A Chuva & O Sertão escrita por Hunter Pri Rosen


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Hello, chuchus!

Cheguei com mais uma one para mais um desafio do grupo Café com Letra (fazia um tempinho que eu não conseguia participar, mas agora estou voltando).

O conto é narrado em primeira pessoa pela Chuva e pelo Sertão.

Boa leitura!



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Pode ser lágrimas de São Pedro
ou talvez um grande amor chorando.

Segue o seco - Marisa Monte

 

Saudade da minha amada. Sinto-me tão deserto sem ela. A vida rasteja e perece no meu corpo seco e eu clamo por seu nome úmido em um silêncio de agonia.

Cada parte dessa alma castigada por sua ausência precisa de você aqui, minha amada. Não me castigue mais com essa distância penosa; é por demais doloroso e mortífero para mim.

Desejo, com toda a força que ainda me habita, que você me invada e traga cor para essa existência agreste que me domina a cada dia. Porque preciso da sua esperança líquida para varrer a morte e fazer ressurgir a vida em cada célula do meu moribundo ser.

Quero que você silencie o choro, os gritos, o luto e a agonia que o ar quente vêm me obrigando a ouvir desde a última vez que você esteve comigo.

Há tanto tempo não está comigo, minha amada. Há longos meses não te sinto aqui. Necessito tanto que seu beijo doce me transforme e complete as lacunas desse chão rachado. Rachado por te procurar nas profundezas, indo cada vez mais fundo nessa busca desesperada por seu acalanto. Tudo em vão, já que é no céu distante que você mora agora.

O que está esperando para me encontrar? Por que a demora? Corre até mim, corre logo.

Preciso muito do seu corpo se moldando ao meu. Preciso do seu sopro molhado de vida, minha amada.

*** 

Ah, meu amado. Se soubesse como é doloroso assistir ao seu sofrimento e nada poder fazer para colocar fim à dor desmedida e cruel que te assola. Se soubesse como também desejo nossa união com toda a violência armazenada em mim e mudar esse destino de morte e desolação que te atormenta.

Quero tanto te banhar com meus beijos pingados e envolver seu corpo quente com meu amor torrencial. Para assim, preencher as lacunas da sua existência cheia de rachaduras tão profundas. Rachaduras que o desejo por mim desenhou no seu corpo árido sem piedade.

Essa distância também é minha ruína, meu amado. É duro assistir silenciosa enquanto você definha. Estarei contigo o mais depressa que o tempo permitir.

Tudo que desejo é que ele permita que seja logo. Porque tudo que mais quero é ser recebida por seu calor acumulado e aplacar as intempéries que o escaldante Sol te faz passar nesses longos meses de estiagem que nos separam.

Continue olhando para o céu e não perca a esperança, meu amor. Quando as nuvens te encherem de sombras e trovões se espalharem em sua vastidão seca, saiba que estarei cada vez mais perto de te encontrar e colocar fim à nossa dor.

***

Fiz bem em não perder a esperança, minha amada Chuva. Por mais doloroso que tenha sido conviver com a morte sempre à espreita, o dia do nosso reencontro finalmente chegou.

Venha, me abraça com o seu amor orvalhado. Traz a vida de volta ao meu solo seco e castigado. Preenche o meu vazio com a sua cor.

***

Meu amado Sertão, é com muita alegria que te reencontro hoje. Me senti tão solitária sem você. Foram meses de agonia, eu sei, mas agora estou aqui e estamos juntos outra vez.

Venha, me receba com seu calor enjaulado enquanto te beijo com saudade. Me completa com a sua aridez enquanto planto minha cor por todo o seu ser.


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Notas finais do capítulo

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