Esconderijo no barco

Ficar presa naquele barco com três caras era uma droga, ainda mais quando um claramente te detestava. Não era qualquer um que tinha o privilégio de ser odiado por Dean Winchester, ainda mais sem motivo. Mas a verdade era que o cara não suportava estar no mesmo ambiente que você sem amarrar a carranca.

Estarem confinados no mesmo barco não melhorava em nada a situação, mas era o jeito que vocês tinham conseguido para proteger Kevin de Crowley enquanto ele traduzia a placa. Não tinha muito tempo que você tinha conseguido um descanso para o garoto - o que tinha resultado em grandes avanços na tradução, mas ao mesmo tempo na fúria de Dean.

Certo, vocês não tinham muito tempo para diversão visto que a situação era crítica, mas desde que haviam trocado aquele beijo na cozinha as coisas tinham mudado entre vocês dois. A partir do momento em que confessaram forçadamente que se observavam a algum tempo, a troca de olhares já não era mais tão escondida. Sempre que você estava por perto, era certo que alguém pegaria Kevin olhando para você, ou vice versa. Quando podiam até mesmo conversavam e faziam o jogo dos dedinhos com as mãos juntas.

Mas não conseguiram avançar mais desde então.

Sempre que conseguiam ficar a sós - o que era muito raro - alguma coisa acontecia e os atrapalhava. Já tinha sido Castiel chegando com notícias, horário de almoço e até mesmo um novo episódio do programa favorito de Kevin.

Essa era mais uma das diferenças entre vocês dois: enquanto Kevin era fissurado por programas de auditório e novelas de suspense, você era apaixonada pelos doramas românticos - o que te proporcionava uma visão um pouco diferenciada dos caras asiáticos. E se antes já tiravam sarro de você por babar em séries americanas, tudo piorou quando descobriram os doramas.

Você convivia com Kevin, sabia que ele não era daquele jeito, mas sempre que fazia algo que pudesse ser associado a uma cena romântica você gritava internamente. A vez que ele estava comendo lámen e te ofereceu, todas as vezes que podiam se beijar mas ele preferia só ficar junto - certo, essa parte te irritava profundamente - ou até mesmo quando ele xingava Dean em sua língua.

Kevin parecia perceber a sua fissuração e usava isso para se distrair em seu tempo livre. Ele adorava brincar com suas emoções, sempre te tentando até o extremo e depois ficar abraçado. Muitas das vezes isso resultava em um beijo desesperado seu ou em um avassalador quando te pegava desprevenida. Ele tinha até mesmo confessado que caso não estivessem naquela situação de perigo constante ele te chamaria para um encontro típico de dorameira.

Mas, infelizmente, tudo o que podiam se contentar era dividir lámen enquanto assistiam algum dorama em seu quarto. Por ser um barco pequeno, o seu quarto ficava separado dos rapazes, tendo o luxo de ser privativo. 

Nas raras noites que tinham tempo para verem alguma novela ou programa juntos, Kevin preferia que fosse em seu quarto. Não por segundas intenções, mas por saber que lá não seria perturbado. Você e seu quarto tinham se tornado sua válvula de escape para o mundo - e talvez isso fosse uma coisa boa.

Naquela noite assistiam a uma novela de fantasia em que um ser sobrenatural tentava desesperadamente matar a guardiã de grande poder, mas tinha sido condenado a amá-la, sendo preso por um bracelete, como forma de impedimento que ele a comesse. Até que o drama era bem envolvente, efeitos especiais bem feitos e o melhor de tudo: distraía Kevin da maldita pedra. Embora envolvesse demônios, nenhum deles sequer lembrava da ameaça constante de Crowley.

—Acha que ele consegue ficar com ela no final? - Você perguntou despreocupadamente, brincando com um fio solto da colcha.

—Doramas são repletos de reviravoltas, mas não acho que vá acontecer isso nesse. Eles estão desde o primeiro episódio contando o que vai acontecer, mas nós torcemos pelo contrário.

—Você acha que isso vai acontecer com a gente também?

—Como assim? - Kevin te encarava confuso.

—Desde o começo Crowley diz que não vamos conseguir, Sam e Dean também deixam isso bastante claro. Precisamos te esconder aqui para que Crowley não te matasse. Acha mesmo que vamos conseguir reverter isso no final? Ou só estamos tardando?

—Eu…. Eu não tenho a menor ideia, S/n. Mas estou tendo progresso com a placa, graças a você. Então prefiro pensar que temos sim chances.

Vocês voltaram a assistir o programa, mas o clima tenso tinha se instalado. Kevin percebia a sua inquietação e aquilo o estava incomodando. Por mais que você não falasse nada, ele sabia que o lance que tinham poderia evoluir para algo mais sério. Ele mesmo começava a gostar de você, e não queria que se preocupasse.

Com um movimento rápido, Kevin deitou seu corpo na cama, ficando com metade do corpo dele em cima do seu. Você tinha sido pega de surpresa, estando a mercê dele. Ele sabia como você gostava desses momentos, então apenas sorriu, recebendo o seu sorriso de volta enquanto se aproximava e segurava o seu rosto. Quando seus lábios se tocaram, tudo foi com muita calma. Queriam aproveitar o máximo de tempo possível, apenas sentindo a boca um do outro. Seus lábios brincavam um com o outro, abrindo e fechando, e quando você inclinou a cabeça um pouco mais para o lado, Kevin forçou sua língua contra a sua boca, tendo os cabelos imediatamente segurados.

Vocês se beijavam mais intensamente, transmitindo toda a calma que podiam desfrutar naquele curto período de tempo. Suas mãos brincavam com o corpo um do outro, até que as de Kevin foram parar na barra de sua camisa.

O-ou. Aquilo era um passo adiante.

Você ondulou seu corpo em resposta para o pedido silencioso dele, que prontamente a tirou com cuidado, ficando encantado com a visão de seus seios cobertos pelo sutiã. Ele tirou sua camisa de flanela antes de voltar a se deitar sobre você, beijando com força seu pescoço.

Em troca, ele recebia arranhões nas costas e no braço, somente tendo levantado quando você tirava sua camisa. Não era um peitoral definido, mas era agradável aos seus olhos - tendo em conta o padrão de doramas.

As coisas estavam indo para um caminho que se recebessem um balde de água fria, ficariam bem irritados. O drama estava esquecido, a porta fechada, vocês estavam entrando quase totalmente em sua bolha particular quando a porta foi aberta, revelando um Dean em tom de voz calmo.

—S/n, será que você teria um tempo para conv… - Quando ele percebeu vocês dois juntos, sem camisa e se beijando lentamente viu que estava sobrando naquele barco, sendo tomado por uma fúria - VOCÊ NÃO DEVIA ESTAR TRADUZINDO A PLACA, KEVIN?!

O garoto imediatamente pulou de susto, saindo de cima de você e sem querer mordendo sua língua. Constrangida, você puxou a camisa de flanela que estava por perto, cobrindo seu corpo.

—É o meu horário de descanso, Dean! - Kevin estava irritado pela interrupção.

—O QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO AQUI?! - Você berrou pela interrupção

—O QUE ELE ESTÁ FAZENDO AQUI, S/N?! - Dean estava irado, com o rosto vermelho e respiração acelerada.

—É A DROGA DO MEU QUARTO, DEAN! E EU TRAGO QUEM EU QUISER PARA CÁ!

Aquilo foi como uma bofetada no rosto do mais velho. Dean piscava seus olhos desesperadamente, seu braço se recolheu em direção ao seu rosto, enquanto suas linhas de expressão se suavizavam em traços de tristeza, voltando quase instantaneamente para a raiva.

—Que seja. Vocês dois se merecem. - Saindo com um estrondo na porta.

Você e Kevin estavam novamente sozinhos no quarto, com uma camisa de flanela de distância.

—Eu não acredito nisso…. - Ele sussurrava encarando a porta.

—O quê? Que ele é um idiota?

—Que ele gosta de você.

—Como é que é?! Acho que essa placa anda mexendo demais com a sua cabeça. - Você se ensaiava para sair da cama, quando sentiu a mão de Kevin no seu braço, te puxando de volta.

—Não, é sério! Sempre ouvi que o amor e o ódio estavam interligados, mas nunca dei bola para isso. Ele sempre te odiou sem explicações, não é?

—É.

—Isso deve ter se transformado em algo mais.

—E como sabe disso?

—Eu…. Bem…. Eu já assisti um drama que tinha essa premissa. O cara odiava uma garota, mas com o passar do tempo se apaixonou, mas não transparecia para ela.

—E o que aconteceu no final?

—Eles ficaram juntos, mas… Porque essa cara de nojo?

—Você não vai me convencer a te largar e ir correr atrás daquele brutamontes, Kevin!

—E eu nem queria isso, calma! Mas agora sabemos o motivo das nossas próximas perturbações.

—Acho…. Acho melhor você terminar logo com placa.

—Eu... também. - Kevin parecia desolado. Se ele não tivesse aberto a boca, não teria plantado a idéia em sua mente. Mesmo que você não fosse ficar com Dean, tinha sido o suficiente para que você não quisesse vê-lo mal por conta de um romance. 

Sabia que Dean descontaria sua raiva nele, e não queria que sofresse por isso. Você tinha achado que se distanciar tivesse sido a melhor solução, mas estava redondamente errada.

Com o fim de sua distração, não demorou muito para Kevin começar a ter alucinações e desaparecer junto de suas anotações, te deixando com um sentimento de culpa gigantesco.