Um Caminho Para O Coração escrita por Sill Carvalho, Sill


Capítulo 48
Capítulo 47 — Fazer Valer a Verdade


Notas iniciais do capítulo

Oi, gente!
Lana Ston esse capítulo é especialmente para você. Espero que goste. Amei sua recomendação. Obrigada!



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Durante o jantar, Olívia prestou atenção ao que todos diziam, em cada gesto. Chegou à conclusão que se davam bem. Sorriu a esse pensamento.

Momentos mais tarde, reunidos na sala de estar, os adultos retomaram a conversar. Olívia os deixou, por alguns instantes, para ir ao escritório pegar o material de desenho e retornou em seguida. Espalhou o material no tapete novo e começou se preparar para iniciar o desenho.

Rosalie conseguiu imaginar qual seria o desenho, no modo como Olívia analisava as feições de cada um. Esboçou um sorriso ao perceber que se demorou um pouco mais estudando as feições de Geoffrey, seu pai.

Alguns minutos se passaram desde que iniciou o desenho. Olívia então se levantou, com o caderno nas mãos, e se aproximou de Rosalie.

— Mamãe — sussurrou junto ao ouvido.

Rosalie sorriu. E beijou-lhe o rosto antes de reparar no desenho.

— Que lindo, meu amor — elogiou. Olívia sorriu. Ela havia desenhado a todos eles. Usado giz de cera em cores semelhantes ao colorir seus cabelos. Abaixo de cada um escreveu: papai, mamãe, vovô Nor, vovó Esme. Porém, abaixo do desenho de Geoffrey, permanecia em branco.

— Esse é meu pai? — tentou Rosalie, encostando o dedo indicador ao desenho sem identificação.

Envergonhada, Olívia sussurrou:

— Não sei como escreve o nome do seu papai.

— Não tem problema, mamãe te ensina em outro momento.

— Não quero que ele veja ainda.

— Tudo bem. Você fez esse desenho para ele?

Olívia voltou a sorrir.

— Sim.

— Eu te ajudo escrever o nome dele depois.

— Mamãe?

— Sim?

— Posso ir ao escritório tocar celo agora?

— É claro que você pode, meu amor.

Olívia se colocou de pé ao lado de Esme; as mãos repousando no braço dela, esperando para falar:

— Oi, meu anjo — disse Esme.

— Você que vir comigo, vovó? Quer me ouvir tocar celo?

O rosto de Esme se iluminou com satisfação.

— Claro que sim. Você sabe que vovó adora te ouvir tocar violoncelo.

Geoffrey se mostrou surpreso ao ouvir.

— Você toca violoncelo, Olívia? — questionou.

Olívia curvou os ombros, demonstrando timidez ao responder:

— Só um pouquinho.

— Ela está aprendendo ainda — lembrou Emmett. — Mas já demonstra grande talento.

— Abobrinha tem demonstrado gosto pelo instrumento musical. E dedicação — emendou Norman.

Esme sorriu para a neta, sabendo exatamente de onde vinha seu amor pela música instrumental.

 Geoffrey olhou para Rosalie ao mencionar:

— Rose toca piano.

Esme a olhou, parecendo gostar da novidade.

— É mesmo? — questionou. E ao olhar para Rosalie, completou: — Não me contou que toca piano.

— Isso faz parte de uma época em minha vida que não gosto de lembrar.

Emmett alcançou a mão dela, entrelaçando seus dedos, demonstrando apoio.

Geoffrey lançou a Rosalie um pedido silencioso de desculpa. Não deveria ter mencionado o piano. Dorothy sempre exigiu demais de Rosalie, e as aulas de piano estiveram nessa conta. Na obsessão pela perfeição, não percebeu o mal que estava causando a própria filha.

Esme se colocou de pé, com um pedido de licença.

— Olívia — Geoffrey quis saber da menina —, você gosta de tocar violoncelo?

— Sim, gosto muito.

Geoffrey balançou a cabeça, aceitando.

Olívia e a avó se retiraram de mãos dadas.

Geoffrey sorriu ao som das primeiras notas musicais, chegando até ele na sala de estar.

— Ela realmente leva jeito — elogiou.

Um sorriso orgulhoso se fez presente no rosto de Emmett.

Mais tarde, após a saída de Norman e também de Esme, Olívia foi se preparar para dormir.

— Dê boa-noite para eles, e vamos subir — pediu Rosalie.

Olívia passou os braços em volta do pescoço do pai, que esteva sentado no sofá.

— Boa noite, papai.

Emmett beijou o rosto da filha algumas vezes antes deixá-la ir.

— Boa noite… — falou diante Geoffrey, com os braços estendidos juntos ao corpo.

— Posso pegar sua mão? — Geoffrey pediu.

Olívia meneou a cabeça, confirmando. Geoffrey estendeu a mão, recebendo a mão pequena na sua.

— Boa noite, pequena Olívia. Durma bem — disse-lhe.

Olívia sorriu para Rosalie, então, para Geoffrey.

— Boa noite, papai da mamãe Rose — disse. Em seguida correu para junto de Rosalie, que pegou em sua mão pequena. Subindo a escada juntas.

[…]

— Uau! — se admirou Olívia com o tamanho das bolhas de sabão flutuando no jardim dos fundos, onde ela e o pai brincavam. Pulou, dando risadinhas ao tentar alcançar as bolhas com as mãos.

Era meio da trade, eles aproveitavam o tempo livre para se divertir do lado de fora. Ainda pela manhã tinham ido à igreja. Aproveitaram a saída para almoçar fora também. Emmett e Olívia trocaram de roupas logo que chegaram e foram fazer bolhas de sabão gigantes, com as raquetes que o próprio Emmett fez com material reciclável. Rosalie se juntou há eles instantes depois.

Sempre que tentava alcançar as bolhas de sabão flutuando, o rabo de cavalo no alto da cabeça de Olívia se movimentava de um lado para outro.

— Que lindo! — disse Rosalie, observando as bolhas flutuando com leveza, refletindo cores à luz do sol.

— Mamãe, papai sabe fazer bolhas gigantes — contou Olívia.

— Olha essa, Olívia — Emmett chamou sua atenção para mais uma bolha gigante tomando forma.

Os olhos de Olívia brilharam com alegria. O sorriso brincando nos lábios.

— Posso tentar, papai?

Emmett entregou o material, permitindo que tentasse.

— Ah — lamentou a tentativa falha. — Eu não consigo fazer bolhas gigantes, só bolhas nenéns.

Os dois acharam graça de seu comentário.

— É porque você é pequenina — brincou Rosalie.

Olívia deu uma risadinha. Soprou bolhas pequenas com a raquete menor. O vento agitou alguns fios soltos de seus cabelos no rosto. Ela usou o antebraço para afastá-los. E soprou mais bolhas, observado o vento levá-las para longe.

— Agora é sua vez, mamãe — ofereceu o brinquedo a Rosalie.

— Certo — Rosalie deu um beijo na têmpora da menina. — Você e o papai irão tentar estourar todas que eu fizer. Vamos ver quem estoura mais.

— O papai, porque ele é grande igual um urso pardo.

Rosalie não pôde segurar a risada. Emmett pegou Olívia pela cintura, erguendo-a no alto, imitando o bramir do urso. O som da risadinha de Olívia se juntou a risada de Rosalie.

À sombra do caramanchão florido, Geoffrey se aproximou, sentando ao lado de Esme no banco, com um pedido de licença.

— Eles estão se divertindo — comentou Esme.

— Por que não está brincando com eles?

— Estava observando… — ela parou de falar, olhando os três brincando.

Geoffrey olhou naquela mesma direção.

— Não me lembro de ter visto Rose tão feliz assim — fez-se um breve silêncio entre eles. — Não incomoda Rose estar com eles? Quero dizer, ela estar aqui vivendo nessa casa, fazendo parte da vida deles.

Esme o olhou. Havia verdade em seu olhar.

— Só tenho a agradecer Rose por todo amor e carinho dedicados a minha neta. Emmett não poderia ter escolhido melhor mãe para Olívia.

— Obrigado — disse Geoffrey.

Esme o olhou como não entendesse.

— Por receber Rose tão bem — ele esclareceu.

Esme meneou a cabeça, compreendendo.

— Rose é uma mulher dedicada. Forte. Cheia de amor a oferecer.

Como soubesse ser o motivo da conversa, Rosalie olhou na direção do caramanchão. Deixou Emmett e Olívia brincando com as bolhas de sabão para se aproximar.

— Conseguiu resolver tudo? — questionou ao pai quanto às ligações que precisou fazer minutos atrás.

— Tudo resolvido — garantiu Geoffrey.

— Falou com a mamãe?

— Sua mãe ainda está muito aborrecida — lembrou. — Não quer falar comigo.

Esme levantou e saiu caminhando pelo jardim dos fundos. Olívia chamou para participar da brincadeira. Rosalie sentou ao lado do pai, ocupando o espaço que Esme havia deixado.

— Ela não vai ceder nunca… — lamentou Rosalie, descansando a cabeça no ombro de Geoffrey. O pai lhe afagou os cabelos.

— Sua mãe vai precisar de um tempo.

Rosalie levantou a cabeça para olhar no roto dele.

— Por minha causa a relação de vocês não anda bem.

— Minha relação com sua mãe já não estava bem muito antes.

Rosalie suspirou como lamentasse.

— Descobriu algo sobre Irina?

— Nada ainda. Sua irmã está irredutível.

— Precisa ajudar ela, papai.

— Estou tentando. O problema é que sua irmã nega.

— Precisa fazer a mamãe questioná-la. Tirar dela a verdade sobre o que está acontecendo.

— Você sabe que não é uma tarefa fácil.

Rosalie anuiu.

— Quanto a seu emprego? — continuou Geoffrey. — O que pensa fazer?

— Estou tentando algo novo. Se ocorrer como esperado, começo no outono.

— Vai dar tudo certo. Acredite. — Ele segurou as mãos de Rosalie. — Irei voltar à Atlanta…

— Quando vai voltar?

— Amanhã cedo. Eu só quero que seja feliz, Rose, não importa o lugar ao qual escolheu para viver. Irei tranquilo, porque que sei que está feliz aqui.

— Posso dizer que encontrei meu lugar no mundo.

Geoffrey beijou a mão da filha. Rosalie o abraçou. Olhou adiante; Emmett sentado no gramado, com Esme ao seu lado, soprando bolhas de sabão para Olívia estourar.

— Agora entendo por que quis voltar… — murmurou Geoffrey.

— Mamãe — Olívia chamou.

— Vá ficar com eles — incentivou Geoffrey. — Ficarei bem.

Rosalie beijou no rosto dele antes de se levantar.

— O vovô Nor, virá mais tarde para o jantar? — Olívia se aproximou, pondo a mão na dela.

Rosalie a pegou no colo, girando sem sair do lugar, suas testas unidas, rindo uma para a outra.

[…]

Diante a lápide de Sarah, rodeada de grama verde, sentindo um nó na garganta, Carlisle não conseguiu conter a emoção em estar pela primeira vez no local onde a filha foi enterrada.

Abaixou-se para colocar flores diante da lápide. Leu os dizeres nela. Retirou do bolso interno do paletó a fotografia que carregava consigo: Sarah ainda criança, com roupas de balé, sorrindo para as lentes da câmera. Uma segunda fotografia onde ela já estava adulta. Ele ergueu os óculos escuros, se demorando com ambas as fotos em mãos. Voltou guardá-las no bolso do paletó. Pegou-se desejando ser Emmett naquele lugar, e não Sarah, sua única filha.

Limpou os olhos marejados e tornou ficar de pé. Ouviu vozes, em algum lugar próximo dali. Avistou duas mulheres, provavelmente mãe e filha. Pôs os óculos escuros de volta. Deu um passo para trás. Olhou uma última vez o nome de Sarah gravado na lápide antes de começar se afastar. As mulheres no outro lado olharam em sua direção. Seguiu andando até estar fora do cemitério, onde um Mercedes na cor preta, com motorista ao volante, estava a sua espera.

[…]

Norman estacionou o carro na entrada de veículos, no jardim da casa de Emmett, logo atrás do carro de Esme. Saltou, carregando uma travessa com comida. Encaminhou-se à varanda para apertar a campainha.

Do outro lado da rua, ocupando o banco traseiro do Mercedes-Benz, Carlsile viu a porta abrir e Emmett aparecer com um sorriso no rosto. O odiou ainda mais por estar feliz. O que aconteceu a seguir roubou sua atenção completamente; Olívia chegou à porta sorrindo, vestida de pijama, os longos cabelos ruivos soltos. Ela abraçou o senhor que acabou de chegar.

Carlisle pegou a fotografia de Olívia na pasta, junto a tantas outras feitas ao longo dos dias por um detetive particular.

— Sarah — murmurou, observando a criança na porta da casa junto a Emmett e ao senhor cujo conhecia apenas por fotografias.

Emmett reparou com estranheza o carro no outro lado da rua. Norman entrou na casa. Olívia saiu do alcance de visão. Emmett pôs um pé na varanda. O carro se afastou devagar. Emmett retornou e fechou a porta.

— A mamãe está na cozinha com a vovó Esme — ouviu Olívia falando a Norman, que cumprimentou Geoffrey na sala de estar. Olívia o levou pela mão até a cozinha.

— Aconteceu algo? — Geoffrey perguntou ao perceber a expressão desconfiada no rosto de Emmett.

Emmett gesticulou na direção da porta da frente.

— Fiquei com a impressão de ter alguém olhando para cá, do carro no outro lado da rua.

— Ainda está lá, o carro?

— Não.

— Não dever ser nada.

— É — concordou Emmett. Logo, emendaram outro assunto.

— Oi, vovô — Rosalie cumprimentou Norman.

— Onde deixo isso? — ele indicou a vasilha que trazia.

Rosalie se aproximou. E recebeu a tigela das mãos do avô.

— O aroma está delicioso. — Ela beijou no rosto dele. — O que trouxe?

— Costela ao molho barbecue.

Rosalie levou a tigela à mesa, onde Esme terminava de pôr a louça.

Olívia saltitou no entorno delas.

— Em que posso ajudar? — Norman ofereceu.

— Já ajudou vovô. Trouxe um prato delicioso. Sente-se, por favor. — Olhando para Olívia, pediu: — Ollie, você pode chamar o seu papai e também o meu?

— Ahan — Olívia deu um pulinho. Virou-se e saiu para chamar Emmett e Geoffrey na sala.

[…]

Geoffrey fechou o porta-malas ao deixar lá a bagagem de mão. Era comecinho da manhã. Ele olhou para trás, Rosalie e Olívia de mãos dadas, ainda de pijamas. Emmett um passo atrás como quisesse protegê-las de alguma coisa. Talvez não fosse o homem que Dorothy tenha idealizado para a filha, ou mesmo ele. Porém, Emmett era um homem bom e amava Rosalie. Percebeu isso no modo como a olhava e tratava. E tinha Olívia, que amava Rosalie como a uma mãe.

Deu dois passos, diminuindo a distância entre eles.

— Gostei muito de passar esse tempo com vocês.

Olívia olhou de Rosalie para Geoffrey.

Rosalie usou seu braço livre para abraçar ao pai.

— Obrigada por ter vindo.

Geoffrey tocou o queixo dela com afeto.

— Me mantenha informado.

Rosalie anuiu.

Geoffrey olhou Olívia ao lado dela.

— Na próxima visita, irei trazer um jogo de xadrez para você. Obrigado, novamente, pelo desenho.

Olívia sorriu.

Geoffrey tocou de leve a cabeça da menina.

— Você cuida de Rose para mim? — pediu.

Olívia deu uma risadinha, afirmando com um balançar de cabeça.

Rosalie abraçou o pai mais uma vez, antes de deixá-lo ir.

Geoffrey se encaminhou ao carro estacionado. Acenou para Emmett, enquanto Rosalie punha Olívia no colo. Minutos atrás, Emmett prometeu a ele, na cozinha, enquanto tomavam café, cuidar bem Rosalie.

Olívia envolveu o pescoço de Rosalie com os braços. Ela lhe deu um beijo de esquimó. A menina sorriu. Emmett se aproximou de ambas, abraçando as duas de uma só vez. Então, ele entrou na velha caminhonete. Rosalie e Olívia voltaram para dentro de casa para se trocar. Rosalie a deixaria na escola em seguida.

No trajeto até a escola primária, elas não sabiam, mas Carlisle as estava seguindo desde que saíram de casa. Houve um momento em que os carros estiveram ao lado um do outro. Aquilo foi o mais perto que Carlisle esteve da neta. Ele viu Olívia no banco traseiro, com um brinquedo colorido nas mãos. Ela parecia conversar com loura ao volante.

[…]

— Acabei de chegar — Rosalie falou com Emmett ao telefone. Saiu do carro, segundando o celular junto ao ouvido. Olhou a fachada do hospital. Fazia dois dias desde a visita de Geoffrey. Agora ela estava em Atlanta para ver a irmã que havia dado entrada na urgência do hospital no dia anterior. Irina precisou ser submetida uma cesárea de emergência. Por sorte, ela e o bebê estavam bem agora.

Rosalie estava lá, porque, quando Geoffrey te contou que Irina disse ter caído no banheiro, não acreditou. Passou duvidar menos ainda ao descobrir que se recusava segurar o próprio filho nos braços.

— Preciso desligar agora, amor.

— Eu te amo — declarou Emmett.

— Também te amo. Ligo mais tarde. Dê um beijo na Ollie por mim, quando pegá-la na escola.

— Pode deixar. E… Rose, não permita sua mãe magoar você outra vez.

— Não irei.

Rosalie encontrou Dorothy na sala de espera.

— Mamãe.

Dorothy se colocou de pé.

— O que veio fazer aqui.

— Meu pai me contou o que aconteceu.

— Agora vocês são amiguinhos, não é mesmo.

Rosalie reagiu com impaciência.

— O que você quer? — Dorothy insistiu.

— Preciso falar com Irina. E também conhecer meu sobrinho.

— Irina não quer você aqui.

— Disso eu sei.

— Então, por que veio?

— Apesar de tudo, eu a amo.

Dorothy se movimentou pela sala de espera, demonstrando estar incomodada.

— Veio sozinha?

— Sim.

— E o homem por quem você largou tudo? Onde ele está agora?

— Ele tinha que trabalhar, mamãe.

Dorothy resmungou algo que Rosalie não conseguiu entender.

— Onde está o papai?

— Ele foi pegar um café.

— Por que não está com Irina agora?

— Ela dormiu. Precisei falar ao telefone, não quis incomodá-la.

Rosalie deu um passo à frente.

— Eu vou…

Dorothy agarrou seu braço, impedindo de ir adiante.

— Mamãe — Rosalie a olhou como não acreditasse.

— O que está fazendo, Dorothy? — Geoffrey pediu ao retornar. — Deixe Rose passar.

— Ela não vai entrar lá. Só vai perturbar Irina. Não é disso que ela precisa nesse momento.

Geoffrey chegou mais perto. Levou a mão livre ao braço de Dorothy, que soltou o braço de Rosalie contra vontade.

— Vá falar com sua irmã — se dirigiu a Rosalie.

O olhar de Rosalie para o pai foi de gratidão. Mas, quando olhou no rosto da mãe, havia mágoa em suas feições. Encaminhou-se ao quarto. Ainda pôde ouvir Geoffrey com Dorothy.

— Você fica.

Não ficou para ouvir a mãe reclamar.

Rosalie encontrou Irina dormindo como Dorothy havia contado. A cama hospitalar levemente inclinada. Então, seu olhar foi atraído pelo bercinho transparente com o bebê dentro. O ouviu resmungar e mexer as mãozinhas. Aproximou-se com cautela. Sorriu ao ver o pequeno de perto; os olhos cor de mel e cabeça careca. A touca branca se encontrava ao lado da cabeça, havia certamente caído.

— Oi, meu amor — murmurou, se inclinando para pôr a touca de volta na cabeça do bebê. Ele piscou os olhinhos, parecendo se concentrar no som de sua voz. — Gosta de minha voz? — tornou murmurar. — Você é muito lindo.

— O que está fazendo aqui? — a voz de Irina soou atrás de suas costas.

Rosalie se afastou do bercinho com a mesma cautela com que se aproximou.

— O que está fazendo aqui? — repetiu Irina.

Rosalie ficou de frente para a irmã. Notando melhor seu rosto machucado.

— Ele fez isso com você — afirmou. — Não caiu no banheiro como está fazendo todos acreditar.

— Vá embora — alterou a voz.

O bebê resmungou.

— Não grite — pediu Rosalie. — Seu filho está aqui.

— Eu não me importo.

Rosalie balançou a cabeça, sem acreditar.

— Onde está Royce?

— Eu não sei. Vá embora — tornou exigir.

— Você precisa contar a verdade.

— Saía daqui, Rose.

— Precisa contar o que ele fez.

— Vá embora.

O bebê começou a chorar. Rosalie foi pegá-lo.

— Está assustando ele, levantando a voz dessa maneira.

— Vá embora e leve esse bebê com você.

— Esse bebê é seu filho — respondeu, com o sobrinho nos braços, ninando-o. — Como pode falar assim?

— Não o quero. Agora vá embora daqui — gritou.

Dorothy entrou no quarto, seguida de perto por Geoffrey.

O bebê estava chorando.

— Tire ela daqui, mamãe — Irina pediu. — E o bebê também.

Uma enfermeira entrou no quarto. Pegou o bebê dos braços de Rosalie, pedindo que saíssem todos.

— Vá embora, Rose — gritou outra vez Irina.

Mesmo Dorothy querendo ficar, todos tiveram de sair do quarto.

Rosalie se sentiu mal. As pernas fraquejaram, as vistas ficaram escuras. Apoiou-se ao braço de Geoffrey. Ouviu chamando seu nome como estivesse distante. Dorothy reclamando que não deveria ter vindo. Que era culpa sua, Irina ficar alterada daquela maneira. De repente, não ouviu mais nada.

Recobrou a consciência em um dos quartos do hospital com o pai sentado na poltrona, olhando em sua direção. O médico e uma enfermeira a rodeando.

Aguardou até o resultado do exame de sangue ficar pronto.

O médico retornou com os resultados.

Rosalie se sentou, afastando as costas do travesseiro, os olhos atentos.

Geoffrey deixou o telefone de lado, aguardando o médico falar.

— Então? — começou Rosalie. — Há algo errado comigo?

— Você está ótima.

Rosalie suspirou, aliviada. Fez menção de sair da cama, mas precisou parar para ouvir.

— Há uma coisa que precisa saber…

Ela o olhou, sem entender o que significava.

Geoffrey chegou mais perto da cama.

— Você está grávida.

— O quê? — se pegou falando.

Geoffrey sorriu, com alívio. Segurou a mão de Rosalie entre as dele.

— Um bebê — falou para ela.

O rosto de Rosalie se revelou uma mistura de emoções: medo, surpresa, felicidade.

— Estou grávida?

— Você parece não acreditar.

— Realmente, não acredito — admitiu, sorrindo, porém, os olhos marejados. Incrédulos.

— Bem, acredite. — Ele se aproximou. — Acho que vai querer ficar com isto — entregou a ela o resultado do exame.

Rosalie segurou o envelope com mãos trêmulas. Retirou o laudo médico, leu algumas partes com calma, passando depressa por outras. As lágrimas começando molhar seu rosto.

— Parabéns — disse Geoffrey.

Rosalie deixou os papeis na cama para abraçar o pai.

— Estou com medo — admitiu.

— Vou deixá-los agora — comunicou o médico. Ele cruzou com Dorothy na saída.

— Por que está com medo? — Geoffrey pediu.

— De não conseguir? Se eu perder esse bebê como perdi o outro?

Dorothy os interrompeu.

— Está grávida? — seu tom de voz soou ríspido.

Geoffrey fez sinal com a mão para ir com calma. Dorothy o ignorou.

— Está grávida daquele homem…

— Dorothy — Geoffrey alertou.

— Não me peça para me calar — revidou. Olhando para Rosalie, emendou: — Está destruindo sua vida.

— Às vezes, mamãe, eu penso que se casou com meu pai pelo dinheiro.

Dorothy ergueu a mão, movendo-a na direção de Rosalie. Geoffrey segurou seu punho. Ela a olhou, furiosa. Rosalie a olhava com espanto.

— Não vai fazer isso — Geoffrey avisou.

Dorothy puxou o braço, raivosa.

— Deveria se preocupar com Irina, mamãe. Ela é quem precisa ser resgatada.

— Do que está falando?

— Royce não é esse homem maravilhoso que pensa. Ele não faz Irina feliz. Não é um bom marido. E não será um bom pai.

— Está inventando coisas, porque tem inveja de sua irmã.

— Pelo amor de Deus, mamãe.

— Dorothy…

— Irina está sofrendo — prosseguiu Rosalie. — Está presa a uma relação abusiva.

— Está inventando tudo isso.

— Não — Geoffrey interferiu. — Rose está preocupada com a irmã. Irina não caiu no banheiro como disse que aconteceu. Royce bateu nela.

— Nenhum de vocês tem prova.

— Exatamente. Irina não admite que ele a machuca. Ela precisa se abrir. Confiar que estamos ao lado dela.

— Sempre estive ao lado da minha filha.

— Não desse jeito, mamãe. Precisa parar de dizer o que ela tem de fazer. Pare de focar no que Royce possuiu, nos bens materiais. Preste atenção nela, Irina. Ouça verdadeiramente o que tem a dizer. Use o amor que tem por ela para protegê-la. Apenas você irá conseguir tirar dela a verdade. Irina não irá denunciar Royce se não tiver seu apoio.

— Royce não é essa pessoa horrível que está dizendo.

— Ele é, acredite. Irina precisa de ajuda.

Dorothy moveu a cabeça, nitidamente perturbada.

— Estão enganados.

— Queria que sim, que estivéssemos mesmo enganados — continuou Rosalie.

Dorothy virou de costas. Aparentemente, confusa. Encaminhou-se a saída, deixando Rosalie com o pai.

— Espero que ela faça algo — disse Rosalie.

— Ela ficou bastante abalada — pontuou Geoffrey. — Vai tentar descobrir a verdade.

— Espero que sim. Apesar de tudo, desejo que Irina seja feliz.

— É uma boa irmã, Rose — Geoffrey acrescentou. — Uma boa filha. E também boa mãe. Olívia te ama muito.

Rosalie sorriu para ele.

— Esse bebezinho. — Ele levou a mão à barriga dela. — Irá amá-la com igual intensidade.

— Ah, papai… — murmurou com lágrimas nos olhos. E o abraçou.

— Eu te amo — disse ele, com o queixo descansando no alto da cabeça dela.

[…]

À noite, Rosalie jantou com a amiga Isabella e o namorado dela, Edward. Foi incapaz de guardar segredo sobre a gravidez, contando a eles que estava grávida. O tempo ao lado deles foi muito agradável, por um instante se esqueceu de toda confusão no hospital envolvendo Irina. Ao se despedir deles, foi para o apartamento que Geoffrey a presenteou anteriormente. Antes de dormir falou com Olívia e Emmett por chamada de vídeo, sem mencionar a gravidez.

[…]

Ainda pela manhã, Rosalie voltou ao hospital para ver Irina. Respirou fundo antes de entrar no quarto. Sua intenção não era aborrecê-la ou mesmo confrontá-la. Queria somente se despedir antes de voltar para Emmett e Olívia.

Ficou feliz ao encontrar Irina com o bebê no colo, ela o amamentava.

Irina notou sua presença, porém, permaneceu em silêncio. Afagou a cabeça careca do bebê.

— Está sozinha? — Rosalie pediu. Entrou no quarto, mesmo sem uma resposta da irmã. — Onde está a mamãe? — voltou perguntar, uma vez que a encontrou apenas com o filho.

— Ela saiu.

Rosalie chegou mais perto da cama. Observou o bebê nos braços da irmã.

— Ele é lindo — elogiou o sobrinho. — Se parece com você.

Viu nos lábios de Irina o que pareceu ser um quase sorriso.

— Como ele se chama?

— Jonah.

— É lindo — fez-se silêncio alguns instantes. — Me sinto aliviada que tenha mudado quanto…

Irina a interrompeu, sabendo o que diria.

— Quer segurar ele? — ofereceu.

— Ele não está…

— Ele já terminou, só está segurando.

Rosalie chegou mais perto, pegando-o cuidadosamente nos braços. No primeiro momento, Jonah se mostrou inquieto. Ela o ninou alguns instantes. O bebê chegou cochilar em seus braços.

— Está grávida? — comentou Irina. Ao perceber o olhar de surpresa da irmã a sua pergunta, completou: — Mamãe me contou.

Rosalie meneou a cabeça. É claro que Dorothy contaria.

— Sim — respondeu.

— Imagino que esteja feliz.

— Estou, sim. E quero que você também esteja.

— Você sempre foi melhor que eu, em tudo… — lembrou Irina.

— Não… Isso é coisa de sua cabeça.

— Está me chamando de louca?

— Claro que não.

— Eu não perdoaria… como você — fez-se silêncio, então, voltou a falar: — Ele te ama?

— Quem? — quis saber Rosalie.

— O pai de seu bebê. O homem por quem largou tudo para trás.

— Estou reconstruindo minha vida. Você deveria fazer o mesmo.

— Não respondeu a minha pergunta.

— Emmett me ama — respondeu, por fim.

— Esse é o nome dele, Emmett?

— Sim. Emmett McCarty.

— Como tem tanta certeza do amor dele por você?

— Ele tem demonstrado diariamente, em atitudes, gestos e palavras. Vejo nos olhos dele que é real.

— Mamãe disse que ele tem uma filha.

O rosto de Rosalie se iluminou com um sorriso ao ouvir mencionar Olívia.

— O nome dela é Olívia. É a garotinha mais adorável de todas. Ela tem seis anos. Faz sete no início do verão. Posso te mostrar uma foto, se você quiser. — Olhou o bebê dormindo em seus braços. Chegou perto do bercinho e o colocou lá dentro com cuidado. — Tenho fotos deles, no meu celular.

— Eu não quero — recusou.

— Tudo bem.

— Mamãe o odeia — pontuou Irina.

— Mamãe odeia o fato de ele não ter os mesmos recursos financeiros que o Royce.

Fez-se uma pausa.

— Quando vai voltar? — perguntou Irina.

— Estou pensando voltar entre hoje e amanhã.

O bebê resmungou no berço. Ambas olharam naquela direção.

— O sono dele se resume a cochilos — lamentou Irina.

— Quer que eu o pego para você?

— Se não for incomodar.

Rosalie pegou o sobrinho e levou para os braços da mãe dele. Acariciou a mão pequenina, e chegou um passo para trás.

— Eu vou indo, antes que mamãe apareça — começou Rosalie. — Não quero discutir com ela novamente. — Pegou a bolsa na poltrona e se encaminhou a porta. Parou, olhando para trás. — Faça o que precisa ser feito… — lembrou a irmã o que fazer. — Se liberte do que está te fazendo mal. — Voltou olhar para frente.

— Rose — Irina chamou seu nome.

Tornou olhar a irmã com o bebê no colo.

— Eu já fiz…

[…]

Rosalie seguiu pelo estacionamento até onde ficou estacionado seu carro. Um carro estava saindo, um terceiro chegando.

De repente, sentiu alguém puxar seu braço esquerdo forçando-a para trás. Seu pé entortou, fazendo perder o equilíbrio. Os cabelos foram lançados no rosto pela violência com que foi surpreendida. Foi somente ao afastar os cabelos dos olhos, que se deu conta que quem segurava seu braço era Royce. Forçou o braço para se libertar, mas os dedos dele fincaram na pele. Voltou afastar os cabelos do rosto, ofegante.

— Me solta!

— É culpa sua — Royce acusou. — Estou proibido de entrar no hospital para ver Irina e meu filho.

Saber disso deu a Rosalie nova disposição. O sorriso em seu rosto soou como uma provocação.

— Que bom que Irina fez a coisa certa.

— Ela vai sair daqui… — rosnou, como uma ameaça.

— Não vai chegar perto dela nunca mais.

— É o que acha? — ele zombou.

— É que vai descobrir — desdenhou Rosalie.

Royce usou a mão livre para agarrar seu braço direito também, forçando estar ainda mais perto dele. O odor de álcool atingiu o rosto de Rosalie.

— Esse perfume… — murmurou ele.

— É melhor você me soltar.

— Eu deveria arrebentar essa sua cara. — Deu um forte sacolejo nela, antes de soltá-la.

Rosalie conseguiu se equilibrar a tempo. Presenciar o sorriso no rosto dele lhe causou náusea. Cuspiu no rosto dele em repulsa.

Royce limpou o queixo com a mão. O olhar de ódio direcionado a ela.

— Está tudo bem aí? — alguém perguntou a poucos metros.

Royce recuou. Fez um aceno ao homem que os observava, a caminho de onde ficou estacionado o carro. De detrás do volante, encarou Rosalie.

Rosalie entrou no próprio carro, desorientada. Levou ambas as mãos à barriga, respirando fundo, pensando no bebê que esperava. Aguardou Royce deixar o estacionamento. Fez uma ligação para Geoffrey e contou da abordagem agressiva de Royce.

[…]

Emmett saiu do trabalho para pegar Olívia na escola. Em seu último dia de aula antes das férias de verão. Pai e filha foram juntos as compras; Emmett tinha planejado um jantar para receber Rosalie. Olívia o ajudou escolher as flores que dariam a ela.

Olívia estava radiante, pela condecoração por suas boas notas.

— Papai — disse Olívia. — Posso brincar lá fora?

— Agora não, amorzinho. Papai precisa organizar umas coisas antes de começar fazer o jantar. Não tenho como olhar você lá fora. Por que não lava as mãos para fazer um lanche?

— Tá bom, papai. — Ela foi ao lavabo higienizar as mãos. Ao chegar à cozinha havia um copo de leite e uma tigela com biscoitos em cima da ilha. Observou Emmett retirando as compras das sacolas. Tinha um bigode de leite quando pediu: — Eu posso ajudar, papai?

— Quer ajudar o papai fazer o jantar?

Ela mordeu um biscoito. Confirmando com um movimentar de cabeça.

— Uhun — murmurou.

Emmett beijou no alto de sua cabeça ruiva.

— Papai vai adorar ter sua ajuda.

Com o jantar encaminhado, Emmett pediu que Olívia fosse para o banho.

Ele arrumou a mesa na sala de jantar. Olhou o jardim pela janela, antes de subir para ajudar Olívia arrumar os cabelos.

— Quero fazer um desenho para a mamãe — comentou ao sair do quarto. Os cabelos estavam presos por uma trança na parte de cima, o restante, soltos. Ela usava uma saia de tule amarela e camiseta branca com a estampa de uma menina tocando violão, usando fones de ouvido.

— Mamãe vai adorar — lembrou Emmett. Fechou a porta atrás das costas. Seguiu Olívia pelo corredor e escada. Olívia entrou no escritório enquanto Emmett olhava a hora no visor do celular.

— Papai, eu preciso ir lá fora — disse, de volta à sala.

— Por quê? O que vai fazer lá?

— Meu bloco de desenhos ficou na casinha de bonecas na última vez que usei.

— No escritório tem folhas de papel que você pode usar.

— Preciso do meu bloco…

— Vai destacar a folha de qualquer maneira.

— Preciso mesmo assim.

— Está bem… Pegue o bloco de desenhos e volte imediatamente. Não demora, vai estar escuro lá fora.

Olívia deu um pulinho. Correu até a porta da frente. Saiu para a varanda, e desceu os degraus na entrada correndo. A porta bateu com o vento. Ela deu a volta na lateral da casa, chegando ao jardim dos fundos.

Carlisle saiu do carro a poucos metros da casa, de onde os espiava. De forma sorrateira, entrou no jardim da frente, seguindo o caminho feito por Olívia. A menina estava no interior da casinha de bonecas.

Emmett foi à cozinha, abriu a porta dos fundos, espiando o lado de fora.

— Olívia — chamou.

Carlisle recuou imediatamente. As costas junto à parede, na lateral da casa.

Olívia saiu da casinha de bonecas.

— Oi, papai — o bloco de desenhos em uma das mãos.

— Encontrou o que precisava?

— Sim, papai.

— Então venha, filha.

Um graveto estalou sob os pés de Carlisle.

— Ouvi um barulho — disse Olívia. Fez menção de ir espiar.

— Deve ter sido um esquilo. Vamos entrar. Rose já está chegando. Ela parou para abastecer o carro, em poucos minutos estará aqui.

Olívia inclinou o queixo com ar de curiosidade, pensando no barulho que ouviu. Desistiu de tentar descobrir o que era para encontrar o pai na porta da cozinha.

— Preciso fazer o desenho — falou ao cruzar a porta, passando por baixo do braço do pai. Emmett olhou de um lado para o outro, conferindo, antes de fechar a porta.

 


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Notas finais do capítulo

Espero por vocês nos comentários, pessoal.