Saudade escrita por wulpyx


Capítulo 1
Eu estou aqui


Notas iniciais do capítulo

hey ~

esse era um projeto meio esquecido e estou aqui pra postar ele outra vez c: espero que gostem!

Os OCs usados nessa história pertencem a mim e uma amiga. ♥

boa leitura!



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A risada do garoto fora baixa, certamente, um pouco nervosa, assim como suas feições lhe demonstravam um pouco naquele segundo. Era a primeira vez a qual escutara um pouco as palavras de sua mãe e as seguia tão arrisca.

Deixe de ser tão orgulhoso, Kosume. Você perderá grandes amizades dessa forma.”

Ela estava certa.

Bom... Em partes.

Na saída da escola àquele dia um tanto quanto abafado, finalmente chamara Usai para brincar, assim como havia feito no dia anterior, tendo perdido de certa maneira a vergonha. Fora divertido, e não poderia negar que queria se divertir mais um pouco novamente com ele.

— Vou deixar uma vantagem para você. — Kosume esboçara um sorriso largo por contar uma precipitada ilusão de que possuía mais velocidade que ele.

E no momento em que seus lábios proferiram o famoso “”, percebera, que, não deveria ter subestimado o amigo, nem se superestimado daquela maneira. Ele corria muito!

Não se importando da maneira a mochila batia em suas costas com os materiais escolares, começara a ir atrás dele, tentando igualar as velocidades. Entretanto, fora um pouco mais difícil que imaginava. Ao menos tinha uma meta que não iria quebrar: alcançá-lo-ia antes que cruzassem a ponte com um rio embaixo.

Usai vez e outra, olhava pelo canto dos olhos em tonalidades diferentes e peculiares, apercebendo-se que deixara Shenhi bastante para trás. Ele parecia tão confiante de outrora. Sorrira pela vitória dali, virando os passos e o corpo ao olhar por completo para trás, decidindo que iria esperá-lo um pouco.

Afinal, iriam para casa juntos, não é?

Naquele momento, Hajime não percebera. Mas ao virar-se de maneira tão precipitada antes de parar totalmente a corrida que realizava, seu próximo passo seria fora dos limites da ponte.

— Ei, Usai! — Kosume gritara ao virar a esquina com algumas árvores ao redor, notando a ponte como o imaginado por si, porém, não vira o amigo sobre ela. Ele não havia lhe esperado? Mesmo?!

Aproximou-se mais um pouco, sentindo o clima abafado lhe dar certo cansaço, ainda mais por correr daquela maneira, procurando com o olhar Usai enquanto ofegava audivelmente. Tinha certa consciência de que ele não iria embora completamente sem sua pessoa.

Ou... Ele já decorara o caminho de sua casa e fora na frente?! Não podia crer!

Com tal pensamento, o garoto voltou a correr, passando pela ponte alta em passos rápidos, tendo um sorriso ao rosto ao se encaminhar para sua residência.

Sua mãe sabia que o amigo iria para casa junto consigo, apostava que ela tinha feito a torta favorita dele. Já podia sentir o cheiro e gosto em seu consciente, sendo motivo para apressar mais o passo.

Porém, quando Shenhi chegara a sua casa, não encontrara Hajime ali, com aqueles olhos diferentes a lhe esperar, sendo elogiado como sempre por sua mãe e sendo eventualmente uma figura como referência de comportamento e educação em relação a si.

Não encontrara Usai pelos locais próximos de sua moradia, nem mesmo no templo que talvez ele tivesse voltado sem lhe avisar sobre a mudança no caminho.

Não encontrara Hajime nunca mais.

 

❄≈❄

 

A água do rio estava baixa naquele dia.

A criança se encontrava à beira do líquido sempre límpido e refrescante, sentado à parte com algumas pedras e grama, podendo usufruir um pouco da passagem lenta da água ali. O cenário que um dia já fora belo.

— Oi, Usai. — Kosume mexia em pequenas pedras que completavam um círculo médio no chão com terra escura.

Ao lado de sua pessoa estavam pequenas flores com vários formatos e cores. Não gostava de flores em especial. Sua mãe dissera que seria bom colocá-las uma vez no ano ali, mas Shenhi discordara completamente das palavras dela. Como poderia visitá-lo só uma vez em um ano inteiro?

Aquele era o primeiro mês o qual voltava sozinho para casa. Não via a presença do amigo na escola, nem seu sorriso quando passavam alguns caminhos juntos ao término da tortura que era estudar.

— Eu estou aprendendo a escrever palavras novas, e a mamãe deixou que eu lhe escrevesse algo. — O menino pareceu tirar algo do bolso da bermuda que usava, revelando um papel ligeiramente amassado. — Eu acho você não pode desembrulhar, não é? — Ele riu fraco, tentando controlar uma possível falha na voz.

Mamãe e papai falaram também que chorar não seria bom. Deveria se manter forte.

Manteve-se quieto durante bons segundos, notando o trabalho que tinha feito ali. Não eram muitas pessoas as quais passavam pelo lugar, podendo manter aquele pequeno... Poderia chamá-lo de túmulo?

O círculo com pedras que tentara igualar em tamanhos pequenos e no máximo médios, e agora, as flores que foram colocadas de maneira organizada.

Desembrulhara o papel, revelando uma letra um pouco ilegível, colocando no meio do círculo que construiu assim como uma ao pedaço do papel para esse não sair voando dali com um provável vento passageiro.

Ficara ajoelhado perante o túmulo improvisado, observando alguns pássaros nas árvores fortes ali perto, assim como o barulho da água do rio a correr lentamente.

Tudo parecia como o de costume.

Shenhi levantara-se, dando um mínimo aceno ao mostrar que iria embora, virando-se para tomar seu rumo.

Quem quer que olhasse para tal cena, sentiria pena, ou acharia estranho uma criança falar sozinha com pedras, pedaços de papel e flores. Não era necessária compreensão para aquilo, de nenhuma maneira.

Kosume não notou, assim como ninguém e nada com vida por ali, mas o papel, após sua saída, havia sido mexido. E não fora obra de nenhum vento ou algum fenômeno da natureza.

Dedos pequenos e infantis tocavam de maneira falha um pedaço da folha branca, e um som baixo em uma risada alegre e doce percorrera os sentidos de apenas aquele ser.

Shenhi aprendera palavras novas, mas a caligrafia ainda não era uma das melhores.

Usai, você está em um lugar melhor? Mamãe me disse que você está feliz onde quer que esteja, mas isso não me parece certo. Você era feliz aqui também, não era? As aulas continuam o mesmo tédio de sempre, e os professores estão pegando mais no meu pé. Os veteranos parecem um pouco mais desanimados que nós; eu espero que não seja por conta daquilo. Eu sei que vai ser um pouco difícil para você ler isso, mas eu vou tentar melhorar. Espero que você realmente esteja feliz onde está agora.

Notara que faltava uma parte do papel, pequena, porém, tinha sua falta ali. Mesmo assim, um sorriso emoldurava de forma alegre seu rosto.

Iria esperá-lo.

 

❄≈❄

 

Outras pessoas poderiam pensar que ver apenas o mesmo cenário, a mesma pessoa e acontecimentos parecidos, tornava tudo monótono. Porém, não para ele.

Acompanhara cada mudança que acontecia em Kosume, e todas elas, formaram uma figura cada vez mais alegre. Ele crescia rápido, e parecia que não pararia tão cedo. Assim como a frequência com que se machucava parecia aumentar cada vez mais. Ele vivia aprontando, não é? Esperava que estivesse longe de problemas.

A cada mês, recebia uma carta dele, todas as quais a caligrafia parecia mais piorar do que melhorar, entretanto, havendo bem mais informações do que as anteriores.

A cidade estava se expandindo; novos moradores, alunos, vizinhos. Tudo parecia fantástico.

Ele vivia contando o que aprontava para si, como cabulava algumas aulas; vez e outra fazer algo errado em casa e sua mãe. E com tudo isso, diminuindo o número de cartas que levava para seu túmulo.

Kosume simplesmente sentava-se ao lado deste, ficando em silêncio antes de perguntar o de praxe “Você está aí, não é?”. Não era como se Usai pudesse responder como famosamente imaginavam: movimentando algo em resposta, ou jogando simplesmente algo no amigo para avisar que sim.

Não precisava disso.

Shenhi permanecia sentado, olhando geralmente para ora o rio, ora o céu. Este, às vezes estrelado, outros dias ensolarados; alguns fechados de forma chuvosa e outros com uma forte neblina. Nenhum desses cenários impedia do garoto ali aparecer, sempre se mantendo fiel ao que dissera.

Aparecia fielmente uma vez por mês àquele local, às vezes, até mais do que lhe era permitido.

E simplesmente não obtendo uma resposta física, ele se animava em dizer tudo o que estava ocorrendo. Era engraçado escutar certos detalhes, e interessante ouvir e conhecer coisas novas que ele levava vez e outra pra lhe mostrar e comentar sobre.

Riam. Nunca era um monólogo. As conversas às vezes duravam horas, até o momento que a mãe dele se via obrigada em buscá-lo, demonstrando uma cara entristecida em ver o que o filho fazia.

Hajime ainda não sabia dizer àquela altura o que tal expressão representava. Mas... Ver que havia tristeza em algo que Kosume fazia consigo, lhe começara a dar um aperto.

Ele estava realmente feliz?

 

❄≈❄

 

Tudo começara a mudar quando mais anos se passaram.

A frequência com que Shenhi passara a lhe visitar decaíra de forma absurda, mas não a forma com que o via.

Ele parara de ficar a conversar à beira do rio. Era como se ele estivesse se esquecido de si.

Via-o passar todos os dias por ali. Às vezes sozinho, mas a maioria, acompanhado de novos rostos. Ele parecia feliz.

Ele sorria, ria, falava alto com essas pessoas. Brincava com elas, causando mais alegria ao grupo que agora participava. Àquela altura, ele havia crescido bastante. Parecia quase um homem.

Quando passava para o túmulo feito por si, de forma instantânea, Usai se sentia com uma pequena esperança que ele voltasse ali e parasse; compartilhasse mais um pouco do que acontecia com ele fora daquele local.

Contudo, recebia apenas um olhar, o qual, ao fundo, era possível notar certa dor e uma tristeza quase se apossar de suas feições. Naqueles momentos, seus amigos lhe perguntavam o que aconteceu, e logo o faziam mudar de face, para uma alegre.

Isso acalmava Hajime. Mas isso o entristecia levemente.

Vê-lo crescer e seguir seu rumo era algo fascinante. Estava feliz por ele estar bem e alegre. Porém, havia algo dentro de si, talvez um tanto quanto egoísta, que o fazia pensar um pouco o reverso.

Eu queria fazer parte.

 

❄≈❄

 

Aquele dia fora bem estranho para Usai.

Era de noite, e, estranhamente, vira Kosume se aproximar. Mas ele não estava sozinho.

Segurava a palma de uma garota, que, comparado à dele, ela parecia pequena como a sua. A menina aparentava uma dúvida crescente, assim como curiosidade para o que faziam ali, tendo Shenhi permanecer num semblante único.

— Essa é a minha namorada, Usai. — As palavras partiram audível para os três ali, atraindo a atenção da garota quase que de imediato, tendo essa a ficar ainda mais confusa.

Ela começara a falar algo para Kosume que Hajime praticamente ignorara, se focando em apenas uma coisa.

Entendia.

Mas... Por que Shenhi parecia tão triste?

 

❄≈❄

 

Daquele dia em diante, Kosume não aparecera mais.

Esperava-o, dia após dia, às vezes procurando diversão nas pedrinhas; remexendo nas cartas presas, notando as flores murchas. Ele não gostava de flores, mas sempre lhe trazia alguma. Era estranho.

Com o passar do longo tempo sem nenhuma visita dele, começara a pensar demais. O que deveria estar nos pedaços das folhas que ele sempre arrancava? A cada carta deixada antigamente, era uma parte diferente, às vezes no canto de alguma frase, mudando-a logo em seguida.

E tal divagação, servira para Hajime pensar durante anos sem vê-lo novamente.

 

❄≈❄

 

Aquele fim de tarde estava nublado e frio. A água do rio parecia quase perfurante, e raramente alguém passava por aquele canto.

Estava sendo um dia de espera de sempre para Hajime, que observava de tudo no cenário meio congelado daquela estação.

No entanto, vira uma silhueta alta vagar por entre as árvores do outro lado do rio. Notara o casaco pesado de inverno cobrindo-o, e um cachecol nada usual estar envolta de seu pescoço.

Lembrava-se de que sua mãe e si lhe cobravam frequentemente para que ele se cuidasse direito. Ele resolvera escutar só agora?

Com o longo tempo, tudo era ainda mais perceptível.

Observara-o sentar-se como sempre fazia quando criança ao lado de seu túmulo intocável há anos. Um sorriso nostálgico cobrira as feições de Kosume, assim como um tanto triste.

O seu típico silêncio se fizera ali, e, como de praxe, esperara alguns segundos antes de se pronunciar. As pernas dobradas deram sustento para seus braços passarem ao redor, observando o clima mais parado ainda da água por ali.

— Desculpe não lhe visitar ultimamente, Usai. Muitas coisas aconteceram. — Shenhi sentia que devia muitas explicações, e essas não poderia ser tardadas novamente. — Se lembra da Naomi? Nós terminamos. Ela não queria me deixar continuar a vir aqui, e isso desde três anos atrás. — Kosume pareceu rir forçadamente naquele segundo, tendo um olhar perdido como nunca antes. "Como alguém que não pode compreender tais sentimentos assim, quer algo quase igual?" — Eu acho que escondi algumas coisas de você, e não gostaria de prosseguir assim.

A mão direita de Shenhi fora para o bolso do casaco, adentrando o buraco com os dedos e palma ao parecer pegar algo. Tirando o punho de lá, ele abrira-o à sua frente, colocando no chão de pedras, quase minúsculos pedaços de papéis brancos.

Hajime fora um pouco para frente, compreendendo a letra única ali. Várias palavras escritas, algumas repetidas. Todas elas formando sentimentos.

Dói”, “Tenho saudades”, “É chato sem você aqui”, “Você está realmente feliz por aí?”, “Eu queria lhe ver novamente”, “Quando vamos poder brincar de novo?”, “Se eu não tivesse corrido para casa...”, “Isso é minha culpa”, “Me desculpe...”.

Usai lera todos, observando o rosto agora abaixado de Kosume, notando ele cerrar os punhos naquele segundo, permanecendo num silêncio que lhe deixava confuso.

Sentia-se triste lendo tudo aquilo. Ele escondera todos os sentimentos durante tanto tempo...?

No meio daquele silêncio, escutara um bater de dentes vindo de seu lado. E, de forma sorrateira, lágrimas descendo pelo rosto dele, completamente triste, representando tudo o que se limitara a mostrar quando a frente de si e outras pessoas.

— Usai... Eu sinto sua falta.

Fora a primeira vez que Hajime escutara aquelas palavras e vira lágrimas vindas de Kosume.

Ele nunca chorava quando voltava pra casa quando sofria diversos bullyngs.

Ele nunca chorava quando se machucava ou perdia algo que gostava muito.

Ele não chorou quando recebera a notícia de que sua treinadora havia morrido.

Mas ele estava chorando por si naquele momento.

Eu queria fazer parte.

Era um pouco tolo ao ter acreditado um dia que não.

Mas já estava.

Sempre esteve.

Em tudo o que ele fazia e sentia.

Estava ali com ele.

Sua palma pequena de forma – quase – inútil cobrira o punho cerrado de Kosume, notando ele soluçar de uma forma cortada em meio a seu choro, olhando para o lado como se fosse... Para si.

Usai sorrira naquele segundo, sentindo as bochechas umedecerem sem que sequer notasse.

 “Eu estou aqui, Shenhi.


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Notas finais do capítulo

muito obrigada a todos que leram! comentários são sempre bem vindos.

Estou pensando em trazer mais projetos originais, então, me deixem saber se gostariam. ♥

Kissus & see'ya ~ ♥



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