Um Caminho Para O Coração escrita por Sill Carvalho, Sill


Capítulo 43
Capítulo 42 — O Coração Sabe


Notas iniciais do capítulo

O capítulo de hoje dedico especialmente a Helo que fez uma linda recomendação a fic. Obrigada Helo, espero muito que goste do capítulo.



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O carro à frente diminuiu a velocidade até parar. No carro logo atrás, a recém-chegada fez o mesmo. De detrás do volante, olhou a vizinhança, avaliando algum possível risco de sair do carro após seguir um desconhecido.

No carro da frente, Sam abriu a porta e saltou. Chegou junto à janela do veículo que o seguia, no lado do motorista. A mulher atrás do volante abaixou o vidro para ouvir o que tinha a dizer.

— Chegamos — avisou, levemente inclinado, com uma das mãos na lataria do veículo.

Aceitou o aviso, abaixando as mãos do volante. Em seguida, saiu do veículo.

— A casa é aquela — pontuou Sam ao mover a mão. — Precisa que eu vá até lá?

Prestou atenção a casa, o jardim com gramado marrom e árvores sem folhas devido à estação fria. Olhou Sam no rosto.

— Não será necessário — disse. — Obrigada por me trazer até aqui.

Sam anuiu. E começou caminhar de volta para o próprio carro. Em pouco tempo, estava sozinha. Seguiu pelo caminho de cascalho que levava ao jardim. Olhou para trás uma vez. Respirou fundo e deu um passo à frente, então outro, quando percebeu estava na varanda da casa. O coração passou a bater depressa. De repente, não sabia o que fazer com as mãos. Parou com a mão a caminho da campainha, pensando ter ouvido algo. Fechou os olhos ao apertar a campainha com força desnecessária.

Aguardou com as mãos no bolso do agasalho. Percebeu barulho na fechadura, a maçaneta girou e a porta foi aberta. Do outro lado surgiu um homem de barba e cabelos grisalhos e olhar amistoso. Aroma de canela exalava no interior da casa chegando à varanda, ouviu vozes em algum lugar lá dentro e também risadinhas. Tentou enxergar sobre os ombros do homem que atendeu a porta.

— Olá! — disse Norman. Mas foi como não tivesse ouvido sua voz.

Conseguiu ver sobre os ombros de Norman, de costas, sentado em uma poltrona, Emmett. Uma jovem mulher, de cabelos louros, correndo atrás da menininha de cabelos escuros e franja que encobria toda testa.

Emmett levantou. Percebeu que ele usava muletas e no braço esquerdo havia curativos.

Ele virou o rosto devagar, se apoiando as muletas. Os olhos demonstraram surpresa e espanto ao vê-la. Naquele momento, soube que havia a reconhecido.

Norman chegou para o lado ao entender que não se tratava de uma desconhecida.

A recém-chegada viu Emmett olhar para onde a jovem loura e a menininha de cabelos escuros estava. Imaginou que a neta pudesse ter herdado o tom escuro de cabelos parecido com os do pai. Suas pernas tremiam e os braços ansiavam o momento de abraçá-la.

Então, a loura correu para detrás do sofá. De lá, falou no tom amoroso:

— Achei você, amor de minha vida.

Uma risadinha contagiante adentrou o coração. E a certeza que havia outra menininha na casa trouxe dúvida sobre qual delas seria sua neta. A risadinha continuou e o coração insistiu que aquela era a criança que procurava.

A moça fez cócegas na criança, soube por que gargalhou compulsivamente. Logo depois, saiu de detrás do sofá, primeiro engatinhando, então ficou de pé. Os cabelos ruivos compridos, as sardas minúsculas no rosto e nariz disseram-lhe na mesma hora que eram herança genética de Sarah.

A menininha ruiva correu em volta da mesinha de centro, com a moça de cabelos louros tentando alcançá-la. A tiara, que combinava com o vestido, escorregou para a testa.

Por um instante, sentiu como voltasse no tempo e estivesse outra vez Sarah quando criança. Não pôde impedir as lágrimas enevoarem a visão.

— Olívia — falou o nome da neta antes de qualquer outra coisa.

A moça que tentava pegá-la parou virando o rosto em sua direção, depois olhou para Emmett. Ele ainda estava em choque com sua presença.

O senhor que abriu a porta, saiu completamente do caminho.

A menininha de cabelos escuros subiu no sofá e ficou prestando atenção ao que acontecia. Já a menininha ruiva, a cópia de Sarah, olhou em sua direção. O sorriso ainda no rosto. Não demorou em notar todos agindo estranho, e o sorriso se fechou. Devagar, ela chegou perto de Emmett, sem deixar de olhar em seu rosto.

Emmett apoiou a muleta embaixo do braço e levou a mão à cabeça da criança, que ergueu o rosto para olhar no seu.

A menina voltou olhar em seu rosto com expressão de dúvida. Emmett olhou a moça loura, que chegou perto deles. Ele confirmou, com um balançar de cabeça, a pergunta silenciosa nos olhos dela. Ela pôs a mão no ombro da criança da mesma forma que ele havia feito.

— Olívia — o nome da neta deixou seus lábios como a conhecesse há muito tempo.

Olívia deu um passo em sua direção. A semelhança com Sarah era impressionante. Saudade, não conseguiu evitar infinitas saudades da própria filha. A culpa a condenou deixando o coração destroçado. As pernas, de repente, não suportaram o peso do corpo obrigando cair de joelhos no chão. Chorando com todo corpo, com tremores e espasmos, e o rosto entre as mãos.

Sua reação fez Olívia recuar. Assustada, a menina correu para se esconder atrás das pernas do pai.

Rosalie segurou sua mão pequena.

Emmett tentou trazer Olívia para frente outra vez.

Olívia olhou a mulher chorando de joelhos no chão, de detrás das pernas dos dois.

— Amorzinho — Emmett pôs a mão em seu rosto novamente. — Não tenha medo.

— Por que ela está assim, papai? — pediu, sem deixar de olhar a desconhecida.

— Ela… — Emmett olhou a mulher curvada, chorando. — Ela… — as palavras pareciam não encontrar o caminho. — Está emocionada por estar perto de você.

— Quem é ela, papai?

— Ela… — a palavra relutava em ficar presa na garganta. — É… essa… é sua avó.

Olívia prestou atenção outra vez à mulher. Então, olhou no rosto de Rosalie.

— Mamãe — sussurrou, sem entender o que estava acontecendo.

— Sua mamãe, Sarah, é filha dela — esclareceu Rosalie.

Os lábios de Olívia tremeram. Lágrimas se acumularam em seus olhos escuros, quando olhou no rosto do pai.

Emmett voltou apoiar a muleta embaixo do braço usando a mão para acariciar o rosto da menina.

— Ela é sua avó. Sua avó Esme.

— A vovó para quem escrevi a outra cartinha? A vovó que mora muito longe?

Emmett balançou a cabeça, confirmando.

— Sim.

Rosalie afagou o peito de Olívia. E a incentivou se aproximar da avó.

Olívia deu alguns passos na direção de Esme e parou para olhar, insegura. Um passo cauteloso a levou mais perto dela.

Esme levantou o rosto. Suas lágrimas eram tantas que mal conseguiu enxergar a neta.

— Vovó — a voz de Olívia soou apreensiva. — Vovó Esme. — Estendeu a mão pequena, dando mais um passo.

Esme a viu bem de perto. Foi doloroso e, ao mesmo tempo, maravilhoso ver o quanto se parecia com Sarah, sua filha querida.

O toque suave da mão de Olívia em seu ombro quase a fez chorar novamente.

— Vovó Esme — observou a mão de a avó encobrir a sua. Achou macia, mas tremia muito.

— Minha netinha — soluçou Esme. — Minha neta. Filha da minha menina. Um pedacinho de Sarah que ficou por aqui.

Olívia levou a outra mão ao rosto molhado de lágrimas da avó.

— Não chore vovó. — Os lábios tremeram ao fazer o pedido. — Você está machucada? Está com medo?

Esme segurou sua mão levando aos lábios, dando dois beijos seguidos. Então, ergueu uma das mãos trêmulas para tocar seu rosto.

— Não — murmurou a resposta.

— Não chore vovó — pediu mais uma vez.

Esme balançou a cabeça, as lágrimas continuaram caindo.

— Você pode me dar um abraço? — pediu.

Olívia olhou para trás. Rosalie e Emmett anuíram. Voltou olhar para frente, e, devagar, passou os braços em volta do pescoço da avó materna. Esme retribuiu apertando-a contra o peito. Olívia sentiu o coração dela batendo rápido junto ao seu.

— Vovó, seu coração parece falar, igual ao meu. Você sabe o que ele está dizendo? Às vezes, eu sei o que diz meu coração.

Esme a enxergou entre lágrimas.

— Meu coração está dizendo que te ama, tanto quanto amou sua mamãe.

— O meu também está dizendo que te ama, vovó.

Ambas voltaram se abraçar.

— Me perdoe… — pediu Esme próximo ao ouvido. — Eu te amo tanto. Tanto…

Olívia suspirou, sentindo todo o amor da avó naquele abraço quentinho. O cheiro dela acalmava. Era quase como abraçar a mamãe Rose.

Quando o abraço chegou ao fim, Norman se aproximou para ajudar Esme a se colocar de pé.

— Por que não se senta um pouco? — sugeriu.

Esme o olhou, confirmando o quanto era gentil.

Olívia chegou para o lado, mas não deixou de olhar a avó. Esme segurou sua mão pequena levando-a junto. Olívia sentou no sofá, em seguida, Esme sentou ao seu lado. Puxou Olívia para o colo e beijou seu rosto algumas vezes.

Emmett voltou a sentar, atento a ambas, ainda assimilando o que acabou de acontecer.

Rosalie ficou atrás da poltrona onde ele sentou. Avaliando gestos e expressões no rosto de Esme. Em alguns momentos, inevitavelmente, fez comparações entre ela e Cheryl. Eram muito diferentes uma da outra, em todos os sentidos. Via gestos delicados e gentis em Esme. Calor humano. O modo como reagiu ao conhecer Olívia a deixou confusa. Não coincidia com a avó que nunca apareceu para conhecer a neta. A mesma que faltou ao funeral da única filha. Sua reação foi de alguém que ama, e era provável ter desejado esse encontro fervorosamente todos esses anos.

Passou as mãos sobre o encosto da poltrona até estarem nos ombros de Emmett. Ele ergueu a mão direta e tocou a sua. Inclinou a cabeça e o olhar cruzou com o seu. Soube exatamente no que estava pensando. Apertou as mãos nos ombros dele e voltou prestar atenção em Olívia e Esme.

Com a neta no colo, Esme parecia não acreditar. Olhou cada dedo nas mãos de Olívia, acariciou os cabelos ruivos mais de uma vez.

Emmett soube que pensava em Sarah, que estava admirada com a semelhança entre elas. Enxergou no rosto de Olívia o quanto estava feliz e confortável no colo da avó materna. Desejou que tivessem esse contato, mas, agora que estava acontecendo, o coração estava angustiado, dando lugar ao medo.

— Vou preparar um chá — avisou Norman. — Com licença.

Ao se encaminhar a cozinha, o olhar cruzou com o de Rosalie.

Megan, que estava no sofá oposto, levantou e foi para perto de Olívia e Esme.

— Oi — cumprimentou a Esme.

Pela primeira vez desde que sentou no sofá, Esme deixou de olhar Olívia para olhar a outra criança.

— Oi — sorriu para a menina de cabelos escuros que, ao chegar, pensou que pudesse ser ela sua neta. — Quem é você, coisa linda?

As duas meninas se olharam, sorrindo.

— Megan. A melhor amiga de Olívia.

— Muito prazer em conhecê-la, Megan.

— Acho que você se parece mais com Olívia que a outra avó.

— Você acha? — pediu Esme, com os olhos brilhando, olhando de uma menininha para a outra.

— Seus cabelos têm quase a cor dos dela. Que cor que são os seus?

— Os meus cabelos são puxados pro tom caramelo — respondeu e voltou acariciar os cabelos de Olívia.

Emmett se levantou, sem se dar ao trabalho de pedir licença. Ainda assim, a única a reparar foi Rosalie, que foi atrás dele.

Ele se movimentou com as muletas a caminho da cozinha. A última coisa de que ouviu foi Esme perguntando a Olívia a respeito da escola. A menina prontamente começou encher de informações a avó.

Emmett se apoiou a mesa da cozinha. Norman olhou os dois de detrás da ilha, sem dizer nada.

Rosalie chegou perto, tocando sutilmente seu braço.

— O que está acontecendo? — pediu.

Emmett fez um som com a boca como estivesse muito aborrecido.

— Ei — continuou Rosalie —, o que foi?

Em silêncio, Emmett puxou a cadeira e sentou nela.

— Fale comigo — insistiu Rosalie.

O olhar dele foi direcionado ao caminho que levava à sala.

— Esme — disse.

Rosalie puxou outra cadeira e sentou na frente dele. Atenta a seu rosto, tentando entender a origem do aborrecimento. Tocou a mão dele sobre o joelho.

— Não fique assim — pediu. — Depois da cena que presenciei, não sinto que vá magoar Olívia. Ela a ama, tenho certeza. Só uma coisa não bate: por que nunca esteve presente?

— Está aí — rebateu Emmett. — Não entendo. Não sei o que pretende aparecendo aqui de repente.

— Tente conversar com ela, mas, sem a Ollie por perto. Vai ser mais fácil para os dois dizer tudo o que sente.

— Ela enxerga Sarah quando olha minha filha. — Moveu a mão com impaciência sobre a mesa.

A mão de Rosalie alcançou a sua, tranquilizando.

— Ollie se parece com a mãe biológica, que era filha única dela. Está impressionada. É normal que fique assim no começo.

— Ela e o marido vão ficar obcecados com a semelhança entre as duas.

Rosalie tornou afagar sua mão.

— Amor… Do que tem medo? — aguardou. Quando os olhos dele encontraram os seus, não foi preciso palavras para expressar o medo.

Ainda assim, ele admitiu:

— Eles vão roubar minha filha de mim.

Rosalie chegou mais para a beirada da cadeira, tocando o rosto dele com ambas as mãos.

— Ninguém irá fazer isso. Porque é absolutamente impossível separar vocês dois, Ollie é louca por você. Meu Deus! Pare com isso. Pare — o fez continuar olhando em seu rosto quando desviou o olhar. — Ollie é nossa menininha. Ninguém vai mudar isso.

— Ela é nossa — reafirmou Emmett. — Minha e sua.

— Sim — ela confirmou. — Nossa filha. Mas, não seria justo impedir que conheça e conviva com os avós maternos. Essa mulher foi maravilhosa com a Ollie. Nossa menininha está agora ainda mais feliz.

— Não me deixe perder a razão — sussurrou o pedido.

Rosalie o abraçou.

— Vai dar tudo certo. Continuaremos sendo importantes na vida de Ollie. — Apertou as costas dele em meio ao abraço.

— Papai — Olívia entrou saltitando na cozinha.

Rosalie o deixou. Os dois prestaram atenção à menina.

— Olha o que a vovó Esme me deu. — Estendeu a mão revelando o colar de ouro branco com pingente de nota musical. — É uma clave de sol. A vovó acabou de me dizer.

— É lindo, amor — Rosalie elogiou.

— A vovó disse que comprou há muito tempo. Mas não sabia como me entregar. A mamãe, Sarah, teve igual quando era criança.

Rosalie prestou atenção à expressão no rosto de Emmett. Os olhos dele marejaram. E para Olívia, falou:

— Quer que a mamãe ponha em seu pescoço agora? — viu de relance quando Esme chegou à cozinha acompanhada por Megan. Não percebeu nenhuma mudança de comportamento nela. Ainda era a mesma mulher doce e gentil de quando chegou, minutos atrás. Não enxergou ameaça. Olívia pôs em sua mão o colar. — Você agradeceu a vovó pelo presente?

— Sim. — respondeu. E tocou o pingente. — Olha papai! — Mostrou-lhe.

— É lindo — respondeu sem dar realmente atenção ao objeto.

Olívia sentiu que estava preocupado. Aguardou Rosalie terminar de pôs o colar, chegou perto dele e o abraçou.

Norman começou preparar a bandeja com a louça do chá. Rosalie levantou para ajudar o avô.

— É um bom pai — as palavras de Esme pegaram Emmett de surpresa. O elogio não teve somente o efeito positivo que era esperado. Fez recordar que nem sempre foi assim e isso o deixou triste.

Olívia se afastou e, ao lado de Megan, saiu da cozinha.

— Soube o que aconteceu com a casa de vocês — comentou Esme. — Estive lá antes de chegar aqui.

Emmett puxou as muletas para perto e se levantou.

Esme chegou mais perto.

— Obrigada — continuou.

— Por que está me agradecendo? — quis saber, olhando para ela com desconfiança.

— Obrigada por salvar minha neta do incêndio.

— Olívia é minha filha — a resposta soou um pouco ríspida. Ele chegou para o lado buscando se afastar. — Faria qualquer coisa por ela — completou.

Esme tocou seu ombro.

— Obrigada por fazer minha filha feliz enquanto esteve com você. Tenho certeza que está orgulhosa do pai maravilho que é para Olívia.

Novamente, o elogio pegou no coração. Deu mais um passo e, dessa vez, pareceu mais difícil que o anterior.

— Você não sabe tudo o que tivemos de passar… Olívia e eu.

— Realmente, eu não sei. Se não se importar, gostaria muito de saber.

Emmett a olhou como acusasse por tudo de ruim que ele e a filha precisaram passar sem o apoio deles.

— Por que agora? — desabafou. — E onde está o seu marido?

— Vim sozinha.

Balançou a cabeça como não entendesse o que fazia sozinha em Edenton.

A voz de Olívia o resgatou dos pensamentos perturbados.

— Vem papai. Vem vovó.

— Podemos conversar sobre tudo isso em outro momento? — sugeriu Esme.

— Esse não é mesmo o momento — concordou.

Olívia retornou à sala. Ambos foram atrás dela. Rosalie e Norman levaram as bandejas para servir o chá na sala.

[…]

Ao final da tarde, Alice, com a irmã, apareceram para pegar Megan. Rosalie convidou Esme para ficar com eles em sua primeira noite na cidade. Olívia adorou saber que teria a avó por perto aquela noite.

Rosalie preparou o jantar na companhia de Esme. Olívia ajudou arrumar a mesa na sala de jantar. Todos evitaram à mesa falar de assuntos delicados.

[…]

Esme se preparava para dormir, no mesmo quarto que Cheryl ficou quando esteve com eles recentemente.

Emmett brincou com Olívia de montar peças de lego. Depois guardaram tudo para também se prepararem para dormir. Ele deitou primeiro. Olívia, com o cobertorzinho, deitou com a cabeça em cima de sua barriga. Rosalie ficou ao lado da menina, e entregou a Emmett o livro que estavam lendo. Ele iniciou a leitura em voz alta. Olívia leu um pouco, e Rosalie continuou de onde ela parou.

Esme chegou ao alto da escada enquanto voltava do banheiro. Parou um instante para observar os três lá embaixo. Sentiu um nó na garganta, pensando que poderia ser sua filha lendo com eles. Voltou ao quarto antes que a pegassem espiando. Ainda no corredor, percebeu, por debaixo da porta, a luz no quarto de Norman sendo apagada.

Rosalie encerrou a leitura assim que Olívia adormeceu. Acomodou a menina com a cabeça ao travesseiro, encobriu e lhe beijou a testa. Ainda enquanto se afastava, percebeu Emmett olhando ambas. Ergueu a mão até tocar o rosto dele, acariciando a barba que voltou aparar.

— Ainda está preocupado? — pediu.

— Estou tentando entender por que está aqui só agora? Por que parece amar tanto Olívia, se foi tão ausente? Ela me deixa confuso.

Deslizou os dedos sobre as pálpebras dele em uma carícia suave enquanto fechava os olhos.

— Também pensei nisso — admitiu. — Mas, não deve sentir medo — lembrou. — Ninguém vai afastar Ollie de nós. Ela é nossa menininha.

Emmett segurou sua mão, levando aos lábios para um beijo.

— Obrigado — murmurou.

Rosalie se inclinou sobre a menina para beijar seus lábios. Então, deitou e ele segurou sua mão entrelaçando seus dedos.

Olívia acordou de um sonho com Esme. Olhou o pai dormindo de um lado seu e do outro, Rosalie. Com muito cuidado saiu debaixo do cobertor e do sofá-cama que dividiam, carregando o cobertorzinho.

Havia uma luz acesa na escada e outra no corredor. O que foi bom, porque ela não sentiu medo. Subiu a escada com passos cuidadosos evitando fazer barulho. Então, pelo corredor até estar de frente à porta do quarto que um dia pertenceu à mãe de Rosalie.

Pendurou o cobertorzinho no ombro, usando as duas mãos para girar a maçaneta da porta. A luz do abajur ao lado da cabeceira da cama estava acesa. Começou fechar a porta novamente.

— Olívia — ouviu Esme chamando. Tornou abrir a porta e encontrou a avó sentada, recostada à cabeceira.

— Oi, vovó — sussurrou.

Esme afastou o cobertor, em seguida, deu um tapinha no colchão.

— Você quer dormir com a vovó hoje?

Moveu a cabeça, confirmando, mas não chegou sair do lugar.

Esme estendeu os braços reforçando o convite.

— Vem, meu amor.

Devagarinho, Olívia soltou a maçaneta da porta e foi se aproximando. Parou ao lado da cama, não muito segura sobe subir nela. Esme a ajudou levando para cima e então a cobrindo com o cobertor.

— Está confortável?

Olívia confirmou com um balançar de cabeça.

Esme deitou ao seu lado.

— Quer que a vovó cante para você dormir?

A menina voltou balançar a cabeça.

— Não quer falar com a vovó por quê? — a menina a olhou como não soubesse o que fazer. — Pode falar querida.

— Não quero perturbar — falou finalmente.

Esme afagou sua mão que segurava o cobertorzinho.

— Não está perturbando. Você pode falar comigo quando quiser. Costumava cantar para sua mãe quando ela tinha sua idade.

— Eu tenho duas mamães agora — comentou.

— Sim. A mamãe, Sarah, quem te deu a vida. Ela cuida e ama você lá do céu. E a mamãe, Rose, que é quem ajuda o seu papai a cuidar de você. A sua mamãe, Sarah, te amou muito. Rose e Emmett te amam tanto quanto ela.

— Vovó.

— Sim, querida?

— Quando estiver dia, você vai embora?

— Eu vou estar aqui por um tempo. Não nesta casa, mas a vovó vai estar na cidade e onde poderei te encontrar sempre.

— E o vovô?

— O vovô, não.

— Onde ele está?

Segurou a mãozinha da neta.

— Está longe…

— Lá onde você estava antes?

— Sim.

— Por que ele não veio? O vovô não quer me conhecer?

Esme acariciou seu rosto, admirando a semelhança com Sarah.

— Não falei para ele que estava vindo… — então, mudou de assunto. — Posso cantar para você?

— Sim, vovó, por favor.

[…]

Emmett acordou cedo, pensando em chamar Olívia para se arrumar para ir à escola. Levou um susto quando não a encontrou dormindo ao lado deles no sofá-cama. A ovelhinha de pelúcia estava com a cabeça ao travesseiro, mas não Olívia. Pegou a pelúcia e ficou olhando, até que se lembrou da presença de Esme na casa.

Empurrou o cobertor se afastando de maneira apressada. Rosalie se virou, olhando seus movimentos abruptos sem entender. Sentou, em seguida, segurou seu braço. Nesse momento, percebeu que Olívia não estava com eles. Imaginou que estivesse no banheiro.

— Ei — falou com Emmett. — O que está acontecendo? Você precisa de ajuda?

Emmett tentou alcançar as muletas caídas no chão.

Rosalie saiu de debaixo do cobertor, vestida de pijama. Levantou para pegar as muletas para ele.

— Preciso descobrir onde está Olívia — comentou, soando desesperado. Só então Rosalie entendeu o motivo. A avó materna de Olívia havia passado a noite na casa. Desconfiança e medo estavam fazendo agir daquela maneira.

Levou as mãos aos ombros dele tentando fazê-lo parar.

— Pare com isso. — Pôs a mão direita em seu rosto. — Olhe para mim. — Ele relutou, em fazer o que pediu. — Eu vou lá em cima. Você fique aqui. Ollie deve estar lá com Esme. Se acalme.

O deixou controlando o impulso de subir a escada usando muletas. Parou e olhou para trás.

— Espere — pediu mais uma vez.

Viu quando esfregou as mãos nos joelhos com impaciência.

Parou em frente à porta e bateu de leve na madeira. Para sua surpresa, Esme estava acordada e respondeu que entrasse.

— Bom dia! — falou meio sem jeito ao estar tão cedo batendo na porta.

— Bom dia! — disse Esme. Parou de mexer no telefone celular. Estava sentada com as costas apoiadas a cabeceira da cama.

— Me desculpe vir aqui tão cedo…

— Imagino que esteja procurando por Olívia.

Rosalie entrou no quarto.

— Está na hora de ela acordar para ir à escola.

Acompanhou o movimento que a mão de Esme fez até alcançar a cabeça de Olívia e acariciar os cabelos ruivos.

— Olívia — chamou. — Querida, Rose está aqui. Ela disse que você tem de acordar para ir à escola.

Olívia se virou de barriga para cima, abraçada ao cobertorzinho, em seguida, abriu os olhos.

— Vovó — falou com voz de sono.

Esme sorriu.

Rosalie chegou perto da cama.

— Cadê a minha menininha? — brincou. Olívia se espreguiçou. Rosalie se debruçou para beijar sua testa. E os braços da menina envolveram seu pescoço.

— Bom dia, mamãe.

— Bom dia, minha vida. — Beijou no pescoço de Olívia fazendo-a rir. Quando se afastou, encontrou Esme olhando-as. Imaginou se estaria condenando por estar vivendo a vida que deveria ser da filha dela. Olívia ficou de pé em cima da cama. Pegou a menina no colo, as pernas passando em volta de sua cintura e os braços, do pescoço.

— Vovó perguntou se eu queria ficar e dormir com ela nessa cama — contou.

— Foi mesmo?

Olívia colou a testa na sua.

— A vovó, Cheryl, não gosta que eu durma na cama com ela. Vovó, Esme, gosta. Ela cantou até eu estar dormindo de novo.

— Que vovó mais linda — Rosalie elogiou, fazendo Olívia sorrir novamente. — Agora, você precisa se preparar para ir à escola.

— E a vovó?

— A vovó ainda vai estar aqui.

Cutucou nas laterais da cintura da menina. Olívia estava rindo quando saiu do quarto no colo. No patamar da escada, pôs ela no chão.

— Vá falar com o papai. Vou esperar aqui para te ajudar se arrumar.

Olívia desceu a escada. Abraçou o pai ao se colocar diante dele.

— Bom dia, papai.

Emmett respirou, aliviado.

— Bom dia, amorzinho. — A abraçou forte.

— Apertado demais, urso — avisou num tom de diversão.

O pai afrouxou o abraço.

— Vem Ollie!

A menina voltou correndo.

— Não corra na escada, Olívia — Emmett pediu. — A mamãe vai esperar por você, não precisa correr. — Ficou olhando até ela estar outra vez com Rosalie.

Norman passou por elas, desejando um bom-dia. Aproveitou para avisar que o café da amanhã, ele prepararia.

 


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado pessoal.

Não se esqueça de deixar seu comentário, ele é muito importante.

Até breve!