"Mesmo em pânico, o rapaz não conseguia se segurar. Não conseguia fazer nada além de continuar arrancando sua pele, mesmo que sua vontade fosse berrar, sair correndo ou apenas cortar aquele mal pela raíz. Sentia como se algo o dominasse, alguma coisa o obrigava a prosseguir — pensou até que, talvez, ele mesmo estivesse sentindo algum prazer inconsciente nessa atitude.

Seu corpo continuava despindo-se do pedaço de pele, enquanto ele puxava devagar aquela pequena linha carnuda. As gotas de sangue caiam timidamente pelo banheiro, manchando o azulejo puro e alvo que ele comprara no armazém do seu Tião.

 Por fim, ele havia dividido a pele de seu corpo em duas partes, que logo escorregaram como se fugissem pra longe. Olhando pelo canto do olho, ele apavorou-se ao notar um reflexo horrendo em seu espelho. Tentou forçá-los a fecharem, mas lhe faltavam pálpebras — resolveu apenas olhar para o chão.

 Não seria fácil, mas encheu seus pulmões de ar em uma profunda respiração, torcendo pra que seus órgãos também não resolvessem pular pra fora de seu corpo. Sem ousar fazer movimentos bruscos, ele levantou a cabeça lentamente e quase caiu para trás com o que viu em lugar do sua imagem de costume...

 Naquela noite fatídica, ele descobriu que era um reptiliano transmorfo transformers, e sua vida nunca mais seria a mesma.

 Agachou-se para pegar a sua velha casca e vestiu-a novamente. Passou o resto da madrugada costurando-a de volta, esperando que ninguém notasse as deformidades que suas recém-descobertas escamas e apêndices causariam. Consciente de sua forma real e da existência do povo-lagarto, ele resolveu ir atrás de seus semelhantes e buscar um novo propósito.

 Guardando suas coisas em uma pequena mala, ele despediu-se da sua antiga vida num suspiro. Agora, estava decidido a rumar para seu lugar de direito.

O governo dos Estados Unidos.

*tu tu tu tuuuu*