A manhã de Emily já começou maravilhosa com uma ligação muito irritada de seus pais antes mesmo que o sol terminasse de entrar timidamente pela janela. Pelo menos eles ficaram menos preocupados com a mudança de escola do meio do semestre.

Mas claro que a nadadora teria que aparecer bem mais cedo em Rosewood High para poder anular sua transferência. O que foi uma frustração porque ainda queria conversar com Hanna sobre a noite anterior.

E só a alguns quilômetros de distância, Spencer também saiu da cama antes do horário que deveria por não ter conseguido dormir um minuto sequer a noite inteira. Porém fez uma caminhada longa para espairecer um pouco a cabeça e para então ir para o colégio.

Toby correu até ela assim que a viu surgir no corredor onde ficavam os armários. — Ei, Spencer. Como você está?

— Cansada. — Respondeu com uma risadinha sem humor. — Não disfarce, eu sei que notou as olheiras enormes.

— Pra começar, até que dá pra perceber, mas não tá tão ruim assim. — O carpinteiro sorriu tentando ser reconfortante, mas em seguida entortou a boca e franziu a testa. — Seu pai não aceitou muito bem, né?

— Nem bem, nem mal. Simplesmente não aceitou. — Spencer bocejou e arrumou a alça da bolsa no ombro. — Ele me proibiu de terminar com você e disse que colocaria alguém pra me vigiar pra ter certeza que eu nem olharia pra Em. Caso contrário, eu serei mandada pra um colégio interno. Em Nova York.

— Uou. — Toby murmurou pasmo. — Eu sabia desde o começo que a situação ia ser... Sei lá, meio complicada pro velho ranzinza assimilar. Só que, cara... Isso já é demais.

— Você não conhece tão bem os Hastings quanto pensava, o buraco é um pouquinho mais embaixo. — Parou para abrir o armário. — Minha mãe nem consegue mais me encarar de lá pra cá. E meu pai... Ah, o meu pai. Com certeza quando ele disse “uma pessoa” quis dizer um exército chinês.

— Porque chinês? O próprio exército americano não é o mais poderoso do mundo? — Cavanaugh fez uma expressão confusa observando Spencer pegar um livro e fechar a porta de metal de novo.

— De fato, os Estados Unidos é bem mais poderoso quando se trata de armamentos e tecnologias, mas é óbvio que o país mais populoso do mundo teria um exército maior quando a questão é o número de soldados. — Argumentou antes de soltar mais um bocejo.

— Até morrendo de sono você é absurdamente inteligente. Que inveja. — Comentou com uma risadinha. — Vai, voltando ao assunto.

— Continuando... — Murmurou sem ânimo. — Eu aposto que ele já recrutou alguém e estou sendo vigiada agora mesmo. Um Hastings não perde tempo.

— Ei, acabei de pegar um detalhe bem importante. Seu pai te disse pra não terminar comigo. Então ele acha que eu não sei de nada, né?

— Sim, exato.

— Ótimo. Vem comigo. — Toby sorriu grande e pegou a mão de Spencer, puxa-a junto ao correr para fora do colégio.

— Mas já faltam menos de cinco minutos pra aula começar. — Claro que a super nerd assumida tinha que replicar.

— Spencer, você nunca, jamais, nem sequer uma vez na vida tirou uma nota menor que A+ e os professores já precisaram convocar uma reunião especial com seus pais pra pedir pra você parar de corrigi-los em sala. — Toby argumentou ignorando a resistência até chegar à caminhonete. — Acha mesmo que uma falta vai fazer diferença? — Completou abrindo a porta para ela.

— Foi há cinco anos! Quando vão esquecer isso? — A garota revirou os olhos e entrou.

— Shiiiii.

Toby sabia que Peter era capaz de qualquer coisa para preservar sua família perfeita. Ou ao menos a ideia que a sociedade tinha de que os Hastings eram a família perfeita sem saber da sujeira que escondiam debaixo do tapete. Então era provável que a teoria de Spencer fosse verdade e tivesse alguém os observando naquele momento.

E realmente havia um garoto com um telefone na mão, pronto para relatar tudo o que via. – “Senhor, sua filha e o Toby Cavanaugh saíram do colégio agora.”

“Sozinhos” – Perguntou do outro lado da linha.

“Sim senhor”

“Ótimo. Siga-os.”

“Pode deixar comigo.”

Toby dirigiu por alguns minutos até chegar a um motel barato que era o mais próximo de Rosewood High, fazendo uma Spencer confusa questionar. — O que nós est...

— Shiiiiiu. Caladinha. — Ele não a deixou terminar a frase e ainda lhe deu um selinho forte deixando-a mais perplexa ainda, então pagou um quarto e o portão elétrico se abriu para a caminhonete entrar.

“Senhor Hastings, eles vieram pra um motel. Ou pode chamar de pousada se soar menos, sei lá...” – O garoto do telefone logo tratou de informar, um tanto quanto nervoso por achar que aquilo deixaria seu novo chefe bravo.

“Um motel? Foi rápido assim?” – Mas ao invés disso, Peter riu como se estivesse se divertindo. “Eu sabia que essa palhaçada não ia durar muito. Mesmo assim, fique aqui até que os dois vão embora.”

O garoto franziu o cenho por não saber exatamente do que se tratava, porém como só fazia isso pelo dinheiro, respondeu. – “Sim senhor.”

— Qual é a sua? — Spencer se deixou quase gritar quando entraram no quarto.

— Calminha. — Toby riu enquanto sentava na cama. — Você tem razão, seu pai já deve ter colocado gente pra te vigiar, por isso te trouxe pra cá e dei aquele selinho.

— O que isso tem a ver? — Perguntou gesticulando de forma exagerada.

— Menina, prestenção aqui. Seu pai acha que não sei de nada, ou seja, eu posso usar isso a seu favor. — Respondeu com toda a tranquilidade. — Se ele pensar que eu estou furioso com aquela “piranha lésbica” por ter ousado colocar as mãos na “minha garota”, eu posso me oferecer pra ser um dos soldadinhos do exército dele. Ser seu espião atrás das linhas inimigas.

— Me deixa recapitular... — Spencer juntou as mãos em frente ao corpo. — Você, que é meu ex-namorado há um dia e foi a pessoa que me incentivou a correr atrás do amor da minha vida que, por acaso, é outra garota, está se oferecendo pra ser um espião que vai me ajudar a burlar as regras do meu pai tirano contra o meu atual relacionamento?

— Bom... — Toby ficou um pouco chocado com suas atitudes ouvindo-as sendo postas em palavras, porém sem arrependimentos por fazer o certo. — É exatamente isso. E ainda tem o detalhe que eu saí com a Emily e a fiz tomar coragem pra sair do armário também.

— Definitivamente não existe um cara no mundo que seja melhor do que você, Toby Cavanaugh. — Spencer o abraçou tão rápido que quase o derrubou da cama.

Rindo, ele recuperou o equilíbrio e retribuiu. — Também seria bom se arrumássemos uma namoradinha falsa pra Emily daqui a um tempo, quanto menos sério o lance que vocês “tiveram” parecer...

— Não, aí já é demais. — O ciúme escorreu nítido em voz enquanto saia do abraço.

— Eu disse falsa. — Enfatizou ainda sorrindo maroto. — Pode até ser uma das meninas pra ter certeza de que é uma pessoa de confiança. Podemos marcar uma reunião com todas elas, incluindo a Em, quando eu fizer o meu show e ganhar a confiança de seu pai. Vou dizer que, em certas ocasiões, seria melhor que ninguém ficasse por perto para você não desconfiar de ninguém e, se desconfiar, não vai ter como tirar conclusões porque nem sempre vê quem tá te vigiando, e nunca suspeitaria de mim, seu príncipe encantado suburbano.

— Toby, você é um gênio. — Spencer estava impressionada com a complexidade e os detalhes em um plano bolado assim de supetão.

— Namorei uma Hastings, alguma coisa eu tinha que aprender, né? — Cavanaugh sorriu e levantou. — Agora vamos voltar pra escola porque, eu posso até ser bem esperto, mas não sou tão inteligente e preciso passar de ano.

— Estamos aqui há pouco tempo. Se estivermos sendo vigiados, e tenho certeza que estamos, temos que fazer hora e não ser discretos ao sair. — Concluiu.

— Tem razão. — Concordou voltando a sentar na cama.

— Qual a sua aula agora?

— História. Por quê?

— Não serei irresponsável de atrapalhar os estudos do cara que mais tá me ajudando.

Spencer também se acomodou e deu uma aula para Toby que chegava a ser mais eficiente do que do próprio professor. Óbvio, ela era a Spencer.