Mas você é quem você é

Eu não irei mudá-lo por nada

Quando você estiver louco

É quando irei deixá-lo ser mau

Eu nunca ousarei mudá-lo por algo que você não é-Terrences Loves You.

Gregory Penwood era como pudim: molenga,sensível e doce. Fácil de derrubar, hesitante e temeroso de tudo e todos. Ele era mole em um mundo de pessoas duras. Mas em contrapartida,ele era gentil e amável.Nunca se soube que Gregory Penwood fora mal com alguém,ou que fizera algo de ruim. Porém, uma única vez,sim, o jovem Penwood fez algo que poderia ser considerado errado,e até de certa forma perigoso. Ele remexeu em fantasmas do passado, e de um passado que ninguém na Mansão Hellsing gostava de falar,principalmente a Senhora daquilo tudo. Fora algo simples: Gregory iria se encontrar com Sir Hellsing no escritório,para conversar sobre a frota de helicópteros que ela encomendara. Mas Integra não estava lá,então Seras lhe disse para esperar.Ele obedeceu,e entrou no escritório grande e com janelas retangulares. O chão estava tão bem encerado que ele via seu reflexo distraído no piso de porcelanato. Em cima da grande escrivaninha, papéis,livros,um computador e um telefone fixo.Algumas janelas estavam abertas, o que fez os papéis esvoaçarem pelo chão com o vento lá de fora. Penwood correu logo para pegá-los,sabia que Integra não ia gostar de ver bagunça em seu escritório. Eram vários relatórios de missões e listas de gastos.Porém havia mais uma coisa ali: um caderno pequeno feito de couro, mas com as costuras da lombada frouxas,já soltando algumas páginas. Deveria ser uma agenda,pensou Gregory, colocando o caderno junto das outras folhas e levando até a mesa.

Se ele achava que era só uma agenda,por que pegou o caderno e o abriu?

Curiosidade. Este era o ‘’pecado’’ de Gregory Penwood. Logo na primeira página,haviam vários desenhos: árvores,carros,flores. A lua enevoada de Londres. No rodapé, a assinatura com caligrafia elegante de Integra Wingates Fairbrooks Hellsing. Tudo feito em lápis carvão,pois quando Gregory passou os dedos por cima dos desenhos,eles logo mancharam.Passou então as páginas,agora com cuidado,temendo estragar o trabalho de Sir Hellsing. Mas com o passar das páginas, um rosto começou a repetir-se frequentemente.Um homem,com os cabelos negros,pele pálida e olhos pintados de vermelho.Tinha as feições elegantes,nariz afilado,e o lábio inferior um pouco maior que o superior. Haviam desenhos dele sorrindo de lado, os olhos meio fechados,com um brilho malicioso ali. Haviam desenhos dele sério,com a testa franzida e os lábios em linha reta.Também tinha ele distraído,os olhos perdidos em algo que talvez nem mesmo Sir Hellsing soubesse o que era,enquanto o retratava. Os cabelos dele sempre eram selvagens. Em certo ponto,Gregory percebeu que só tinha desenhos deste único homem no caderno,que estava quase todo usado. O que mais chamou a atenção de Gregory foi o último retrato: Cobria a página toda. Neste o homem estava no que parecia ser o jardim da mansão Hellsing. Ele estava descalço.Vestia apenas calças pretas,seu corpo pálido contrastava com as rosas vermelhas que foram desenhadas ao redor dele,como uma parede florida.Seus olhos entreabertos eram quentes,mas sua expressão era tranquila. Sentado em um dos bancos de mármore,as mãos pousadas em cima das coxas.O corpo forte e esguio dele era impecável. Seus cabelos agora estavam calmos,pois Sir Hellsing desenhara chuva naquele desenho. Haviam algumas marcas de gotas d’agua no papel.Não tinha data em nenhum desenho,nem o nome do Muso de Integra. O homem era de fato muito belo e Integra parecia ter decorado cada centímetro do corpo e do rosto dele. Seria um amante perdido da juventude dela?Ou aquele boato velho e batido de que ela e seu servo vampiro,derrotado em 1999 tinham um envolvimento seria real?

—Psiu!-Gregory assustou-se,e deixou o caderno cair em cima da mesa. Olhou em volta,com medo de Integra pegá-lo no flagra,mas não havia ninguém no escritório com ele.

—Q-quem está aí?-Gaguejou o jovem,e a voz o respondeu:

—Estou do seu lado,cara,relaxe. Agora me ouça: a Chefe está voltando,melhor colocar isso aí no lugar.E põe o grampeador em cima,pra não voar de novo!

—Você é um f-fantasma?-Gregory obedeceu a voz que tinha um sotaque francês fortíssimo,e colocou o caderno de desenhos escondido embaixo nos papéis na mesa, com o grampeador por cima.

—É...quase isso. Mas estou do seu lado. Então,mantenha esse bico calado,certo?

—Certo.

—Ótimo,agora disfarce por que ela vai entrar agora.-Gregory sentou-se na cadeira rapidamente,e  dito e feito: Integra entrou no escritório, carregando uma pasta com mais papéis.

—Boa tarde,Gregory.-Cumprimentou,com um sorriso no rosto,mas logo o desmanchou quando viu o rosto do rapaz.-Que cara é essa,Gregory?Parece que viu fantasma.

—N-nada,eu estou bem,Sir Hellsing.Boa tarde.-Disse Gregory,e apertou a mão quente de Integra com a sua mão suada.

—Acho que você precisa de uma bebida.-Decidiu Integra,e Gregory negou com a cabeça. Beber com Integra era uma armadilha: ela podia beber cinco shots de Whisky e continuar sóbria o suficiente para atirar em um pombo no céu,enquanto Gregory mal conseguia beber o primeiro e já ficava trançando as pernas.

—Não,muito obrigado,Sir Hellsing.

—Ora deixe de bobagem!-Integra já abrira as portinhas da escrivaninha e puxara uma garrafa quadrada de Scotch.Tirou também dois copos,e colocou as doses.-Vamos,beba um pouco.

—Não está proibida de beber por ordens médicas?-Relembrou Gregory,e Integra revirou os olhos.

—Estou dolorida e cansada por que sou uma velha,Gregory,não por que bebo whisky.-Como sempre,Integra tinha a resposta na ponta da língua. O Penwood se perguntou certa vez se ela sempre fora daquele jeito,e Seras lhe disse que ela estava ‘’mais macia’’ agora que estava entrando na terceira idade. Gregory bebeu um pouco da sua dose,sem disfarçar a cara torcida por conta do gosto.

—Não é assim que se bebe,garoto! Tem que virar tudo de uma vez,veja só.-Explicou Integra,virando sua dose rapidamente.Gregory á imitou,só para sentir o fogo da bebida queimando-lhe a garganta.Tossiu,e limpou as lágrimas dos olhos.Pigarreou.

—Bom...

—Sobre os helicópteros.-Começou Integra,tirando uma folha de papel de dentro de sua pasta.

—Hum...Sir Hellsing,posso te fazer uma pergunta?-Perguntou o rapaz,aproveitando que Integra parecia estar de bom humor.

—Sim.-Respondeu a mulher,provavelmente pensando que Gregory iria perguntar algo sobre os helicópteros.

—A Senhorita já se apaixonou?-Integra ergueu uma sobrancelha para a pergunta incomum.Gregory pensou que ela iria lhe dar uma resposta dura,mas surpreendentemente ela sorriu.

—Está apaixonado por quem,Senhor Penwood?

—N-ninguém!-Ele perguntara querendo saber se suas suspeitas estavam certas,mas sim,ele andava pensando sobre arrumar uma esposa em breve,e em sua mente sempre vinha Teresa Cecily Wingalls, dama filha de um cavalheiro da corte. Era adorável,com seus lindos cabelos castanhos e olhos verdes. Deveria ter corado,por que Integra riu baixinho de sua situação.

—Perdoe-me então. Só achei um tanto inesperada esta sua pergunta.-Disse Integra,e suspirou,deixando o papel de lado.-Sim,eu já me apaixonei.

—Ele gostava de você?-Gregory apertava as mãos,estava suando feito um porco, o que acontecia sempre que ficava nervoso.

—Ele me amava muito.-O olhar de Integra pareceu um tanto perdido quando ela respondeu aquela pergunta.

—E o que fez para ele gostar de você?-O jovem não sabia de onde estava saindo tanta coragem para aquelas perguntas. Estava tão curioso assim para saber se Sir Hellsing realmente tivera um caso com o vampiro? Na realidade ele também acreditava que a mulher poderia lhe dar bons conselhos,e gostava muito dela,a consideraria uma avó,se Integra não gritasse com qualquer um que insinuasse que ela estivesse se tornando idosa além de si mesma.

—Nada.Ele me amava do jeito que eu sou,e eu o amava do jeito que ele era. O amor,Gregory,não é mudar de atitude para agradar alguém. É encontrar alguém que te aceite pelo que você é: defeitos e qualidades. Eu sou o que sou,e ele era o que era.-Integra bebeu mais um shot do whisky.Gregory assentiu.

—Obrigado por responder minhas perguntas,Sir Hellsing.-Agradeceu,e a mulher sorriu gentilmente para ele.

—Não seja por isso,Gregory.Agora,meus helicópteros!Chega de falar de romance.-Entregou a lista dos helicópteros e dos recursos necessários para Gregory,que arregalou os olhos e exclamou:

—Tudo isso??

Esta fora a única vez em que Integra admitiu seu amor pelo Conde,e Gregory nunca iria esquecer,assim como a exigência absurda de 30 helicópteros armados e com combustível extra que ela lhe fez logo depois!