— Desde pequena eu notei que ela não era igual aos meus outros filhos! Nem a Rosana, nem o Fernando foram assim! Ela tem outra natureza!

Paciente, dona Maria Lúcia escutava o desabafo da amiga. Esperava ela terminar antes de dizer alguma coisa.

— Ela sempre foi mais rebelde, sem medo de nada! E mais vulgar também! Se atirava para cima dos garotos! Meus filhos nunca fizeram isso!

— E você tentava controlar...

— Sim, eu sempre tentei conversar com ela as mesmas coisas que eu converso com os meus filhos, mas com ela nunca adiantou!

— E usava a disciplina...

— Não adiantava por de castigo, com os meus filhos sempre adiantou! Eu não sei o que eu fiz com essa menina para ela ser tão ingrata! Eu sempre tratei ela estritamente igual aos meus outros filhos!

— Eu já alertei você sobre isso, Silvana! O problema foi que você tratou igual, mas ela é diferente!

— Eu sei, já falamos sobre isso, mas eu vou tratar sempre igual, eu me comprometi a isso desde o começo! Eu não devia era ter adotado, ainda mais sendo sozinha. Ou então devia ter adotado quando era bebê. Mas até o dia que ela veio aqui para casa ela teve um passado muito ruim, uma família muito desestruturada, gente baixa mesmo! Isso marcou ela, por isso que ela é diferente. Eu achei que podia dar um jeito nisso tratando igual meus filhos, mas não deu certo!

— E onde ela está agora?

— Saiu de casa de novo depois da última discussão, deve estar lá na casa daqueles tios dela que eu nem conheço direito. Tomara que esteja mesmo, porque o meu medo é que ela arrume um rapaz para se juntar. Vontade  não falta. Tem só 16 nos! Deus que me livre!

— Olha Silvana, vai para casa descansar e pensa bem sobre tudo o que conversamos! Amanhã tem um encontro na igreja e vai fazer bem você assistir, o tema vai ser esses problemas dos pais com a garotada.

Dona Silvana despediu-se da amiga e ganhou a rua, a cabeça ainda embaralhada e confusa por ainda não haver tomado uma decisão. Nem bem terminou de fechar a porta ao entrar, perguntou a Fernando e Rosana que estavam na cozinha:

— Alguma notícia da sua irmã?

— Não, nenhuma.