Há um temporal do lado de dentro.

Remoto, silencioso – mesmo com todos os seus relâmpagos e trovões reverberando por todo o céu noturno.

Paralisia.

Os dedos se recusam a mover, e limitam-se em seu inútil tremular atordoado. De fato, não existe o que se fazer a respeito: Há muito já estão apodrecidos nas entranhas da carne maculada que os reveste. Uma carcaça que serve de invólucro meramente ao esqueleto retorcido dos vestígios do que, talvez um dia, possa ter sido parte da humanidade.

O ribombar que acompanha a cicatriz que rompe das nuvens turbulentas faz estremecer a estrutura e, numa chicoteada impetuosa, parte a ligação já frágil dos ossos.

Desmorona.

Nada se encaixa. Nada pode. Nada consegue.

As letras se perdem sem emoção num papel em branco que é assoprado para longe pela brisa fria de inverno.

As gotas caem, tortas, tontas, demarcando a expressão abatida.

Se vê, do lado de fora – porém, não se ouve, ou tampouco repara.

O sentido se esvai com os fantasmas de clamores que não mais correm por suas veias.

O mundo esmorece enquanto as pálpebras caem, e a cor se perde ao se abrirem outra vez.

Exaurida, a mente suplica por redenção, e faltam palavras – não obstante, também coragem - para que lhe possam dar devida satisfação. Restam então suas súplicas à Átropos, em vã esperança de que cumpra seu trabalho e sele uma existência parva. Ela, porém, inflexível, não se permite sensibilizar por lamúrias desenfreadas.

O temporal, em seu tímido papel, colore de cinza a alma.

Tenha uma boa noite, e sonhos dóceis.

Pois ninguém liga,

                e ninguém irá.