Sobre Nós Dois escrita por calivillas


Capítulo 13
Desafiadora




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/757968/chapter/13

 

Valverde, 21 de março de 2017

 Carlos chegou à casa do Hernández na sala impecável, tentou não pisar nos caros tapetes orientais, o que era praticamente impossível, pois estava claro que eles gostavam de ostentação.

— Onde esteve, Carlos? – Roberta deu um pulo do sofá onde estava sentada e veio na direção dele, mas parou a pouco passos com cara de nojo. — O que houve com você?

— Eu falei, fui andar e a chuva me pegou no meio do caminho. Vou tomar um banho – anunciou já subindo a escada, que Regis descia.

— O que houve com você? – Regis indagou com uma expressão surpresa.

— A chuva – Carlos respondeu e continuou o seu caminho para o andar superior.

O rapaz interrogou a prima com o olhar.

— Ele foi dar uma volta, estava entediado – ela respondeu, dando de ombros.

— Isso é mal! – Regi franziu a testa.

— Como assim mal?

— Ele está menos de um mês aqui e já se sente entediado, então, como pensa em trazê-lo e mantê-lo aqui nessa casa, após o casamento, pelo resto da vida?

 — Já conversamos sobre isso.

— E ele, o que diz?

— Ele não quer. Não quer deixa o emprego.

— É justo.

— Justo?! E eu vou ter que largar a minha família?!

— Você sabia disso, quando começaram a namorar.

— Mas, eu sempre achei que poderia fazê-lo mudar de ideia, assim como o convenci a casar comigo.

Ricardo entrou na sala, com ar taciturno, foi direto para o bar e se serviu com uma boa dose de uísque 18 anos, tomando um longo gole.

— O que faz em casa tão cedo hoje, pai? – Roberta ficou desconfiada, pois seu pai nunca estava em casa àquela hora do dia.

— Nada, não posso desfrutar da companhia da minha família, durante o almoço?

— Sim, claro que pode — a garota deu de ombros.

— Onde está sua mãe?

— Lá, em cima, no quarto, com mais uma das suas crises de enxaqueca, ela não vai almoçar conosco.

— E seu noivo?

— Foi tomar um banho, ele saiu para andar e a chuva o pegou bem no meio do caminho – Roberta contou, achando aquilo engraçado.

— Regis, por que não traz sua namorada para jantar aqui em casa, hoje? – Ricardo falou, tomando mais um longo gole.

— Não sei se ela aceitaria, tio.

— Acho que ela aceitaria, se eu a convidasse. Afinal, éramos amigas, até ela ir embora – Roberta interveio.

— Ótimo, Roberta. Faça isso. Vou ver como sua mãe está – avisou, antes de subir as escadas.

— Por que ele quer Lara aqui? – Regis perguntou a prima, assim que o tio sumiu no alto da escada.

— Não, sei – Roberta deu de ombros. – Ele sempre gostou muito de Lara, como uma filha, eu cheguei a ter ciúmes em uma época. Ele ficou muito chateado quando ela fugiu, dizendo que estava desperdiçando a sua vida, em uma aventura sem sentido.

— Mas, parece que ele estava errado, pois Lara está muito bem, atualmente – Regis rebateu.

— De quem estão falando? – Carlos surgiu, descendo as escadas.

— De Lara. Papai pediu para que a convidássemos para o jantar.

Para Ricardo, entrar no quarto da esposa, mergulhado na penumbra, era como entrar em um santuário, poucas vezes, transpusera aquela porta, desde que passaram a dormir separados, com a desculpa que roncava muito atrapalhando o sono de Joana, mas, na verdade, não tinha mais nenhum interesse por ela, com seu corpo de matrona e seios caídos, principalmente, depois que ela retalhou tudo com aquelas cirurgias, tentando recuperar a aparência da juventude a muito perdida. Ele sempre preferiu as meninas-moças que desabrochavam na feminilidade, com a pele fresca e macia e sua flor rósea pura e intacta. No entanto, o casamento era sagrado, precisa respeitar e honrar sua esposa. Depois de tanto tempo, estava mais tranquilo, querendo esquecer dos anjos em flor, mas, então, Lara voltou para o atormentar, sentia a carne tremer quando estava junto àquela mulher, podia fazer qualquer coisa para tê-la de novo nos braços, sentir o seu cheiro, o seu sabor.

 — Ricardo? – Joana murmurou, ainda de olhos fechados.

— Como está, Joana?

— Mal, podem almoçar sem mim.

 — Tudo bem – Ele se virou e foi embora.

Depois do banho e do almoço, Lara colocou o pai para dormir e foi ajudar a mãe na cozinha.

 — Mãe, será que o pai soube algo a respeito de mim e Ricardo? – perguntou, com cautela, quando secava e guardava a louça que sua mãe lavava.

— Não, tenho certeza, que não – a outra mulher respondeu, parando o que fazia e olhando para a filha, assustada.

— Como pode saber? E se alguém fez algum comentário?

— Mas, quem? Quase ninguém sabia dessa história. Acho que nunca saberemos – a mulher mais velha respondeu, desanimada.

 — Talvez, se eu tentasse descobrir.

— Para quê, Lara? O que aconteceu não tem volta, daqui a pouco, você retomará a sua vida longe daqui, então, tente esquecer tudo o que passou.

— Não é tão fácil assim. Eu nunca me esqueci.

O telefone de Lara tocou, era Regis, pensou, se não seria melhor desligar e esquecer essa história de falso namoro, mas, enxergou aí, uma oportunidade, ínfima que fosse, mas poderia tentar. Lara atendeu, eles têm um rápido diálogo, por fim, desligou, com um semblante duro.

— Eu fui convidada para jantar na casa dos Hernández – avisa à mãe.

— E você aceitou?

— Por que não aceitaria? – Lara falou em um tom falsamente casual.

— Porque está se atirando direto na boca do lobo, garota.

— Não sou mais uma garotinha inocente para cair na conversa de Ricardo Hernández, outra vez. Além do mais, estou muito velha para o gosto dele.

— Não brinque com essas coisas. Ou você acha que ele aceitou, você ter fugido daquela maneira dele. Um homem como Ricardo Hernández não está acostumado a perder.

— Não se preocupe, mãe. Eu sei me cuidar.

— Espero que sim.

Quando o carro de Regis estacionou na frente da casa de Lara, ela já estava pronta, vestida para impressionar.

 — Você vai assim? Não acha que exagerou um pouco? – perguntou a mãe, receosa, quando passou pela sala.

— Não, mãe. Afinal, vou jantar na casa do homem mais importante da cidade e com o meu namorado – rebateu com um sorrio sarcástico. O que ela não disse que se vestira assim para impressionar o outro homem, que estaria ali.

Durante o jantar, algumas pressentia-se no ar toda falsidade ali presente, já que todos ali tinham os seus segredos, alguns compartilhados, outros não, assim, mantinham um clima de extrema gentileza, querendo disfarçar o que se passava nos seus corações.

— Então, diga nos, exatamente, qual é seu trabalho, Lara – Joana perguntou, estava muito bem-disposta, depois de passar boa tarde do seu dia trancada dentro do quarto.

— Bem, sou compradora de uma grande rede de roupas, pesquisamos as tendências da moda, adaptamos a preferência do nosso público e procuramos fornecedores mais em conta para abastecer as lojas – Lara explicou.

— O emprego dos sonhos – Roberta falou, empolgada.

— É por isso, que você se veste tão bem – Regis completou.

— Não é tão fácil assim, dá muito trabalho a cada nova coleção. Eu soube que você é médico, Carlos?

— Sim, sou advogado – Lara já sabia disso.

— Foi assim que conheceu Roberta? – Lara indagou, com um sorriso simpático.

— Não, nós nos conhecemos em uma festa de amigas em comum – Roberta responde.

— Há quanto tempo?

— Mais ou menos um ano – Sem consegui evitar, Lara olha para Carlos. Afinal, ele estava com Roberta quando viveram aquela semana de paixão em Barcelona.

— Um ano? Foi um namoro bem rápido?

— Carlos me disse que não acredita em namoros longos – Roberta disse, toda orgulhosa.

— Ricardo, nunca o vi assim tão calado – Joana observa.

Ricardo manteve a expressão sombria, durante toda a conversa.

— Não tenho nada para falar. Só estou prestando atenção na conversa – respondeu, brusco.

— Meu pai nunca ficou assim tanto tempo calado, sempre tem uma opinião para dar sobre qualquer assunto – Roberta acrescentou, Ricardo não responde, seus olhos procuraram pelos de Lara e se encontram por um breve instante, ela abaixa a cabeça e encara o prato a sua frente. Por que aquele homem ainda a intimidava, depois de tanto tempo?

— E como vai seu pai, Lara? – Joana indagou de modo educado.

— Melhor, obrigada.

— O pai de Lara sofreu um AVC, há algum tempo atrás – Roberta explicou para Carlos.

 — Eu lamento muito por saber isso – As palavras de Carlos pareciam sinceras.

— Segundos os médicos, ele teve um pico hipertensivo, por algum motivo que não sabemos, caiu desacordado, ficou no hospital por muito tempo. Achamos que iriamos perdê-lo, mas, felizmente, ele sobreviveu, porém, suas sequelas foram graves, não interage mais com o mundo. Por isso, eu estou aqui, tirei minhas férias para ajudar minha mãe por um tempo.

 — Por que não volta a morar aqui? – Pela primeira vez na noite, Ricardo falou espontaneamente.

— Porque não há nada aqui para mim – Lara retruca, erguendo o queixo desafiadora.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Sobre Nós Dois" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.