Um Caminho Para O Coração escrita por Sill Carvalho, Sill


Capítulo 51
Capítulo 50 — À Procura




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O barulho ao redor, todas aquelas pessoas na rua, uma ou outra cruzando na frente do carro, somados ao nervosismo, fez com que Esme ficasse desorientada. A imagem do momento em que Carlisle pegou Olívia ficou voltando a sua mente repetidas vezes.

Dirigiu em baixa velocidade, até deixar a concentração de pessoas para trás. Fez uma parada forçada no posto de gasolina para ligar para Emmett. Com mãos trêmulas, vasculhou a bolsa em busca do celular. Na aflição, acabou jogando tudo no banco do carona para facilitar. Alcançou o aparelho com o visor para baixo e derrubou no chão do carro sem querer. Conseguiu recuperá-lo, deslizou o dedo na tela, procurando o contato de Emmett. Pôs o telefone no ouvido, transferiu para o outro, enquanto aguardava ser atendida.

[…]

Deitada na cama do casal, embaixo do cobertor, com o ar-condicionado ligado, Rosalie percebeu o celular de Emmett tocando na mesinha de cabeceira. Inclinou-se para ver quem estava ligando. O nome de Esme estava na tela.

Emmett tomava banho com a porta do banheiro aberta. Podia ouvir a água do chuveiro caindo.

— Emmett — chamou, elevando a voz para ser ouvida. Aguardou um instante, para chamar de novo. — Seu telefone está tocando. É Esme — o telefone parou de tocar, recomeçando em seguida. — Emmett…

— Estou indo — respondeu, com a voz abafada pelo barulho do chuveiro.

Rosalie alcançou o telefone com a mão.

— Esme — sua voz soou preocupada, não pôde evitar.

Ergueu o tronco, encostando-se à cabeceira da cama, mantendo o cobertor junto ao corpo.

Notou a voz trêmula de Esme, logo que começou a falar. As palavras sendo atropeladas umas nas outras pela pressa em se expressar.

— Esme — repetiu. — Eu não estou entendendo. — A outra continuou falando sem parar do outro lado da linha. — Calma — pediu. — Tente falar devagar. — Ouviu um longo suspiro. — É algo com a Ollie? Ela está bem? Onde vocês estão agora?

— No posto de gasolina. Estou sozinha… — conseguiu falar, respirando de forma controlada.

Rosalie se afastou da cabeceira da cama. A sensação de medo crescendo conforme a ligação se desenvolvia.

— Como assim? Onde está a Ollie? — Olhou para frente. Emmett parou ao sair do banheiro com a toalha na cintura, o peito nu mantinha algumas gostas de água do chuveiro.

— O que aconteceu? — a pergunta foi imediata. Apressou-se até a cama. — O que aconteceu com minha filha? — Estendeu a mão para receber o telefone da mão de Rosalie. O olhar preso ao dela, aguardando, temendo.

— O pai de Sarah — disse Rosalie, num tom de voz cauteloso, o observando levar o celular ao ouvido. — Ele pegou a Ollie.

Emmett sentiu como alguém o golpeasse no peito de forma inesperada. A voz de Esme chamou sua atenção para a ligação, não dando tempo para pensar.

Rosalie pulou da cama no chão, os pés descalços, enrolada no cobertor. Correu para dentro do closet. Retornou muito rápido, vestida, pulando ao tentar pôr os calços. Emmett permanecia ao telefone. Foi ao closet dele, agarrando as peças de roupas sem se importar com cores ou combinações. Jogou tudo em cima da cama bagunçada.

Emmett desprezou o telefone em cima da cama para começar se trocar.

— Emmett — Rosalie chamou seu nome. Havia fúria nos olhos dele, a respiração pesada fazendo o peito subir e descer.

— Esme está vindo para cá — disse ele, passando a camiseta pela cabeça.

— Certo — respondeu, prendendo os cabelos no alto da cabeça em um coque irregular.

Emmett terminou de se trocar. E rapidamente se encaminhou à porta do quarto. Rosalie foi atrás dele. Cada um levando o celular na mão. Ambos apressaram-se pelo corredor, na sequência, a escada.

Emmett procurou pela chave do carro com impaciência.

— Droga! — esbravejou. — Onde está a porcaria da chave. — Derrubou, sem querer, o enfeite em cima do aparador.

— Amor, calma — Rosalie tocou no braço dele. A fúria o levou empurrá-la sem intenção. Imediatamente percebeu o erro; estendeu os braços para segurá-la, trazendo-a para junto do peito.

— Me desculpe — pediu. E beijou no alto da cabeça dela. — Me desculpe — tornou pedir. — Não quis fazer isso.

Rosalie alcançou a camada grossa de barba no rosto dele com ambas as mãos.

— Calma — insistiu. — Você precisa manter a calma. Está muito alterado.

— Não consigo. — Ele se afastou dela. — Carlisle pegou minha filha. Ele a pegou.

— Carlisle é avô de Ollie — lembrou Rosalie. — Ele não irá fazer mal a ela.

Emmett soltou pela boca o som semelhante a um rugido de fúria. Se movendo com inquietação.

— Eu sabia… — novamente o som assustador saiu dos lábios dele. — O tempo todo, eu senti que algo assim pudesse acontecer. — Deu alguns passos para longe de Rosalie, virou e voltou ao mesmo lugar.

Ambos perceberam, pela janela de vidro, o carro de Esme chegando. Ela parou ao lado da caminhonete no jardim. Saiu apressada do carro, correndo até a porta da casa deles.

— Esme não é culpada — Rosalie tentou avisar, mas foi como ele não a ouvisse. — Olhe para mim, Emmett — exigiu que fizesse.

Emmett a olhou, a irritação se tornando quase incontrolável.

— Não faça nada de que possa se arrepender — alertou Rosalie.

A campainha soou como um presságio.

— Emmett — Rosalie insistiu ao vê-lo se mover na direção da porta. Ele recuou, de modo que ela abriu a porta para Esme. Enxergou nos olhos dela o quanto estava devastada com o ocorrido. Estendeu a mão, sendo compreensiva.

— Eu sinto muito — lamentou Esme.

Emmett a olhava; a postura raivosa parecia deixá-lo ainda maior.

— É culpa sua — esbravejou. — Você fez isso.

Esme negou com um movimentar de cabeça, quase frenético. Lágrimas chegando molhar seu rosto.

— Não… — Esme murmurou, encolhendo os ombros.

— O trouxe para cá — Emmett acusou.

— Eu não sabia que ele estava na cidade.

Emmett moveu a cabeça como não acreditasse.

— Me fez acreditar que podia confiar em você.

— E pode.

Ele negou ao movimentar a cabeça novamente.

— Fez todo esse joguinho, sobre ser injustiçada… quando tudo que queria era conquistar minha confiança e entregar minha filha para Carlisle.

— Não entreguei Olívia para ele. Carlisle a pegou de mim a força.

Rosalie temeu o monstro dentro de Emmett, avançando, saindo do esconderijo onde esteve adormecido. Desejou quê o que ele dizia não fosse verdade; que Esme não tivesse ajudado o ex-marido.

Emmett agarrou o braço de Esme com força, não tardaria uma marca escura estaria na pele clara da mulher.

— Para onde ele levou minha filha? — exigiu.

Rosalie fechou a mão no punho dele.

— Pare — pediu, sustentando seu olhar furioso. — Está machucando ela. Você não é essa pessoa.

— Fale — continuou Emmett.

— Eu não sei…

— Emmett — Rosalie elevou o tom de voz.

Emmett soltou o braço de Esme. Ao se virar, acertou o encosto do sofá com o punho fechado. 

Mesmo se sentindo acuada, Esme entendeu sua revolta. Carlisle ameaçava tirar dele a quem mais amava.

— Carlisle não irá machucar Olívia — disse. — Ela é filha de Sarah.

Emmett se voltou na direção dela, de forma brusca.

— Olívia é minha filha também. Carlisle me odeia.

A fala de Emmett trouxe a Rosalie um arrepio.

Emmett recuperou o celular deixado no sofá.

— O que vai fazer? — Esme pediu.

— Ligar para a polícia. Não posso permitir que leve minha filha para fora do país.

Esme se encostou à parede, chorando, observando-o falar ao telefone.

Rosalie a amparou, conduzindo-a ao sofá onde ficaram uma ao lado da outra.

— É minha culpa… — lamentou Esme.

Rosalie afagou a mão dela.

— Não deveria ter vindo… Eu tinha de saber que ele viria atrás de mim.

— Não é culpa sua — lembrou Rosalie. — Tomou a decisão certa ao vir conhecer sua neta. Ollie te ama, e eu sei que também a ama.

— Meu Deus — murmurou Esme. — Olívia é minha motivação para seguir adiante. Amo demais minha neta.

Rosalie meneou a cabeça, mostrando entender.

— Esme, você realmente acha que Ollie ficará bem com o avô?

— Ah, Rose… Não sei o que pensar. Às vezes, Carlisle faz coisas que… Ele amava nossa filha demais. Olívia é um pedacinho de Sarah. Eu só posso esperar, e acreditar, ser suficiente para ele não machucá-la de nenhuma maneira.

— Sim — Rosalie concordou, embora receosa.

— Eu preciso que saiba… por um momento, Carlisle agiu como Olívia fosse Sarah.

— Acha que, por alguma razão, ele esteja acreditando que Olívia é a própria Sarah?

Esme anuiu, abaixando os olhos, pensando, mesmo ela tinha confundido as duas, em algum momento, quando a conheceu.

Rosalie lançou o olhar a Emmett, que ainda falava ao telefone. Passou as mãos nas laterais do corpo, demonstrando nervosismo. Os três celulares na casa receberam, em simultâneo, o alerta para criança desaparecida.

Emmett enfiou o celular no bolso, movendo-se depressa em busca da chave.

— Emmett — Rosalie chamou. Viu Esme olhando as mãos, perdida no próprio medo. Aproximou-se dele, tocando suas costas com ambas as mãos. — Emmett. — Ele a olhou. — Precisa saber de uma coisa…

— O quê? — Ele recuperou a chave do carro embaixo de uma revista no aparador.

Rosalie tornou olhar Esme no sofá. E novamente para Emmett.

— É possível que Carlisle esteja em um surto… ele pode estar acreditando ser Sarah com ele, não Olívia.

O rosto de Emmett se tornou uma máscara de preocupação e medo.

— Eu disse… eles enxergam Sarah quando olham para Olívia.

Rosalie segurou as mãos dele.

— Esme, não mais. No primeiro momento, pode ter sido.

Emmett olhou a mãe de Sarah no sofá.

— Estou furioso demais para ser compreensivo. Minha filha está, nesse momento, nas mãos de uma pessoa desequilibrada. A mesma pessoa que disse, no passado, não querer saber nada a respeito dela. Não posso confiar que seja bom para minha filha. A maneira como ele a pegou é suficiente.

— Sei que está aflito. Acredite, eu também estou. Mas, pense bem, ele pode não machucar a Ollie por achar que é a Sarah. Temos isso a nosso favor, ao menos até a polícia encontrá-lo.

— É loucura tudo isso — Emmett meneou a cabeça. — Ele vai assustá-la. — Bateu com os punhos no aparador. Rosalie recuou ao som do estrondo. Esme se ergueu do sofá, olhando onde eles estavam com olhos arregalados.

— Eu sei — admitiu Rosalie. Os olhos marejando.

— Olívia é só uma garotinha e já vivenciou tantas coisas ruins.

Rosalie concordou com um mover de cabeça.

— Tenho me esforçado para poupá-la, mas parece que estou fadado ao fracasso.

— Não — negou Rosalie.

Emmett a segurou pelos braços.

— Fique aqui, para o caso de ela aparecer.

— Para onde você vai?

— Procurar por minha filha. Irei trazê-la de volta, custe o que custar.

— Vou com você. Ollie também é minha filha.

Emmett encostou os lábios a sua testa.

— Você é a melhor coisa que nos aconteceu. — Afastou as mãos dos braços dela. — Precisa ficar… por você e pelo nosso bebê que está a caminho. — Abaixou os olhos, tocando a barriga dela com ambas as mãos. — Amo muito aos dois. — Ele se afastou. Levou a mão à maçaneta da porta, olhou para trás, nos olhos de Rosalie. — Fique aqui. — Abriu a porta e saiu para a varanda.

Esme chegou perto de Rosalie, pondo a mão em seus ombros.

— Emmett tem razão. Vai ser melhor para você e o bebê ficar em casa.

Rosalie secou uma lágrima quando essa molhou seu rosto de maneira rápida.

— Como ficar aqui, esperando que tudo se resolva? Minha filha está assustada, em algum lugar. Meu marido está desesperado. Fora de controle. Ele perde a noção da força que tem quando está furioso. Isso não é bom para ninguém.

Esme a abraçou.

— Emmett não poderia ter encontrado alguém melhor.

[…]

O Mercedes-Benz foi estacionado na garagem escura. Luzes se acenderam ao redor em uma sequência de estalidos. O motorista saltou para abrir a porta traseira.

Carlisle soltou o cinto de segurança em volta de Olívia, e nele também. Pegou a menina adormecida no colo. De tanto chorar, Olívia adormeceu. Ele a carregou nos braços para dentro da casa, passando pela porta de acesso direto. Cruzou a sala, levando Olívia escada acima, para um dos quartos.

A cama grande de dossel, com um jogo de cama em tons claros de rosa, esperava por ela. Cuidadosamente, colocou a menina na cama, acomodou a cabeça ao travesseiro. Afastou-se, procurando o controle do ar-condicionado. Regulou a temperatura e voltou se aproximar para cobri-la.

[…]

Emmett seguiu procurando de carro. O celular jogado no banco do carona, pronto para atender a qualquer chamado. Parou em um lugar ou outro para fazer perguntas, mostrando sempre a foto de Olívia.

Saiu de uma lanchonete e entrou na caminhonete, tão aborrecido quanto se lembrava de ter estado algum dia. Bateu a porta com força ao sentar atrás do volante.

— Desgraçado — esbravejou, saindo do estacionamento com a caminhonete. — Para onde a levou? — Tornou bater a mão ao volante. — Para onde? Seu filho da mãe.

[…]

Em meio ao silêncio que se encontrava a casa, Esme, de tempos em tempos, enxugava as lágrimas do rosto no lenço de papel. Se culpando internamente por não conseguir impedir Carlisle de levar Olívia com ele.

Rosalie não parava de olhar na tela escura do celular, esperando o momento que receberia a ligação de Emmett ou mesmo da polícia, avisando terem encontrado a menina.

[…]

Olívia acordou com uma luz amarelada a bater nos olhos. Mesmo sem levantar a cabeça do travesseiro, soube que o lugar era estranho.

— Papai — chamou, mexendo-se para levantar.

Carlisle levantou depressa da poltrona, no canto da parede, ao lado da mesinha de cabeceira.

Olívia sentou no centro da cama, olhando em volta: paredes em cores beges, cortinas brancas e carpete cinza. Na cama, um bicho de pelúcia cor-de-rosa usava toucas como fosse um duende.

Olhou na direção das janelas de vidro. Estava escuro lá fora.

— Você acordou — comentou Carlisle. Ele sentou na beirada da cama; estendeu a mão alcançando o pé de Olívia.

— Vovô? — a voz cautelosa, como o testasse.

Carlisle sorriu.

— Você dormiu bem?

Olívia abaixou os olhos.

— Está com fome? — perguntou ele. — Eu trouxe comida. — Moveu a mão, mostrando o carrinho com a grande opção de comidas aos pés da cama.

Um leve balançar de cabeça revelou que não.

Ele insistiu.

— Tem bolos e doces… tudo o que uma criança gosta.

— Não… eu não quero.

— Tem frutas, iogurte.

— Vovô, eu não quero.

— Sorvete, você quer?

Olívia balançou a cabeça, negando.

— Quero ir para casa.

— Nós vamos passar essa noite aqui. Amanhã…

— Não, vovô — ela o interrompeu. — Quero ir para casa, agora — falou chorosa.

— Por que fica me chamando de vovô, Sarah? — Ele se levantou. — Não gosto que brinque assim.

— Meu nome é Olívia. — Ela fez beicinho, o choro chegando.

— Você está tão desobediente hoje, querida.

— Não estou, não.            

— Você quer brincar que de ser Olívia? — Ele balançou a cabeça. — Certo.

— Não, não quero brincar. Eu sou Olívia.

— Você gosta de desenho animado, Olívia?

— Sim, eu gosto.

— Gosta de livros, também?

— Gosto.

— De violoncelo?

— Sim.

— É claro que sim — sentenciou. — Dei para você seu primeiro violoncelo e você se apaixonou.

— Não — interrompeu Olívia. — Foi vovó Esme quem deu.

— Já chega dessa brincadeira.

— Vovô, você deu para minha mamãe Sarah, um DVD de “O Mágico de Oz”. Eu vi a dedicatória…

Carlisle voltou sentar na beirada da cama.

— Você gostou tanto. Queria assistir o tempo todo. Dei também o livro, mas esse você o perdeu, de tanto que levava de um lado para o outro.

— Ele pegou fogo com a nossa casa.

— Claro que não. Nossa casa nunca pegou fogo. — Estendeu a mão, fazendo carinho no rosto de Olívia. — Você deve ter tido um pesadelo.

— Não, vovô. Nossa casa pegou fogo, de verdade. O violoncelo da mamãe Sarah também foi destruído pelas chamas. Foi horrível.

— Isso não aconteceu.

— Aconteceu, sim. — Fez uma pausa antes de voltar a falar: — Quero meu papai e minha mamãe. Não gosto desse lugar.

— Chega disso — vociferou, levantando-se rapidamente.

Os olhos de Olívia arregalaram.

— Você vai comer. Tem tudo o que você gosta aqui.

— Não quero comer. Quero meu papai.

— Está fazendo de propósito para me aborrecer.

— Não.

— Eu vou ter se sair agora, e você, trate de comer um pouco.

— Não, vovô. — Olívia saiu da cama apressadamente. — Não quero ficar sozinha aqui.

— Preciso resolver umas coisas… Volto logo. — Ele abriu a porta.

— Vovô, não me deixe sozinha. — Correu para junto dele.

Carlisle saiu para o corredor, fechando a porta imediatamente.

— Quero ir para casa — Olívia começou chorar, batendo à porta, os punhos logo começaram a doer. Afastou-se, afagando as mãos. Andou pelo quarto, olhando tudo. As lágrimas no rosto. Chegou perto da grande janela de vidro, juntou as mãos, tentando enxergar o lado de fora. Não conseguiu ver muita coisa, estava escuro o jardim. Ouviu um objeto caindo em algum lugar na casa. Carlisle falando alto. Uma segunda pessoa comentando algo do qual não conseguiu entender. Correu para dentro do closet vazio.  Sentou no carpete, encolhida, abraçou as pernas, chorando.

A casa voltou ficar em silêncio. A porta do quarto foi aberta. Passos se aproximando, então a porta do closet foi aberta. Os braços do avô a ergueram do chão.

— O que está fazendo aqui? — Ele saiu do closet com ela nos braços. — Passou as mãos pelos cabelos ruivos. — Eu te amo tanto, querida. Por que está agindo assim? Como tivesse medo de mim.

Olívia não respondeu.

— Trouxe giz de cera e folhas para colorir — avisou. Colocou Olívia na cama. Pegou a sacola ao lado da porta com as coisas. Pôs tudo em cima da cama. — Não quer desenhar?

Olívia negou com a cabeça.

Ele pegou algumas folhas e também giz de cera.

— Vou fazer um desenho para você.

Conforme o desenho foi surgindo no papel, Olívia foi chegando perto para ver.

— Você gosta?

— Pássaros, são bonitos — disse Olívia.

— É, são sim.

Olívia pegou um giz de cera com cautela, então as folhas. Começou desenhar, porque é algo de que sempre gostou.

— O que está desenhando? — tentou Carlisle.

— Você.

— Está desenhando a mim?

— Uhunn.

— Posso ver?

— Estou só começando.

— Ah, está bem. Mostre-me quando terminar.

Levou um tempo para ela finalmente lhe mostrar a folha.

— Este sou eu? — disse, olhando o boneco com cabelos amarelos. — Eu fiquei muito bonito. Você me desenhou com gravata. — Ele sorriu.

— Você tem gravata — lembrou Olívia.

— Tem razão.

— Você pode ficar com este.

— Obrigado, querida.

[…]

As horas avançaram com Rosalie e Esme esperando por notícias. A madrugada avançou sem que conseguissem comer ou dormir. Esme estava sempre por perto fazendo companhia. Ambas em um silêncio doloroso. Rosalie notou quando os faróis da caminhonete de Emmett iluminaram o jardim. Tanto ela, quanto Esme se puseram de pé rapidamente.

Rosalie deixou o celular no sofá, apressando-se até a porta da frente. Abriu-a no impulso. Emmett estava saindo do carro, emocionalmente quebrado. A expressão corporal, um reflexo do que estava sentindo.

Rosalie saiu para a varanda. Esme aguardou no limiar da porta.

Emmett cruzou o jardim, subindo os degraus na varanda, tão devagar que pareceu sem forças.

— Onde ela está? — Rosalie pediu. O coração passou bater acelerado. O olhar de Emmett encontrou o seu. Chegou mais perto dele. — Emmett?

— Não a encontrei — admitiu num tom de derrota.

Rosalie passou os braços em volta da cintura dele, descansando a cabeça no peito largo. Ele beijou no alto de sua cabeça.

— Irei voltar. Ainda não acabou.

Rosalie o olhou nos olhos. Emmett afagou seu rosto triste e cansado.

— Preciso de pilhas para a lanterna.

Rosalie chegou para trás. Emmett avistou Esme na porta, abraçada ao próprio corpo. Ela não conseguiu sustentar seu olhar acusador.

— Na garagem — falou. — As pilhas estão no armário da garagem. — Esme saiu do caminho para ele passar.

Emmett passou pela sala de estar, jantar e cozinha, desaparecendo na garagem pela porta interna. Esme e Rosalie seguindo seus passos.

Encontrou as pilhas no armário de ferramentas. Deixou alguns objetos caírem no chão, na busca. Ambas reconheceram a dor nos olhos dele ao avistar a bicicleta de Olívia na garagem. Ele enfiou as pilhas no bolso. Voltou se aproximar de Rosalie.

— Irei trazê-la de volta — prometeu.

Rosalie agarrou os pulsos dele.

— Me leve com você.

— Eu não…

Ela bradou, aborrecida:

— Não venha com essa, de que não pode me levar pelo bebê. Olívia também é minha filha. Se não me levar com você, irei sozinha no meu carro, no momento que sair por aquela porta.

— Eu vou com você — Esme apoiou.

— Não aguento mais ficar sentada, esperando por notícias. Isso está acabando comigo.

Emmett afagou brevemente a barriga dela.

— Está bem — cedeu. Num gesto rápido, segurou sua mão. Os três saíram da garagem, direto no jardim onde ficou a caminhonete. Cada um abriu uma porta, se acomodando nos respectivos assentos.

Emmett entregou as pilhas e a lanterna a Rosalie.

— Substitua as antigas pelas novas — pediu.

Pôs a caminhonete em movimento, com Rosalie trocando as pilhas na lanterna. Emmett viu o rosto de Esme no espelho retrovisor interno, enquanto saia com o carro da entrada de veículos, no jardim.

[…]

Olívia dormiu sobre o bloco de desenho, horas mais tarde, sem jantar, mesmo Carlisle tendo insistido que comesse.

Ele a colocou com a cabeça no travesseiro e a cobriu até a altura dos ombros. Permaneceu ao lado dela observando-a dormir. Tinha a estranha sensação de estar de volta no tempo, com Sarah.

Era madrugada, quando Olívia acordou aos gritos.

Carlisle levantou-se rapidamente da poltrona onde estava.  Segurou a menina pelos ombros, chacoalhando sutilmente para que abrisse os olhos.

— Está tudo bem, querida.

Olívia o olhou com olhos de medo.

— Você teve um pesadelo?

Ela meneou a cabeça, confirmando.

— Quero ir para casa — soluçou. — Quero meu papai.

Carlisle a abraçou.

— Eu estou aqui. — Fez carinho nos cabelos dela. — Shhhh… não chore, papai está aqui.

Olívia imediatamente escapou do abraço, incomodada.

— Você não é meu papai.

Carlisle se manteve perto, segurando nos braços dela.

— É claro que sou. Pare com isso, Sarah.

Olívia relutou até conseguir que a soltasse. Desceu da cama, muito rápido, chegando cair no carpete.

— Meu nome não é Sarah — se queixou. — Meu nome é Olívia. — Se levantou, olhando para os lados.

— Não é hora para brincadeiras — Carlisle advertiu. — Eu sou seu pai e você vai me obedecer.

— Não é meu papai. — Ela passou a mão no rosto, limpando as lágrimas. — Mentiroso — acusou.

Carlisle se afastou da cama, indo na direção dela. Segurou firme nos braços miúdos. Olívia se debateu, tentando escapar.

— Mentiroso — votou acusar. — Meu papai tem cabelos escuros. O nome dele é Emmett.

— Sarah.

Chorando, Olívia lembrou:

— Meu nome é Olívia. Sarah… ela morreu.

Foi um baque para Carlisle o que ouviu. Ele a soltou de repente, mesmo sem intenção de fazê-lo. Olívia caiu, sentindo um dos braços no momento da queda.

— Você a matou — Carlisle elevou a voz, completamente fora de si. — Você e o maldito McCarty.

Olívia se encolheu, diante o olhar impiedoso do avô. Os olhos enevoados de lágrimas.

— Você é rude, vovô — soluçou. — Você é mau.

Carlisle a enxergou por detrás de uma cortina de lágrimas.

— Não — ele negou, parecendo enxergar seus erros. — Não sou mau. — A colocou de pé, segurando-a pelos ombros.

Olívia o olhou de perto, assustada. Então, olhou na direção da porta do quarto.

— Vai ficar tudo bem. Nós vamos voltar para casa.

— Mentiroso. — Ela correu até a porta, forçando a maçaneta com ambas as mãos, chorando.

— Aquelas pessoas não a merecem.

Por um descuido, a porta ficou sem a chave durante a madrugada, com isso, Olívia conseguiu abri-la e sair para o corredor cheio de luzes. Desceu a escada correndo. Olhou para cima, para descobrir onde ele estava.

Carlisle a seguia; viu os cabelos louros dele no alto da escada. Ficou de joelhos no chão, indo se esconder atrás de um grande vaso decorativo na sala de estar, ao lado da escada.

Ele terminou de descer a escada, passando direto pelo esconderijo.

— Não precisa ter medo de mim. Não irei te machucar.

Olívia notou o braço com a marca escura. O coração batendo num ritmo acelerado, a respiração ofegante.

Aproveitou que ele se afastava, para sair do esconderijo rastejando. Levantou e correu para o cômodo ao lado, onde descobriu ser um escritório. Foi se enfiar embaixo da mesa de mogno lustroso. Passou as mãos no rosto, limpando as lágrimas.

— Papai — soluçou. — Vem me buscar, papai.

— Sarah. — Ela ouviu a voz de Carlisle se aproximando. — Sarah.

Encobriu os ouvidos com ambas as mãos. Não queria ouvir a voz dele, porque o medo aumentava. Nem ser chamada por um nome que não era o seu.

— Querida, não é hora para brincar de esconde-esconde. Você precisa voltar para a cama.

[…]

Emmett saía de uma rua estreita e sem saída, iluminada pela lanterna, quando avistou Rosalie saltando do carro, afobada, com o celular na mão.

— Emmett — gritou seu nome. — Emmett. — Desviou os olhos quando a luz da lanterna atingiu seu rosto. — A polícia já sabe para onde Carlisle a levou.

Emmett passou se mover depressa. Rosalie completou ao perceber, na expressão no rosto dele, a pergunta se formando:

— Alguém avisou à polícia.

Emmett alcançou a porta no lado do motorista. Rosalie voltou para dentro do carro com a mesma pressa com que saiu.

— Para onde? — ele pediu, de detrás do volante. Manobrou o veículo, com impaciência, desesperado para chegar ao destino certo.

[…]

Olívia continuava embaixo da mesa do escritório, sentindo a respiração ofegante.

Carlisle chamando por Sarah, incessantemente.

A porta do escritório foi aberta, ela ouviu o barulho. Os sapatos dele no assoalho.

— Você não precisa ter medo — disse ele. E deu a volta no entorno da mesa.

Olívia se encolheu no canto. Cobrindo a boca com as mãos, temendo gritar.

— Não queria falar daquele jeito com você. Desculpe-me. Eu sei que está aqui. — Arrastou a cadeira com rodinhas atrás da mesa, então se abaixou. Ele a olhava de perto agora. — Venha. — Estendeu a mão. — Venha comigo.

Olívia balançou a cabeça.

— Não quero. Não quero ir com você.

— Vamos voltar para casa pela manhã. Tudo voltará ser como antes.

— Não. — Ela se encolheu ainda mais, dificultando ele tirá-la de lá. — Você é malvado, vovô. Você é malvado.

— Não sou malvado. Quero apenas cuidar de você. Aquelas pessoas, elas não merecem estar com você. Precisa entender querida.

Olívia sentiu a mão de ele agarrar seu braço, sua perna. A puxou para fora do esconderijo. A manteve imóvel. Tão rápido quanto percebeu a seringa na mão dele, sentiu a picada no braço. Engasgou-se com o choro, na agonia de tentar escapar.

— Não queria ter de fazer isso — lamentou Carlisle. Jogou a seringa vazia debaixo da mesa. — Você me obrigou. — O corpo miúdo ficou mole em seus braços. Ele a segurou cuidadosamente, erguendo-se do chão.

Olívia tentou falar, mas as palavras se embaralharam, soando desconexas.

Ele a carregou para fora do escritório, como levasse uma boneca de pano nos braços.

— Não queria ter de fazer isso — seguiu dizendo. — Você me obrigou.

Carlisle encontrou do lado de fora do escritório, o homem que o ajudou no parque.

— Eles já sabem onde estamos. A polícia está a caminho.

Carlisle afagou as costas de Olívia. Retirou-se, levando a criança inconsciente nos braços.

[…]

Emmett chegou ao endereço após a polícia chegar. O dispositivo de luzes azuis e vermelhas, girando e piscando intermitentemente no alto dos veículos, aumentava a visibilidade no jardim da casa usada por Carlisle como esconderijo.

Retirou o cinto de segurança antes mesmo de a caminhonete parar por completo. No entorno da casa, a escuridão se estendia mata adentro.

— Eu vou sozinho — disse a Rosalie, no banco do carona.

— Não — rebateu ela, sem pensar.

O olhar dele fixou-se ao dela.

— Irei enlouquecer, se tiver de esperar por você aqui.

— Eu quem irei enlouquecer, se algo acontecer a você. Assim sendo, você fica aqui.

Esme entrou na conversa.

— Eu vou com você.

Emmett olhou para ela, no banco de trás. Havia se esquecido de que estava ali.

— Conheço bem meu ex-marido. Posso ajudar…

— Esme tem razão — concordou Rosalie.

Emmett anuiu. Voltou-se para Rosalie, levando ambas as mãos ao rosto dela.

— Fique aqui. — Beijou-lhe os lábios com força. — Eu te amo. — Se afastou, saindo do carro imediatamente.

Esme o seguiu. De dentro do carro, Rosalie fez a única coisa que lhe cabia no momento; aguardou enquanto eles entravam na casa.

Esme estava bem atrás de Emmett ao cruzarem a sala de estar iluminada.

— Lá em cima — ela falou em voz baixa. Apressaram-se os dois à escada. Ouviram barulho de portas sendo aberta. Emmett foi à frente. Olharam todos os cômodos por onde passaram até chegar ao que Olívia esteve.

— Ali — disse Esme, mostrando os tênis de Olívia no carpete.

Emmett cruzou a porta do quarto como uma força da natureza; levando qualquer coisa que cruzasse seu caminho.

— Olívia — sua voz soou angustiada. Ele olhou dentro do closet e embaixo da cama. Olhou também atrás das cortinas e da poltrona. — Olívia. — Avistou a bolsinha que ela usava, em cima da cama. Ao se aproximar, encontrou o bloco de desenhos amarrotado; ela havia desenhado a ele, Rosalie, Norman e Esme. Ao lado de cada um, em caligrafia infantil, escreveu: papai, mamãe, vovô e vovó. Logo abaixo do desenho acrescentou: Ollie quer voltar para casa.

Emmett arrancou o desenho do bloco, dobrou e guardou no bolso.

Esme recolheu a bolsinha e também os tênis.

Ouviram vozes no corredor. Alguém falou sobre Carlisle está fugindo pelo bosque nos fundos da casa. As vozes se distanciaram.

Emmett e Esme refizeram todo o caminho de volta à sala. Saíram pela porta dos fundos, já aberta, levando a lanterna, seguindo o mesmo caminho que os policiais.

Alguém gritou para Carlisle permanecer onde estava. Para entregar a criança.

Foram ainda mais rápido. Esme tropeçou algumas vezes. Emmett reconheceu Carlisle na mira das lanternas. Sentiu-se aliviado por ver Olívia, ainda que nos braços dele. Foi impedido de se aproximar por dois dos policiais.

— O que pensa que está fazendo? — bradou ao pai de Sarah. — Devolva minha filha.

— Você não a merece — acusou Carlisle.

— E você a merece? — devolveu Emmett. — Nem mesmo quis conhecê-la, antes de tudo isso.

— Carlisle — Esme chamou atenção do ex-marido —, devolva a menina ao pai.

Carlisle passou o braço em volta de Olívia como tentando impedi-los de se aproximar.

— Ela não é Sarah — lembrou Esme; os olhos marejando. — Por favor… não é nossa filha — as palavras pareciam causar dor. — Olívia é nossa neta. Por favor… Sarah não gostaria que fosse assim. Que se aproximasse dessa maneira.

Ouvisse estalidos de galhos sob os pés de alguém no escuro. Todos aguardando em silêncio, prontos para agir.

— Está engada — ele recusou. — Não me importa que não queira vir comigo. A menina, eu não irei entregar.

— Desgraçado — esbravejou Emmett. Outra vez foi impedido de se aproximar. — Devolva minha filha.

— Carlisle, o que está fazendo? — lamentou Esme. Notou Olívia mole nos braços dele. — O que você fez?

Ele afagou a cabeça da menina.

— Ela está dormindo.

— O que você fez? — Esme repetiu. — Devolva a menina. Sarah não o perdoaria… Devolva ao pai. Tudo o que conseguiu com isso, foi deixá-la com medo de você.

— Cala a boca — ele gritou.

Esme deu um passo à frente.

— Me deixe pegar ela… — Estendeu os braços. — Ela precisa de um lugar seguro e confortável onde dormir.

Carlisle pareceu pensar no que disse.

— Por favor, não é Sarah que está em seus braços. É Olívia, nossa neta. — Conseguiu se aproximar. Carlisle não mostrou resistência a sua aproximação. Esme respirou fundo, temendo que mudasse de ideia. Com cuidado, pegou Olívia de volta.

— Só queria cuidar dela… — murmurou Carlisle.

Dois policiais se aproximaram, agarrando Carlisle pelos braços. Foram colocadas algemas nos punhos dele. O levaram de volta pela trilha.

Emmett se aproximou de Esme, afobado. Pegou Olívia de volta. Beijou na testa da menina ao repousar a cabeça dela no ombro largo.

Rosalie saiu da caminhonete assim que avistou Carlisle sendo levado algemado para um dos carros de polícia. Aguardou com impaciência, Emmett aparecer na lateral da casa, de onde os outros saíram, trazendo Olívia nos braços.

— Oh, meu Deus — as palavras saíram sussurradas, quase uma oração. Apressou o passo ao encontro deles. Agarrou aos dois, pai e filha, em um abraço desesperado.

Do outro lado do jardim, Carlisle parou ao lado do carro de polícia com a porta aberta, olhando para eles. Abaixou a cabeça, recordando o desenho no bolso feito por Olívia: ela tinha usado giz de cera amarelo para colorir seus cabelos, lhe dado uma gravata. Em caligrafia infantil escrevera “vovô”.

Foi forçado a entrar no carro. Olhou pela janela, a família no jardim, o sol começando nascer no horizonte atrás da casa.

— Olívia — murmurou. — Minha neta. — O carro se afastou, levando-o embora.

[…]

No silêncio do quarto de hospital, Emmett e Rosalie dividiam a mesma poltrona, enquanto aguardava Olívia acordar. Ansioso, ele não conseguia deixar de mexer nos dedos de Rosalie. Ela descansava a cabeça em seu ombro.

Olívia estava bem, já tinha sido examinada pela pediatra. Esperavam somente acordar para ter certeza e assim voltar para casa. Esme aguardava na sala de espera após deixar o quarto para Rosalie entrar.

A menina despertou vagarosamente. Confusa, olhando o teto, piscando como os olhos pesassem. A presença do monitor cardíaco trouxe a lembrança da seringa na mão de Carlisle.

— Papai — chamou, e o choro não demorou a chegar.

Emmett se colocou de pé em um pulo, forçando Rosalie a fazer o mesmo. Ambos chegaram mais perto da cama.

— Olívia — gaguejou Emmett.

— Ollie, meu amor — chamou Rosalie.

Ambos tocando, ora o rosto da menina, ora os braços, onde havia marcas escuras.

— Papai. Mamãe — a voz soou amedrontada.

Emmett precisou segurá-la quando tentou levantar, forçando o braço onde se encontrava o acesso intravenoso. Rosalie segurou a mão pequena na sua.

— Estamos aqui, meu amor. Estamos aqui.

Emmett beijou na testa da filha.

— Estamos aqui, amorzinho — repetiu o lembrete de Rosalie. — Está tudo bem agora. Acabou. Vamos voltar para casa.

— E a vovó?

Emmett foi quem respondeu:

— A vovó está esperando lá fora.

— Vovô…

Emmett afagou o rosto abatido da filha.

— Ele vai estar ocupado por um bom tempo. Não precisa sentir medo.

— Ele me chamou de Sarah… mas, eu não sou a Sarah. Sou Olívia. Também disse ser meu papai. É mentira, porque meu papai é você.

Emmett sorriu com lágrimas nos olhos.

— Sim, sou eu o seu papai. O único.

Um sorriso alegrou o rosto da menina.

— Papai urso — disse.

— Papai urso — repetiu Emmett. Ele imitou o bramir do urso. Os três riram. — Te amo, amorzinho.

— Estou com fome — Olívia informou. Emmett e Rosalie sorriram um para o outro. Ela estava bem.

[…]

Por todo o salão, crianças corriam, gritavam e davam risadinhas. A maioria delas estudou com Olívia. Um ou outro eram filhos de amigos.

Olívia desceu o escorrega, sorrindo. Megan estava sempre por perto. Um garotinho de cabelos louros tentava se aproximar das duas. Olívia afastou os cabelos do rosto. Percebeu que Rosalie e Emmett a olhavam. Acenou para eles, e partiu para o brinquedo seguinte.

— Ela está tão feliz — reafirmou Rosalie.

— É o primeiro aniversário que ela celebra ao lado da família e amigos — lembrou Emmett. No tom de voz, uma nota de culpa, que não passou despercebido.

— Muitos outros virão. — Rosalie apertou a mão na dele.

Emmett a olhou brevemente.

— Foi uma excelente ideia comemorar o aniversário dela nesse lugar.

— Mandamos bem, não foi?

— A ideia foi sua.

— Você ajudou com o resto.

Emmett olhou para o lado. Esme estava conversava com Cheryl, o namorado dela, Joseph, e também Norman. Mais adiante, Alice tinha uma conversa animada com Isabella e o namorado, Edward.

Beijou a têmpora esquerda de Rosalie. Ela descansou a mão em seu peito forte.

— Estou atrasado para os parabéns?

Rosalie sorriu, reconhecendo a voz, mesmo antes de se virar.

— Papai — falou, de frente para ele.

Geoffrey os cumprimentou.

— E a aniversariante onde está?

Emmett olhou em volta, a procura de Olívia. A encontrou saindo da piscina de bolinhas. Moveu a mão, chamando por ela:

— Olívia.

A menina se aproximou saltitante, em seu conjuntinho de short bege e blusinha em tons de rosa, floral.

— Você veio — admirou-se.

Geoffrey entregou o embrulho de presente.

— Fiquei sabendo que este é um dia mais do que especial.

Sorrindo, Olívia respondeu:

— Hoje é meu aniversário.

Megan a chamou de algum lugar do salão ladeado de brinquedos e jogos.

— Agora eu vou brincar. — Entregou o presente a Rosalie para que guardasse junto aos outros. — Que bom que veio vovô. — Saiu correndo. Megan a pegou pela mão. O garotinho rondando do outro lado. Os três subiram a escada para descer o escorrega.

Geoffrey ficou sorrindo.

— Ela acabou de me chamar de vovô.

Rosalie anuiu, com um sorriso no rosto, abraçando de lado o pai. Ele tocou brevemente sua barriga.

Viram quando Olívia e um grupo de crianças se juntaram para brincar de roda. O garotinho saiu emburrado, porque queria segurar na mão de Olívia e não conseguiu.

Rosalie abraçou Emmett; a expressão no rosto dele era leve, de alguém verdadeiramente feliz.

Ainda nas primeiras horas da manhã, Emmett foi com Olívia visitar o túmulo de Sarah. A menina fez um desenho e o deixou junto às flores para a mãe biológica. Se Sarah pudesse vê-los, abriria um sorriso, feliz por Emmett e Olívia estarem bem.

 


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