Quebrei minha casca escrita por Eduardo Marais


Capítulo 11
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Na manhã seguinte, a equipe está reunida outra vez. Mas na sala de estar da casa de Regina e sem Marcus.

— Tenho algumas informações. – Ruby apanha um biscoito na bandeja. – Pesquisei e soube que montanha em japonês é Yama. Mas que esta expressão também pode ser usada como um nome para um código de conduta hindu.

— E esse código de conduta condena quem dança e tira as roupas? – Yose toca o aparelho em sua orelha.

Ruby entrega uma folha impressa para o colega.

— Código de conduta dentro de algo que chama Yoga Sutra. – Yose começa a ler o texto. – Os dez Yamas tradicionais...ouçam este: Shaucha, que exige comportamento casto, evasão de impurezas no corpo, mente e fala. 

— A pessoa criminosa usou o desenho para brincar conosco? Estamos divididos entre uma montanha e um código de ética. Mas algo é certo: a pessoa está tentando manipular as atenções e até criar simpatizantes. – Akinnagbe opina ao receber uma folha das mãos de Ruby. – Entretanto, pode ser que tudo isso seja apenas uma forma de despistar e o motivo das mortes não seja punição, mas acerto de contas, como sugeriu Marcus.

— E todo esse trabalho de enviar enigmas?

— Apenas para atrapalhar e desviar a atenção para o verdadeiro motivo, amigo.

Regina se larga no sofá. Estava desconsolada porque estavam correndo atrás do próprio rabo. O assassino estava rindo dela, neste momento, divertindo-se com sua incapacidade de decifrar sua assinatura.

— Vou trabalhar no passado dos mortos. Quero ver o que eles têm em comum. – Yose apanha seu computador e vai para um canto da sala, tocando a braço de Akinnagbe.

Rapidamente, Ruby salta para o sofá onde Regina estava sentada.

— Certo! O que houve na boate ontem? Quero detalhes!

— Hummm! Yose fez muito sucesso e quase foi devorado cru. As mulheres e alguns caras ficaram histéricos, urravam, babavam e se transformaram em verdadeiros ogros e ogras. Arrancariam os braços e pernas de Yose, caso conseguissem alcançá-lo em cima do palco.

— E ele dançou bem?

— Ele é perfeito e concentrado no que faz. – Regina sorri. – As pessoas de lá são dementes e encaram os dançarinos como matéria prima para o prazer pessoal. Por isso, não se importaram com as mortes. Nem demonstravam que dali de dentro, três rapazes tinham sido arrancados para a morte.

— Isso é horrível!

— São daquele tipo de ser humano que vê o outro ser humano como fonte de fornecimento de alguma coisa: prazer, órgãos, favores...são tarados, pedófilos, sádicos, maníacos...não são normais. – Regina olha para Yose. – E ele não é muito diferente disso: é demente também, porque ficou exibindo bolsas de sangue para vampiros.

— Bom, preciso sair um pouco porque tenho outro caso em andamento. Não se preocupe, porque vou investigar todos os nomes desta lista vip e depois começarei a fazer algumas visitas.

A policial sai da casa e deixa a sala silenciosa, embora Regina ainda estivesse ali. Os olhos dela se fixam nas costas do colega bonito que trabalhava totalmente absorto naquela tarefa. Seus músculos estavam relaxados e ele demonstrava tanta tranquilidade.Ela sorri ao flagrar-se admirando o contorno do corte de cabelos na nuca do homem. Por aquele detalhe, identifica seu lado vaidoso e cuidadoso.

Caso ele desligasse seu aparelho auditivo, estaria totalmente desconectado do mundo, exposto e frágil a quem viesse atacá-lo pelas costas.Fica observando os dois policiais em sua atividade e sorri ao perceber que tinham sintonia.

Akinnagbe o havia recebido de maneira tão completa, que pareciam velhos companheiros de longa data. O policial mais baixo pertencia ao grupo dos discriminados pela sociedade, por ter crescido em uma comunidade perigosa, violenta e sabia exatamente como Yose se sentia, a ponto de ter o interesse em adaptá-lo aos demais policiais, insensíveis, ogros, mas colegas de trabalho. Fica assim, olhando-os por um longo tempo.Regina decide ir até Yose e acompanhá-lo em sua tarefa.

Ao sentar-se na cadeira ao lado, recebe um sorriso largo e cheio de dentes. Quase um sorriso infantil. Yose era um homem de muitas expressões faciais e isso o tornava muito interessante.

— O que já conseguiram?

— Todas as vítimas tinham ficha criminal. – Akinnagbe aponta para a tela do computador. – Usei nossa senha para acessar o arquivo da delegacia, daqui. A vítima um é Francisco Mendonza, preso por tráfico, prostituição e falsificação. Foi solto em condicional e contratado pela boate; a vítima dois é Carlos Ramon, condenado por extorsão, tráfico e contrabando de peças de carros. Liberado em condicional e contratado por Manson; vítima três é Luke Karpa, preso por tráfico, envolvimento com mercado negro de vídeos pornôs e aliciação de menores.

— E quem é o juiz que tem um coração tão grande?

— Anadette Saradon. Ela assina todos os processos de soltura das vítimas. Veja as fotos deles. – Yose mostra uma folha impressa.- Todos possuem as características físicas semelhantes. Por isso, Manson quase engoliu Yose com roupas e tudo. São selecionados no presídio pela aparência física e são libertados para o trabalho na boate.

Os três riem. Regina mantém seus olhos presos no perfil do colega.

— Vamos falar de trabalho.  – Yose deposita a folha em uma pasta. - Quer que eu vá conversar com a juíza?

— Não. Ela conhece Manson e deve ser uma das clientes da boate. Caso ela o veja, seu disfarce estará perdido. Pedirei para que Akinaggbe fale com ela e tente descobrir porque os detentos foram beneficiados. – ela segura o braço do policial corpulento. - Quero que vista roupas mais elegantes para ir ao tribunal. Lembre-se de que você estará conversando com uma suspeita em potencial, mas jamais deixe que isso fique evidente.

— Serei um cavalheiro, chefa! – Akinnagbe faz uma careta sedutora e engraçada.

Naquele mesmo dia, quando Regina e Yose chegam à delegacia, encontram Marcus completamente transtornado e com os olhos vermelhos. Era a primeira vez em tantos anos, que o homenzarrão estava demonstrando alguma forma de emoção. Ele havia chorado? Sim! Ele ainda estava chorando de raiva!

— O que houve? – Regina toca o ombro do amigo e recebe um olhar furioso e triste.

— Perdi um dos garotos. O traficante que está querendo dominar a área, mandou matar o menino porque ele se recusou a ser um soldadinho do tráfico. O corpo do menino foi pendurado no alambrado da quadra de basquete, como recado para mim e para quem está combatendo o crescimento do domínio do filho da puta. – ele funga e passa as costas da mão sobre os olhos. – O infeliz quer marcar território e deixou muita gente assustada.

— E família do garoto?

— Foi expulsa do local. O apartamento deles virou um QG dos traficantes.

— Posso ajudar em alguma coisa? – Yose fala mansamente, tentando ser simpático.

Marcus olha para o rapaz como se outra cabeça estivesse nascendo em cima de seu ombro. Faz uma careta de desdém e rosna num sorriso de fera.

— E o que o que o “surdinho sexy” pretende fazer? – ele praticamente grita. - Subir na mesa, dançar e tirar a roupa para o traficante? Vá em frente e fique à vontade! Quem sabe se o seu rabo grande funcione melhor do que minhas armas!

As sobrancelhas do policial mais jovem levantam-se rapidamente. Arregala os olhos, horrorizado com o que o policial havia lhe dito.

— Não precisa ser rude com ele, Marcus.

— Pro inferno com as solidariedades! Eu quero ação e não consigo apoio para entrar naquele gueto! Mais meninos irão morrer caso não cedam! E o traficante não é um dos maiores! É um caga merdeira!

Regina observa Yose se afastar calado. O rapaz estava se contendo para evitar discussões desnecessárias, mas Marcus estava encostando o nariz na linha demarcatória do respeito ao entorno dos outros.

Ocupada em outro caso, horas depois, Regina sai em diligência e efetua algumas prisões. Não poderia dedicar-se exclusivamente às mortes dos dançarinos, porque o dinamismo da cidade impedia isso. Mas precisava ajudar Marcus naquela batalha contra aquele pequeno traficante que estava criando um inferno naquela comunidade. Era pequeno, mas estava causando uma celeuma, como se fosse um vírus atacando um organismo saudável. E vírus também são pequeninos, mas são perigosos.


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