o dragão vermelho pousou não muito longe deles. Edward imediatamente se colocou a frente de Alec pronto para protege-lo de um possível ataque, mas nada acontecera. O dragão ficou lá, apenas encarando os dois e Alec abriu um enorme sorriso

— É o seu dragão Edward! – comemorou – O seu dragão cara! – Alec estava eufórico de felicidade – Vai lá se conectar com ele seu idiota! – empurrou o amigo que ainda estava parado no lugar com ar de incredulidade

Com um sorriso no rosto, Edward obedeceu o amigo, mancando na direção do dragão, mas ao contrário do que se esperava, o dragão no o recebeu como seu escolhido, ao contrario, o afastou com rugidos altos e descontrolados, completamente insatisfeito da aproximação do garoto que recuou confuso. Alec correu para o amigo o mantendo parado no lugar

— Não seja ridículo! Você não pode recuar, é o seu dragão e... – o dragão rugiu uma nova vez e o dominador de terra emudeceu olhando incrédulo para o bicho – Me diz que eu não estou louco e que você também está escutando essa coisa falar! – Edward arregalou os olhos para o amigo completamente pálido a sua frente enquanto o dragão rugia para eles – Edward não tem graça! Me diz que está escutando o seu dragão falar! – pediu em desespero e Edward olhou do amigo para o dragão o qual ele não podia compreender

— Esse não é o meu dragão Alec, esse é o seu dragão. Ele se conectou com você – se possível, os olhos do outro se abriram ainda mais, como se estivessem a ponto de saltar para fora a qualquer momento

— Não! – gritou olhando o bicho – Não! Eu não sou um dominador de fogo seu idiota! Meu elemento é a terra, está vendo? – como que para comprovar suas palavras o elemental fez subir uma confusão de poeira em torno de si – Terra! Ele é o elemental de fogo, é com ele que tem que se conectar! – gritou e o dragão rugiu uma resposta ao elemental que pulou de insatisfação no lugar levando as mãos a cabeça – Você entendeu tudo errado! Ele é o grande amigo que se sacrifica pelo bem do outro, não eu. Ele é quem é digno de uma conexão e é com ele que você vai se conectar! – ordenou e Edward revirou os olhos

— Vamos embora Alec, esta claro que nenhum dragão irá se conectar comigo

— Não Edward, nós viemos até aqui. Vamos esperar um dragão menos burro, esse aqui não serve

— Alec eu vou embora com ou sem você! – falou já mancando para o caminho de volta

— Viu o que você fez? – gritou Alec olhando feio para o dragão – Seu grande idiota! - em seguida correu atrás do amigo

...

— Eu sou o príncipe herdeiro! Não deveria ter que ir buscar sacas na colheita – James resmungava inconformado como acontecia todos os anos seguindo de mal gosto na direção da fronteira

Edward e Alec, caminhando pouco a frente dele fingiam que não o escutavam enquanto imaginavam como seria ter uma fruta descendo por suas gargantas após tanto tempo sem um alimento descente

— E é exatamente por ser o príncipe herdeiro que você precisa estar ao lado de seu povo, mostrando que se importa com eles. Grandes líderes não são seguidos por ficarem atrás de um trono delegando ordens – pontuou Carlisle que aproximando-se por trás do filho o escutou reclamar

Edward e Alec, assim como os demais elementais, curvaram-se para a presença do rei que afagou os cabelos loiros do filho que o sucederia ao trono, enquanto ignorava a presença do outro como se o hibrido não estivesse ali

Como acontecia todos os anos, o rei se posicionou a frente de seu povo aguardando a chegada dos humanos. Edward suspirou olhando o macho que lhe era indiferente, em seguida observou os homens atravessarem a barreira com sacas de alimento que foram jogadas de maneira bruta ao chão

Tão logo os humanos atravessaram o caminho de volta, o rei se aproximou da comida sendo igualmente seguido pelos demais

A boca de Edward salivou olhando as frutas caídas ali, mas não ousou consumi-las. Somente as crianças tinham permissão para comer qualquer alimento antes da partilha e ele não se enquadrava mais nesse perfil

Juntou as frutas de volta para dentro da saca de onde tinham rolado e a jogou sobre as costas pronto para retornar a aldeia o quanto antes e receber a sua porção

Alec caminhava a seu lado com um sorriso que o hibrido julgou ser possível, a qualquer momento lhe rasgar os lábios de tão grande que era

— Bastardo? – os dois se viraram para olhar James que se aproximava acompanhado de outros garotos da mesma idade – leve a minha saca! – ordenou jogando a saca de grãos sobre o híbrido que pego de surpresa caiu ao chão com o impacto, derramando tanto os grãos quanto as frutas em torno de si, despertando as risadas tanto de James quanto dos garotos que o acompanhavam – É realmente um inútil – zombou pegando uma fruta do chão e a comendo enquanto encarava o hibrido ainda ao chão – Recolha logo essa bagunça bastardo!

— Por que não recolhe você mesmo James? Já que o responsável por ela é você? – perguntou Alec encarando o príncipe de maneira hostil

— Está desrespeitando o seu príncipe dominador de terra?

— E se eu estiver? O que meu príncipe – cuspiu enojado – vai fazer a respeito? Me mandar carregar a saca de grãos que é muito pesada para ele próprio carregar? James ascendeu todo o corpo e imediatamente Edward se colocou de pé a frente do amigo

— Que bagunça é essa aqui? – perguntou Carlisle se aproximando do grupo, James rapidamente apagou suas chamas

— Edward como sempre pahmen*! – falou rapidamente o loiro – ele não pode levar a saca de frutas e acabou caindo, como eu vinha atrás, confiante de que ele conseguiria, não premeditei o incidente e acabei tropeçando nele e minha saca também foi ao chão. E como todos sabemos que ele é fraco demais para lutar as próprias batalhas, Alec assumiu as dores dele me acusando de ser o causador do acidente de alguma forma – Alec fechou as mãos em punho contrariado das palavras do loiro, mas antes que se manifestasse Edward segurou a mão dele o impedindo de contradizer o príncipe e se colocar em problemas

O hibrido engoliu em seco e encarou o rei esperando pela bronca, mas essa não veio. O macho o olhou decepcionado, juntou as frutas que estavam ao chão de volta a saca do hibrido e então a levou as costas juntamente com a sua própria que já carregava – Peque logo sua saca e vamos James, o povo já esperou tempo demais por esse alimento – saiu a passos duros. James encarou o hibrido com um sorriso zombeteiro no rosto

— Você não espera que eu recolha isso não é mesmo? Eu sou o herdeiro do trono, e favorito de meu pai. Não vou fazer isso – evitando mais confusões desnecessárias, Alec imediatamente ajoelhou-se empurrando os grãos de volta a saca

Sentindo-se humilhado diante aos risos de James e seus amigos, Edward reavaliou a vida medíocre que tinha, todo o peso da profecia que sabia não ser capaz de cumprir, o dragão que preferira um dominador de terra a ele, a shellan* que não conhecia e tentara o matar ainda assim, o desgosto do rei sobre o seu aparente fracasso e com o coração acelerado, decidiu que não queria mais viver

Em um impulso correu com toda a força de seus pés na direção da barreira que ficava cada vez mais perto, tinha noção de Alec gritando e correndo atrás dele tentando o impedir, assim como dos gritos dos demais elementais presentes ali aos quais não dava ouvidos

Finalmente a distancia entre ele e a barreira fora quebrada e ele atirou-se contra ela em um salto suicida

Um silêncio absoluto tomou conta do local, todos olhando espantados, algumas fêmeas mais sensíveis fecharam os olhos não querendo ter as fortes imagens do hibrido morrendo pelo impacto contra o campo de força presas a memória

Mas ao contrário do que se imaginava, o híbrido não foi jogado longe com o impacto, ou explodira pelos ares. Ele simplesmente passara livre por ela, desaparecendo da vista dos demais que ainda estavam incrédulos caminhando lentamente de volta a barreira

Do outro lado, Edward caíra sentado ao chão com o salto e ainda de olhos fechados se perguntava se já estava morto. Seria tão rápido e indolor assim?

Abriu os olhos, mas uma forte luz o cegou o obrigando a fecha-los novamente, um barulho estranho, tal como um assoviar estava próximo a ele e querendo saber do que se tratava, abriu novamente os olhos colocando a mão na frente do rosto para diminuir a luminosidade

Os olhos ardiam e o hibrido precisou piscar diversas vezes até que se acostumassem com a claridade de onde estava. A primeira coisa que viu foi o chão onde estava sentado, coberto por plantas rasteiras e macias, curiosamente, da mesma cor que seus olhos, em seguida viu o campo de energia atrás de si e compreendeu que não tinha morrido, mas sim, atravessado a barreira

O assovio voltou a se repetir e olhou na direção do som vendo um bicho pequeno e colorido em pé ao lado dele o olhando também com curiosidade, tentou pegar o animal, mas esse abriu asas e voou para longe tal como um minúsculo dragão se juntando a outros como ele no céu

Edward abriu a boca e se colocou de pé completamente fascinado pelo céu em um tom claro que nunca tinha visto, com gigantes formas abstratas brancas e uma enorme bola de fogo fixa no centro dele iluminando a tudo

O garoto poderia ter ficado o resto da vida admirando o tão falado céu onde dragões voavam, e agora ele poderia compreender por que passavam tanto tempo fazendo isso. Mas a curiosidade por tantas coisas nunca vistas por ele era maior

Olhou em volta fascinado de como tudo ali parecia ter a cor dos seus olhos , coisas que ele não sabia o que eram, para que serviam, como surgiam e que lhe causavam muitos questionamentos

— Edward? – o grito desesperado de sua mãe o tirou de seus questionamentos e ele olhou para a mulher que corria aflita em sua direção – Edward! Meu filho! – a mulher o tomou nos braços o apertando contra si aliviada – por que você fez isso? Nunca mais me faça passar por isso! – Antes que conseguisse se explicar, desculpar ou se quer perguntar o que eram todas aquelas coisas, a mulher o puxou de volta para dentro da barreira

Todos olhavam ainda incrédulos o campo de força quando a mulher retornou trazendo consigo o hibrido que tinha gerado. Carlisle que também estava ali aguardando o retorno de sua ehros* era o único que se mantinha com expressão indecifrável. Tão logo viram o garoto, começaram os murmurinhos e especulações do por que do hibrido ter conseguido ultrapassar a barreira

— Esse campo de força ridículo perdeu a energia – cuspiu James se aproximando

— James! – alertou Carlisle

— Qualquer um de nós pode ultrapassa-lo – continuou com expressão endurecida

— James! – repetiu Carlisle indo na direção do filho a fim de para-lo

— Vejam nós podemos... – antes que completasse a frase, tocou no campo de força e foi prontamente jogado para trás com um raio, caindo a metros de distância dali

Carlisle, assim como todos os outros, correram para o garoto caído ao chão gritando de dor

— Vamos meu amor – falou Esme afagando as costas de Edward – Não há nada para vermos aqui – o empurrou levemente para que andasse

Edward pegou sua saca de frutas esquecida pelo rei que agora dava assistência a seu sucessor ferido, olhou para Alec que ainda mantinha os olhos arregalados de espanto o fitando, mas que também recolheu a própria saca pronto para seguir o amigo. E então com melancolia, o hibrido olhou uma ultima vez para a barreira antes de seguir, lembrando-se de todas as coisa bonitas que existiam atrás dela e o quanto ele gostaria que todos pudessem ver também

...

Naquela noite, como em todos os anos após a colheita, os elementais fizeram uma festa de comemoração pelo alimento chegado

Uma grande fogueira era acesa no centro do vilarejo e crianças corriam por ali eufóricas por toda a comida que recebiam. Os adultos, um pouco mais contidos, também comemoravam a chegada dos proventos esquecendo momentaneamente como fariam para que daquela vez, durassem ate a próxima colheita

Edward e Alec, já passados dos anos da infância e iniciado os primórdios da adolescência, seguravam-se para não correr junto as crianças pequenas como desejavam enquanto se provocavam mutuamente com sementes de frutas que jogavam um no outro, tudo sobre os olhos atentos da anciã de toda a raça, tal figura, era vista como símbolo de sabedoria e conhecimento devido a todos os anos que vivera e sua palavra era acatada tal como a lei

— Meu rei – iniciou a velha elemental e todos, até mesmo as crianças, pararam para ouvi-la – existe aqui entre nós, dois jovens com espiritos parabatai*. É necessário que façamos o ritual ainda hoje para que suas almas não se percam

— Claro que sim granhmen* - respondeu Carlisle sorrindo, a muitos anos não surgiam parabatais* em meio aos elementais. Tantos anos que os últimos já não mais eram vivos – E quem seriam os jovens? – todos os jovens se olharam com sorrisinhos imaginando se seriam eles. A anciã ergueu o braço apontando quem eram e todos os olhos da aldeia se voltaram para Edward e Alec que se encaram surpresos - aproximem-se – pediu Carlisle aparentando desapontamento. Os dois se aproximaram e ajoelharam perante o rei e a anciã – Alec, jovem senhor da terra, julga ser aceitável unir-se como guerreiro parabatai* de Edward? – o hibrido se encolheu constrangido por nenhum título, casta ou elemento ter sido acrescentado a seu nome

— Sim meu senhor, para mim, é uma grande honra ser guerreiro parabatai* daquele que foi escolhido como libhertador* de meu povo – respondeu com um sorriso de orgulho olhando para Edward que também sorriu de maneira discreta

— Pois bem, que assim o seja – concluiu o rei dando espaço para que as chamas em formato esféricos fossem acesas ao chão enquanto Esme e Elizabeth preparavam os filhos que se tornariam em breve irmãos de almas, com símbolos do antigo idioma desenhados com o sangue um do outro nas costas, braços, pernas e coração

No chão, três círculos desenhados com fogo os aguardava. Os meninos foram colocados cada um em um círculo sobrando o do meio vazio. Ao lado do circulo de Alec, Elizabeth, John e os dois irmãos menores representavam a família que estava doando o jovem guerreiro. Todos sorriam satisfeitos com a ação

Ao lado do circulo de Edward, Esme se posicionou também sorrindo, pronta para doar seu filho. Olhou significativamente para Carlisle sentado ao trono de pedra que bufou com a cobrança muda de sua ehros* e então se colocou de pé ao lado dela muito mais para satisfaze-la e evitar reclamações posteriores do que para de fato doar um filho. No trono, viu sua shellan* o olhar em revolta e soube que escutaria murmúrios de um jeito ou de outro

O ritual se iniciou, a anciã proferiu palavras do antigo idioma, fez questionamentos de fidelidade aos garotos que responderam também no antigo idioma e finalmente, os dois saltaram para dentro do terceiro circulo ao mesmo tempo. Seguraram as mãos um do outro e olhando um no olho do outro entoaram ao mesmo tempo o juramento no antigo idioma:

— “Rogo não deixá-lo,
ou voltar após segui-lo;
Pois, para onde fores, irei,
E onde estiver, estarei;
Os teus serão os meus,
e teu Deus, o meu Deus,
Onde morreres, eu morrerei, e lá serei enterrado.
O anjo o fez para mim, mas também.
Nada senão a morte partirá a mim e a ti.”

Após a cerimonia os agora parabatai* recebiam os cumprimentos de todos quando James se aproximou considerando toda aquela euforia uma grande bobagem

— Parabéns dominador de terra. Acaba de se tornar parabatai* de um hibrido fraco e sem poderes. Vai ter que protege-lo pro resto de sua vida – Alec sorriu para ele recebendo o cumprimento

— Eu agradeço suas palavras sinceras majestade, mas me diga, oh poderoso príncipe, de quem és parabatai*? – gargalhou da cara enciumada do príncipe e puxando Edward para longe, saiu dali

...

— Edward eu não acho isso uma boa ideia – falava Alec receoso olhando o amigo. - Se alguma coisa acontecer a você, eu serei responsabilizado por não ter te impedido

— Você roubou o meu dragão, me deve esse – respondeu com bom humor

— Eu não roubei nada! Já estou farto de repetir que não quero aquele dragão inútil! – como que para deixar claro que estava ouvindo toda a conversa, e que se indignava com ela, o dragão avermelhado em questão, que voava acima dele, rugiu de maneira incomodado arrancando um sorriso debochado de Edward e bufar contrariado de Alec – Eu já mandei você parar de me seguir! – gritou pro bicho que o ignorou

Finalmente os amigos chegaram ao local de destino, Alec olhou a barreira preocupado com a segurança do amigo

— Se você não voltar em uma hora irei buscar a sua mahmen*

— Eu vou ficar bem – garantiu e o outro engoliu em seco

— Eu vou ser punido por estar confabulando com a morte do libhertador* - choramingou. Edward sorriu do amigo e atravessou a barreira. Alec sentou-se ao chão suplicando a Ômega que protegesse seu parabatai*. No alto, Celestus rugiu o confortando – Ao invés de ficar ai me pagiando, faça algo de útil e vá cuidar dele! – o dragão pareceu não gostar do pedido, mas atravessou a barreira deixando o elemental sozinho ali

...

Existia do outro lado da barreira, muitos humanos que a ignoravam e até mantinham certa distancia por precaução dela. Mas existia um único humano, um ancião já caminhando para o fim da vida que a visitava com certa frequência

As pessoas falavam que a filha do velho homem fora morta por elementais durante uma colheita anos antes, e que o ancião, já não dono de suas faculdades mentais, ia até a barreira implorar para que as bestas lhe devolvessem a jovem

O velho estava, como sempre fazia, mais uma vez caminhando em torno da barreira naquele dia quando que, com um susto, viu o garoto correr para fora dela

A surpresa foi tão grande que caiu para trás com os olhos arregalados acreditando que, finalmente os elementais poderiam ultrapassar a energia da cúpula

Rapidamente, rastejou para trás de uma árvore aguardando o momento em que outros seguiriam o garoto, mas o momento não chegou, era somente o garoto que corria atrás dos pássaros com um sorriso empolgado no rosto, tão empolgado que acabou por contagiar o velho ancião que o ficou admirando durante todo o tempo em que esteve ali, e tão logo voltou para dentro da cúpula

As visitas do velho a fronteira se tornaram cada vez mais frequentes. Agora, todos os dias pela tarde, o velho escondia-se atrás da mesma árvore e aguardava o momento em que o garoto empolgado a atravessaria para suas explorações

Gostava de ver, mesmo que de longe, o sorriso de satisfação enquanto corria atrás dos pássaros, tocava com receio o tronco de uma árvore, tal como se fosse ser atacado por conta do contato, as caretas ao provar a grama e constatar que não era comestível

Até que decidiu que estava na hora de fazer contato, aos poucos para não perturba-lo, apenas se deixou ser visto pelo garoto, que na primeira vez, assim que o viu arregalou os olhos assustado e correu de volta para dentro da cúpula

Os dias foram se passando e o velho humano sempre ficava em pé recostado na mesma árvore e se divertia com o quanto o garoto era curioso. A princípio, ficava somente as bordas da barreira olhando desconfiado o velho, como se o desafiasse a tentar pega-lo e estivesse pronto a entrar novamente caso o tentasse

Depois, voltou as suas explorações sempre muito cauteloso, tendo sempre em vista o local exato em que o velho estava e evitando se aproximar enquanto analisava minuciosamente cada vegetação, até que finalmente, começou a explorar o território cada vez mais próximo do ancião já não o olhando com tanta desconfiança

— Chamam-se flores – falou naquela tarde enquanto o garoto cheirava as flores que desabrocharam em um canteiro próximo a ele. Imediatamente o menino se voltou para ele surpreso, mas não fugiu como imaginou que ele faria – e essas aqui são as folhas dela – mostrou tocando as folhas que o garoto já havia degustado e cuspido em um outro dia. O garoto repetia as falas do velho como se tentasse decorar os nomes

— E aquelas? Como se chamam? – perguntou em um tom de voz baixo, tal como se acreditasse que não era certo falar com o velho.

— Árvores – a ancião sorriu – se chamam arvores – o garoto também sorriu e então o olhou empolgado como alguém prestes a fazer uma grande descoberta

— Como se chama aquela bola de fogo presa no céu que não apaga nunca? – o velho sorriu mais uma vez da empolgação tão inocente

— Está falando do sol? – perguntou divertido

— Sol – repetiu com devoção olhando para a tal bola de fogo – eu gosto muito do sol – confidenciou sorrindo

— Eu também gosto muito do sol – contou divertido – E você? Como chamam você?

— Edward – os olhos do velho lacrimejaram e sem poder conter-se puxou o garoto para um abraço. Sem compreender a atitude do outro, Edward retribuiu o abraço durante todo o tempo que o senhor julgou ser necessário e quando finalmente esse o libertou, voltou a fazer suas perguntas de o que eram as coisas, como surgiam, para que serviam e o velho respondia a tudo com grande satisfação

A empolgação do garoto em aprender todas aquelas coisas era tanta, que não vira a hora passar e logo o sol já se escondia dando margem a novas curiosidades como para onde o sol tinha ido, por que a lua podia brilhar, a constatação de que embora preferisse o sol, também gostava muito das estrelas.

Percebeu que tinha extrapolado em sua exploração naquele dia quando escutou a mãe o gritando ao longe, correu de volta a fronteira sendo prontamente seguido pelo senhor que provavelmente o colocaria em mais problemas quando a mãe o visse com ele

Contrariando o que imaginou, a mãe não correu para ele quando o viu, ou gritou para que se apressasse, ao contrário disso, a mulher permaneceu parada próximo a fronteira olhando fixamente na direção dele. Edward olhou para o velho a quem julgou ser correto dirigir uma despedida antes de ir, constatando que este também estava imóvel no lugar olhando firmemente a mulher

— Eu preciso ir, minha mãe vai brigar comigo – o senhor voltou a olhar para ele com um sorriso emocionado

— Diga a ela que eu amo minha filha e que meu neto é saldável e garanto que ela não brigara com você – Edward achou a fala do homem confusa mas assentiu. Já ia sair dali quando se lembrou que tinha uma ultima pergunta antes de ir

— Você não me disse como se chama – o velho pensou por um instante e mesmo que estivesse sorrindo, os olhos marejaram de lágrimas o que causou espanto em Edward que jamais tinha visto alguém chorar e sorrir ao mesmo tempo

— Meu nome também é Edward, mas gostaria que você me chamasse de vovô

...

Ao contrário do que Edward esperara, Esme não brigou por ele ter atravessado a barreira mesmo que ela o tenha instruído a não fazer, ao contrario, quando transmitiu as palavras do senhor a ela a mulher também sorriu e chorou ao mesmo tempo enquanto o abraçava

Dai então, não só recebeu permissão da mulher para visitar o senhor a quem se habituara a chamar de vovô, como também, todos os dias, mesmo que não se aproximasse para cumprimentar, ela ia o aguardar na fronteira para retornarem a caverna da primária família*. No percurso o hibrido contava tudo o que tinha aprendido durante a tarde. Como era andar a cavalo, o barulho engraçado que os porcos faziam, como galinhas eram medrosas e botavam ovos que podiam ser comidos, assim como as próprias galinhas e os porcos e que se não comessem os ovos saiam pintinhos de dentro deles e os pintinhos cresciam e viravam novas galinhas

Ate que, encorajado pela mãe, Edward contou ao vovô que seus poderes não tinham despertado e que talvez nunca despertassem por ele ser filho de uma humana e o quanto isso o magoava. Naquela tarde, após escutar os lamentos do garoto, o ancião lhe contou uma historia sobre deuses

O velho lhe contou que Thot, o deus da sabedoria e dos humanos, mesmo tendo o convívio com os humanos proibido por ter se aliado a Ômega na batalha da joia de quatro almas, burlou as regras e se apaixonou por uma humana tendo um filho com ela

Seguindo as regras dos deuses, o bebê deveria ser entregue para viver com os semideuses chamado de nymph, mas Thot amava a mulher e o bebê e decidiu quebrar também essa regra. Quando os deuses descobriram que Thot os estava enganando, mataram a mulher e tentaram também matar o bebê.

Para proteger o filho, Thot mandou que um ferreiro místico forjasse uma espada de proteção ao menino feita com material dos deuses para que tivesse poderes de decepar cem homens com um único golpe, das células do próprio deus da sabedoria para que fosse capaz de reconhecer com sabedoria o seu mestre e resfriada no sangue da mãe do bebê para que jamais alguém que não tivesse sangue humano a pudesse manusear, e chamou a espada de Tessaiga a protetora

Edward escutou com empolgação o velho contar que ao contrario dos demais nymphs*, o semideus não tinha poder algum além da sabedoria que herdara do pai, mas que com a espada, ele venceu grandes batalhas e foi superior a outros semideuses muito mais fortes do que ele. E se encolheu chateado na parte em que lhe foi explicado, que por causa da espada, os próprios nymphs* mataram o jovem semideus, mas por não terem sangue humano nunca conseguiram ativar seus poderes

Edward sorriu empolgado e concluiu que ele iria encontrar a tessaiga e venceria os vampiros com ela. O velho gargalhou da empolgação do garoto e contou-lhe que após a morte do semideus, mesmo a espada jamais reconhecendo outro como seu mestre, muitos humanos lutaram por sua posse, e cansado de ver tanto derramamento de sangue pelo objeto, Thot a escondeu nos confins da terra e colocou um dragão como seu guardião para que jamais ninguém a tivesse novamente

Por fim, vovô explicou a ele, que a historia não era para incentiva-lo a buscar pela espada, mas sim, para que ele percebesse que mesmo o semideus não dispondo dos mesmos poderes que os demais nymphs, ele podia ao seu próprio modo, ser superior a eles. Naquela tarde, Edward decidiu que mesmo que ele jamais ascendesse, ele era o libhertador* dos elementais, e que se ele não dispunha do fogo para auxilia-lo naquela empreitada, ele encontraria outros meios de faze-lo mas ele traria a liberdade ao seu povo

O velho humano já estava no fim da vida, mas ainda sabia como manusear uma espada, ensinou tudo o que sabia ao garoto que era um pupilo muito dedicado. Os dois passaram cerca de quatro anos treinando. Dentro da cúpula, mesmo que tivesse o domínio do elemento terra cada vez mais aprimorado, Alec também se dispôs a aprender a lutar com espada, arco e no corpo a corpo somente para ajudar Edward a treinar com alguém de igual nível de força já que claramente vovô não podia fazer

O garoto cresceu em tamanho, músculos, força, habilidades e logo já era, segundo o ancião, um perfeito espadachim. Edward passou também, com a ajuda de Celestus, dragão de Alec, a roubar alimento das grandes fazendas e levar para os elementais, assim como tecidos para que tivessem roupas decentes e não vestes de sacas como estavam acostumados

O dragão não permitia que o hibrido o montasse e ele não importava-se mais com isso. Com o amadurecimento do garoto e a determinação em livrar seu povo da miséria, Edward parou de importar-se com pequenas coisas que envolviam mais o ego do que qualquer outra coisa

Sabia que um dominador de elementos era mais habilidoso do que ele, mas treinava todos os dias com Alec que lançava rochas nele para que desviasse e até as rebatesse com a espada, e com o próprio Celestus que não poupava esforços para o atacar. O relacionamento de Alec e seu dragão também melhorar muito no decorrer desses anos, graças aos tais treinamentos que faziam com o hibrido

Alec jamais tinha montado o bicho era verdade, e também ainda não o reconhecia como seu dragão, mas parara de insulta-lo e manda-lo embora. O elogiava constantemente durante os treinos e sempre torcia para ele nos combate contra Edward. O elemental não admitia em voz alta, mas apreciava muito quando o dragão rompia barreira adentro trazendo pedaços de tronco de arvores, canteiros floridos e até ninhos de abelhas para que o dominador de terra visse com os próprios olhos o que Edward explicava existir além da barreira

...

— Edward eu já comentei com você que tenho um netinho não é mesmo? – perguntou o ancião entre uma tossida e outra naquela tarde enquanto o elemental fazia flexões com uma enorme pedra equilibrada nas costas

— Sim vovô

— Tudo o que ensinei a você, ensinei também a ele. Embora você seja mais dedicado, ele prefira os livros – sorriu de maneira orgulhosa – e não estou criticando nem a um nem a outro, espero que fique claro. Amo os dois em igual proporção com as diferenças e particularidades de cada um. E quero que sejam amigos, quero a palavra dos dois de que vão ser amigos e que cuidarão um do outro independente do que o destino revele a vocês

— Como posso ser amigo dele se não o conheço? – falou sem parar ou diminuir o ritmo das flexões

— Eu o trarei amanhã, para que o conheça – tossiu mais uma vez levando um lenço de pano a boca e olhando o vermelho de sangue quando o retirou, guardou o tecido de volta ao bolso antes que o rapaz percebesse – Ele é cerca de um ano e meio mais velho que você e é um menino de ouro, você irá ama-lo de cara – Edward sorriu duvidoso mas não preferiu palavra de contradição alguma e o velho ficou um pouco tenso com o rumo que a conversa parecia tomar – talvez, ele fique um pouco enciumado de você, acredite que você tenha tido algum tipo de privilégio especial que ele não teve e isso o torne um pouco rancoroso. Mas quero a sua palavra de que vai ignorar isso e faze-lo te amar – Edward sorriu debochado ainda concentrado em seu exercício

— Ele cresceu aqui com todas essas coisas lindas de se ver, jamais passou fome, não tem o peso de uma nação nas costas dependendo dele. Não consigo imaginar em que eu possa ter tido algum privilégio para que ele se sinta rancoroso. Se for esse o caso, levo ele lá pra dentro e mostro a minha realidade, garanto que ele sentirá pena – desdenhou

— Você teve algo que ele queria muito ter tido e não teve. Tenho certeza que ele preferiria passar fome e enfrentar qualquer coisa que você já tenha enfrentado ou vá vir a enfrentar do que perder o que perdeu

— O senhor não sabe do que está falando vovô

...

No outro dia, conforme o combinado, Edward apareceu no local de sempre, no horário de sempre. Mas ao contrário do que acontecia sempre, o velho não estava ali o aguardando. O híbrido concluiu que na certa o atraso era culpa do tal netinho que o ancião traria para conhece-lo naquela tarde e resolveu treinar com arco enquanto não chegavam

O sol já estava quase se pondo quando Edward concluiu que vovô não apareceria naquela tarde nem sozinho e nem acompanhado. Sabia que o correto a ser feito seria voltar para a cúpula, mas uma inquietação o fez ir atrás do velho humano. Não foi difícil de encontrar, a tal vila em que vovô morava não ficava muito longe das fazendas em que pegava animais para o consumo de seu povo, sentia-se receoso de estar ali, mas como o próprio vovô sempre lhe falava, ninguém poderia dizer que não era completamente humano, se ele próprio não o dissesse

— Você pode me dizer onde encontro o ancião Edward? – perguntou a um homem que ia passando com um cavalo

— Edward Masen? O velho louco da fronteira? – se incomodou com a fala do homem que provavelmente percebeu o incômodo já que se retraiu de maneira culpado – Você não soube? Ele faleceu essa manhã, o estão velando no cemitério – apontou a frente e Edward engoliu em seco olhando a direção em que o homem apontara

— Não existe por um acaso um outro senhor chamado Edward?

— Não, eu sinto muito, ele é o único

Não agradeceu a informação. Seguiu na direção do tal cemitério com passos relutantes e coração aflito. A sensação de aperto em seu peito e constante melancolia era algo jamais experimentado por ele nem mesmo em seus dias mais esfomeados em que se obrigava a comer terra com Alec para saciar a sensação de vazio em sua barriga

Existia um grupo de poucas pessoas em torno do caixão. Um rapaz, aparentemente de mesmo idade que a sua estava debruçado sobre o corpo do velho humano chorando copiosamente. Edward não pode ver seu rosto, somente os cabelos loiros e o corpo um pouco menos músculos que o seu próprio. Mas concluiu, ainda que com incerteza, que aquele rapaz era o tal netinho

Não podia se aproximar e chamar a atenção daquelas pessoas para si, não sem levantar questionamentos de onde surgira ou como conhecera o velho falecido. Discretamente, subiu a árvore mais próxima quanto pode do grupo se escondendo por entre as folhas e ficou olhando as costas do loiro ainda deitado sobre o corpo exposto do velho

Em dado momento, alguém tirou o loiro chorão dali que tentou permanecer no lugar com uma grande cena e gritos de que o avô era tudo o que ainda tinha. Edward não se preocupou em buscar a face do rapaz para ver se este lembrava em algo da fisionomia vovô, ou para tentar encontra-lo depois e estabelecer a amizade que o velho tanto queria, focou sua atenção completamente no rosto tranquilo e até feliz do velho ali, tal como se tivesse concluído a sua missão e agora poderia descansar em paz

O caixão foi fechado, alguns homens o desceram a sepultara e em seguida começaram a cobrir de terra, durante todo o percurso, Edward manteve os olhos fixos no trabalho dos homens identificando que agora era ele quem chorava, não sonoramente ou em desespero como o netinho, mas as lágrimas silenciosas de quem perdera não o vovô como o senhor gostava de ser chamado, mas o pai que sempre buscara encontrar em Carlisle e não achara, as lagrimas silenciosas de gratidão aquele com quem passara tão pouco tempo, mas que fora suficiente para que tivesse tempo de lhe apresentar o mundo, incentivar e ensinar as maiores lições

— Adeus vovô

Naquela noite, pela primeira vez, o hibrido viu a sempre tão forte e determinada Esme desmoronar em seus braços quando lhe contou o ocorrido

...

— Poxa, mesmo sem conhece-lo eu gostava do vovô – lamentava Alec cabisbaixo sentado em uma rocha próxima a fronteira onde sempre treinavam – ele ensinou tanta coisa bacana para nós

— É sim – respondeu Edward atirando uma flecha contra um alvo de terra levantado por Alec

— E agora? Acho que já podemos considerar o seu treinamento encerrado já que não tem mais treinador. Como é que você pretende salvar o mundo? – debochou tentando sair do clima fúnebre

— Eu vou atrás da Tessaiga – contou atirando uma nova flecha em uma chama de fogo corrente soltada por Celestus. Alec o olhou inacreditado

— Da tessaiga? Aquela espada mágica que Thot guardou só ele sabe onde?

— A própria

— Você pirou de vez – concluiu – E você pretende encontrar essa espada onde gênio?

— A lenda diz que foi escondida nos confins da terra sobre a proteção de um dragão – Alec assentiu olhando concentrado onde o hibrido queria chegar – Onde nós estamos Alec? – perguntou como se fosse obvio e o dominador de terra olhou em volta

— Na fronteira?

— No fim do mundo Alec! Raciocina oh da terra! Se existe outro fim de mundo além daqui eu desconheço. O que temos aqui? Dragões, vários deles. A espada não funciona com alguém que não tenha sangue humano, ou seja, elementais não conseguem usa-la e humano nenhum entra aqui a menos em época de colheita e nunca vão mais longe do que a borda dessa barreira por que morrem de medo de nós. Consegue imaginar um lugar melhor para ele ter escondido essa espada?

— Você não acha que se sua teoria estivesse certa, alguém já teria visto a tal tessaiga?

— Não está exatamente aqui, ainda tem um pedaço de chão depois dessa cúpula – Alec abriu a boca percebendo onde ele queria chegar

— Edward!

— E se ele não colocou um dragão tomando conta dela, e se ele colocou a espada dentro do próprio covil dos dragões? – completou com empolgação e ate Celestus se virou para olha-lo inquieto – Faz todo o sentido, para chegar até a espada, um humano primeiro teria que atravessar todo o território elemental, e se por um acaso saísse com vida dessa travessia, um covil inteiro de dragões o aguardaria – comemorou assumindo que a expressão em choque de Alec significava que ele tinha razão - Elementais não podem atravessar a barreira para irem até lá, qualquer outro ser não se daria ao trabalho por um objeto que só é ativado por sangue humano e um humano jamais sobreviveria. É genial!

— Edward você está me dizendo que pretende entrar em um covil de dragões? Por uma espada que você nem sabe se realmente está lá? E supondo que ela esteja, por que ela o reconheceria como mestre se nunca reconheceu ninguém?

— Por que eu sou o libhertador* de meu povo. Por que eu sou o hibrido sem poder algum que entrou nessa jornada sabendo de todos os riscos para corrigir uma injustiça aplicada a toda uma geração por um erro cometido a milênios atrás. Eu vou arriscar a minha vida por cada elemental que não sabe o que é a luz do sol – Alec engoliu em seco olhando a determinação do outro

Celestus, surpreendeu a todos abaixando-se a frente do hibrido para que montasse nele. Edward não pensou duas vezes e subiu as costas do dragão sendo seguido imediatamente por Alec

— O que pensa que está fazendo? – perguntou olhando espantado para o elemental

— Eu vou com você até onde me for permitido ir

— Você não vai mesmo!

— Esse é o meu dragão, você é o meu parabatai* e eu vou onde vocês forem, ou até onde a barreira me permitir ir – Edward olhou relutante para ele como se buscasse meios de faze-lo desistir – Escuta Edward, você não é o meu parabatai* porque somos grandes amigos, você é o meu parabatai* porque somos irmãos de almas. Eu sou irmão de alma do escolhido e minha missão é auxilia-lo a cumprir a dele

Os dois amigos partiram rumo a ultima montanha, a mesma que anos antes escalaram para Edward conseguir seu dragão, e Alec foi quem saiu de lá ligado a criatura cuspidora de fogo, mas desta vez, com a ajuda de Celustus, chegaram muito mais rápido ao topo da montanha

Os dois adentraram a copa da montanha a passos cuidadosos, Celestus ia logo a frente deles indicando o caminho e volta ou outra os machos precisavam se esconder atrás do dragão vermelho para não serem vistos por alguma fera passando por ali, até que, o pior que poderia lhes acontecer, aconteceu. Succubus, o dragão verde de James estava no local e os surpreendeu revelando a posição deles a todos os outros

Celestus prontamente se colocou a frente pronto para defende-los. Os dois correram para longe deixando o dragão brigando com os demais ali. Succubus conseguiu passar por Celestus enquanto esse estava distraído com os demais e ir atrás dos machos que corriam apressados por entre as lacunas da montanha. Os dois pararam brutalmente quando perceberam que se chocariam contra o campo de força da barreira quase imperceptível aos olhos por estar dentro da montanha mal iluminada

— Parece que é aqui que nos separamos – falou Alec sorrindo nervoso

— Não seja absurdo Alec! Eu não vou te deixar aqui nessa condição – respondeu se posicionando com a espada na mão ao ver Succubus se aproximar

— Quem está sendo absurdo aqui é você Edward! Vá ande! Ache a sua espada e é bom ela te reconhecer como mestre ou eu juro que mato você! – Edward olhou do amigo para o dragão, mas antes que conseguisse tomar uma decisão, Alec o empurrou pela barreira e o hibrido caiu em um abismo rolando montanha abaixo

Quando finalmente parou de cair não podia enxergar nada devido a escuridão do local. Ainda de joelhos começou a tatear o chão em busca da espada que perdera na queda, ou algo que pudesse usar para fazer uma fogueira e enxergar conforme vovô o ensinara. Ainda rastejando pegou algo grosso e escamoso que não sabia o que era até o que estava segurando balançar de alto acima o jogando pelos ares e o dragão rugir cuspindo fogo nele

As roupas que estava usando pegaram fogo o que de certa forma foi ótimo já que trouxe a luminosidade que ele tanto queria. Viu o dragão negro de tamanho que ele jamais tinha visto antes o olhar enfurecido por não estar queimando junto com as roupas. Edward tirou a camisa a jogando ao chão torcendo para que não apagasse tão sedo e com as calças ainda em chamas correu para a espada que tinha deixado cair não muito longe dele a segurando em direção ao dragão

“como ousa me desafiar senhor do fogo?”

O hibrido estava tão concentrado em sua busca pela tessaiga que não notou que podia compreender o dragão se preparando para um bote a sua frente

— O fogo não me reconhece como senhor! – respondeu ao dragão que cuspiu uma nova rajada de fogo contra ele

“mas também não o queima!”

— Vantagem pra mim! – sorriu olhando a volta em busca da espada lendária. O sorriso somente aumentou de tamanho quando a viu fincada em uma pedra atrás do dragão

“O que buscas aqui, assim como o fogo, também não pode lhe reconhecer como senhor”

— Olha você errado de novo – debochou

Como que cansado de prosear, o dragão o atacou com a boca já que claramente o fogo não surtia o efeito desejado sobre a pele do macho. Edward saltou para trás ferindo o rosto do dragão que rugiu feroz com a dor do ferimento. O hibrido tentou passar por ele mas com a pata o dragão o arremessou para o alto, o corpo do macho se chocou contra a parede da caverna e todos os seus músculos tremilicaram com o impacto

Edward se levantou tentou correr para a espada mas novamente o dragão deu-lhe uma patada o jogando para o outro lado

“ eu achei que me divertiria mais com você, mas vi que me enganei”

— Não estou aqui para diversão! – levantou rápido enterrando a espada na pata do dragão que rugiu alto, enquanto o bicho se contorcia Edward correu para a espada, já ia alcança-la quando o dragão saltou sobre ele o prensando contra o chão

“Acredita mesmo que pode me derrotar elemental?”

— Eu não sou um elemental! – falou com dificuldade devido ao peso do dragão contra o seu tórax

“O que é então?”

— A única esperança do meu povo – tentou puxar ar para os pulmões - Um hibrido - completou de maneira quase inaudível olhando firme os olhos negros do dragão que por um momento nada disse

“Chame a espada!”

— Como?

“Chame a espada e se ela o reconhecer como mestre acreditarei em suas palavras. Se não, o matarei agora”

O dragão diminuiu o peso sobre o peito do hibrido deixando que ele respirasse. Edward estendeu a mão na direção da espada implorando para que somente daquela vez o universo estivesse a seu favor

— Tessaiga! – não aconteceu nada – Tessaiga! – novamente a espada não respondeu ao seu chamado

“Ela não reconhece ao seu chamado. Oportunidade encerrada”

Edward permaneceu com a mão estendida para a espada como se o dragão não estivesse ali

— O povo que hoje é chamado de elemental não é o mesmo povo que iniciou uma guerra por algo que não lhes pertencia, eles erraram e nós, seus descendentes, pagamos o preço por seu erro ainda nos dias de hoje. O deus que a forjou também errou e foi punido por isso, o filho dele, a quem você foi incumbida de proteger não necessitaria de proteção se não fosse esse erro, ele também pagou com a própria vida por um erro que não cometeu. Eu vou por fim nessa guerra e libertar o meu povo, e em nome do seu antigo mestre que nada tinha com ela e mesmo assim foi atingido pela fúria e busca constante de poder, estou pedindo a sua ajuda tessaiga! – a espada tremelicou na pedra e então voou para a mão do hibrido se transformando assim que ele a segurou. A lamina triplicou o tamanho em cumprimento e largura ficando com pouco mais de dois metros de comprimento, dando uma leve envergada na ponta e trinta centímetros de largura

O dragão saiu de cima de Edward que sentou-se olhando embasbacado o brilho que irradiava da espada iluminando toda a gruta escura, agora que toda a sua roupa tinha queimado

“Eu sou Drogo, guardião da Tessaiga, sirvo a quem minha espada servir e peço que me aceite como seu servo meu senhor”

O dragão se curvou diante do elemental que sorriu para ele vendo a espada voltar a forma original e parar de brilhar

...

Montado nas costas de Drogo, Edward saiu da montanha em direção a barreira sentindo-se exausto por todos os golpes levados do dragão

Assim que passou pela barreira viu Alec e Celestus sentados ao chão em iguais níveis de exaustão e ferimentos, mas ainda assim, se colocaram de pé prontos para lutar ao ver o dragão negro posar perto deles relaxando somente quando o hibrido saltou de suas costas dizendo-lhes que estava tudo bem

— ECA Edward, você está nú – gritou Alec tampando os olhos com as mãos

— Eu sou a prova de fogo gênio, minhas roupas não

— Nosso nível de amizade não chega tão longe – gritou – me diz que conseguiu a maldita espada e que ela te obedece

— Cheguei aqui montado no dragão que a protege. Preciso mesmo responder a sua pergunta? – zombou – e não, ela não me obedece, eu pedi ajuda e ela gentilmente aceitou me ajudar

— Vamos pra casa, você precisa de roupas

...

Alec que estava em melhores condições se comparado a falta de roupas de Edward, foi a frente pegando algumas peças das próprias roupas e levando para que o amigo pudesse chegar apresentável a aldeia

Todos os aldeões se surpreenderam quando viram o dragão negro se aproximar com Edward sentado em suas costas. A muito, desde que o hibrido com a ajuda de Celestus, começou a trazer mais comida para o povo, todos passaram a vê-lo com outros olhos, a vê-lo realmente como um libhertador* mas ninguém mais acreditava que o hibrido fosse capaz de ter o domínio sobre elemento algum, quem dirá, se conectar a um dragão

Assim que pisou sobre o solo, James surgiu zangado com seu dragão ferido atrás de si gritando tão enfurecido quanto o próprio elemental. Edward mal podia compreender as palavras desconexas do príncipe herdeiro e não fazia esforço para compreender tamanha gritaria, tudo o que queria era entrar na casa do amigo, comer um ensopado feito por Elizabeth e quem sabe descansar antes de regressar a montanha da primeira família*.

Já estava seguindo nessa direção quando James lançou sobre ele uma bola de fogo, unicamente por reflexo, o hibrido estendeu a mão na direção do fogo que parou a poucos centímetros de sua palma. O hibrido olhou a bola flamejante a jogou de volta por onde tinha vindo. Todos estavam mudos olhando a cena inclusive o próprio James que não conseguia acreditar que o hibrido finalmente tinha ascendido

Edward olhou incrédulo a própria mão tentando acender alguma chama menor que fosse ali, mas não conseguira, James vendo que Edward tentava inutilmente ascender sorriu de lado e voltou a atacar o hibrido que tentava segurar novamente as chamas do outro mas não podia. Viu Carlisle parado a poucos metros deles observando a luta de braços cruzados. Cansado de prolongar por ainda mais tempo seu descanso, Edward sacou a tessaiga presa em sua cintura e a seu comando a espada se transformou, seguindo mais uma vez os instintos, girou a espada na direção do senhor do fogo, a espada irradiou uma forte luz em espiral na direção do elemental que foi jogado para trás caindo desnorteado ao chão

— Edward, seus olhos – falou Alec em choque se aproximando do amigo

— O que tem eles? – perguntou confuso

— Estão negros! Completamente negros, como os meus – antes que o hibrido pudesse fazer qualquer questionamento ao amigo um grande calor tomou conta de seu corpo e com uma forte explosão ele ascendeu

Olhou com um grande sorriso todo o corpo pegando fogo. Um a um, cada elemental parado ali olhando a cena, ajoelhou-se perante o hibrido ainda em chamas. Alec foi o último a ajoelhar, mas era claramente o mais satisfeito dentre todos ali.

— Edward! Meu filho! – comemorou Carlisle correndo de encontro a ele o puxando para um abraço que não foi retribuído – Finalmente você alcançou o que nasceu pra ser!

— Você esta achando que por que depois de anos você finalmente ascendeu e conseguiu uma espadinha idiota agora pode ser o libhertador* do povo? – gritou James indignado se aproximando a passos rápidos se colocando entre eles. Edward olhou do príncipe ao rei

— Esta ai seu filho – cuspiu enojado e então se virou ao povo com toda a altivez de um verdadeiro líder e curvou-se perante eles com a humildade de reconhecer que ele era o servo ali e não o contrario. Se colocou ereto novamente – Eu demorei muito tempo para compreender que porque dois sangues diferentes correm em minhas veias, não significa que tenha algum dom especial ou serei mais forte e indestrutível do que qualquer outro. Não sou seu libhertador* por que um direito de nascença, profetizado a séculos atrás, por uma maldita vampira, que ajudou a nos aprisionar aqui, diz que eu sou. Mas sim, por que eu escolhi ser! - Burburinhos de aprovação soaram de todos - Não sou maior ou melhor que qualquer um de vocês. Vim das mesmas origens, passei pelas mesmas dificuldades, senti na pele a dor da rejeição, da humilhação, da fome, do medo de ser mais um a morrer dentro dessa cúpula, o terror de não ter o que dar de comer aos meus. Somos iguais! Um povo! Uma raça! E juntos, não vamos descansar enquanto essa maldita cúpula não estiver posta ao chão! – gritou levantando a mão ao alto e todos se colocaram de pé gritando confiantes com as mãos também levantadas ao alto

Muito mais do que por profecias futuras, historias passadas de geração a geração, e crenças infundadas, era assim, da determinação de sobreviver, da garra de lutar por um futuro melhor e da coragem de enfrentar os próprios medos, que nasciam as lendas

Fim


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Notas finais do capítulo

Glossário do antigo idioma

Libhertador: Salvador
Hellren: Companheiro
Shellan: Companheira
Mahmen: Mãe
Pahmen: Pai
Granhmen:avó
Thutor: Guardião de um individuo
Primeira família: familia real
Trahyner: termo carinhoso usado entre machos, pode ser traduzido como querido amigo
Euros: fêmea treinada nas artes sexuais
Nymph: raça dos semideuses
Parabatai: dois guerreiros que se unem para combate por juramento e ritual com a promessa de serem fieis um ao outro e se protegerem mutuamente enquanto estiverem vivos (referência da série shawdohunters)

Ooies eu não sei vcs, mas eu estou muito Ansiosa para o encontro Bella e James. Acho que vai ser uma bela disputa de quem é mais arrogante kkkkkk

se VC leu ate aqui da aquela ajuda para a auto estima da autora e comente o que achou da história. Ajude a aumentar a popularidade da fic para que outros tbm leiam e me sinta mais estimuladava escrever favoritando e recomendando

Bjus nos vemos em Eu sou a lenda



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