Harry não conseguia dormir. Enquanto observava as estrelas pela janela de seu quarto, aguardando adormecer, Hermione veio em seu pensamento.

 Do outro lado da Inglaterra, em Hogwarts, estava a nerd. Ela voltara para terminar seu último ano na escola de magia, enquanto ele preferiu trabalhar e alugar um apartamento para si. Havia conseguido um emprego como ajudante na reinaugurada loja de varinhas do beco diagonal, algo que lhe satisfazia por enquanto e dava um salário suficiente para que se sustentasse. De qualquer forma, fazia paralelamente seu treinamento de auror. 

 Depois de ser designado para salvar o mundo bruxo e cumprir a árdua tarefa, tudo que Harry queria agora era viver a vida de maneira, normal, monótona e em paz. Mas óbvio que sua fama aumentara avassaladoramente, e a maneira encontrada por ele para lidar com isso foi se isolar um pouco da antiga vida e tentar seguir como um garoto normal. Aos poucos estava conseguindo, mas era inevitável ter pesadelos com a guerra;o q já tinha acontecido naquela noite. 

 Sem que ele tivesse a intenção, os pensamentos sempre fugiam para a melhor amiga quando acabava sem conseguir dormir. Não tinha como evitar. Eles ficaram juntos após a guerra, mas depois com os planos distintos e a interferência de Gina e Rony, cada um seguiu seu caminho.

***

 No dormitório feminino da Grifinória, Hermione precisava de algo que lhe fizesse permanecer acordada para terminar os complexos deveres do sétimo ano. Àquela hora da madrugada, até ela não estava aguentando mais e começava a procrastinar olhando a janela. Perdida em pensamentos aleatórios só despertou quando o Harry veio à mente. Seu melhor amigo, motivo sempre de preocupação para ela, sua paixão platônica adolescente. Já fazia algum tempo que havia desistido dele, principalmente depois de quando pediu para se recompor da batalha de Hogwarts. Porém, era inevitável pensar nele de vez em quando. Sentia saudades de uma maneira ou de outra, e queria falar com ele; mostrar que estava ao seu lado ainda, que sentia tanto que ela mesma não sabia qual era exatamente seu sentimento em relação a ele naquele momento.  

 Encarando a janela, ponderou por instante o que poderia fazer quanto a isso. Acreditando que era inútil tentar terminar a lição a uma hora daquelas, pegou um pergaminho vazio e começou a escrever:

"O céu de hoje me faz lembrar do céu do nosso tempo

É incrível essa capacidade estelar

Elas não tem tempo; elas fazem o próprio tempo

O passado, o presente, o futuro, tudo é embaralhado quando se olha para cima

Parecido assim foi o que aconteceu

Não sei explicar muito bem, sei nem se sabe tão bem quanto eu

Existe harmonia no tempo, assim como no universo, no caos

Por mais que de dentro não dê pra ver

Eu tenho uma prova meio louca

Você precisa saber

Nós tivemos tudo que devíamos ter

E se for preciso

Ainda estou ao lado de você

Nós tivemos tudo que devíamos ter

E se for preciso

Ainda estou ao lado de você

Mesmo se nunca nos beijamos,entrelaçamos, atracamos

Nada disso supera a confiança, o olhar, os risos

Percebi que só tenho a agradecer

Talvez nem faça ideia do que me fez

Tivemos tudo que devíamos ter

Precisando, ainda estou com você

Não quero que me entenda mal

Nós dois crescemos e terá cada um o seu final

Somos diferentes um do outro e de quem éramos

Impossível agora voltar

E isso não vai de modo algum me incomodar

Porque o que era pra ser, será

Nós devíamos nos encontrar

Eu devia me apaixonar

Hoje sigo com outra gente, mas feliz com o que vivi

E sei que quando precisar

Por mais que tenha doído se separar

Quero ao menos retribuir a sensação boa que me deu

Da forma que o universo mandar

E o que será...

Basta o futuro aguardar

Nós tivemos tudo que devíamos ter

E se for preciso

Ainda estou ao lado de você

Nós tivemos tudo que devíamos ter

E se for preciso

Ainda estou ao lado de você

Mesmo se nunca nos beijamos,entrelaçamos, atracamos

Nada disso supera a confiança, o olhar, os risos

Percebi que só tenho a agradecer

Talvez nem faça ideia do que me fez

Tivemos tudo que devíamos ter

Precisando, ainda estou com você"

Ao terminar, ela mesma se surpreendeu. Começou a sorrir, orgulhosa: ainda era capaz de compor como na época em que fazia aulas de música, antes de saber que era uma bruxa. Ela leu de novo o que escreveu e convicta de que era exatamente aquilo que queria falar, foi até a janela e começou a cantarolar sua canção olhando para o céu da Inglaterra, o mesmo céu que cobria Harry onde quer que ele estivesse agora. 

 Mal sabia que do outro lado Potter fazia algo parecido. Ele não tinha escrito nada, mas assobiava um som que lhe lembrava a morena: o canto dos passarinhos que ela as vezes encantava quando queria se distrair. E olhava o céu. 

 Sem saber, os dois criaram uma música sob o mesmo céu, pensando um no outro. Depois daquele dia, estranhamente não se sentiram mais tão distantes, mesmo com cada um seguindo seu rumo.