E novamente eu estava aqui, nesta situação ridícula, a qual eu infelizmente não consigo me livrar.

De longe, nem parece que estou no fundo do poço. Quer dizer, externamente, sou só uma mulher, sentada num sofá na sala de seu apartamento, mexendo tranquilamente em seu celular. 

O que ninguém imagina, é que, o fato de eu estar mexendo neste aparelho agora, é apenas para eu ter meus cinco minutos de trouxisse de cada dia.

Sempre ouvi várias pessoas falando que o amor é como uma cicatriz que, apesar de ser capaz de cessar uma parte da dor, nunca desaparece realmente. Aparentemente, no meu caso, a dor só aumentava cada vez mais, como se a ferida não quisesse cicatrizar. Algo em mim impedia a cura do meu machucado e, às vezes, em dias ruins como hoje, chegava a piorá-lo.

Eu não entendo como o ser humano pode ser tão apegado a lembranças as quais ele tem conhecimento de que não voltarão e de que ficar se lembrando delas não vai somar em nada, a não ser que a soma a qual eu me refira, seja a quantidade de dor que sinto em meu peito agora.

O pior é que essa mania de lamentar ter perdido algo, enquanto deseja incansavelmente que aquilo volte nos deixa ainda mais viciados em chorar por uma coisa que poderíamos sim superar, se não fossemos tão dependentes da carência e da saudade.

E depois de dias, semanas, meses... Nem sei mais quanto tempo, para ser sincera. Após tudo aquilo, depois de todo esse tempo sem me permitir ao menos pensar naquele maldito nome que começa com C, eu me pego aqui, olhando as nossas fotos antigas, desejando que aquele tempo em que éramos tudo uma para outra voltasse. Fotos cujas eu luto incansavelmente contra o me coração, numa batalha inútil para tentar apagá-las, mas eu não tenho coragem o suficiente para fazer isto. E acho que nunca terei.

Suspirei cansada. Aquela noite seria longa, pelo visto - Maldita Cabello... – Bufei, jogando o celular de lado, e abraçando minhas pernas, enquanto tentava sem sucesso pensar em outra coisa, qualquer que fosse, desde que não envolvesse "Camila Cabello" no meio. O problema é que a cada dia que passa, não lembrar desse nome torna-se cada vez mais e mais difícil para mim. E por mais que eu repetisse incansavelmente em minha mente que eu não queria, não precisava e nem poderia vê-la, em meu coração a única frase que se sobressaía era "sinto sua falta".

Eu me via em 2013, quando postei uma foto nossa no Instagram, colocando "#Camren; Saudades, Camzii" na descrição. Depois de anos, eu continuava do mesmo jeito. Só que a diferença era que naquele tempo, nós duas estávamos unidas por algo que superava qualquer distância. Hoje, eu nem sei mais qual a cor favorita dela, ou se ela continua amando bananas, se ainda usa aqueles lacinhos fofos na cabeça...

— Será que ela ainda se lembra da minha existência? - Essa era uma das milhares de perguntas que passavam pela minha cabeça quando eu via como a Camila estava seguindo a vida, mostrando para o mundo como estava feliz, como se nada nunca tivesse acontecido. - Bem... – Soltei uma risadinha - Fui eu quem começou com isso, não foi? - Me encolhi ainda mais e apoiei meu rosto em minhas pernas - Parece que você está pagando o preço pelas suas idiotices, Jauregui... - Sorri fraco, sentindo uma lágrima solitária escorrer pela minha bochecha.

Alguns minutos se passaram e eu continuava naquela posição. Meu estado era realmente deplorável, mas depois de algumas semanas assim, passei a não ligar mais para isso. Tinha sorte pela turnê mundial ter acabado e estarmos no período de descanso, tendo apenas algumas entrevistas aqui e ali.

O celular vibrou, chamando a minha atenção. Peguei ele, notando que Ally havia postado um status. Fui obrigada a ler por conta da minha curiosidade.

"Enquanto você for o que os outros querem que você seja, você não será ninguém."

Ri de modo sarcástico - Bem, então eu me apresento: Lauren Jauregui, a ninguém! - Falei num tom irônico e desviei o olhar, voltando a pensar em todas as besteiras que havia feito.

Quero dizer, há três anos atrás éramos nós cinco. Unidas, sempre juntas, sorrindo e fazendo todos felizes com nossas músicas. Era tudo sempre tão perfeito... Tão mágico. Eu não trocaria os momentos que vivi com todas elas por nada. Não trocaria os momentos que vivi com ela por nada. Eu só queria que tudo continuasse a ser como era antes..., mas Camila foi embora. Depois disso, as coisas só pioraram. A gravadora nos impediu de falar com a Camila por anos. As meninas tentaram fazer algo, mas e eu? O que eu fiz? Nada. Eu apenas segui as ordens da Tara à risca, sem contestar e mudei meu estilo de me vestir, disse que o shipp "Camren" nunca havia sido real e logo depois passei a namorar o Ty. Parabéns Lauren, você queria parecer uma pessoa independente e fugir dos problemas? Bem, você pareceu uma babaca independente com problemas ainda maiores.

Depois de finalmente poder voltar a falar com a Camila e ter notado que eu não aguentaria ficar nem mais um segundo com o embuste do Ty e terminar com ele de uma vez, o que eu fiz? Comecei a ignorar qualquer sinal de Camila Cabello existente num raio de pelo menos 2 quilômetros. Fiz isso porque pensei que esquecê-la seria o melhor para mim. Deixei que a Camila tivesse toda a atenção das meninas e simplesmente fingi que ela não existia. Pensei que seguir em frente poderia me ajudar em algo. E agora, estou aqui, refletindo sobre um status aleatório que a Ally postou e que, ironicamente e infelizmente, eu acabei me identificando bem mais do que gostaria.

Suspirei, fechando os olhos e tombando a cabeça para trás - Como você regrediu tanto, Lauren? - Sussurrei desanimada.

O tamanho da falta de inteligência e sensibilidade vinda da minha parte era inacreditável. Eu cavei meu próprio buraco. Afundei a mim mesma naquele poço que parecia grande demais para eu sair.

O celular vibrou novamente. Outro status da Ally.

— Ela quer me deixar depressiva ou algo assim, pequena? - Ri baixinho com o meu e voltei meu olhar à frase que ela havia postado.

Levantei as sobrancelhas surpresa com aquele status.

"Como diria Einstein: Insanidade é continuar fazendo sempre a mesma coisa e esperar resultados diferentes."

Aquela frase ecoou em minha mente. Foi então que eu me lembrei de algo que Dinah havia me falado há uns dois ou três dias. Ela disse que algo sobre a Camila estar na casa da família que, coincidentemente, fica na mesma cidade onde eu moro atualmente, curtindo as férias da turnê que ela estava fazendo até uma semana atrás.

— Por que estou me lembrando disso agora? - Mordi o lábio inferior, tentando entender o que estava acontecendo comigo.

Comecei a mexer no Instagram e depois de alguns minutos decidi olhar o de Camila. - Está virado uma stalker profissional, Jaureg... MAS O QUE?! - Foi então que avistei aquilo. Aquela foto. A foto que fez meu coração despedaçar em tristeza e se preencher de ódio logo depois.

Camila estava com uma mulher. As duas abraçadas, sorrindo e ela havia posto a seguinte legenda: "Quando você ama alguém, nada mais importa."

— Quem é essa vadia? - Sussurrei jogando o celular de lado. - Droga! - Bufei - Agora você está namorando, Cabello?

Pois é, a minha situação era realmente deplorável. Pensando nisso, decidi seguir o que o status da Ally falava e levantei-me do sofá, largando minha tristeza, raiva e todos aqueles sentimentos inúteis lá mesmo.

— Fico depressiva depois. - Falei pegando o meu casaco e saindo de casa.

Por sorte, a cidade onde eu morava era totalmente deserta em dias comuns à noite, então foi fácil sair de carro sem ser notada por ninguém. Estacionei na frente da casa dos Cabello. As lâmpadas estavam acesas, mostrando que havia gente em casa.

— Sempre animada... - Ri baixinho, enquanto me lembrava de como a família da Camila sempre fora agitada assim como ela. Suspirei, lembrando-me da foto no Instagram - Afinal, o que eu estou fazendo aqui? Não é como se voltar à época da "Jealous Tour" fosse resolver algo, não é? - Me perguntei, encostando-me no portão e fitando o chão.

Suspirei, me deixando ser invadida por incontáveis pensamentos. Eu só queria ter uma nova chance para poder consertar tudo.

— Lauren...? - Uma voz suave que há muito tempo eu não ouvia soou naquele local, me fazendo estremecer. Subi o olhar e me deparei com aqueles orbes castanhos quase avermelhados me encarando cheios de curiosidade e até felicidade. Era ela. Camila Cabello havia pego Lauren Jauregui dando uma de stalker maluca depois de três anos sem lhe direcionar uma só palavra.

Me afastei rapidamente, quase tropeçando nas minhas próprias pernas. - C-camilla?! - Quase gritei por conta da surpresa. Minhas mãos tremiam e meu coração batia incansavelmente dentro de mim. Nunca havia sentido tanto que fosse ter uma arritmia cardíaca. Maldita ansiedade. Maldita crise de pânico.

Ela sorriu. Aquele sorriso inocente e meigo que sempre foi como um imã para a minha atenção - O que está fazendo aqui? - Camila me perguntou curiosa, abrindo o portão e dando espaço para eu entrar.

Continuei em meu estado de choque, paralisada no meio da calçada, encarando aquela bela morena de olhos castanhos os quais me enlouqueciam.

— E-eu... - Gaguejei. Não conseguia acreditar no que estava acontecendo naquele momento.

— Sentiu a minha falta, soube que eu estava aqui curtindo com a minha família e veio me visitar? - Ela perguntou risonha, me puxando pelo braço para dentro de sua casa. - Eu sabia que aquele papo de "A Camila era só uma colega de trabalho" tinha sido coisa do seu orgulho idiota. - Ela sorriu. Parecia estar esperando que eu confirmasse o que acabara de dizer.

— Ahn... - Fitei o chão, envergonhada. Tudo o que eu havia feito e o jeito como ela estava fofa naquele vestidinho preto de bolinhas, estilo garotinha de dez anos me fazia ficar terrivelmente constrangida.

"Ah Chancho... Só você para conseguir fazer Lauren Jauregui parecer uma adolescente de quinze anos apaixonada."

As palavras de Dinah depois de me ver em mais um de meus transes perdida enquanto encarava a Camila nunca haviam feito tanto sentido como agora. - Bem... Eu sempre fui muito "cavala" com você, não foi? - Respondi levantando o olhar e sorrindo torto.

— Nah... Só um pouquinho. - Camila afirmou pondo a mão sobre o meu ombro - Então... Como você está? - Ela perguntou aparentando estar curiosa.

— Bem... - Lembrei-me do meu comportamento depressivo de alguns minutos atrás e balancei a cabeça - Ótima. - Menti - Mas... - Suspirei. Já que eu estava ali, faria algo que devia que ter feito há muito tempo. -... Eu estava com saudades. - Afirmei sorrindo. Assim como sempre sorri para ela nos tempos em que estávamos unidas. Será que Camila reconheceria aquele meu sorriso? Reconheceria aquele meu olhar?

Como num tiro, a resposta para as minhas perguntas vieram na cor vermelha, que agora predominava as bochechas de Camila. Ela continuava a mesma fofa de sempre e saber aquilo fez meu coração transbordar em alegria. - Sério? - Camila perguntou, mordendo o lábio inferior e desviando o olhar por alguns segundos para me encarar novamente em seguida - Eu também, Lolo - Ouvir aquela voz doce e suave falar o meu apelido com tanto carinho foi a coisa mais incrível que havia acontecido comigo há meses. - Que bom que veio até aqui. Eu estou tão feliz - Ela me abraçou fortemente.

No começo, fiquei sem reação. Como eu havia passado de "depressiva sem esperanças" a "garotinha envergonhada depois de tomar atitude com a crush" em segundos?!

— Eu... - Senti uma lágrima rolar pela minha bochecha. Aquilo estava mesmo acontecendo. Aqueles braços que eu já nem lembrava mais o prazer que me davam, estavam me abraçando novamente. Envolvendo o meu corpo como sempre faziam em todas as horas. Camila Cabello aparentemente havia me perdoado pelas idiotices que cometi por ter ignorado tudo o que vivemos e que poderíamos ter vivido até agora. - Obrigada - Correspondi o abraço que ela me deu, ignorando as várias lágrimas que saíam de meus olhos.

Camila se afastou um pouco e me olhou preocupada - Está chorando? - Ela perguntou enquanto limpava meu rosto. Há quanto tempo eu não sentia o toque daquelas mãos em minha face?

— Pois é... - Ri, enquanto desviava o olhar - Eu só estou feliz em falar com você novamente - Afirmei sorrindo, voltando o meu olhar para os orbes castanhos de Camila.

Ela levantou a sobrancelha direita e fez uma cara provocativa - Lauren Jauregui toda emotiva... - Camila suspirou - Não presenciava algo assim há muito tempo. - Ela fez uma careta, arrancando uma risada de mim.

— Você não mudou nada. - Disse olhando para Camila e guiando-a para dar uma voltinha. - Oh, espere. Mudou sim. - Pus a mão sobre o queixo, pensativa.

— Mudei? - Ela perguntou curiosa. - Em que?

— Sua bunda está maior. – Falei de modo sério, o que fez Camila demorar para entender a brincadeira.

— Vai se ferrar, Jauregui. - Camila deu um soquinho em meu braço. - Está mesmo? - Ela me perguntou, começando a olhar para o próprio trazeiro.

— Pode apostar, Camz. - Assenti ainda olhando aquela bela parte do corpo dela, começando a lembrar de quando ficávamos sozinhas e eu podia fazer o que quisesse com Camila – Eu conheço você mais que o suficiente para afirmar isso. – Pisquei maliciosa.

Camila riu e me abraçou novamente - Senti tanto a sua falta, pervertida! - Ela afirmou animada.

Abracei-a, curtindo o momento - Você não imagina como foi difícil viver sem as suas idiotices, Camz. - Sussurrei em seu ouvido, lembrando-me de tudo o que passamos juntas.

Ela me encarou nos olhos, com um sorriso meigo - Sabe do que mais eu senti falta? - Camila perguntou baixinho.

— Do que? - Questionei levantando a sobrancelha, curiosa.

Ela mordeu o lábio inferior e abriu um sorriso - Disso. - Camz aproximou o rosto e antes que eu me desse conta, nossos lábios se tocaram. Estávamos nos beijando. Eu não conseguia acreditar, ou não queria. Talvez por medo de tudo não passar de um sonho. Passei a mão em seu rosto, passeando pela nuca dela e começando a afagar aqueles longos cabelos. Puxei Camz para mais perto e ela veio sem reclamar, enquanto acariciava meu rosto.

Aquilo era inacreditável. Depois de todas as besteiras que eu havia feito, ela ainda queria que continuássemos como antes.

Nos separamos lentamente.

— Por que você...? - Questionei supresa, enquanto tentava entender o que havia ocorrido.

Ela voltou a morder o lábio inferior e sorriu novamente - Eu senti falta disso. - Camila afirmou - De beijar você do nada e ver essa sua cara de sonsa. - Ela riu - Lo, eu amo vocês todas. - Camz revelou, referindo-se a mim e às meninas - Sempre amei e vou amar. Mas inevitavelmente, você é a que eu mais amo. - Ela fez uma careta. - Não sabe como eu fiquei feliz em te ver aqui.

— Mas... - Balancei a cabeça, confusa - E aquela mulher que você tirou foto e postou no Instagram? - Perguntei ainda sem entender nada.

Camila tombou a cabeça para o lado - A minha prima? - Ela questionou me fazendo ficar constrangida e desejar muito enterrar a cabeça em algum buraco. - Espere aí... - Camz sorriu maliciosamente - Você veio aqui porque ficou com ciúmes pensando que a minha prima era alguma namorada? - Camila perguntou saltitando feliz.

— O que? - Ri sem emoção - Não... - Fiz uma careta nada convincente.

— Você sempre foi ciumenta, não é Lo? - Ela perguntou com um sorriso malicioso.

Bufei - Não é ciúmes... - Falei tentando parecer séria, mas aqueles olhos me encarando como uma criança que acabou de passar numa loja repleta de brinquedos me fizeram falhar miseravelmente. Suspirei - Talvez um pouco... - Admiti cruzando os braços.

Camila sorriu vitoriosa e beijou minha bochecha - Eu realmente senti a sua falta, Lo. - Ela afirmou sorrindo e segurando a minha mão.

Sorri de volta - Eu também Camz. - Falei apertando levemente a mão dela - E principalmente da sua bunda. - Sorri maliciosa, me virando lentamente e encarando aquele belo traseiro.

Camila riu - Vem, vamos entrar. - Ela me puxou - Aposto que minha mãe vai adorar saber que você parou de me ignorar para parecer durona. - Camila afirmou animada.

Suspirei - Espero que sim - Sorri. - As meninas vão pirar quando souberem. Espero que a Ally não desmaie ou algo do tipo...

Camz gargalhou - A Dinah vai esfregar na sua cara que você não vive sem mim. - Ela disse travessa.

— Não vivo mesmo - Afirmei envolvendo o pescoço de Camila com meu braço. Há quanto tempo eu não fazia isso? 

— Sabe... - Camz virou a cabeça para trás e eu senti um aperto - Eu também estava morrendo de saudades da sua bunda. - Pude ver sua cara de pervertida, ainda encarando minha bunda e dei um sorriso. Ela continuava a mesma de sempre.

Nós rimos. Seria uma longa noite. Uma de várias que viriam por aí.