Cronicas de Arcadia escrita por arc4dex


Capítulo 2
A Aberração e o Ninguém - Parte 2




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/758318/chapter/2

 

 

— Você está cansado...  

— Eu estou bem...  

— Então, tira a espada do ombro. Você vai se cortar.  

Valavë e Ozires andaram por várias horas sem parar. Sempre paralelo ao som do rio que estava à esquerda deles. Conforme eles caminhavam, o cenário em volta mudava-se lentamente de um bosque para uma espécie de montanha. Onde era tudo plano, iniciou-se uma subida regular. Onde haviam somente árvores, surgiam rochas cada vez maiores.  

— Shhhh... - A guerreira para abaixando-se. - Você consegue ouvir?  

O escudeiro imita o movimento de sua mestra e procura por algum som estranho que pode ter chamado a atenção dela.  

Ozires fecha os olhos e escuta os animais, o vento, às arvores e...  

 

Mais nada  

 

"O rio... Para onde foi?"

O jovem olha em direção do rio e tenta escuta-lo. O que antes era um som alto e constante, agora parecia um sussurro.  

— Muito bom... - Valavë sussurra em seu ouvido e passa a mão na cabeça de Ozires arrepiando a nuca dele. Ela pega a espada da mão do garoto e muda o caminho indo em direção onde devia estar o rio.   

Pela primeira vez, ele nota uma linha negra que seguia da mão dela e ia até o pescoço. Ozires tinha a impressão que sabia do que se tratava, mas decidiu não comentar.  

— Sabe, Ozi, acho que sei onde estamos... — A guerreira dizia enquanto saltava de uma pedra a outra.  Descendo uma pequena colina. — Estamos perto de Molluma. Esse nome é familiar? — Ela para e olha para ele que balança a cabeça negativamente. — É o reino dos anões.  

 

— Isso é bom ou ruim? — Ozires diz, tentando saltar nos mesmos lugares que Valavë pousava.  

— Depende... Minha ideia era encontrar alguma cidade nas margens do rio. Agora, se você está com fome, prepare-se para entrar em uns tuneis tenebrosos...  

Os dois desceram alguns metros, juntos, até a margem de um pequeno lago, onde começava o rio. Nele, era possível ver uma fenda na rocha. De onde provavelmente a água vinha.  

Ozires caminha até a beira do lago, mas é parado por Val.  

— Você tem algum medo do que pode ser? — Val disse num tom triste.  

— Parece que quem tem medo é você... — Ozires retruca.  

Val tira a mão de seu ombro e fica trás do garoto. Ele se ajoelha no lago e fica parado por um tempo.  

Ele passa a mão em seus cabelos curtos, negros e bagunçados. Depois, puxa a pálpebra do olho para baixo para analisá-lo. A cor era castanho escuro. Em seguida, alisa o queixo redondo e por fim, passa a mão por todo o rosto indo até suas orelhas pontudas.  

— Eu não sou um Elfo...  

— Não...  

— E também não sou humano...  

— Você é o que os elfos chamam de "Sangue Podre".  

Ozires se levanta furioso. Ele odiava os humanos por atacarem a cidade dele e, agora, odiava também os elfos.  Ele fecha os punhos e encara Valavë.  

— Os elfos, é!? Por que sou assim? Eu não sei o que significa.  

— Significa que você é melhor do que eles. E que é um milagre ter nascido. — A expressão de fúria em Ozires se desfez em quase alivio. — Seu pai era um humano. Sua mãe era uma elfa. Quase que toda sua vila era composta pelas duas raças que viviam em harmonia.   

— Minha vila? Você não era de lá?  

A guerreira suspira deixando os ombros caírem. Ela aponta para a caverna de onde vinha a água.  

— Vamos relaxar um pouco, que tal?  

A guerreira não espera o escudeiro responder. Ela caminha às pressas para a caverna. Ele fica alguns segundos observando ela ir antes de decidir segui-la.  

 ***

Quando Ozires entra na caverna, ele nota que ela não era muito grande. Era possível ver de uma ponta a outra sem dificuldades. No meio, havia um outro lago e na extremidade oposta a entrada, havia uma cachoeira por onde a água caia com força e a sua direita, Valavë estava de costas para ele começando a tirar a roupa. O escudeiro nota uma esfera negra com vários riscos, semelhantes a galhos, nas costas da elfa. Haviam linhas que seguiam do centro da esfera até a nunca, braços até às palmas da mão e pés dela. Valavë vira-se de frente e Ozires pode ver que o mesmo padrão se repetia. Vindo do peito da guerreira e indo até os olhos, costas das mãos e pés.  

De repente, Ozires sente um frio na barriga e um desconforto indescritível. Parecia errado estar olhando para ela. Ele vira-se rapidamente e disfarça, escutando sua mestra rir.  

— Aaaah, caraca! — Ela diz entrando no lago. — Essa água esta muito gelada... — A elfa mergulha no lago por alguns segundos e depois surge bem no meio dele. — Vem Oz, você precisa tomar um banho também.  

— Eerrr... Hummm... — Dessa vez, foi Ozires que fugiu do assunto. — O que são essas marcas tatuadas em seu corpo? Elas não estavam aí ontem.  

— Ah, isso? — Ela se levanta deixando o corpo a mostra até a região do umbigo. — Serve para canalizar a energia que temos dentro da gente.  

— Por que surgiu agora? — Ozires pergunta tentando não olhar para a mestra.  

— Eles surgem quando eu utilizo a energia. No meu caso, eu fico muito rápida e forte por alguns segundos. Se eu forçar de mais as marcas ficam negras por mais tempo.  

— Quando que você usou da última vez?  

Valavë não responde, ela caminha até a beira do lago e se senta encostando em sua borda.  

— Val, fomos atacados ontem enquanto eu dormia?  

— Sim, mas... Estamos seguros agora.  

— Por que eu acho que essas marcas têm alguma coisa a ver comigo?  

— Ozires... Tem algumas coisas que são bastante complicadas de se explicar. Será melhor você recobrar a memória.  

— Mas, Val [...]  

— Olha, se você não quer se lavar, faz um favor, lava minhas roupas. Faz parte do trabalho de escudeiro.  

Ozires caminha até às roupas às apanha. Valavë passava a acariciar os longos cabelos.  

— Isso é ser escudeiro? — Ozires diz enquanto caminha em direção a saída.  

— Sim. Esfregue e deixe para secar no sol.  

— Acho que isso tem outro nome... — O jovem insiste.  

— Ah é? Qual? — A guerreira diz em tom brincalhão.  

— Não sei. Mas, vou lembrar.  

 ***

Ozires deixa a caverna e segue pela margem do lago. Ele esfrega às roupas de sua mestra enquanto pensava nas marcas dela.  

"Por que isso não sai da minha cabeça? Por que ela não me conta?"  

Após esfregar às roupas de couro por vários minutos, o escudeiro às estende em uma pedra.  

"Será que ainda estamos em perigo?"  

Ozires fecha os olhos e aguça seus sentidos ao máximo.  

Nada de estranho. Mas, Valavë estava murmurando uma canção dentro da caverna. Ele caminha em direção a ela olhando em volta, para se certificar que realmente não havia ninguém observando.  

— Oz, coloque minha espada para fora. — Valavë diz apontando para lamina que estava a meio metro dela. — Não quero que ela enferruje.  

Ozires caminha até a lamina e agacha para pega-la. No mesmo instante, Valavë levanta-se e sai do lago. Ela fica frente a frente com o escudeiro.  

A elfa segura na gola de Ozires e ergue o olhar do garoto até o dela. Ozires sente seu coração acelerar, suas pernas vacilarem e seu corpo tremer.  

— V-VA... — Ozires sentia que poderia desmaiar.  

Com a outra mão, Valavë segura a calça de Ozires, acima da virilha. O olhar dela se torna um sorriso e, sem nem um aviso, a guerreira ergue o corpo Ozires a cima de sua cabeça e o lança no meio do lago.  

— Muaaahahaha! — Valavë gargalha. — Achou que ia ficar sem essa delicia de água? Achou errado! — A elfa apertava a barriga enquanto ria.  

 

No lago, tudo estava calmo.  

 

— Ozi? — A elfa entra no lago e espera por algum movimento que nunca veio. — Ozires!! 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Cronicas de Arcadia" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.