Rafaela

“Obrigada novamente por nos deixar passar a noite aqui em sua propriedade Nanami-san.”

”Eu que agradeço Mirai-san! Você e seus colegas fizeram um grande favor ao ajudar na plantação de pêssegos. Com meu marido doente, seria impossível somente eu e Hana colhermos tantos antes de caírem.” Nanami me serviu um copo com chá gelado. Depois de passar o dia todo no sol, sentar e tomar algo é realmente refrescante.

Hana, filha da senhora Nanami, não parava de me encarar. “Hana-chan, você gosta de ajudar sua mãe na fazenda?”

Perguntei só para falar algo com ela. Hana deve ter apenas 10 anos e é a cara da mãe, cabelos escuro esverdeados e olhos castanhos. Enquanto ela respondia animada eu apreciava minha bebida, até que.

”De onde vocês são? E por quê seus olhos tem cores diferentes?”

”Hana! Eu te ensinei modos, não?!”

“Não se irrite tanto Nanami-san. Sabemos que crianças são curiosas com tudo.” Professor Lima conseguiu acalmar a moça enquanto eu e Gustavo apenas observamos. Nós três somos convidados na cozinha dos Oomi’s, uma família rural que mora nos limites de uma cordilheira e perto da floresta. Aqui eles cultivam enormes e deliciosos pessegos. Pensamos ser uma vila, mas é apenas esta familia que vive aqui.

”Bem. Respondendo suas perguntas Hana-chan, nós viemos de bem longe pela floresta. Já meus olhos são de cores diferentes há um bom tempo e mesmo eles sendo assim, eu enxergo perfeitamente.” Crianças se impressionam muito fácil. Aww, ela está com os olhinhos brilhando.

”Nanami-san, poderia nos dizer onde exatamente estamos? Acho que estamos um pouco perdidos.” Gustavo devolveu o copo vaziu a mesa e a dona da casa pegou.

”Claro! Bem, vocês chegaram em nossa fazenda na província Natsu, mas se subirem ao norte chegam na cidade Yakekoge. Sigam quatro dias de viagem de lá para o norte e chegarão a Konoha. É lá que vocês querem chegar não é?”

”Sim, mas como sabe disso?” Por enquanto eu apenas vou seguir o fluxo. Não sei se é uma boa ideia irmos para lá, ainda não sei o que responder se perguntarem de onde vieram tantos adolescentes órfãos e porquê temos um Hyūga no meio. Seria possível esconder que Murilo é um Uchiha? Não consigo imaginar exatamente a reação deles se descobrirem.

”Eu apenas julguei que vocês procurariam ajuda dos ninjas. Sua vila foi atacada, não? Para ter tantos órfãos..”

”Sim. Obrigado pelas informações.” Gustavo respondeu por mim, um pouco duro e seco, mas foi eficaz.

”Desculpe se eu toquei em um assunto que não deveria. Vou acompanhá-los até os outros, com certeza estão cansados.” Isso eu devo concordar com ela, daqui há pouco vou poder marcar minhas primeiras 48 horas sem dormir neste mundo. Ou seria universo? Hmm..

Nanami nos levou até o paiol. Todos estavam dormindo no feno, espalhandos em todas as direções. André era o único que estava esperando na entrada, cansado como eu, lutando para não fechar os olhos por mais de um segundo.

Nós três nos despedimos da Nanami e Gustavo entrou com o Sr. Lima que estava quase caindo de sono. Ou seria melhor descrever que ele desmaiaria de cansaço a qualquer minuto?

”Você está um trapo.”

”E você não parece muito melhor do que eu.” Ele riu com a minha resposta e eu me juntei, descontraindo o clima um pouco.

”Sabe, eu não achei que você se importasse com a gente. Você sempre só escutava e encarava os outros na sala, nunca abriu a boca para falar outra coisa além de ‘Bom dia’ e ‘Até amanhã’.”

”Acho que antes eu não tinha que me importar.” Ficamos ambos sérios, apenas respirando. “E acrescentando que eu apenas aturo algumas pessoas, não é de se esperar que eu evitava me aproximar de quem eu não vou com a cara.”

”Então por quê agora? Por quê se importar agora?”

”Como eu disse, antes eu não precisava me importar. Mas a situação mudou e eu não posso ignorar coisas que eu ignorava, uma delas sobre o que pensam de mim. Estou tentando manter meus colegas sanos em um mundo completamente perigoso, pelo amor de Deus! Eu tenho que ajudar, eu sinto que-“

Um grito. Um grito desesperador não muito longe daqui me interrompeu.

”André.”

”Já estou procurando.” As veias ao redor dos Byakugans estavam saltando na pele dele. Com a visão dele, vamos descobrir o que aconteceu e rápido.

”Vocês escutaram?” Murilo apareceu junto com Gustavo. Esperamos alguma resposta do nosso colega e não muito depois a raiva apareceu no seu rosto.

”É um sequestro aparentemente. Quatro homens levando uma garota. Não estão longe daqui.” Ele se virou esperando minhas ordens. Lembrei que ainda tenho que perguntar a eles por quê me escolheram como líder.

”Vamos até lá. Vocês dois fiquem aqui e não abaixem a guarda.” Com isso saí em disparada com o André na frente, essa garota deve ser Hana. Só de pensar em alguém fazer isso com ela, meu sangue ferve. Ela só tem dez anos.

Logo diminuímos a velocidade até ele me sinalizar para se esonder. Enquanto ele se agachou no meio de alguns arbustos decidi subir em uma árvore, assim tendo uma visão perfeita dos meus inimigos.

“Caralho! Essa guria não cala a boca!” O carrasco enorme que estava levando Hana jogou ela no chão como se fosse um saco de batatas. “Por que estamos fazendo isso se sabemos que a família dela não vai pagar nada? Eles estão quebrados!”

“Porque vamos encontrar alguém  que dê valor a vida dela.” Um homem alto que carregava equipamento shinobi respondeu. Pela formação deles é provavel que esse seja o líder, ele tem o ar de arrogância. Não vejo nenhuma bandana, deve ser alguém que conseguiu o equipamento ninja mas não tem nenhum treinamento.

Hana continuou a tentar se soltar das cordas que amarravam os pulsos junto. Ela só está se machucando..

“Não tem ninguém para te ajudar aqui! Pare logo com essa barulheira!” Antes que ele pudesse agredi-la, André se jogou e derrubou o homem com um belo chute na cabeça.

“O que?!” Todos entraram em posição de luta. Os outros dois homens que não tinham falado nada até agora eram meus alvos, assim meu colega poderia se focar apenas no líder e no outro.

“Vamos lá.” Fiquei de pé no galho, com alguns leves toques na casca da árvore a terra tremeu. As raizes enormes pegaram meus adversários de surpresa e o agarraram. Quando eles não conseguiam nem virar a cabeça eu desci, André ainda lutando usando apenas taijutsu.

“Eu já vou te soltar.” Eu soltei o pano que estava amordaçado ela e estava soltando as amarras do pulso dela quando Hana gritou. Ela estava avisando sobre algo enquanto olhava por trás de mim, antes que eu pudesse me virar senti a terra mexer de novo.

Atrás apareceu uma parede de terra, firme como uma parede. Quando ela se dissipou, três shurikens caíram no chão e na mesma direção estava o único que tinha isso. Momentos depois André já estava socando o homem no chão.

“Pronto.” Terminei de desamarrar as cordas dos calcanhares de Hana e ajudei ela a se levantar.

“O-Obrigada..”

“André, leve ela de volta. Hana-chan sabe o caminho de volta?” Ela apenas balançou a cabeça. “Ótimo, eu cuido do resto aqui. Nos encontramos de volta no paiol.”

Com os dois já longe eu posso me soltar um pouco.

Com todos os inimigos ‘amarrados’ e no chão, vou começar minhas perguntas.

“Quem são vocês? O que queriam com os Oomi’s?” Os únicos acordados eram aqueles dois que André não encostou, estavam tremendo mostrando o quão assustados estão. “Me respondam!”

“Eles nos devem dinheiro há muito tempo, decidimos que já era tempo deles pagarem.”

“Então decidiram sequestrar a filha deles para forçarem a pagarem?” Ele mordeu a boca. Não, não era isso que eles pretendiam. “O que íam fazer com ela?”

“...” Ele abriu a boca mas nada saiu, minha paciência já estava acabando. Fechei meus punhos com toda força e criei fogo.

“Eu quero uma resposta alta e clara!”

“Nós iríamos vendê-la para alguém que pagasse o que eles devem!” O fogo inflamou e ficou forte. Como assim? Vender uma criança?! “Prometemos deixá-los em paz, por favor nos deixe ir!” As labaredas já estavam cobrindo meus braços.

“Vocês não vão esquecer dessa promessa..”

[X]

“Rafa! Já estávamos pensando em ir te procurar.” Murilo se aproximou com Gustavo. André não deve ter chegado ainda, então sou eu que vou ter que explicar o que aconteceu.

“Por quê demorou tanto? E o André?”

“Foi levar Hana para casa, daqui a pouco ele deve chegar. Conseguimos neutralizar os raptores e por sorte, nenhum deles era um nukenin.” Perdi o equilíbrio e quase cai. “Ugh, eu estou exausta.”

“É lógico! Você não dormiu desde que chegamos aqui.” Para o Gustavo falar assim ele deve estar realmente preocupado.

“Hm.” Apenas concordei e me afastei, entrando onde os outros estavam ainda sentido os olhos amarelos nas minhas costas. Beatriz veio correndo assim que me viu.

“O que aconteceu?” O olhar dela era igual aos outros, devem ter imaginado o pior quando escutaram aquele grito.

“Ah..” Eu só quero deitar.. “Teve uma tentativa de sequestro. Eu e o André conseguimos impedir. Pode explicar aos outros por mim? Eu realmente preciso descansar.

“Ok, pode ir.” Ela me deu um sorriso como se para dizer ‘tudo vai ficar bem’. Me deitei em um monte de feno e apaguei, a última vez que eu fiquei tão casada assim...