Um Caminho Para O Coração escrita por Sill Carvalho, Sill


Capítulo 36
Capítulo 35 — Do Jeito Errado




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Desta vez Rosalie deixou o carro atrás da caminhonete de Emmett, na entrada veículos. Conversou com ele pelo telefone minutos atrás, sabia exatamente onde encontrá-los agora. Pegou as sacolas no banco do carona e foi a caminho dos fundos da casa. Ouviu suas vozes mesmo antes de avistá-los. Olívia comentava algo sobre as cores do arco-íris. Emmett concordou sem hesitar. Ouviu-a chamar “papai”, em seguida, silenciar, percebendo sua chegada.

— Rose! — gritou no instante seguinte. — Rose chegou papai. Rose chegou — as palavras foram ditas em meio à corrida ao seu encontro, no jardim dos fundos.

Ainda enquanto corria, Rosalie percebeu as manchas de tintas nas mangas do agasalho que ela vestia sobre o pijama e também nas bochechas. Os cabelos presos no alto da cabeça num coque improvisado, que tinha certeza ter sido o pai a prendê-los para Olívia não sujá-los de tinta.

— Você veio — a felicidade clara na voz infantil. Já perto, Olívia completou: — Papai e eu estamos arrumando e pintando a casinha.

O olhar de Rosalie avaliou a pequena construção de madeira, bem diferente de quando a viu pela primeira vez.

— Está ficando muito bonita. — Elogiou, em seguida, se abaixou de modo a ficar na mesma altura que a menina, onde se abraçaram. Novamente olhando na casinha, encontrou Emmett de pé, segurando o pincel numa das mãos, olhando para elas. Sorriu para ele. E moveu o braço cujas sacolas estavam penduradas. — Trouxe o almoço — disse.

— Como adivinhou? Estava mesmo faminto — Emmett comentou. — Já estava pensando em fazer uma pausa e preparar algo para comer.

— Não precisa mais. Quer dizer, ainda precisa da pausa.

Emmett deixou o pincel na bandeja, caminhando alguns passos na direção de onde ela estava. Rosalie fez o mesmo, indo ao seu encontro, com Olívia ao seu lado, até estarem bem próximos. Foi inciativa de ele unir seus lábios em um beijo breve. As mãos apoiadas em suas costas durante esse tempo. Olívia levantou o rosto, olhando de um para o outro, mostrando satisfação no sorriso estampando no rosto. Quando o casal a olhou com um piscar de olhos, a gargalhada fez seu corpo miúdo chacoalhar.

— Coisa linda! — manifestou Rosalie. Vendo aquele rostinho feliz e os olhos cheios de amor ao olhar para eles. Afagou o rosto da menina, depois ergueu o braço alcançando a barba de Emmett, limpando a fuligem de madeira. Da mesma forma que a menina, ele também tinha respingos de tinta nas roupas. — Tem duas pessoinhas aqui precisando de um banho antes de o almoço ser servido — brincou.

— Só o papai precisa, eu não — defendeu-se Olívia.

— Você está certa disso, pequenina? — Emmett contestou. — E quem foi que nem mesmo tirou o pijama hoje?

— Um pouquinho, sim — continuou a menina. — Pijama é muito bom. — O pai sorriu.

Rosalie assistiu pai e filha trocando olhares, rapidamente entendeu estarem tramando contra ela.

— Não, não, nem pensem nisso — foi logo avisando.

— A gente não pensou em nada, ué — Olívia tornou se defender.

— Não é o que dizem essas carinhas.

— Me deixe ver sua carinha, papai? — Pai e filha olharam no rosto um do outro novamente. Expressões de quem segurava o riso. Ficando alguns segundos sem dizer nada. Então, a conclusão veio com o grito: — Vamos sujar ela de tinta!

O que obrigou Rosalie se afastar deles imediatamente.

— Pega ela, papai. Pega!

Emmett não pensou duas vezes. Disparou atrás de Rosalie, dando voltas no caramanchão, onde ela deixou as sacolas, depois em volta da casinha. Olívia correu atrás deles, querendo ver de perto a perseguição.

— Pega ela, papai. Pega ela, papai. Rose pare de fugir do papai. Não foge assim, Rose — gargalhadas acompanharam seu pedido. — É uma menina fujona.

Numa distância boa, Emmett esticou o braço agarrando Rosalie pela cintura, chegando erguê-la do chão no impulso.

— Peguei você — as palavras soaram ao pé do ouvido. O roçar dos lábios quentes no lóbulo da orelha trouxe reações a toda extensão de pele do pescoço e braços de Rosalie. — Peguei você — tornou dizer no segundo que antecedeu a ida dos dois ao chão. Fez um movimento rápido permitindo o corpo dela ficar sobre o seu.

— É, você me pegou — murmurou, com o rosto próximo ao dele. Braços fortes e mãos poderosas mantendo-a firme no lugar. Um peso extra caiu sobre os dois. A risada veio fácil, ao perceberam que era Olívia a se jogar sobre eles. Rosalie esticou o braço para trás mantendo o corpo pequeno junto deles. — Oh, não! — brincou. — Vocês estão me sujando de tinta.

Emmett a observou rir, puxado a menina o tempo todo para perto, sem demonstrar preocupação real com a tinta ou mesmo à terra no gramado aparado recentemente em contato com suas roupas.

Ela ergueu a mão afastando uma mecha dos cabelos louros para longe do rosto ao levantarem do chão. O sorriso ainda estava em seus lábios.

— Certo — comentou Rosalie, ajeitando as roupas no corpo.

— Nós sujamos você — disse Olívia, num tom de preocupação, vendo as pequenas manchas de tinta e sujeira do gramado no agasalho dela.

— Foi divertido, não foi? — Rosalie abriu um sorriso mostrando que estava tudo bem. A menina sorriu de volta. Emmett reconheceu mais uma vez como as duas se davam bem. Rosalie prosseguiu: — Continua tendo duas pessoinhas precisando de um banho antes do almoço.

— Você errou — acrescentou Olívia. — São três pessoinhas agora.

— Não senhora. Eu tomei banho antes de sair da casa de meu avô. É só uma manchinha ou outra. — Bateu a mão no agasalho como para provar.

Emmett também teve de falar:

— Ela tem razão, Olívia.

— Mas a gente vai voltar a pintar a casinha, papai?

— Vamos voltar. Não se preocupe.

— Tá bom.

— Eu levo a Ollie para o banho — Rosalie avisou. A mão pequena da menina buscou a sua. Antes de se encaminharam a casa, pegou as sacolas com a comida no banco sob o caramanchão.

— Vou ter de lavar os cabelos? — quis saber Olívia.

Deu uma breve olhada nos cabelos presos da menina, antes de responder:

— Acho que não. Eles não me parecem sujos.

— Papai os prendeu assim. — Ela alcançou com a mão o coque no alto da cabeça, agora, bagunçado.

— Papai fez muito bem — Rosalie piscou um olho para Emmett, que caminhava ao lado delas. — Mas vai acabar sujando com a mãozinha suja. Melhor não pegar neles agora.

Olívia abaixou a mão.

— A vovó já foi embora — contou, mudando de assunto. — Ela foi bem cedinho.

— Seu papai me contou por telefone. Estou sabendo que ela garantiu voltar para te ver.

Na varanda, Olívia soltou sua mão e foi andando na frente para abrir a porta.

— Por que não vai subindo?! — comentou Rosalie, na sala deles. — Vou deixar as sacolas na cozinha e já te encontro no banheiro.

— Tá bom.

Emmett caminhou alguns passos, de olho nos degraus da escada, onde as galochas cano médio com glitter multicor, pisavam com pressa.

— Você também, mocinho — Rosalie brincou, a caminho da cozinha onde disse que deixaria as sacolas. Emmett se pôs a caminhar atrás dela.

A sacola com a comida foi deixada na ilha da cozinha. Rosalie se dirigiu a pia e lavou as mãos antes de mexer com a louça. Terminou secando as mãos no pano encontrado sobre a bancada.

— Está sendo rebelde — brincou, vendo que Emmett estava também na cozinha. A expressão séria no rosto dele mostrou que não queria mais brincar. Rosalie se movimentou até estar do outro lado da ilha, diante dele. — O que foi? — pediu.

— Quando vai contar? — exigiu Emmett. — Precisa prepará-la.

Rosalie recuou até estar com as costas tocando na ilha.

— Vou fazer isso. Já disse, não queria estragar o momento dela com a avó, dizendo que vou sair da cidade…

Bem naquele momento, Olívia voltou à cozinha com o frasco do produto para fazer espumas na banheira em mãos. Estava indo pedir que retirassem o lacre para despejar o líquido na banheira. O olhar preocupado de Rosalie cruzou com o olhar de choque da menina. Teve conhecimento do objeto nas mãos dela, quando a embalagem caiu no chão da cozinha junto aos pés com galocha multicor.

A expressão de Emmett ao olhar em seu rosto, mostrou saber o que estava acontecendo mesmo antes de se virar para ver a menina. Quando o fez, viu a filha sair da cozinha correndo.

— Ollie! — Rosalie se precipitou na frente dele. — Não era para ela ter descoberto desse jeito. — Saiu da cozinha às pressas, com Emmett seguindo seus passos. Cruzou a sala de jantar e estar. Avistou Olívia correndo na escada. Ela estava chorando. Em certo momento se atrapalhou num dos degraus, agarrando-se firme ao corrimão.

— Olívia! — Rosalie reconheceu o desespero no tom de voz de Emmett, temendo que a menina pudesse se machucar.

— Ollie, espera meu amor — Rosalie pediu. — Não faz assim. Vamos conversar. — Subiu, também, a escada. Emmett passou em sua frente subindo a cada dois os degraus, chamando pela filha.

Ele foi o primeiro a entrar no quarto dela. E Rosalie, ao perceber que não a encontrou lá, foi procurar no banheiro. De volta ao corredor, os dois a ouviram chamando pela amiga imaginária.

— Arco-íris! Arco-íris!

— No meu quarto — disse Emmett, correndo então para lá. Rosalie foi atrás dele. — Olívia? Olívia!

— Ollie?

Ambos chamaram pela menina.

Dentro do closet que pertenceu a Sarah, Olívia dava voltas sem sair do lugar, junto ao violoncelo. As lágrimas impediam de ver com clareza ao seu redor. Soluços dificultavam a respiração. Tinha a sensação dolorosa de estar sufocando. Sentiu como formigas andassem na pele de seus braços. Medo. Estava com muito medo. Medo que tudo voltasse a ser como era antes. De sentir outra vez o abandono. O sabor amargo da solidão.

O rosto voltado para o teto do closet, com tudo de si, chamou por aquela que esteve ao seu lado por tanto tempo.

— Arco-íris? Arco-íris! — Passou o braço nos olhos, tentando, no desespero, se livrar da cegueira causada pelas lágrimas. — Eu preciso… Preciso de você. Arco-íris? — como não tinha respostas, tocou de qualquer jeito as cordas do violoncelo gerando um som desafinado, dramático. — Arco-íris? — chamou novamente. Como nada aconteceu, deitou no carpete encolhendo-se como desejasse desaparecer. — Preciso de você… Preciso de você… — soluçou as palavras. — Tem que voltar… Tem que voltar…

Emmett foi o primeiro a entrar no quarto. Olhando embaixo da cama no impulso em que chegou. Rosalie saltou sobre as pernas dele até estar do outro lado.

— No closet de Sarah — disparou. Se colocando ofegante diante a porta, agarrou os puxadores abrindo-a de uma vez. — Ollie? — gritou ao vê-la no carpete, tão assustada. Tão fragilizada. — Ollie, meu amor. — Pôs os joelhos no carpete e foi para o lado da menina. Afagou as pernas encolhidas, as costas e, por fim, os cabelos ruivos afastando para longe do rosto molhado de lágrimas.  O corpo miúdo com espasmo causado pelos soluços e os tremores nas mãos. — Ollie — doía no coração de Rosalie vê-la desse jeito. Sentiu Emmett se aproximar por detrás de suas costas, no imprensado do closet com o violoncelo e todos eles lá dentro.

— O que ela tem? — Se precipitou de joelhos no carpete, pegando a menina no colo. Vendo a dificuldade dela em respirar, a testa em bolhas de suor, os tremores quando levou as mãos ao pescoço buscando ar. Olhos assustados se firmaram nos seus.

— Papai — chamou com dificuldade.

— Ela não está respirando bem — Rosalie disse, angustiada.

Emmett se apressou para fora do closet com a filha nos braços.

— Ela teve reação semelhante depois do episódio com a senhora Smith no banheiro — ele lembrou.

O que acabou de dizer não ajudou em nada Rosalie se sentir melhor. Pois, dessa vez, a causa do pânico em Olívia, podia jurar, era pelo que ouviu na cozinha.

O pai ia de um lado a outro, consumido pelo desespero, afagando as costas da menina, tentando acalmá-la.  Rosalie feito à sombra, tentando a todo o momento ser útil.

— Meu amor, não fique assim— implorou, modulando a voz. — Respire devagar, vamos. Feche os olhinhos. Puxe o ar lentamente e conte até quatro. Segure a respiração por um segundo. Isso, você está indo muito bem. Agora solte o ar novamente, contando de novo até quatro. — Viu a menina se esforçando, fazendo o exercício de respiração sugerido. — Imagine um local que te traga felicidade. — Olívia se imaginou brincando num jardim florido, na companhia de Rosalie, o pai, a vovó Cheryl e vovô Norman.

Do momento em que a encontraram no closet, esse processo durou, em média, quinze minutos.

— Papai, Arco-íris não veio… — conseguiu murmurar. Lágrimas fizeram o caminho nas bochechas já molhadas.

— Você não precisa mais da Arco-íris, amorzinho. — Levou a mão ao rosto da filha enxugando as lágrimas. — Tem o papai aqui para cuidar de você. E a Ro… — estava dizendo quando a menina deitou  a cabeça em seu ombro voltando a chorar.

— Ollie, meu amor. — Rosalie chegou um pouco mais para o lado, se esforçando para ver o rostinho dela. — Não queria que ficasse assim, eu juro. Me perdoe, meu anjo. — Seus olhos marejaram ao pedir que a menina a perdoasse. Afagou seu rostinho. — Me perdoe. — O olhar triste de Olívia encontrou o seu. — Me perdoe — tornou pedir. Olívia piscou e mais lágrimas vieram. Ainda assim, ofereceu os braços a Rosalie pedindo por seu colo. Rosalie a pegou com um pouco de dificuldade, mas, ajeitando, conseguiu segurá-la.

— Por que você vai embora? — com a voz ainda se recuperando, Olívia pediu.

Rosalie foi sentar na cama de Emmett com a menina no colo. Olhando no olho uma da outra, começou a falar:

— Lembra que eu te falei que minha casa e meu emprego ficavam em Atlanta? — dizendo isso, relanceou o olhar a Emmett. Ele estava olhando pela janela o lado de fora. Deixando que conversassem pouco mais à vontade. — Você lembra?

A menina balançou a cabeça, confirmando.

Rosalie afagou seu queixo e a pequena cicatriz nele.

— Eles estão precisando de mim. Precisam que eu volte.

— Eu preciso que fique — sentenciou. — Sem você e sem Arco-íris como vou ficar?

O nó na garganta de Rosalie reforçou o quanto era difícil passar por esse momento.

— Você tem o papai. Não está mais sozinha.

Olívia olhou na direção onde o pai estava observando as costas largas enquanto ele olhava pela janela. Um beicinho que não pôde controlar no momento que voltou a falar:

— Você não quer ser minha mamãe?

Os braços de Rosalie a envolveram num abraço apertado.

— Minha menininha — murmurou. — No meu coração, já é minha filha. Você é minha filha — afirmou, olhando em seus olhos. — Não irei sumir de sua vida jamais.

— Então? — tentou Olívia, sem entender bem como tudo isso funcionava.

— Eu vou voltar. É só por um tempo.

— A mamãe tem de ficar com a filhinha. Não é certo separar. — Nesse momento, Emmett se voltou para elas, reconhecendo, dolorosamente, Rosalie merecia Olívia muito mais que ele já mereceu.

— Se eu pudesse meu anjo, levaria você comigo.

— Sem o papai, não posso ir.

Rosalie sorriu entre lágrimas.

— Não, não pode. E sabe por quê? — Olívia aguardou que respondesse ela mesma. — Porque você é a vida dele. Sem você o papai não saberia o que fazer.

— Mas o papai e eu não vamos saber o que fazer sem você aqui com a gente.

— Parece ruim agora, eu sei. Vou telefonar todas as noites antes do seu horário de dormir para saber como foi seu dia, até que voltemos nos encontrar. Eu prometo.

Olívia sacudiu a cabeça.

— Não quero assim.

— Eu também não.

— Então, por que você vai?

— É complicado…

Olívia agarrou-se ao seu pescoço.

— Quero que fique. Que seja minha mamãe.

Em sua visão periférica, Rosalie notou Emmett se aproximando. Ele esticou os braços para pegar a menina.

— Vem com o papai. — Ainda a tirando dos braços de Rosalie, ouviu repetir.

— Quero que seja minha mamãe.

— Eu sou sua mamãe. Não vai mudar.

— Prefere ir embora — respondeu com ressentimento, agarrando-se ao pai. Deixando o vazio nos braços e no coração de Rosalie.

— Não vou sumir de sua vida, minha pequena. Não vou fazer isso. — Se colocou de pé. — Eu amo muito os dois. — Chegou mais perto beijando o rosto da menina, em seguida, os lábios de Emmett, percebendo, de forma dolorosa, que ele não retribuiu. Se mostrando distante. Procurou seu olhar tentando encontrar um sinal de que estava tudo bem entre eles.

— Olívia precisa comer alguma coisa — mudou de assunto, deixando-a desconfiada.

Rosalie meneou a cabeça, aceitando, embora soubesse que não havia acabado.

— Sim — disse. — Eu vou levar Ollie para o banho. Depois desço com ela até a cozinha.

Emmett colocou Olívia no chão, e a menina segurou na mão de Rosalie. A caminho da porta do quarto, Olívia olhou para trás, percebendo que o pai também estava triste. A notícia havia mexido com ele também, imaginou. As duas passaram pela porta e seguiram pelo corredor com passos que não demostravam pressa alguma.

Mesmo Rosalie tendo preparado o banho de banheira como gostava, Olívia não se divertiu brincando com a espuma. Permaneceu todo o tempo pensativa. Talvez buscando refúgio no mundo imaginário. Em todas as tentativas de fazê-la sorrir desde que descobriu de sua viagem, fracassou.

Sentados à mesa, foi doloroso ver como Olívia e Emmett estavam quietos. Sobrou comida no prato de todos eles, embora estivessem muitas horas sem se alimentarem. Emmett recusou sua ajuda para deixar a cozinha em ordem, por isso foi ficar na sala com Olívia enquanto a menina assistia televisão.

— Quando você vai? — pediu Olívia, de repente.

Rosalie avaliou seu rosto um instante, pensando como responder sem feri-la ainda mais.

— Na segunda-feira — contou com cautela.

— Mas amanhã já é domingo — concluiu a menina sem disfarçar a tristeza que sentiu. Chegou mais perto de Rosalie e a abraçou. — Dorme aqui hoje. — pediu.

O sol estava se pondo quando conseguiram almoçar. Rosalie imaginou que talvez nem jantassem.

— Seu pai precisa concordar.

— Ele concorda. Eu sei que sim.

Algum tempo depois, Rosalie foi com Olívia a casa de Norman para poder tomar um banho, pegar suas roupas de dormir e escova de dentes. Ao retornarem, encontrou Emmett na varanda, fumando um cigarro. Ele apagou as cinzas ao notá-las se aproximando no jardim.

Olívia parou diante dele, a expressão preocupada no rosto.

— Não deveria fazer isso, papai. Cigarros fazem muito mal a saúde. Pode causar câncer e nos separar das pessoas que amamos. Você estava conseguindo parar com esse cigarro fedido — continuou Olívia.

Rosalie não disse nada. A forma como olhou para ele foi suficiente para saber que também não concordava.

— Não foi o cigarro que me separou de Sarah. Não é ele quem está me separando de você — resmungou, olhando nos olhos de Rosalie.

— Não seja estúpido. Não se atreva usar essa mesma desculpa e voltar ao álcool — Rosalie rebateu, se surpreendendo com o como se retraiu a sua resposta.

— Não irei fazer isso — afirmou.

— Espero que esteja dizendo a verdade. Não por mim, mas, por Olívia e por si mesmo.

Ele estendeu a mão tocando seu antebraço.

— Não irei desapontá-las. — A abraçou, cuidadosamente, temendo que o rejeitasse. Rosalie aceitou o gesto de carinho e o abraço receoso se tornou de esmagar os ossos.

— De repente, estou amando de novo… — sussurrou ao ouvido dela. — Não posso. Não consigo deixar de me sentir triste ainda que me diga que vai voltar.

— Não é o fim. Ainda estou com você. E você ainda está comigo.

Um suspiro antecedeu as próximas palavras.

— Estou com medo… — Ele não pôde terminar, pois, Olívia pediu a atenção dos dois.

— Rose. Papai.

Demoraram-se um instante, olhando nos olhos um do outro, suas testas chegando a se tocar, então o beijo. Ao redor deles uma menininha sorriu de orelha a orelha.

O almoço tardio atrapalhou o jantar como previu Rosalie. A única a comer, mesmo que pouquinho foi Olívia. Emmett preparou para ela mingau de aveia com mel. Depois de todo o processo de vestir pijama e escovar os dentes, Rosalie ficou com ela na cama lendo mais um pouco. Emmett aguardou na poltrona chegar sua vez. Quando por fim terminou, as duas dormiam abraçadas. Faltou coragem para separá-las. Somente as encobriu e apagou a luz ao se retirar.

[…]

Rosalie acordou pela manhã com a falta do calor do corpo pequeno junto ao seu. Olhou de um lado e do outro imaginando que a encontraria brincando no quarto, mas não foi o que aconteceu.

— Ollie? — chamou, afastando as cobertas para sair da cama. — Onde você está? — Abriu a porta espiando no corredor. Nenhum sinal de Olívia. — Ollie? — acabou indo ao quarto de Emmett. Perguntando ainda da porta. — Ollie está aí com você? — o viu levantar a cabeça do travesseiro. Os olhos miúdos de sono. Como para se certificar, passou a mão no colchão apalpando os cobertores. Percebendo que estava sozinho, saiu da cama. Buscou uma de suas camisas de flanela no closet e a vestiu. Usava calça de moletom, permanecendo com os pés descalços.

— O que aconteceu? — pediu.

— Ollie não estava na cama quando acordei. Não veio te procurar?

— Não. Eu teria acordado se tivesse me chamado.

— Acha que pode ter saído de casa enquanto dormíamos? — tentou Rosalie.

Emmett se apressou ao corredor.

— Procure por ela aqui em cima. Vou ver se está lá embaixo. — Desceu a escada a cada dois os degraus. Rosalie procurou em todos os possíveis locais que uma menininha como ela poderia se esconder. Não a encontrou e foi ajudar Emmett no andar de baixo. Ele desceu até o porão enquanto ela olhava no escritório que pertenceu a Sarah.

— Olívia? — Emmett chamou seu nome na entrada do porão ao encontrar a porta aberta. Não pôde deixar de sentir alívio, ela estava lá embaixo. Começou descer a escada. A menina ainda estava de pijama e usava pantufas. Nas mãos pequenas, visualizou o copo medidor para sabão de lavar roupas que costumava usar. — O que está fazendo? — pediu.

— Vou lavar o cobertorzinho — foi à resposta que lhe deu.

Emmett olhou na máquina de lavar, o cobertorzinho estava lá dentro.

Olívia continuou falando:

— Talvez assim a vovó volte e a Rose não vá mais embora. Elas queriam que eu lavasse o cobertorzinho.

Retirou o copo medidor de suas mãos deixando sobre a máquina antes de pegá-la no colo.

— A vovó vai voltar ainda que não lave o cobertorzinho — aconselhou.

— E a Rose? Ela vai ficar? — arriscou a menina.

A voz de Rosalie chamou atenção dos dois para o alto, na entrada do porão.

— Aqui embaixo — alertou Emmett. Ouviram passos, e a imagem de Rosalie apareceu na escada.

Ela respirou aliviada.

— Você a encontrou.

— Estava aqui o tempo todo.

Rosalie se apressou até eles.

— Ollie, por que saiu da cama assim? Que bom que não tem mais medo do porão, meu amor. Mas, o que veio fazer aqui tão cedo?

— Lavar o cobertorzinho — contou a menina.

Foi automático o olhar de Rosalie às máquinas de lavar e secar roupas.

— Não entendo… — murmurou.

Emmett foi quem tomou a iniciativa de explicar.

— Ela queria lavar o cobertorzinho acreditando que assim minha mãe voltaria e você desistiria de ir para Atlanta.

Rosalie ofereceu os braços convidando Olívia ao seu colo.

— Não vou sumir de sua vida, meu anjo. Dei minha palavra. Agora, você tem certeza que quer lavar o cobertorzinho?

— Uhun.

— Tudo bem, então. — Rosalie olhou para Emmett, que entendeu o que esperava que fizesse. Ele pegou novamente o copo medidor de sabão entregando na mão de Olívia. Rosalie aproximou a menina da máquina e ela mesma despejou o sabão no reservatório, em seguida, repetiu o processo acrescentando amaciante e também o tira manchas. Emmett colocou a máquina para funcionar.

— Vai demorar? — Olívia quis saber.

— Um pouquinho, meu amor — Rosalie foi quem respondeu. — Ollie, preciso que me prometa que não vai mais tentar mexer nas máquinas sem ajuda de um adulto. É perigoso. Você pode se machucar. Promete para mim que não vai mais fazer isso?

Olívia sacudiu a cabeça.

— Prometo.

— Agora vamos subir. Quando terminar nós voltamos para transferir para máquina de secar.

— Eu estou com fome — disse Olívia.

Emmett estendeu a mão para ela.

— Venha com o papai. Vou preparar panquecas para o nosso café da manhã.

Rosalie a colocou no chão, e a menina pôs a mão pequena na mão no pai. Já tendo subido metade da escada no porão, com o barulho da máquina de lavar enchendo de água, Olívia ofereceu a mão livre a Rosalie, subindo, os três, até a cozinha.

 


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Notas finais do capítulo

Não se esqueça de deixar o comentário, ele é muito importante.
Talvez você possa fazer uma recomendação, se estiver curtindo bastante a história.
Um beijo grande