Quebrei minha casca escrita por Eduardo Marais


Capítulo 9
Incertezas




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/758107/chapter/9

Era bem cedo e Regina estava preparando o café, quando Marcus chega sem a menor cerimônia. Ela precisava lembrar-se de tirar-lhe as chaves de sua casa, porque aquilo estava incomodando. Mas como fazer isso sem ofender seu parceiro?

Marcus se aproxima dela e beija-lhe a nuca, mantendo seus braços em torno da cintura dela. Ele cheirava a álcool.

— Você passou a noite em um bar de novo?

— Fui dançar em uma boate e ver mulheres tirando as roupas. – ele cheira o pescoço dela. – Mas nenhuma delas me provoca o que sinto com seu cheiro.

— Acabei de acordar, Marcus. Preciso de cafeína.

— Não, meu homenzinho com vagina. Você precisa de meu corpo dentro do seu. – ele se afasta. – Vamos tomar um banho e fazer uma rodada de sexo.

Regina olha-o decepcionada. Não conseguia entender porque Marcus fazia questão de ser rude e cruel em seus comentários. Precisava pôr um ponto final naquele abuso que já durava vários anos. Não precisava dele! Não merecia isso e não queria mais isso!

— Vá para o distrito e estarei por lá em breve. Não quero ficar com você hoje.

— Por que não? Você nunca me rejeitou!

Ela espalma a mão contra o peito dele e faz força contrária.

— Caso você insista em querem me tocar, vou considerar um ato não consensual. E terei de denunciar você. Quer isso?

Uma expressão de espanto surge no rosto do policial. Não consensual? Regina o estava ameaçando de denunciá-lo por violação? O que era aquilo?

— De onde tirou essa ideia? Foram seus novos parceiros? O seu menino de ouro?

— Saia, Marcus. Vá para casa, faça uma boa limpeza em você e aproveite para marcar um horário em um laboratório para fazer exames sobre DST.

— DST? Do que você está falando? Sou um homem saudável!

— Você tem dois minutos para ir embora ou vou ficar muito brava.

Ele faz uma careta muito engraçada e abaixa os cantos da boca. Faz questão de ironizar a vontade da parceira e sai caminhando nas pontas dos pés, como se não quisesse fazer barulho.

Passava pouco das oito da manhã, quando Regina chega à delegacia. Seguira risca as recomendações de Lacey e Ruby, porque queria provocar a mesma inquietude que Yose tinha provocado nas pessoas. E consegue!

Ao entrar, é recebida com ovação, aplausos, assobios e expressões de espanto. Sua entrada triunfal! Mas tinha de tomar cuidado com os saltos, para não tropeçar ou torcer o tornozelo. Seria um “mico homérico”, um King Kong, caso acontecesse isso!

Finalmente conseguindo chegar a sua nova sala, encontra sua equipe reunida e espantada com sua nova estampa. Os olhares eram de pura admiração e encantamento.

— Palmas para mim! – ela se inclina para o lado e acha graça na salva de palmas que recebe.

— Tudo isso é para o Tropeço Adams? – ironiza Marcus, tentando esconder sua total admiração pela beleza exposta de sua parceira. Na verdade queria diminuí-la para que continuasse com sua estima em baixa. Era quase um prazer inconsciente dele, fazer aquilo.

— Tudo isso é para quem souber apreciar e conseguir me conquistar.

Yose, Akinnagbe e Ruby se entreolham, apreciando a segurança de sua líder. A policial retira seu terninho e o coloca no encosto de uma cadeira. Caminha até sua colega e olha os papéis sobre a mesa.

— Ruby, me dê uma boa notícia.

A morena ajeita uma mecha de cabelos atrás da orelha esfrega mãos, uma contra a outra.

— Conversei com uma estudiosa e soube que o símbolo da montanha é geralmente usado em tatuagens ou como logomarca de indivíduos que apresentam características de superioridade ou que se julgam mais sábios ou capazes que os demais. Pessoas que se consideram “os fora de série”. Pessoas que geralmente querem ostentar sua posição acima dos “comuns”, seja por habilidades físicas ou mentais. Alguns nem possuem tais habilidades, mas se enxergam como empreendedores vitoriosos.

Marcus franze a testa, sem conseguir tirar os olhos de cima de Regina. A mulher estava impressionante. O que havia acontecido para que ela sofresse aquela transformação? Para quem estaria oferecendo sua mudança? Diz:

— Posso afirmar que todas as pessoas que frequentam a boate podem ser descritas como “os fora de série”. Estão num patamar mais alto ou por dinheiro, poder ou apenas por status e isso pode ligar qualquer um ali dentro, ao uso do símbolo da montanha. Então há uma lista com apenas vinte e cinco nomes de mulheres e homens que se consideram “fora de série”. Isso não os ajuda em nada.

— Fora de série ou não, todos serão convocados a depor sobre os casos. – Regina olha o parceiro com desdém. - Cale a boca e ouça o que temos.

Ruby sorri continua:

— A Estudiosa também apostou no uso da montanha como símbolo de sobrepujar alguém e colocá-lo como inferior aos seus pés. Um pensamento de punição do menor por mau comportamento.

— É claro que todos os dançarinos daquele lugar têm mau comportamento! – Marcus acha graça. – Não é preciso ser um estudioso para saber que os mortos tinham ficha criminal pesada. Eles devem ter ofendido alguém e esse alguém os eliminou. Usou o ritual e a simbologia apenas para confundir as investigações. No fundo, todos os crimes devem ter cunho financeiro ou queima de arquivo. Vão por mim!

Todos fixam sua atenção no policial mais velho e ele ergue os ombros, como se estivesse explicando que tinha razão.

— Eu menti, por acaso? Desculpem-me por quebrar o encanto de sua investigação! Estarei trabalhando em coisas reais, caso precisem de alguma sanidade em seu conto de fadas. Bye!


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Quebrei minha casca" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.