Atenciosamente, Crane escrita por Jess_Banks


Capítulo 5
Capítulo 5


Notas iniciais do capítulo

Desculpem qualquer erro que tenha me escapado na hora de rever



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/758196/chapter/5

Eu não tomei um porre. Sinto que tomei uma surra. JP e eu passamos dos limites ou estamos desacostumados. Acho que são as duas coisas. Estamos desacostumados, mas também fomos longe demais virando o sábado na balada e termos passado a manhã de domingo ainda bebendo. Se eu disser que me lembro de tudo o que fizemos, por onde passamos e com quem nos esbarramos, estarei mentindo.

Dormi domingo a tarde toda e durante a madrugada orquestrei uma sinfonia de vômito, indo da cama para o banheiro, até por fim ter dado uso ao saco-cama que tinha enfiado no armário, atirando-o no chão do banheiro e dormindo o resto da noite ali.

Na segunda-feira de manhã a realidade do que havia aprontado bateu com força.

— A minha mãe se orgulha tanto das minhas notas e principalmente dos trabalhos de literatura que sempre superam minhas expectativas. Ela vai ficar arrasada, cara.

Estou indo à pé para o colégio para ver se consigo expelir pelo suor o que resta de álcool no meu organismo. Trouxe a maior garrafa de água que encontrei em casa, uma que mamãe comprou quando ainda ia para academia.

— Não que eu não esteja chateada por ter ido para o centro de Nova Iorque e não ter me convidado, mas eu vou te safar dessa. E sua mãe não vai nem precisar de saber ou ficar desiludida.

— Muito obrigada, Laura. E você tem razão. O que o coração não sente os olhos... Não. Longe dos olhos distante do coração.

— O que? — ela está rindo alto do outro lado da linha e eu estou a ponto de cuspir meu coração boca fora por estar caminhando e falando ao celular.

— Tenho de ir. Te vejo no colégio.

 

— Certeza que não estou fedendo à álcool?

— Não. Seu cabelo está cheiroso, é tudo que consigo sentir. — Eva, garante.

Estamos reunidas à volta do cacifo de Laura que está dando os últimos remates no meu trabalho incompleto. Cassie é a primeira a se afastar para não se atrasar para a aula de Química no segundo andar.

Laura jurou que Crane jamais daria pela diferença dos dois últimos parágrafos não terem sido escritos por mim. Não me restou outra opção a não ser confiar. Ocupei meu lugar na sala de aula, bebendo a segunda dose da garrafa de água. Logo estava aflita para fazer xixi e um tanto nauseada com tanta água no estômago.

— Senhor Crane. — interrompi seu discurso, encarando-o pela primeira vez desde o princípio da aula — Não estou me sentindo muito bem. Posso ir ao banheiro?

Ter aqueles olhos azuis me estudando fez meu estômago embrulhar ainda mais de nervosismo.

— Pode ir.

 

Molhei o rosto com água fria uma poção de vezes até sentir que conseguiria manter o café da manhã no estômago. Toda aquela água até parecia estar aos poucos fazendo efeito ao me trazer de volta ao meu estado normal. Respirei fundo, achando que meus olhos pareciam mais vivos e não tão abatidos. Saí do banheiro, tomando um susto ao ver Crane parado com os braços cruzados ao peito.

— Você está de ressaca.

— Hum...não.

— Não foi uma pergunta. 

Passa por mim, deixando um rastro daquele perfume misturado ao seu cheiro, numa combinação tão gostosa que é irritante.

— Vem cá. — eu devo estar muito necessitada porque a forma como ele disse aquilo fez meu corpo desejar coisas.

— Para que?

— Quero conversar com você.

— No banheiro das garotas? Isso não vai pegar mal caso uma aluna entre aí?

— Estamos a meio do horário de aulas. Seria  preciso um mau estar muito intenso para se conseguir autorização para se ausentar da sala de aula e vir ao banheiro.

Meio a contragosto entrei no banheiro e me encostei à porta, mantendo distância.

— Como está se sentindo? — sua mão tocou meu rosto, como se me examinasse com uma visão raio-x.

— Estou ótima. — me afastei do seu toque — O que quer conversar comigo, senhor Crane?

— O que aconteceu naquele noite.

— Que noite?

— Mira.

— Crane.

Ele ri, e eu detesto que ele o faça porque me desconcentra. Entretanto, tão rápido deixa de o fazer e seu rosto se fecha. O problema é ele conseguir ser bonito das duas formas.

Seus olhos azuis me esquadrinham, sua expressão não está mais tão carrancuda. Ele olha para mim, depois para baixo e para cima, resvalando as mãos pelos cabelos de forma bruta, como se estivesse se debatendo com algo. Seus bíceps estão praticamente à altura dos meus olhos e estou prestes a cair em um poço de distrações perversas quando Crane se pronuncia, anulando minha excitação.

— Aquilo não pode voltar a acontecer.

— Ok.

— Ok?

— Sim. Você quer dizer que a falta de acontecimento não pode voltar a acontecer. Por mim tudo bem.

— Não me provoca, garota.

— Estou sendo sincera. Você não fez nada. Talvez se tivesse bebido a vodka ao invés de despeja-la na pia teria sido diferente.

— Como é?

— Coragem líquida, Crane. Agora se me der licença eu preciso voltar para a sua aula que é onde você deveria estar.

A porta abriu míseros centímetros antes de voltar a ser fechada por ele.

— O que está querendo me dizer? Não está chateada pelo que aconteceu e sim pelo que não aconteceu? E está me culpando por isso.

— Por que você não me diz logo o que você está pensando?

— Você sabe.

Ele tanto parece temer sustentar meu olhar como ao mesmo tempo parece não ser capaz de desgrudar os olhos dos meus. E por mais estranho que pareça eu compreendo-o por estar sentindo o mesmo.

— Eu te assustei? Se sentiu assediada?

— O que? Não. — minha voz não deixa dúvidas de que estou pasma — É isso que você pensa?

— Eu não sei o que passa pela sua cabeça. Isso nunca me aconteceu. — bufou, pressionando as têmporas com a mão sobre o rosto. 

Me aproximei, tocando seu braço por cima do tecido fino da camisa branca.

— Você não me assustou e eu não me senti assediada. Eu só pensei que... — dei de ombros, rindo por puro nervosismo e desconforto — Não importa. Eu vou indo. — sua mão prendeu minha cintura, me mantendo no lugar.

— Eu vou me arrepender disso. Mas que se dane.

Então sinto seus lábios encostarem de leve nos meus. Uma carícia e nada mais.

— Tão macia. — murmura com o polegar contornando com suavidade minha boca, entreabrindo-a.

Nesse momento me dou conta que estou arfando e tomo consciência do meu peito subindo e descendo. Crane umedece os próprios lábios antes de toca-los nos meus. Desta vez ele me beija, sem pressa, degustando. Foi só quando foi abrindo caminho e nossas línguas se tocaram que o beijo intensificou. Envolvi seu pescoço, colando meu corpo ao dele. Suas mãos caem da minha cintura para minhas coxas, apertando e quase me tirando do chão. Quando estou prestes a ficar sem ar sua boca desce pelo meu pescoço e sua barba curta arranha minha pele. Estremeci quando senti sua língua.

— Porra! — xingou baixinho ainda com o rosto escondido no meu pescoço.

O som estridente da campainha anunciando o término de um bloco de aulas está soando hoje mais alto do que nunca.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!