Passarinho escrita por Heiiko


Capítulo 1
Capítulo 1




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  A maciez divina de suas pernas morenas se curvando. Levanto uma delas e pouso, feito beija-flor, meus lábios sob a carne e anseio devora-la feito cão. Mordo carinhosamente. O que você está fazendo?! Rio e comprimo minha bochecha contra sua coxa, pequena e gélida coxa. Meus olhos fechados. Mas nenhuma paz habita meu corpo que se contorce. Meu corpo treme e sinto no peito uma bomba. Sim, eu vivo!
 Levanto-me apoiado em meus braços, de cima miro seu rosto. Ela está sorrindo. Seu sorriso é calmo e embalador, e é doce com seu par de covinhas. Numa outra esfera observei ao longe o mesmo sorriso, feito caçador? não, pois eu nunca seria capaz de... Você é minha. Minha. Minha. Seus pequenos olhos castanhos brilham em confirmação. Mas meu peito aperta e --Quanto tempo se passou? Quanto tempo? O que estou fazendo? Os olhos castanhos fundos nos meus tentam me capturar. Sussurram: que importa! se há nesse quarto um outro tempo. E me entregando curvo-me até sua boca. Provo os lábios, melífluos lábios de menininha (mas gélidos!) e me retiro para essa outra dimensão, qual apenas eu conheço a entrada. Lá fora os séculos decorrem, milênios!, e o mundo termina e outra vez começa; e não importa lá fora, porque aqui... Aqui é onde ela vive.
 Levanto minha cabeça de seu peito. Nem sei quando adormeci. Escuto um ruído indecifrável. Vem lá de fora. E tremo todo. Mas por que eu temo? O que eu temo? A mesma luz brilhando fortemente acima de nós, luz eterna. Rodeados pelas mesmas quatro paredes brancas, imaculadas, sem quadro nem nada. Quanto tempo se passou desde que eu...
 Caminho devagar até um canto e entre as duas paredes me encolho. Fico observando ela na minha cama durante muito tempo. Ela está deitada como sempre, sua perna dobrada como de uma rã, nessa posição antinatural. Daqui não posso ver seu rosto. O suor trilhando interminável pelo meu rosto. Ela deitada. Sua perna. A mesma luz e silêncio. Ela deitada. É dela que tenho medo? É DELA? Por que você está aqui por que você está aqui por que você... os dedos de seu pé se comprimem e eu volto a respirar. Está tudo bem.
 Você é minha cura, digo. Ajoelho-me na cama e deslizo o corpo até me encaixar com a cabeça sob seu peito, como antes. Ouço lá fora outro som, mas agora estou seguro. Lá fora é que se encontram os inimigos. Ela é minha cura, meu porto-seguro. Ela murmurando uma música familiar. Meu passarinho... Ah, é a mesma que minha mãe cantava a fim de me fazer dormir. Mas minha mãe está morta há muito tempo e dela não resta nada. Meu passarinho...
 Forte estrondo. Acordo. O que foi isso? Marília?! Marília?! Chamam. EU PRECISO DE AJUDA SÃO ELES APERTA BRAÇO SACUDO E SACUDO ACORDA ACORDA ACORDA. fede fede fede fede fede deitada ninho de sangue meu corpo  sangue seu rosto inchado carne f  olhos brancogelatinoso SOCORRO


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