Predestinada escrita por Mad


Capítulo 3
Capítulo 03


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura e não se esqueçam de deixar um comentário no final do capítulo, por favorzinho.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/758330/chapter/3

— Você vai adorar o lugar— Alexia falou assim que descarregávamos as caixas com minhas coisas do caminhão de mudança — Já é tudo mobiliado e bem decorado.

 — Você tem certeza Alexia? — Perguntei apreensiva, olhando a porta a minha frente — Será que não vai ser estranho eu conviver com um desconhecido?

 Ela pegou a cópia da chave de dentro da sua bolsa.

 — Claro que não, você só vai chegar em casa a noite e nos finais de semana você pode ir lá para casa — girou a maçaneta — A pessoa é de confiança e o aluguel do quarto é muito baratinho.

 Adentramos a casa e dispensamos o caminhão. Contemplei o ambiente meticulosamente e notei que Alexia tinha acertado em cheio, o lugar era muito bem decorado, apesar do toque masculino. Era um lugar único, com uma sala ampla e uma divisória que dava para a cozinha e banheiro, assim como uma escada que levava até os quartos. Bom, nem havia passado pela minha cabeça alugar um quarto em um loft, mas quando Alexia contou-me que conhecia uma pessoa que estava alugando por um preço acessível, não tive como negar que poderia ser uma ótima ideia. Na verdade eu ainda estou um tanto cismática em ter que conviver com uma pessoa que eu não conheço, ainda mais que Alexia nem me deu tempo de checar o local e conhecê-lo pessoalmente.

 — O que achou? — perguntou.

 — É bem diferente, mas eu adorei.

 Ela sorriu.

 — Vamos terminar de levar tudo lá para cima — disse, ajudando-me a carregar o restante das caixas até o meu novo quarto.

 Levamos tudo para cima e fui encaixando minhas coisas no ambiente para que tivesse a minha cara. O quarto estava bem vazio, apenas com uma cama e uma escrivaninha no canto, o que me fez ficar ansiosa para decorá-lo. Eu sou um tanto obcecada em decoração e sempre amei observar os detalhes para criar coisas novas e colocar em meu quarto antigo e, agora com esse, não seria diferente.

 Ouvimos um barulho vindo da porta principal no andar de baixo e levamos um susto. Olhei para a Alexia que apenas se levantou para descer, então eu me toquei que era o dono. Ajeitei-me rapidamente para conhecer o meu futuro parceiro de loft durante quatro anos.

 — Você nem ao menos me disse o nome dele — falei rapidamente para Alexia, mas não tive nem tempo de ouvir a resposta, pois o choque foi inevitável. 

 Céus, isso só pode ser uma brincadeira de Alexia. Eu tive que me segurar muito para não lançar-me escada abaixo quando cruzei com o olhar furioso de nada mais e nada menos que: Ethan Sulivan.

**

 Você está maluca Alexia? — Ethan andava de um lado para o outro, enquanto eu apenas observava a briga dos dois sentada no sofá.

 — Você está fazendo uma tempestade no copo d'agua — ela olhava suas unhas calmamente, aumentando o olhar feroz de seu irmão — Que eu me lembre, você mesmo disse que eu poderia te ajudar a procurar alguém para o quarto.

 — Mas se eu soubesse que você traria ela — apontou para mim — Eu procuraria sozinho.

 Aquilo despertou a minha ira e levantei irritada, encarando-o frente a frente.

 — Qual o problema comigo? — perguntei em meio a ranger de dentes.

 Ele olhou-me de cima em baixo e esboçou um sorriso irônico, aumentando a minha raiva. Eu ficava minúscula perto dele e é óbvio que levou isso como uma vantagem para me intimidar. Ah, alguém me segura, pois eu vou dar na cara desse imbecil!

 Quer mesmo que eu diga? — balbuciou com um sorriso de canto.

 — Você é um babaca!

 — E você é uma tapada.

 — Estúpido.

 — Nervosinha.

 — Ignorante.

 — Projeto de gente.

 — Chega! — Alexia gritou — Eu já entendi tudo.

 Olhamos para ela assustados, que suspirou satisfeita ao ver que ganhou nossa atenção.

 — Vocês estão doidos para saírem se pegando, mas ficam disfarçando.

 Ethan caiu na gargalhada. Só se for para sair no tapa!

 Que ideia absurda Alexia — ele disse se jogando no sofá.

 — Ah é? Então por quê você me fez diversas perguntas sobre ela desde que a viu pela primeira vez na agência?

 Fiquei ruborizada, mas só de ver o encolher dos ombros de Ethan e o furor em seus olhos bastava para mim.

 — Eu não fiz isso!

 Soltei uma risada irônica, mas Alexia resolveu baixar a minha bola também.

 — E você ficou suspirando por ele desde que cruzaram o primeiro olhar — disse apontando para mim e apertando os olhos — Não pense que eu não percebi.

 Minhas bochechas pegaram fogo e só pela forma veemente com que Ethan olhou-me, fez com que eu desejasse pular de um abismo.

 — E-eu não fiz isso! — gaguejei, percebendo tarde demais que eu havia dito a mesma coisa que Ethan.

 — Está vendo — ela disse sorridente — Vocês estão apaixonados.

 Ela começou a cantarolar essa mesma frase em nosso ouvido, enquanto Ethan revirava os olhos e mandava ela calar a boca.

 — Eu vou embora — falei indo em direção as escadas, mas um disparate absurdo de Ethan impediu-me de dar sequer mais um passo.

 — É isso o que as pessoas covardes fazem, elas fogem na primeira oportunidade.

 — Como é que é? — virei-me como uma exorcista.

 — Essa é a verdade — ele disse olhando-me diretamente — Alexia falou que você está apaixonada por mim e em vez de falar alguma coisa você apenas resolveu dar as costas.

 — Por que não é verdade! — gritei soltando faíscas dos olhos e percebi Alexia se assustar — Eu vou embora por quê eu tenho um pingo de dignidade! Ao contrário de você que precisa humilhar os outros para se sentir no controle da situação.

 Ele levantou enfurecido e ficou novamente frente a frente comigo. Contive-me para não encolher os ombros e me sentir pávida por sua súbita aproximação. Ele não ia conseguir me deixar vulnerável como queria, não mesmo.

 — Eu não tenho culpa que você é tapada e não sabe se defender como deveria.

 Fechei o punho. Eu nunca havia batido em ninguém, mas a vontade de deixar uma marca no rosto de Ethan era enorme, mesmo que doesse meu punho com o ato. Alexia puxou Ethan pelo braço, antes que eu fizesse qualquer coisa.

 — Ethan me escuta — sussurrou baixinho, parecia temerosa com a situação — Desculpa, eu só queria te ajudar a encontrar alguém para o quarto. Quando notei que vocês dois estavam sentindo alguma coisa um pelo outro eu acabei que tive essa ideia.

 Ethan ainda olhava-me diretamente, mas ao ouvir as palavras de Alexia, virou-se descontrolado.

 — E como sempre mais uma das suas ideias absurdas! — gritou, fazendo Alexia arregalar os olhos e se sentar no sofá.

 Era notável o seu choque.

 — Caramba — vi seus olhos marejarem por um instante, mas ela se conteve — Você nunca falou assim comigo.

 Ele passou a mão nos cabelos e sentou-se ao lado dela, demonstrando que havia ficado arrependido da dureza com que a tratou.

 — Desculpa — suspirou — Eu acabei me exaltando.

 — Eu só queria te ajudar, mas se você não quer, nós vamos procurar outro lugar — falou com uma ponta de mágoa em sua voz, saindo de perto dele quando aproximou-se para abraçá-la — Vamos tirar tudo de lá de cima, não se preocupe.

 Ela começou a subir as escadas, mas Ethan a impediu.

 — Calma — disse, olhando-me em sua visão periférica — Ela pode ficar.

 — Como é que é? — tive que rir — Agora quem não quer ficar sou eu!

 Ele revirou os olhos.

 — Se você tem um pingo de dignidade como diz que tem, será que pode parar de birra e dar uma trégua?

 — Não era eu que estava de birra por causa de um simples aluguel de quarto.

 — Por favor parem de brigar — Alexia suplicou — Vocês não vão ser obrigados a olhar para a cara um do outro aqui no loft. Provavelmente a Mar só vai chegar em casa a noite por conta da faculdade e ela pode ir lá para casa nos finais de semana.

 Eu e Ethan nos olhamos. A verdade é que para mim aquilo não importava, já que teria que ver a cara dele todos os dias na agência.

 — Tudo bem — murmurei.

 — Ok — ele disse.

 — Obrigada meu bom Deus — Alexia levantou as mão para cima, satisfeita.

 Já eu e Ethan apenas trocávamos faíscas de ódio com os olhos.

 **

 — Nada que um pouco de drama não resolvesse — Alexia disse, bebendo de uma só vez mais um copo de bebida — Isso sempre funciona quando quero algo de Ethan.

 Suspirei fundo e batuquei os dedos na mesa. Alexia havia me trago em uma boate conhecida da região, mas eu não estava com cabeça para curtir a noite, ainda mais que amanhã já começa a minha futura rotina.

 — Você deveria relaxar um pouco — ela disse, notando minha certa distância do mundo real — Eu tenha certeza que você e Ethan vão acabar se dando bem, ele é um amor de pessoa.

 ATA. Eu tive que soltar uma risada irônica com um comentário tão absurdo.

 — Você só está dizendo isso por que ele é seu irmão.

 — Na verdade não — disse, balançando a cabeça negativamente — É por quê você não conhece o Ethan que eu conheço. Ele é sim, um tanto ignorante e cheio de si, mas ele sempre foi uma pessoa carinhosa.

 — Carinhosa? — arqueei uma sobrancelha.

 — Estou falando sério.

 Respirei fundo. É claro que eu não acreditava naquilo, mas não queria irritar Alexia com esse assunto.

 — Quer saber? Para mim que ele se dane — dei de ombros — Eu estou preocupada com amanhã. Não deveríamos estar aqui e ainda mais bebendo desse jeito.

 Ultimamente andava questionando-me se eu estava fazendo as escolhas certas. Eu não deveria ter dado o braço a torcer e ter aceitado morar no loft. Meu Deus, o que eu estou fazendo com minha vida? Agora vou ter que suportar aquele bruto metido a engraçadinho por quatro anos consecutivos.

 — Você é muito reservada não é mesmo? Não deve ter dado nenhum trabalho para os seus pais — Alexia disparou essa, fazendo com que eu saísse de meu transe.

 Pare de pensar nesse embuste Marjorie. Esqueça esse assunto.

 Sim, é verdade. Nunca fui de frequentar lugares como esse e muito menos beber aos domingos, sempre optei por lugares mais calmos.

 — Ah, então vá se acostumando — bebeu mais um pouco — Por quê quem anda com Alexia Sulivan não tem dessas.

 Eu ri, enquanto ela se levantava.

 — O que acha de procurar algum gatinho para dançar?

 — Eu não sei dançar.

 — E quem disse que precisa saber? — falou, puxando-me da cadeira em que eu estava sentada.

 — Nós temos que acordar cedo amanhã, não podemos ficar…

 Ela nem me escutou. Agora ela dançava em meio as pessoas e gritava em meio a música alta para que eu fizesse o mesmo. A cena estaria cômica se a ficha de que Alexia está completamente bêbada não tivesse vindo a tona em minha cabeça.

 — Alexia eu quero ir embora.

 — Ah fala sério — berrou em meu ouvido — Já está querendo ver a cara do meu irmão no loft?

 Aquilo era o que eu menos queria no momento, mas eu estava mais preocupada com o fato de carregar Alexia embora sozinha. Puxei-a pelo braço, mas ela estava relutante em sair da pista de dança, até que consegui levá-la para fora com a desculpa de que queria ir rapidinho no banheiro. Assim que sai para fora, olhei o céu estrelado e simplesmente perguntei: “Por que eu?” e fiquei pensando numa forma de levar Alexia para casa.

 Eu poderia chamar um táxi, óbvio. Só que o grande problema é Alexia estar voltando novamente para dentro ao perceber que eu estava a enganando com a desculpa do banheiro.

 — Que garota difícil! — exclamei para mim mesma, assim que ela voltou para dentro.

 — É mais difícil ainda quando está bêbada — alguém falou atrás de mim.

 Virei-me e dei de cara com um garoto do cabelo cor de areia.

 — Você a conhece? — perguntei ainda atônita com sua aparição.

 — Estudamos juntos durante todo o ensino médio — sorriu.

 Analisei-o mais uma vez. Ele é bem bonito, pensei. Uma pena eu ter que ir embora justamente agora, pois notei um certo interesse na forma como ele me olhava.

 — E como você se chama? — perguntou, fazendo-me despertar dos meus pensamentos indevidos.

 — Marjorie Marie e você?

 — Joshua Pottier — estendeu a mão — É um prazer conhecê-la.

 Sorri e apertei sua mão.

 — O prazer é todo meu.

 — Eu fiquei um tanto curioso sobre o seu cabelo — puxou assunto — É natural?

 Assenti. Essa era uma pergunta frequente que me faziam sobre meus fios acobreados.

 — Eu confesso que tenho uma queda por ruivas naturais.

 Céus, ele está me paquerando. O que a boba aqui fez? Apenas riu totalmente sem graça e resolveu que era a hora de fugir.

 — Eu preciso procurar Alexia, está na nossa hora de irmos embora.

 — Você precisa de ajuda?

 — Como?

 — Com Alexia — indicou em riste para dentro do bar — Eu posso levá-las em casa.

 Pensei por um instante. Será que poderia confiar nele?

 — Ei — disse rindo, notando a minha relutância — Eu não sou nenhum sequestrador.

 — Eu não estava pensando nisso — Disfarcei sem graça — Não quero atrapalhar a sua noite, eu posso chamar um táxi.

 — Se eu não levá-las para casa vou ficar com a consciência pesada, não se pode confiar muito nos taxistas a essa hora.

 — Você tem certeza?

 — Absoluta — garantiu — Eu prometo que não vou atacá-las, embora sejam muito lindas.

 Eu ri, ainda mais ruborizada. Ele estava me paquerando de novo e caramba, quanto mais o olhava, mas eu percebia como ele é um gato, parece protagonista de filme.

 — Obrigada.

 Ele balbuciou um “por nada” e fez um gesto negligente para que entrássemos. Procurei por Alexia e a vi sentada em um banco, apoiada com a cabeça na mesa. Eu esperava do fundo do meu coração que Alexia não se importasse em ser carregada no colo por Joshua. Se eles se conhecem, então devem ser amigos e não tem nenhum problema nisso.

 Joshua avisou algo a alguns garotos que estavam junto com ele aquela noite e voltou até nós. Ele segurou-a delicadamente nos braços, enquanto Alexia grunhia algo. Meu Deus, algo me diz que ela está literalmente encrencada com o seu pai e o trabalho na agência. Eu avisei que beber um dia antes de ir trabalhar e começar os estudos na universidade não era uma boa ideia, mas, mesmo assim, ainda me sentia um pouco culpada. Fomos até o carro e abrimos a porta traseira do carro para que Alexia fosse dormindo, enquanto Joshua ia dirigindo e eu sentava-me ao seu lado.

 Confesso que fiquei um pouco interessada nele e ele demonstrou sentir o mesmo. Fomos conversando durante todo o trajeto, falando sobre nós mesmos e até que rimos bastantes com as coisas sem noção que Alexia murmurava no banco de trás. Ele contou-me que conseguiu entrar para medicina esse ano em outra faculdade e que estava no bar comemorando junto com os seus amigos, fazendo com que eu ficasse admirada com seu cavalheirismo em levar uma bêbada e uma perdida até em casa.

 Chegamos em frente ao loft e descemos do carro, tentando a todo custo fazer Alexia ficar em pé. Eu havia pedido para Joshua não entrar, pois o irmão de Alexia não ia gostar nenhum pouco da cena e ele concordou. Depois que Alexia ficou de pé reclamando um monte de baboseira, eu agradeci Joshua pela carona e fui caminhando até a porta, mas ele segurou meu braço delicadamente.

 — Eu gostaria de te ver mais vezes — sorriu e eu quase me derreti — Se você não se importar é claro.

 — P-pode ser — gaguejei.

 Não seja tapada Marjorie, minha consciência brigava comigo.

 — Então nos vemos por ai — entrou no carro — Eu dou um jeitinho de aparecer.

 E simplesmente foi embora. Ele nem se quer pediu meu número ou qualquer outro tipo de contato. Deduzi que como ele conhecia Alexia, então falaria comigo através dela e deixei esses pensamentos para lá, empurrando-a até a porta. Respirei fundo, lembrando que teria que encarar o meu futuro e — infelizmente — parceiro de loft, pedindo caridosamente ao destino que ele já estivesse dormindo.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Não sei se o próximo capítulo vai sair amanhã cedo, mas prometo não demorar, pois ele já está em andamento.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Predestinada" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.