Ela me olhou da cabeça aos pés algumas várias vezes e não parava de andar em círculos pelo nosso quarto. Ajeitava o cabelo roxo atrás da orelha, mas também mordia algumas mechas e enrolava outras por entre os dedos. Eu não sabia o que fazer, só conseguia olhá-la e pensar que tinha feito a pior escolha da minha vida.

Mal, finalmente, parou e respirou fundo, mas, quando o fez, algumas lágrimas caíram de seus olhos e ela soluçou. Vê-la daquele modo só me fazia sentir-me um monstro. Há algum tempo eu até que estaria bem orgulhosa de ser um monstro, mas... agora? E ainda mais por causa da Mal? Não havia como ser pior.

—Por que? – ela perguntou e meus lábios tremeram. Eu não respondi, só abaixei a cabeça. – Não podia ter dito isso antes?

—Mas...

—Na Ilha, quem sabe? – sua voz era algo entre o triste e a raiva. – Ou talvez, sei lá, talvez antes de eu, ahm, praticamente me casar com o Ben?

—Mal, eu...

—Evie, há quanto tempo você vem escondendo isso de mim? – abaixei a cabeça. – Há quanto tempo a gente podia estar juntas?

A fitei, seus olhos não passavam de lágrimas e vermelhidão. Não me aguentei, desabei ali mesmo sentada em uma cama cor-de-rosa.

—Juntas? – perguntei. – Quem me garantiria que estaríamos juntas, Mal? Quem me garantiria de que você não se afastaria? Você é a minha melhor amiga, eu não ia arriscar te perder!

—E vai agora? – ficou séria e enxugou as lágrimas.

—Não, é claro que não. Mal, olha, eu precisava te contar.

—E o que eu faço? Eu termino tudo com o Ben? Olha, Evie, eu amo o Ben, você não pode esperar que eu termine tudo agora. Não, se fosse para terminar com você, tinha que ter sido antes.

Ela já não chorava e eu conseguira me conter. Tinha sido, de verdade, a pior decisão da minha vida. Eu decidi estragar a minha amizade inteira só porque amava demais. Eu nunca tive ciúme de Ben, nunca tive problemas sobre Mal sair com outras pessoas. Mas, havia dias que eu já não conseguia tirá-la da minha mente.

—E o que vai ser agora? – perguntei quase sem vontade alguma.

—Não sei. Evie, você é a minha melhor amiga. E eu te amo muito. Mas não sei como vai ser agora.

—Eu te amo e você me ama, isso sempre foi assim; só que agora a gente sabe. É só isso o que mudou. E tudo pode ser como estava. Eu não vou mudar a maneira como te olho ou como te trato. Você vai?

—Eu... Evie...

—Vai?

—Não. Vai tudo continuar do jeito que sempre foi. Tudo bem para você?

—Sim. – sorri com o rosto molhado, vermelho e inchado. – É bem melhor que a gente se afastar, né?

—É sim. – ela riu. – Mas... posso fazer uma coisa? Uma coisa antes de tudo... ser como sempre foi?

—Acho... acho que pode. – sorri.

Ela se aproximou de mim e me enxugou as bochechas. Seus dedos ficaram negros por causa da maquiagem e eu ri. Pôs cada mão de um lado do meu rosto e se aproximou um pouco mais.

Não consegui sorrir. Não consegui me sentir feliz naquele momento. Eu só consegui pensar em quão horríveis nós éramos quando Mal, finalmente, tocou os lábios nos meus, o quão nojentas nós éramos.

Deitei e ela ficou por cima de mim continuando o beijo. Quando acabou, ela deitou ao meu lado se encolhendo contra o meu peito.

—Vai ficar tudo bem, não vai? – ela perguntou e eu pensei em como ela ia encarar o Ben depois de tudo.

—Vai, Mal, vai ficar tudo bem.