Filhos de Aço escrita por arc4dex


Capítulo 4
Retorno




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—Vocês fizeram um massacre... - Jake diz impressionado, quando saiu da fábrica. - Vieram só os dois?

—Sim. - Digo caminhando lentamente. Olho para Sasha e vejo sua expressão séria e cansada. Seguro em seu ombro e a chacoalho de leve. - Que orgulho de minha aprendiz! Até agora a pouco, ela não havia matado ninguém. E veja só... - Estendo o braço mostrando o campo de batalha. - E ela nem vomitou.

A Alferes esfregou sua nuca e tentou disfarçar um sorriso meio orgulhoso.

—Como estão meus pais? - Jake pergunta relutante.

—Seu pai esta meio...-Procuro uma palavra que descreva o estado do homem. - Decepcionado com você. - O jovem faz uma careta ao ouvir isso. - Sua mãe está bastante preocupada. Porém, os dois irão ficar felizes em vê-lo de novo. - Jake pareceu um pouco feliz em ouvir a ultima parte.

—Mas Jake, o que você quis fazer afinal? - Foi a vez de Sasha perguntar.

—É verdade. - Eu me junto a ela. - Essa talvez foi a coisa mais idiota que você fará na vida. - Ele voltou a fazer a careta de decepção. - Reconheço que você teve que ter coragem. Coragem para fazer uma idiotice...

—Eu queria mantê-los longe de minha família – Ele diz cabisbaixo – Slag disse que só iria ouvir o que eu tenho a dizer se eu trouxesse o objeto mais valioso da minha fazenda. Então, eu fui lá e... Ah merda...- Jake interrompe a caminhada batendo a palma da mão em sua testa.

—O que? - Eu pergunto parando de andar junto com ele.

—A espada de meu pai... Slag caiu na lava junto com ela!

Eu e a Alferes soltamos um "PUTS!" Repentino. Assim como aconteceu comigo quando passei alguns meses ao lado de Danse, a convivência ao meu lado começou a afetar o linguajar de Sasha com "palavras de baixo calão", como o paladino se referia.

—Eu não vi espada nem uma. - Digo num tom brincalhão. - E você Alferes?

—Espada!? - Ela diz com a mão no peito como se estivesse defendendo-se de uma acusação. - Nunca nem vi...

Olhamos para Jake para ver se ele havia entendido o que estava para acontecer. O jovem ri com nossa encenação.

—Slag sumiu com ela logo após eu ter entregado a ele. Talvez esteja escondida na fábrica. Talvez...

Ficamos satisfeitos com sua resposta e retornamos a caminhar em direção a fazenda dele.

O primeiro a me ver irromper o bosque foi Abraham. Ele estava segurando sua enxada que deixou cair ao me ver.

—Meu Deus! - Ele disse correndo em minha direção. - Tem uma pessoa viva dentro dessa coisa?

Paro de andar pensando na manhã que tive. Lembro que não havia avaliado o dano que a armadura sofreu durante a batalha. Provavelmente, ela estava destruída.

—Jake... - Abraham tentou fazer uma cara zangada quando seu filho e Sasha saíram do bosque e passaram por mim, mas a expressão de alivio foi maior.

Ele foi até seu filho e o abraçou com força. Abigail passou por mim correndo e foi até onde os dois estavam e se juntou a um abraço de família. Os três começaram a chorar.

Aproveitei a ocasião para sair da armadura. Olho rapidamente para ela e vejo dezenas de furos ainda com os projeteis cravados no peitoral e nas pernas dela. O capacete possuía vários arranhões onde as balas ricochetearam e alguns amassados. Além de marcas de queimado por todo corpo e uma fenda no braço esquerdo. Quase como se nunca estivesse ali, minha queimadura começa a arder. Olho para a ferida e vejo exatamente onde a espada tocou, partindo não muito fundo e esturricando a pele.

—Obrigada! Muito obrigada! - Abigail salta em direção a Sasha abraçando-a e enchendo a Alferes de beijos. - Vocês são dois anjos! Sim, anjos!

—Não foi nada de mais, Sen[...] - Tento dizer, mas ela me interrompeu.

—Minha nossa! Essa ferida está feia. -  Ela diz segurando meu braço. - Venha, vou fazer um curativo agora! - Ela diz me arrastando para a residência.

...

Ficamos mais de duas horas na fazenda dos Flinch. Abigail tratou minha ferida com uma pasta que, acredito eu, iria curar a queimadura. Fizemos uma refeição bastante farta. Toda atenção da mesa estava primeiramente direcionada a Sasha. Abraham e Abigail ficaram admirados com a idade e a bravura da jovem. Depois, o foco foi Jake.

O jovem disse que os poucos dias que ele passou junto aos forjadores, ele ajudou algumas pessoas a fugirem e outras a evitarem os ataques de Slag. Aos poucos, ele foi ganhando a admiração do pai. Quase que espontaneamente, o jovem muda de assunto.

—Quanto anos você tem? - Ele pergunta olhando para mim.

"Vinte e um"/"Dezesseis" eu e Sasha dizemos ao mesmo tempo. Vejo de relance ela olhar rapidamente para mim e disfarçar a surpresa. Os anos não foram muito bondosos comigo.

—B-bem senhor Ronnan... - Abraham começa a falar meio nervoso. - Quero lhe entregar isso. - Ele estende uma caixa, que ele havia trazido e colocado embaixo da mesa discretamente. - São quase tudo de valor que nós temos. Nossa forma de agradecer por terem trazido nosso filho de volta e acabado com aquelas escorias.

—Não fizemos isso só pelo senhor, Abraham. - Digo empurrando a caixa de volta. - Fizemos isso por todos nós. Pela Comunidade. - Digo levantando-me da mesa e apanhando minha mochila. - Quero que a família Flinch fiquem com isso.

Retiro a bandeira azul dos Minutemens de dentro da mochila e estendo ela para que todos veja seu brasão. Um rifle cruzado a um raio. Vi nos olhos de Abraham que ele reconhecia a bandeira de outras épocas.

—Vamos resgatar união da Comunidade. O povo, os Minutemens e a Irmandade. Juntos, essa cidade será o lugar em que nossos filhos viveram em paz.

—Isso você nem precisa pedir. – O homem disse. - Será mais do que um prazer ajudarmos, com o que pudermos.

—Como eu faço para me tornar um minutemen? - Jake pergunta empolgado. A mãe dele da um tapa em sua nuca.

—Vocês já são. - Digo dobrando a bandeira.- Bem, quase. Precisa que alguém vá até o forte e registra sua fazenda.

—Faremos isso o quanto antes. - Ele diz.

Jogamos conversa fora por mais algum tempo. Abigail me deu um pote de remédio para queimadura antes de irmos embora. Por fim, a Senhora Flinch abraçou eu e a Alferes, Abraham e Jake apertaram nossas mãos e fomos embora por volta das dezessete horas.

Andamos alguns quilômetros em um silencio agradável. Com sensação de "missão cumprida". Olho para Sasha e noto que ela esta sorridente dês de que saímos da fazendo dos Flinch.

— Por que você está com esse sorriso no rosto Alferes? Está carente? Quer um abraço? – o sorriso dela se transforma em riso. – Sabe, Joseph iria gostar de você. Na verdade, ele iria gostar da irmandade...

—E onde ele está agora?  - ela pergunta com tom de interesse.

—Ele se meteu em alguns problemas no passado. Agora, só está enrolado o quanto pode.

—E como vocês pretendem desenrolar esse problema?

—Com duas Armaduras de Combate, duas Mingun e várias granadas.

—Vocês da Comunidade gostam de fazer uns massacres, não é?

Nós gargalhamos com vontade.

 Eu não lembro no que estava pensando no momento que eu vi Sasha cair. Estávamos rindo num momento é no outro, tudo ficou lento e gelado. Não havia som. A Alferes estava caída, com cara de espanto. Senti algo bater na armadura enquanto eu tentava entender o que aconteceu. Eu vi sangue sair de seu tórax. Larguei minha arma e a segurei no colo. Comecei a escutar os disparos e a sentir o tiros acertarem minhas costas. Corri até a traseira de um caminhão. Eu sentei ela no chão e ela começou a gemer e se contorcer.

—Sasha! – Eu tentei fazer com que ela olhasse para mim e parasse de pensar na ferida. Sangue escorria por um orifício em seu colete, próximo ao coração. Segurei sua nuca e a fiz olhar para mim. – Segure a pistola! – tiro a arma de seu coldre e coloco na mão dela. A alferes deu sinal de que ia desmaiar. Sua pupila dilatou e seu corpo pendeu para o lado. Eu a chacoalhei -  Por favor, não desmaie!

Apanhei o machado ao lado dela e corri em direção ao primeiro inimigo que estava no meio da rua. Não passava de um arruaceiro segurando um pedaço de ferro. Bastou atingir com um golpe lateral para que ele caísse sem seu braço. Haviam dois outros vindo armados e disparando com metralhadoras improvisadas. Outro vagabundo a minha esquerda, no alto de um morro paralelo a rua, jogou uma granada em minha direção. Eu a rebati com um tapa, na direção dos outros dois. Porém, ela explodido logo em seguida me jogando para o chão.

 Eu me levanto com dificuldade. Noto que as duas pessoas que corriam em minha direção estavam em um estado muito pior que o meu. Vejo que partes dos braços de minha armadura estavam faltando. O inimigo mais distante estava disparando rajadas, errando quase todos os disparos, com minha metralhadora. Corri em direção a ele ignorando os tiros. Vendo eu me aproximar, o homem tropeça e cai no chão. Ele tenta se rastejar mas eu o seguro pelas duas pernas. Como se ele fosse um boneco, realizo um movimento de arco, com meus braços, por cima de minha cabeça e atinjo o corpo dele contra solo. Repito o movimento mais uma vez. Vejo sangue sair de seu olhos e ouvidos. Seu corpo entra em convulsão e eu o largo.

Volto correndo para onde Sasha estava. Encontro-a tremendo segurando a pistola com as duas mãos. Ela ergue o olhar cansado para mim, fecha os olhos e cai no chão. Eu visto a mochila, apanho a pistola e o rifle, pego ela no colo e começo a correr em direção ao esconderijo.

...

Quando chego no Bunker, arrebento os dois cadeados com a mão e entro rapidamente. Derrubo o computador que estava na mesa e deito Sasha em cima dela. Vou até a porta e tranco-a. Coloco a mochila e a arma no chão e saio da armadura. Vou até a Alferes e verifico seus sinais vitais. Ela tinha pulso fraco e respirava lentamente. Tiro o colete dela e vou até a mochila a procura de uma bolsa de primeiros socorros.

Corto a camiseta de Sasha utilizando uma tesoura. Depois, limpo toda a área do sangramento com uma gaze. Vejo que o projétil não estava muito fundo. Uso álcool para esterilização de minha mão e o alicate antes de retirar a bala. O ferimento não foi profundo o suficiente para atingir o coração dela. Porém, Sasha havia perdido muito sangue. Após isso, eu costuro o ferimento em seu tórax e aplico um Stimpak direto em sua veia.

Deixando os equipamentos para trás, eu desço o elevador com Sasha em meu colo. Chegando ao subsolo, ignoro os lêisers vou até o dormitório e deixo ela repousar sobre a cama.

Não havia mais nada a fazer. Ela sobreviveria. Mesmo assim, ela precisa de um médico de verdade.

Faço todo o caminho de volta até a entrada do bunker e trago meus equipamentos para baixo. Depois de andar por muito tempo em círculos em volta da mesa da cozinha, decido que seria melhor eu começar a escrever este relatório...

...

Sasha acordou após quase três horas. A primeira coisa que ela me perguntou foi "Quem fez essa costura?" Apontando para o local do ferimento, agora, embaixo de uma camiseta.

—Fui eu. - Respondi um preocupado. – Ficou ruim? Minhas mãos estavam tremendo...

—Mais ou menos. Mas, o que me surpreende é o fato de você saber primeiro socorros. - Ela diz caminhado até a mesa e puxando uma cadeira para se sentar.

—Aqui na comunidade é assim: Ou sabe de tudo, ou vê os amigos morrerem.

—Você estava com medo que eu morresse?

—Lógico! - Respondo ainda digitando o relatório. Eu estava no trecho em que ela levou um tiro. - Se você morresse, Elder Maxson me jogaria do alto da Prydwen.

Sasha começa a rir, mas para segurando o peito.

—Você ainda precisara de um médico de verdade. Não esterilizei muito bem essa ferida. Fiz tudo às pressas.

 Houve silencio por alguns segundos. Apenas o som de minha digitadas no teclado.

—O que você está digitando? - Sasha pergunta debruçada sobre a mesa.

—O relatório que terei que entregar amanhã.

—Geralmente, o Capitão pede apenas para contar como foi a experiência.

—Estou digitando para organizar melhor as memórias do que aconteceu. Além disso, é bom ficar registrado e entregar algo mais detalhado.

—Sabe qual foi a melhor parte desse treinamento? - Eu paro de digitar e me viro para escuta-la. A Alferes ergue a cabeça e olha para mim. - Foi divertido. Sem ordens, sem preção. Por muito tempo eu não me sentia livre para fazer algumas escolhas, dizer coisas, tomar minhas decisões ou sentir qual era meu real objetivo. Conversamos bastante e agora, sei tanto sobre esse lugar quanto que qualquer outro Paladino que já operou aqui antes. Talvez tanto quanto Brandis.

—Bem... Querendo ou não, vocês são crianças. Até vocês tem opiniões. Eu não sei como foi a sua vida até aqui. Mas, espero que você a veja de forma diferente daqui para frente.

—Espero realizar outro treinamento com você. - Eu ia falar, mas ela me interrompeu. - Na verdade, espero fazer mais missões como essa que fizemos hoje.

—Será uma questão de tempo para que vocês sejam promovidos. E a respeito do treinamento, caso eu não seja fuzilado, preso, rebaixado ou expulso, talvez eles nunca mais colocaram eu para treinar Alferes.

—Não seja duro com você mesmo. Muito progresso foi feito hoje. Eles terão que discutir muito sobre seu futuro.

—É... talvez. Mas, vamos falar do agora... Esta com fome?

—Morrendo...- Ela tenta rir com a própria piada. - Digo, sim.

Preparo um rango com legumes e carne de Brahim em uma panela. Uma espécie de sopão. Comemos e jogamos conversa fora. A Alferes foi se deitar antes de mim. Combinamos de partir por volta das sete horas da manhã. Eu iria carregar ela por boa parte do caminho. Depois disso, anunciaríamos o sucesso de nossa missão para o Capitão Kells.

 E eu continuo digitando meu relatório até tarde da noite. Espero voltar para contar essa história para o MacReady e para o Ezra.

...

Fazem dois dias que Ronnan digitou isso. Eu não sei como começar essa história. Nem como escreve-la. Eu lembro de estar na Prydwen. Lembro-me de ter falado com o Capitão e com o Elder. Lembro de ter me despedido de Ronnan com um "Ad Victorya!" Antes de eu partir para uma missão não programada. Lembro-me de estar em um Vertibird com outros alferes. Lembro-me de um clarão e de tudo rodar. Quando eu sai me arrastando por de baixo dos escombros da nave, um Cavaleiro estava em combate corpo a corpo contra dois Super Mutantes. Apesar dele estar utilizando Armadura, ele não teria chances. Penso em ajuda-lo. Mas as únicas coisas que eu tinha comigo era um sinalizador e o papel que Ronnan me deu. Só me restou correr. Tudo estava girando e borrado. Havia tiros e gritos para todo o lado. Era o inferno. A única luz era o caminho que me parecia familiar.

Quando eu cheguei ao Bunker, percebi que minha cabeça sangrava. Olhei para traz e não vi a Prydwen. Só uma cortina de fumaça no local onde ela deveria estar. Apertei os olhos, dei tapas em minha cara, mas isso não mudou nada. Aquilo foi indescritivelmente triste. Era minha casa, minha família.

Entro no bunker utilizando o código do novo cadeado. Não havia ninguém dentro. O papel de Ronnan dizia que os lêisers não ativavam nem uma armadilha ainda e que eu era bem-vinda no esconderijo deles. Fazem dois dias que eu estou aqui. E nem sinal de Ronnan.

Ronnan está morto...


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Notas finais do capítulo

Gostei de escrever essa história. Ela surgiu do nada em minha cabeça e passei três dias escrevendo ela.



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