A tempestade me pegou assim que eu saí do local da caçada. Começou como uma chuva leve, que rapidamente se transformou em tempestade. 

Era difícil enxergar e impossível farejar qualquer coisa. Mas eu conhecia bem o caminho até o acampamento.

Muitos raios estavam caindo e eu comecei a me preocupar se Kelsey estava bem.

Quando cheguei, vi que a barraca estava fechada. Um raio caiu próximo dali, iluminando a clareira e eu pude ver Kelsey lá dentro. Ela estava dormindo.        

Aproximei-me e, apesar do barulho da chuva e dos trovões, ouvi a voz de Kelsey:

— Não. Não! Ren, volte! Por favor, volte!

Pensei que ela estava acordada e imaginei que estava com medo

— Não! Não pode ser! Não pode ser! Ela dizia.

Percebi que ela estava chorando. Me transformei em homem e entrei na barraca. 

O rosto de Kelsey estava molhado de lágrimas, o corpo dela se balançava descontroladamente. Parecia estar tendo um pesadelo. 

Coloquei as mãos sobre seus ombros, mas ela não acordou. Eu a segurei em meus braços e comecei a embalá-la lentamente, sussurrando palavras reconfortantes em seu ouvido enquanto a abraçava forte.

Outro raio caiu próximo dali, iluminado a barraca. Pude ver seu rosto. Ela abriu os olhos, que estavam vermelhos. 

Kelsey me olhou e falou meu nome.  Passei meu polegar pelo seu rosto, enxugando suas lágrimas. 

— Shh, Kelsey. Eu estou aqui. Não vou deixá-la, priya. Mein yaha hoon.

Ela jogou os braços ao redor do meu pescoço e me abraçou forte enquanto soluçava. Eu a puxei para o meu colo e fiquei acariciando os cabelos dela, a fim de acalmá-la. 

— Quietinha agora. Mein aapka raksha karunga. Eu estou aqui. Não vou deixar nada acontecer com você, priyatama.

 Eu queria cuidar dela, queria acalmá-la. Comecei a falar com ela na minha língua, porque assim eu conseguia me expressar melhor. Eu lhe dizia o quanto a amava e tudo o que ela representava pra mim. E tudo o que eu estava disposto a fazer por ela.

Estas palavras que saiam da minha boca eram tão sinceras e naturais que me fizeram perceber a grandeza dos meus sentimentos. 

Eu a tinha levado até àquele lugar com o objetivo claro de dizer a ela que a amava e de tê-la em meus braços.  Meu objetivo maior era beijá-la. 

Até aquele momento, eu  não tinha percebido que o meu amor por ela era maior do que um simples beijo, era mais significativo do que qualquer toque. Kelsey era a coisa mais importante na minha vida.

Era como se eu tivesse vivido todos esses anos apenas para encontrá-la. E nem mesmo viver como homem ou quebrar a maldição faria sentido se ela não estivesse comigo. Se eu tivesse que entregar a minha própria vida por ela, eu o faria.

Então pensei o quanto fui tolo quando ela rejeitou meu beijo. Eu não estava pronto para tê-lo. Quem sabe o que poderia ter acontecido se ela correspondesse ao meu desejo naquele momento. 

Kelsey estava certa e agora eu sabia. Eu estava pronto para recebê-la da forma que ela quisesse.

Ela continuava abraçada a mim e meu coração estava sendo rasgado. Todas as minhas emoções estavam transbordando.

Então comecei a sentir os tremores através do meu corpo. Meu tempo havia acabado. Antes de me transformar, Kelsey sussurrou no meu ouvido:

— Obrigada por estar aqui. Fico feliz por você fazer parte da minha vida. Por favor, fique na barraca comigo. Não há razão para você dormir lá fora na chuva.

Ela se deitou, cobrindo-se com a colcha de retalhos. Eu a observava enquanto um lágrima de emoção descia pelo meu rosto. 

Transformei-me em tigre e deitei-me a seu lado. 

Ela se aconchegou em minhas costas e finalmente dormiu em paz.