Frisk chegou em casa apressadamente e ao abrir a porta, ela não viu Asgore ali e nem suas malas estavam na sala, Frisk pensou que ele havia ido embora. Sozinha ou não, ela decidiu viajar assim mesmo, não havia mais nada para ela fazer na capital. Frisk foi até seu quarto, tirou sua mala vazia e arrumou suas coisas apressadamente para viajar.

Ao terminar de arrumar suas coisas, ela levou sua mala até a sala e viu seu emblema na mesa, onde ela havia deixado antes. Frisk pegou seu emblema e olhou-o por alguns instantes, se lembrando do que havia falado com Asgore antes de sair. Frisk estava triste de tê-lo feito ir embora e esperava vê-lo logo e se desculpar por isso. Frisk guardou seu emblema, saiu de casa e pegou um táxi para ir até a rodoviária. Não demorou muito até o táxi deixar Frisk no local e ela foi andando até uma fila próxima, junto com a mala. Enquanto Frisk olhou que horas eram, alguém tocou em seu ombro e Frisk se virou assustadamente para ver quem era. Asgore estava atrás dela, sorrindo serenamente e vendo que ela havia mudado de ideia, ele estava notoriamente feliz. Frisk abraçou-o sem pensar duas vezes, feliz por ver ele ali.

Frisk: Me desulpe por hoje, achei que tinha ido embora por minha causa.

Asgore: Não se preocupe, algo me disse que você mudaria de ideia.

Frisk: ... Você também tem intuição?

Asgore: Er... mais ou menos...

Ele não queria admitir que tinha pensado em desistir antes de receber uma bronca de Toriel pelo telefone, falando para ele esperar Frisk na rodoviária. Assim que se soltaram, eles foram andando para fora e Frisk viu um carro com suas malas em cima dele, seguradas por uma corda. Frisk não sabia que Asgore tinha um carro, mesmo assim, ela colocou sua mala atrás do mesmo e eles começaram a viajar para fora da capital, indo até a vila.

A viagem iria demorar horas e enquanto eles estavam no carro, Frisk acabou adormecendo no meio do caminho. Ela teve um sonho diferente como não tivera faz anos, ela estava andando em um corredor escuro e estava chovendo. Ao sentir a chuva caindo na sua cabeça, Frisk começou a correr, procurando uma saída. No fundo do corredor, ela começou a ouvir uma melodia baixa tocada por um piano. Ela continuou andando e o som aumentava a cada vez que ela se aproximava do final do corredor, era uma melodia triste, como se uma pessoa estivesse sozinha tocando a música.

Quando o som parecia nítido, Frisk notou uma porta no final do corredor e do outro lado dela, havia uma luz. Frisk olhou para dentro da sala iluminada, atrás da porta, e notou que aquela luz surgia de um objeto que estava acima de uma mesa. Frisk viu uma bola de cristal vermelha com uma estrela de oito pontas que estava dentro dela, brilhando intensamente. Frisk se aproximou daquela esfera vermelha, surpresa, e sentiu vontade de tocá-la. Antes mesmo de tocar, a luz da esfera se expandiu e a sala se tornou branca. A esfera mudou de forma e se tornou uma taça dourada, decorada com pedras brilhantes as asas da taça tinham o mesmo formato de asas. Frisk olhou para aquela taça, maravilhada pela sua forma e seu brilho tão intenso que logo o reconheceu.

Frisk: ... Esse é o artefato?

Ela aproximou suas mãos para poder pegá-lo. Chegando bem perto, Frisk ouviu um som estranho e sentiu uma energia maligna ao redor da sala. Uma mão escura com garras surgiu atrás do artefato e Frisk se afastou rapidamente. Aquelas garras pegaram o artefato e seu punho fechou-se com o artefato dentro, fazendo a fonte de luz se dissipar e escurecer a sala. Frisk olhou assustada ao redor e viu nuvens negras girando pela sala, cercando-a e engolindo-a aos poucos. Frisk começou a se sentir sufocada. Antes de adormecer, ela ouviu uma risada maligna no fundo, sem poder reconhecer quem era, Frisk acordou repentinamente quando o carro bateu em uma pedra e chocou.

Asgore: Opa, desculpe, está tudo bem aí?

Ela voltou a se sentar depois do choque e coçou a cabeça, sonolenta, e então ela se lembrou do sonho que acabou de ter.

Frisk: Eu... Tive um sonho muito estranho.

Asgore: Hã? Que tipo de sonho?

Frisk: Eu vi uma esfera de cristal, e ela se transformou em um objeto dourado. Eu pensei que poderia ser...

Asgore: Você viu o artefato no seu sonho?

Frisk: Eu não tenho certeza... Eu não tinha sonhos assim desde que estive no subsolo.

Asgore: Temos que ficar atentos Frisk, nunca se sabe o que pode acontecer.

A quilômetros de distância deles, a pessoa que havia libertado os monstros bizarros do subsolo estava atrás da sombra de uma rocha de um penhasco, observando do alto o carro onde Frisk e Asgore estavam. Ele continuou sorrindo enquanto entrelaçava os dedos. Junto com ele, mais três daqueles monstros bizarros esperavam a ordem do seu mestre, eles tinham a forma meio arredondada, com vários rostos e uma cauda contorcida.

?: Está tudo indo de acordo com o plano. Vão e capturem a humana!

Aqueles monstros obedeceram-o, desaparecendo como fantasmas e indo atrás daquele carro. Já havia anoitecido e Frisk olhava a paisagem, várias árvores e montes cercavam o horizonte. Frisk continuou observando até conseguir descobrir o Monte Ebbot por perto.

Frisk: Olhe, o monte está ali!

Asgore: Ótimo! Já estamos chegando.

Frisk: Podemos parar um pouco? Eu quero dar uma olhada.

Asgore parou o carro e ambos saíram para olhar para o monte. De longe, várias luzes iluminavam-o como se fosse um monumento, chamando a atenção dos dois.

Asgore: É muito bonito. Isso me faz lembrar quando estávamos no topo desse monte quando saímos pela primeira vez.

Frisk não disse nada, apenas podia concordar com Asgore enquanto se lembravam daquele momento único. Depois de um tempo, Asgore se virou para Frisk e viu-a refletindo.

Asgore: Está ansiosa?

Frisk: ... O que eles vão achar quando souberem que eu não tenho mais meus poderes?

Asgore: Você não perdeu. Seus poderes estão aí, escondidos em algum lugar. Vamos encontrar um jeito, só peço que continue a acreditar.

Ela parecia estar negativa sobre seus poderes, porém ela esperava o mesmo e concordou com Asgore, com esperança de que iria tê-los de volta. Ao se virarem para entrar no carro, eles olharam na estrada e viu algo que chamou muito a atenção deles. Três criaturas estranhas estavam andando em direção a eles e começaram a emitir sons agudos e estranhos, deixando-os apavorados.

Asgore: Entre no carro!

Ela estava assustada e fez o que Asgore pediu. Ambos entraram no carro e Asgore não perdeu tempo e acelerou, enquanto Frisk tentava se segurar.

Frisk: O que era aquilo?

Asgore: Eu não sei...

Se aquelas criaturas eram do mal, Frisk não sabia como detê-los sem seus poderes. Ela começou a implorar em seus pensamentos para que houvesse um jeito de conseguir detê-los. Frisk, ao mesmo tempo, também começou a pensar em seus amigos e se estavam em perigo. Enquanto Asgore acelerava, ele viu pedras várias pedras, bloqueando a estrada, obrigando-o a parar o carro.

Frisk: Não pode passar entre elas?

Asgore viu que não tinha outro jeito e teve que sair do carro para cortar aquelas pedras com seu tridente. Enquanto isso, Frisk viu os três monstros atrás do carro pelo visor e saiu de dentro para avisar Asgore. Ele viu-os se aproximar e avançou na frente de Frisk, usando seu tridente para empurrar os monstros para longe. Os monstros recuaram por um momento e se recuperaram do dano causado, avançando novamente. Asgore não sabia como detê-los, eles eram muito fortes.

Asgore: Fuja pela estrada!

Frisk: Mas e você?

Asgore: Rápido, você tem que chegar ao vilarejo!

Frisk não questionou mais e correu pela estrada, passando pelas pedras que bloqueavam o caminho. Os monstros viram-na fugir e se teleportaram para perto dela. Asgore preveniu a ação deles com várias bolas de fogo, mas eles sumiram antes que Asgore pudesse impedi-los, deixando-o sozinho.

Asgore: Droga!

Frisk continuou correndo quando viu os três monstros se teleportando perto dela. Frisk continuou correndo mais rápido para se afastar deles quanto podia. Eles logo começaram a ataca-la com projéteis e um deles acertou contra o pé dela, desequilibrando-a. Frisk, por pouco, conseguiu se manter em pé e continuou correndo. Eles continuaram se aproximando dela insistentemente e planejaram cercá-la dessa vez. Depois de um bom tempo correndo, Frisk começou a ficar ofegante quando teve que escalar um monte para tentar escapar. Ao chegar ao final do monte, ela viu que estava no topo e não havia outra saída. Embora isso, Frisk podia ver a vista do vilarejo, sabendo que estava a poucos metros de lá. Enquanto olhava aquela vista, ela ouviu novamente sons agudos e olhou para trás, assustada, vendo os monstros que continuavam seguindo-a, se preparando para atacar. Ela começou a andar para trás, tremendo de medo.

Frisk: “Alguém... por favor... me ajude...”

Enquanto andava para trás, ela notou uma sombra silenciosa se aproximar dela e Frisk se virou para ver aquela pessoa que estava comandando aqueles monstros antes. Ele aparentava ser um fantasma pelas suas vestes etéreas, porém ele tinha um crânio branco e liso, com duas cicatrizes perto dos olhos e duas pupilas brilhantes que miravam nela. Ele tinha um sorriso sinistro e um de seus olhos era meio fechado.

?: Bom trabalho, Memoryheads.

Frisk: ... Quem é você?

?: É um prazer conhecê-la, humana. Eu sou W.D. Gaster.

Frisk começou a recuar dele em passos curtos, sabendo que aqueles monstros, chamados Memoryheads, estavam cercando-a.

Frisk: O que você quer?

Gaster: Sua alma, a pura essência da determinação... Mais do que suficiente para eu controlar o lendário artefato!

Frisk: Não...

Gaster: Não se preocupe humana. Se você colaborar, não vai sofrer muito.

Ele estendeu uma de suas mãos para ela para lançar uma magia, cada uma tinha um buraco redondo na palma da mão. Frisk não queria se render, mesmo tremendo de medo, ela deu mais alguns passos para trás e tentou ganhar tempo.

Frisk: Como... Como sabe do artefato?

Gaster: Todos conhecem o artefato, humana. A lenda do artefato diz que uma alma com determinação suficiente é capaz de controlar o artefato. Por séculos, trabalhei em inúmeras tentativas para encontrar a alma perfeita, e nenhuma foi um sucesso. Eu só precisava de uma chance, e essa chance finalmente está ao meu alcance! Renda-se de uma vez!

Gaster estendeu sua mão novamente e estava carregando uma magia na qual iria fazer sua alma ser sugada até ele. Frisk imediatamente fechou os olhos e sentiu um desespero intenso. Aquela mesma sensação de agonia fez com que Frisk relembrasse dos seus momentos de perigo que a fizeram ter coragem de lutar. Logo, uma voz dentro dela começou a ecoar com seus pensamentos.

Frisk: “...não... Eu não posso morrer...”

Naquele momento, surgiu-se um silêncio que dominou sua mente, fazendo Frisk refletir sobre seu passado como guardiã e então, Frisk começou a entender que ela lutava não somente por ser humana, mas por possuir algo que ninguém mais tinha. Percebendo o quanto sua essência era tão desejada, Frisk soube que sempre foi a escolhida pelo artefato, e agora que começou a entender, ela não iria se entregar tão facilmente.

Frisk: ... Não vou me render a você...

Ela começou a ouvir as batidas de seu coração profundamente, fazendo sua essência voltar aos poucos e assim, ela se encheu de determinação. Ela abriu os olhos e o encarou de volta com resolução, sentindo seus membros se encherem de energia.

Frisk: Eu sou a esperança de todos. Minha missão não terminou ainda!

Ao ouvir isso, Gaster sentiu a energia emanando dela crescendo intensamente, deixando-o admirado.

Gaster: Essa energia, magnífica... Isso só me faz ter vontade de arrancar sua alma à força, humana.

Os Memoryheads começaram a atacar atrás dela e Frisk percebeu a intenção deles, se desviando dos ataques que atravessaram Gaster. Ele não reagiu ao sentir os projéteis atravessarem seu corpo etéreo, ele não parava de admirá-la. Ao pousar entre os monstros e Gaster, Frisk sentiu uma luz dentro dela, chamando seu emblema. O mesmo que estava guardado na sua bolsa, dentro do carro, se transformou em uma fonte de luz e voou rapidamente até ela, indo até seu peito. Frisk pegou-o e segurou contra seu peito, sentindo uma energia imensa dentro dela, prestes a emergir para fora.

Frisk: Me dê a determinação de que preciso para derrotar as trevas... Poder da luz, me guie!

Gaster viu-a parada, com seu emblema e ele aproveitou para captura-la. Porém, a luz do emblema começou a se expandir tão intensamente que fez com que suas mãos fossem obrigadas a recuar. Frisk sentiu ser dominada pela luz e estendeu seus braços, deixando sua luz se expandir de tal forma que virou um sinal a todos do vilarejo, atraindo a atenção de todas as pessoas dde lá, inclusive Asgore, que naquele momento havia encontrado Toriel e foi correndo até Frisk ao ver aquela luz.

Gaster se sentiu tão ofuscado pela luz dela que ele desapareceu. Os Memoryheads também se teleportaram daquele local, incomodados. Frisk continuou parada enquanto sua luz irradiava como se fosse uma estrela. A energia dentro dela estava tão intensa que o seu emblema não suportou tamanha carga, começando a rachar.

Enquanto isso, Asgore, ao chegar perto de Frisk, viu a que a luz dela se apagou e Frisk sentiu suas energias se esgotarem. Com o pouco de força que teve, ela tentou andar, segurando seu emblema, mas ela não suportou mais e desmaiou, deixando-o cair e quebrar. Asgore conseguiu segurá-la a tempo e levá-la até o carro, porém ao ver o emblema, ele viu o coração dele quebrado e alguns cacos haviam se perdido pelo chão. Asgore olhou para aquilo assustado e pegou-o, guardando para si até achar um meio de devolvê-lo. Ele deveria pensar no que falar caso Frisk perguntasse, pois ele temia que Frisk não fosse mais se transformar depois disso.

Ao chegarem à casa de Toriel, antes dos outros, Asgore saiu do carro e carregou Frisk até um quarto reserva e a deixou na cama, e também, Asgore deixou as malas dela no mesmo quarto. Antes de sair do quarto, Asgore passou a mão na cabeça dela gentilmente e falou em voz baixa.

Asgore: Estou orgulhoso de você.

Após dizer isso, ele saiu do quarto enquanto olhava para Frisk serenamente, deixando-a dormir tranquilamente.