Ordens médicas, Di Angelo escrita por Mel de Abelha


Capítulo 1
Truques do Mundo Inferior!


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura, semideuses ♥



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— Eu não faria isso, se fosse você – Will Solace surgiu por trás de uma árvore, fazendo Nico levar um susto e apontar a lâmina de ferro estígio na direção dele.

— Ah, é você… – Ele abaixou a arma.

— Sim, sou eu, o cara que te disse para não viajar nas sombras nunca mais, já disse que são…

— Ordens médicas, eu sei – Nico bufou, olhando através dos galhos a procura de campistas da equipe vermelha.

— Você não deveria nem estar aqui, para começo de conversa! Captura da bandeira depois do drama com Gaia e não sei o quê, quem inventou isso? Ninguém precisa de mais demonstrações de guerra, acho que todos os semideuses num raio de zilhões de quilômetros já tiveram a dose necessária.

— E você está aqui por quê, se não aprova? – Nico quis saber, enfim olhando para o garoto ao seu lado.

— É melhor que eu esteja por perto, caso alguém se machuque – Will ficou todo sem jeito ao dizer isso. Nico revirou os olhos: outro cara com complexo de salvador da pátria, era só o que faltava.

A área parecia livre. Não havia nenhum campista ali, nem do time vermelho, nem do time azul, o qual Nico fazia parte. Ele se adiantou pelas árvores, agora que tinha uma droga de babá na sua cola e não poderia sumir nas sombras nem por um metro sem que o outro decretasse quarentena.

Nico sabia que não estava em sua melhor forma, a viagem nas sombras para levar a Atena Partenos até o acampamento meio-sangue quase tinha drenado sua vida. Mas, meses após o dia em que conseguiram acabar com a missão, ele já tinha esperanças de que conseguisse viajar de novo. Não fosse o Will, ele já teria tentado há muito tempo, mas parecia que o garoto tinha um radar que apitava toda vez que a ideia passava na cabeça de Nico, e então ele chegava, fazendo um alvoroço para impedir.

Caminhar por entre as árvores não era uma estratégia nada boa, mas ele não tinha nenhum outro plano e até agora ninguém tinha tentado impedi-lo. As folhas secas faziam barulho a cada passo que era dado. Will estava praticamente dançando sapateado nas folhas.

— Será que dá pra fazer menos barulho? Vão nos achar – Nico se virou para reclamar com Solace.

— Não tem ninguém aqui – Will não estava com uma cara muito amigável.

— Cara, você tá bem? – Nico perguntou, notando o olhar furioso de Will.

— Eu tô ótimo! Diferente de algumas pessoas, eu sei quando estou em condições de me aventurar por aí ou não.

— Cara, você não pode estar falando sério. Está chateado comigo?!

— Não estou chateado. Só queria que você não ficasse zanzando por aí, procurando confusão. Procurando esconderijos pra fazer coisas do Mundo Inferior.

Coisas do Mundo Inferior! Nico riu.

— Eu não saio por aí procurando confusão – Nico respondeu.

— Ah, não! E o que foi toda aquela confusão com as harpias na semana passada? Elas podem te comer se te pegarem fora do chalé depois do horário. Aliás, o que pensou que estava fazendo andando pelo acampamento de madrugada?

— Só estava sem sono.

Will bufou, chutando algumas folhas do caminho. Ele não dava a mínima se fossem descobertos por alguém da equipe vermelha. Ele mesmo não estava em nenhuma equipe, tinha decidido entrar como penetra. Levava o arco e a aljava num ombro e uma mochila branca e grande nas costas, com materiais de primeiros socorros. Se ele se distraísse muito, poderia perder Nico de vista, já que ali, no meio das árvores, onde era escuro, o filho de Hades se camuflava perfeitamente. Os cabelos e roupas escuras se misturavam as sombras. A pele opaca não chamava atenção, tampouco o porte físico de Nico, que era todo magro e pequeno. Seus passos quase não tinham efeito nas folhas secas, diferente de Will, que fazia um estardalhaço.

Mal sabia onde estava, mas Di Angelo parecia saber guiá-los muito bem até o objetivo. Após minutos chegaram ao fim das árvores, onde um muro de arbustos os separava de uma clareira, um vale perto de uma colina. Mais adiante uma luta acontecia. Os campistas da equipe azul tinham sido encurralados pelos guardas da bandeira vermelha, que estava pregada numa árvore grande logo atrás deles. Eram três vermelhos para dois azuis. As lâminas faziam barulho ao se chocarem, ambos lutavam com espadas longas, apenas um campista da equipe vermelha usava o arco. Ele estava mais atento ao seu redor, como se esperasse que mais azuis estivessem vindo e aqueles dois fossem só uma distração.

— É uma distração? – Sussurrou Will, agachado atrás do arbusto do lado de Nico.

— Não – Respondeu o outro. – Eles nem sabem que estou aqui, eu era da defesa.

— E o que está fazendo aqui?

— Uma surpresa. O nosso plano é horrível, por isso tá dando errado. Mas, agora que está aqui, pode nos ajudar a vencer.

— Que?! Não vou ajudar ninguém a vencer, nem faço parte da equipe. E você sabe o que eu acho da sua participação nesse jogo.

— Você só sabe reclamar? Não era você que me dizia que têm pessoas que querem ser meus amigos? Então, só estou tentando achá-las.

— Não acho que vai achar nenhum amigo num jogo de guerra – Will murmurou.

— Posso já ter achado, se você ajudar…

Will não gostava daquilo. Mas ele queria ser amigo de Nico. Na verdade, era o que ele estava tentando fazer há muito tempo, mas o outro só dificultava sua aproximação. Agora, entretanto, ele pedia sua ajuda.

— Tudo bem, o que eu posso fazer? – Will suspirou, cedendo. Nico abriu um sorriso. Seus sorrisos eram raros e isso parecia fazê-los mais especiais ainda.

— É a situação perfeita, olha, você corre pra lá e distrai o cara do arco e flecha, enquanto isso eu corro daqui e pego a bandeira. Simples.

— Não pode ser tão fácil – Will falou.

— Mas é. Eles só têm três guardas, dois estão ocupados. Você distrai o terceiro e eu estou livre para passar.

— Tá certo. Só não tente nenhuma gracinha, Nico di Angelo – Will gesticulou, apontando o dedo pra Nico.

— Um filho de Hades fazendo gracinhas…? Acho que não!

Will deu um soquinho no ombro do outro menino e saiu de trás dos arbustos gritando, para chamar a atenção do guarda da bandeira. Não era a melhor distração do mundo, mas deu certo. O guarda se atrapalhou com o susto e Will se jogou por cima dele, fazendo os dois rolarem no chão e deixando uma passagem aberta até a bandeira.

Nico disparou pela campina, correndo o mais rápido possível. Ele estava próximo dos quatro semideuses que lutavam com as espadas, Will e o outro guarda tinham desaparecido por trás de uma grande pedra nos pés da colina.

Ele estava quase lá, mais uns metros e pegaria a bandeira. De repente uma multidão apareceu, correndo colina abaixo, em direção a Nico.

Vários semideuses da equipe azul corriam na frente, sendo cercados por outros da equipe vermelha, tentando atacar e impedir que eles chegassem à bandeira. A silhueta deles fazia uma enorme sombra onde Nico estava, então ele teve uma ideia.

Apesar de estar na frente, a equipe azul nunca ia conseguir chegar até a bandeira, uma vez que os campistas da equipe vermelha estavam em maior número. Nico se concentrou, após um tempo era difícil, tinha perdido o costume, mas ele sentiu as sombras o puxando, sentiu que era seguro, então mergulhou. A última coisa que ouviu foi a voz de Will Solace gritando seu nome.

Nico despencou pelos galhos da árvore e caiu no chão. Estava zonzo e via tudo girando. A bandeira vermelha tremulava acima de sua cabeça, então ele se escorou no tronco da árvore e puxou o mastro, pegando a bandeira e garantindo a vitória da equipe azul. Os campistas que corriam colina abaixo gritaram de euforia ao ver Nico com a bandeira nos braços, as lutas pararam, vários outros semideuses surgiram de outras direções. A equipe azul se juntou em um grupinho para abraçar Nico e fazer festa. Nico sorria, meio tonto, mas se sentiu feliz por receber tantas palavras gentis e por ter conseguido a vitória.

Tudo estava bem, até seus olhos começarem a pesar. Ele deixou a bandeira cair da sua mão e escorregou pelo tronco da árvore, caindo na grama.

— Nico di Angelo, se você morrer, serei obrigado a te ressuscitar para te matar de novo! – Ele ouviu alguém gritando.

Antes de seus olhos fecharem completamente, um rosto surgiu acima de sua cabeça, parecia o céu ensolarado, mas era apenas Will Solace com seus olhos azuis e os cabelos loiros bagunçados, o rosto todo sujo de terra. Nico conseguiu abrir um sorrisinho.

— Peguei a bandeira – Ele balbuciou.

— Idiota – Will disse.

E então tudo se apagou.

 

º◊º◊º◊º

 

Quando acordou, Nico não sabia onde estava, só sabia que sua cabeça doía. Ele se ergueu na cama. Estava coberto por lençóis verdes que combinavam com toda a roupa de cama e com as cortinas a sua volta. Esfregou os olhos, tentando se acostumar à claridade do cômodo. Parecia um quarto de hospital.

Nico já estava com as pernas para fora do colchão quando Will Solace irrompeu das cortinas. Ele vestia bermudas, a camisa laranja do acampamento e chinelos. Por cima, um avental da mesma cor da roupa de cama. Uma máscara branca ocupava metade do seu rosto, permitindo que apenas seus olhos ficassem de fora. E os olhos dele estavam furiosos.

— Nem ouse sair desta cama, Nico di Angelo! Você está internado – Will abaixou a máscara da boca e empurrou o peito de Nico, fazendo ele cair para trás na cama.

Nico se endireitou, nunca tinha visto o filho de Apolo tão bravo.

— Eu te disse para não viajar nas sombras, nunca mais. Será que você quer mesmo morrer? Droga, Nico!

— O que… O que aconteceu? – Nico perguntou, engolindo em seco.

Will suspirou e contou a Nico como ele tinha ficado em coma por três dias.

— Três dias?

— Isso! Eu te avisei, Di Angelo. Nada de truques do Mundo Inferior, nada de viagem. Parece que você não me ouve. Mas agora você está no meu chalé, vai ter que obedecer às minhas ordens até que eu te dê alta.

— Tudo bem, tudo bem.

Will mexeu em um tubo que estava conectado no punho de Nico ligando a uma bolsa de soro. Ele checou a respiração, a pressão e até mesmo os olhos do outro, colocando uma lanterninha para olhar em seus globos oculares.

Nico o observava enquanto isso. No meio do trabalho, Will perdera a expressão carrancuda e seus olhos começaram a brilhar de novo.

— Está tudo certo. Está com fome? – Perguntou Solace.

Nico assentiu.

— Já volto – Will desapareceu por entre as cortinas.

Quando voltou, estava sem os acessórios de médico, só a roupa normal. Nas mãos, trazia dois sacos de papel pardo.

— Não sou muito a favor disso, mas sei que você gosta, e já que está se recuperando bem… Aliás, tem um brinde ótimo.

Will repousou o papel no colo de Nico, que abriu, curioso. Ele deixou um sorriso escapar assim que viu o Mc Lanche Feliz. Dentro também tinha um bônus: o brinquedo. Nico abriu o pacotinho e suas bochechas ficaram vermelhas automaticamente.

— Cartões de Mitomagia…

— Não são só cartões simples de Mitomagia, são os melhores, olha só. Escolhi especialmente pra você – Will se debruçou no colchão.

Nico virou o pacotinho de cabeça pra baixo e de lá saíram dois cartões, um de Hades e outro de Apolo. Sol e escuridão. Combinava. Ele abriu um sorriso para Will, que já estava sorrindo.

— Valeu. Gostei.

— Claro que gostou – Will sorriu, então pigarreou e parou de se apoiar no colchão – Bom, vou deixar você sozinho. Se precisar de alguma coisa… – Will já se afastava da cama, Nico conseguiu alcançar seu braço.

— Não vai. Fica – Ele deslizou sua mão até a mão de Will.

— Quer que eu fique… aqui, com você? – Will perguntou hesitante.

— Claro. Preciso de você, Solace. Vai que eu tenho alguma ideia louca de fazer truques do Mundo Inferior! – Nico ria.

— Sem gracinhas, Di Angelo. Está proibido de fazer isso. Ordens médicas! – Will também sorria.

Will apertou os dedos ao redor da mão do outro garoto. Ele não ia deixar Nico sozinho nunca mais.


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Notas finais do capítulo

Qualquer coisa é só comentar ;)

Espero que tenham gostado szsz

XOXO



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