I'm not him escrita por Thai


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoas. Essa uma oneshot que pensei depois que revi Kyou Kara Maou.
É uma pena que eu não tenha conseguido achar uma imagem que me agradasse.
Espero que gostem~~



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Dois meses haviam passado e ainda não conseguia controlar os sentimentos que Geneus revivera dentro dele. Depois de quatro mil anos sua alma já conseguia diferenciar os sentimentos do Grande Sábio e do próprio hospedeiro, mas aceitar a alma, as memórias e os sentimentos de Geneus foi mais pesado do que esperava.

Geneus, dentre todas as suas vidas, foi a que mais se dedicou a promessa que o Grande Sábio fizera a Shinou. Por mais que no fim tenha se desvirtuado e adotado atitudes repreensíveis, sua motivação era pura: ele apenas queria ver o homem que amava mais uma vez. E eram esses sentimentos que Murata não estava conseguindo controlar.

Não podia negar o quanto a volta para Shin Makoku mexera consigo, principalmente quando Shinou deixou de ser apenas uma voz ouvida por Ulrike e passou a adotar um corpo físico. Tê-lo tão perto e tão palpável era cruel, mas ele não era mais o Grande Sábio, ele era Murata Ken. Nada mais, nada menos. E aos poucos foi conseguindo acalmar os sentimentos alheios, mas todo seu esforço acabou sendo em vão, porque ao aceitar a alma de Geneus tudo voltou, só que dessa vez mais forte.

Pensar em Shinou era o suficiente para seu coração acelerar, vê-lo fazia com que precisasse raciocinar para não deixar de respirar. Mesmo Shinou sendo só um espírito, Murata podia jurar que sentia o seu perfume toda vez que entrava no templo. Manter o autocontrole ficava cada vez mais difícil e não demorou para que Shinou percebesse as mudanças.

No começo, Murata conseguia desviar das perguntas, mas não durou muito e precisou passar um tempo na terra, para que a distância pudesse lhe ajudar. Nesse período conseguiu sair com algumas meninas, mas se sentia culpado. Sentir atração por qualquer pessoa que não fosse Shinou parecia errado.

Quando precisou voltar para Shin Makoku não foi difícil perceber que sua situação continuava a mesma. Evitou o templo o máximo que pôde, mas de nada adiantou, porque a paciência curta de Shinou não lhe daria o tempo que precisava. Estava lendo em seu quarto com as cobertas até o peito quando  Shinou, visivelmente irritado, entrou pela janela.

— Muito bem. Agora você não vai poder fugir de mim. – Por estar longe do templo Shinou estava em miniatura, mas nem sua pequena estatura fazia com que perdesse sua imponência.

— Não deveria entrar no quarto dos outros sem bater, Shinou. Mesmo depois de quatro mil anos você continua impossível...

Murata riu, mas o riso foi morrendo quando percebeu a expressão séria que Shinou sustentava. Sabia que não conseguiria evitá-lo por muito tempo, mas tinha esperança do surgimento de alguma catástrofe que iria ocupar a mente de todos, principalmente a dos reis teimosos com quem tinha que lidar.

Ambos permaneceram em silêncio por um bom tempo. Shinou estava esperando uma explicação para seu comportamento, mas Murata não sabia o que falar. Durante todo o tempo fugindo pensou nas mais diversas histórias, mesmo sabendo que nenhuma delas seria boa o suficiente para Shinou. Estava para dizer a melhor história que tinha pensando até aquele momento quando Shinou falou:

— Não precisa mentir. Sei pelo que você está passando – nesse momento Shinou abaixou a cabeça tentando esconder o rosto com a cabeleira loira. – Sinto muito. Não imaginei que as memórias de Geneus mexeriam tanto com você. Se tivesse pensando nisso antes não teria permitido que aceitasse a alma dele.

Murata ficou sem reação. Sabia que Shinou deveria ter alguma noção do que estava acontecendo, mas não imaginou que ele acertaria em cheio. Chegou a pensar se valeria a pena tentar negar, porém tinha noção de que a mentira não iria muito longe.

— Não é para tanto, Shinou. É verdade que as memórias de Geneus trouxeram muitas outras à tona, mas nada que eu já não tenha aprendido a lidar ao longo desses quatro mil anos.

— Sei que ao longo desses anos, as pessoas que receberam a alma do Grande Sábio foram aprendendo a diferenciar o que sentiam, mas... há alguma possibilidade... – Shinou parecia estar sofrendo. Como se o que pretendia falar estivesse lhe causando grande dor. – Por menor que seja... de que os sentimentos do Grande Sábio... os sentimentos que ele tinha por mim... tenham ressurgido?

Tal pergunta tornou o clima pesado instantaneamente. Que tipo de pergunta era aquela?

— Como você deve saber, eu e o Grande Sábio nutríamos sentimentos um pelo outro, mas concordamos em esperar que a derrota de Soushu fosse total antes de ficarmos juntos... Só não contávamos que eu fosse acabar sendo contaminado e ... você sabe o que aconteceu...

— Sim, eu sei.

— E eu sei que por todos esses anos a alma do Grande Sábio nunca esqueceu a promessa que fizemos e sei também que mesmo de tantas reencarnações ela não me esqueceu, assim como eu não esqueci... – Cada palavra dita por Shinou tinha tanto sentimento que os olhos de Murata encheram de lágrimas sem que percebesse. – Sei que você tenta suprimir esses sentimentos por eles te trazerem dor e eu nunca faria tal pedido se não tivesse certeza que aí dentro está a pessoa que amei...

— O que quer dizer com isso, Shinou? Que pedido? – Murata estreitou os olhos, já prevendo sua resposta, mas torcendo para que ele não fosse ingênuo o bastante para fazê-la.

Shinou aproximou-se de Murata e com todo o maryoku que tinha voltou a ficar em seu tamanho normal. Sentou na cama, pousou uma de suas mãos sobre as do moreno, que permaneceram apoiadas sobre o livro durante toda a conversa, e com a outra segurou seu rosto, que corou intensamente no mesmo instante. Os olhos dos dois se encontraram e com um leve sorriso nos lábios Shinou externou o que há tempos estava lhe consumindo.

— Podemos retomar de onde paramos, Grande Sábio? – Disse, tomando os lábios de Murata em seguida. Impedindo que este lhe desse qualquer resposta.

Por alguns segundos Murata deixou-se levar pelo beijo, mas quando voltou a si empurrou Shinou e levantou rapidamente da cama, ofegante, envergonhado e com o coração descompassado. Respirava profundamente tentando recuperar a calma sob o olhar atento e confuso de Shinou.

— Shinou, preste muita atenção no que vou falar agora. – Sua voz saia vacilante e trêmula, mas conseguiria falar o que era preciso. – Posso ter a alma do Grande Sábio, mas não sou ele. O Grande Sábio morreu há quatro mil anos. Eu sou Murata Ken. Mesmo que as lembranças e os sentimentos do Grande Sábio ainda estejam nesta alma, nenhum dos dois me pertencem. Eles são única e exclusivamente do homem que você amou e o motivo de eu não me atrever a tocar neles é por respeito. Respeito pelo homem que ele foi e pelos sentimentos que teve por Shin Makoku e principalmente por você... o homem a quem ele deu tudo e que nunca pôde esquecer. – Nessa hora as lágrimas já escorriam livremente pelo seu rosto. – E me dói ver que seus sentimentos pelo Grande Sábio sejam tão superficiais que você possa se contentar apenas em estar com o receptáculo de sua alma.

— Chega! – Gritou Shinou e de cabeça baixa levantou-se da cama lentamente, como se cada movimento precisasse de grande esforço para ser feito. – Sinto muito pelo que falei. Não tinha o direito de fazer tal proposta. Você está certo. Você não é o Grande Sábio e nunca será. Não posso esperar receber o que perdi e preciso aceitar isso. Porém...  – neste momento precisou respirar fundo para continuar a falar. – Meus sentimentos pelo Grande Sábio são mais profundos do que possa imaginar, tão profundos que só o fato de ter sua alma perto de mim já é o bastante para me desestabilizar.

Shinou levantou a cabeça e Murata pôde ver as lágrimas escorrendo pesadas pelo rosto pálido e cheio de dor. Deu um passo em direção ao loiro com a intenção de consolá-lo por estar arrependido de ter dito tudo aquilo sem levar em consideração os sentimentos dele. Claro que deveria permanecer fiel aos seus próprios sentimentos, mas aquele homem tão imponente estava frágil e parecia que quebraria a qualquer momento e, por hora, só queria diminuir sua dor. Entretanto, Shinou não deixou que se aproximasse mais e após se despedir secamente do moreno retornou ao templo, onde encontrou uma Ulrike nervosa e preocupada lhe esperando.

— Vossa Majestade! O senhor voltou. – Disse alegre, ostentando um sorriso iluminado, mas ao ver a expressão no rosto de Shinou seu sorriso desapareceu rapidamente.

— Fui um completo ingênuo, Ulrike. Não sei como tive coragem de fazer tamanha burrice.

E ao dizer isso, Shinou se jogou no colo de Ulrike que prontamente começou a consolá-lo. Por oitocentos anos, Ulrike serviu como sacerdotisa de Shinou, mas só recentemente passara a adotar a função de confidente, amiga e conselheira. Sabia muito bem da intensidade dos sentimentos de Shinou e perdera a conta das horas que passaram conversando por causa do aparecimento de Murata Ken.

Não tinha como negar a euforia que sentiu quando Shinou decidiu procurar Murata e revelar o que sentia. Torcia para que desse certo, para que fosse recíproco, todavia, de nada adiantou.

— Vossa Majestade, o que houve? O que Sua Alteza lhe disse? – Sua preocupação era genuína e transparecia na sua voz e em seu semblante. Shinou continuava com o rosto escondido em seu colo recebendo carícias no cabelo, algo que até um tempo atrás seria impensável, mas que tornou-se comum.

— A verdade. O que passou pela minha cabeça, Ulrike? Ele não é o Grande Sábio e nunca será. Eu estive me iludindo durante todo esse tempo.

— Vossa Majestade, a alma de Sua Alteza é a do Grande Sábio.

— Mas não é ele. Não é, Ulrike. Não sei como pude ser tão cego ao ponto de acreditar que poderia estar novamente ao lado dele. – Disse, enquanto apertava o pequeno corpo de Ulrike. – A pessoa que leva a alma dele chama-se Murata Ken e tirando os olhos e cabelos negros, em nada se parece com o Grande Sábio.

Shinou soltou Ulrike e começou a andar até as quatro caixas, usando uma delas como apoio para permanecer em pé e conseguir falar a realidade da qual fugia.

— O Grande Sábio desapareceu há quatro mil anos e as únicas coisas que restaram dele foram suas lembranças, sua alma e o país que ajudou a criar. Era um bom homem, mas por causa do seu passado não permitia aproximações desnecessárias e preferia ficar sozinho. Os momentos em que pude vê-lo sorrindo de verdade foram poucos, mas cada um deles me é precioso. – Shinou falava com dificuldade por causa do esforço em segurar as lágrimas. – Murata Ken é o completo oposto. Por mais que tenha as tristes memórias do Grande Sábio e de todas as suas outras vidas, ele consegue ser sincero com seus sentimentos e sorrir com o coração. Não sei como pude achar que apenas a alma do Grande Sábio era o suficiente.

— O amor muitas vezes pode ser irracional, Vossa Majestade. Tenho certeza que Sua Alteza entende os motivos que o levaram a nutrir esperanças. Duvido que ele guarde algum ressentimento pelo senhor.

— Você está certa, Ulrike.

A voz vinda da porta assustou Ulrike e Shinou que não haviam percebido que estavam sendo ouvidos. Shinou encarou o jovem numa mistura de confusão e vergonha.

— Ao que parece, com um pouco de esforço consigo me transportar em Shin Makoku. – Disse, enquanto tirava as algas de seu pijama. – Não devo ter maryoku suficiente para longas distâncias, mas da banheira para a fonte do templo não é problema.

Murata estava calmo, como se a conversa que tivera há poucos minutos com Shinou em nada lhe tivesse abalado. Percebeu o olhar que Shinou direcionava para si e pediu que Ulrike deixasse-os a sós. Não sabia exatamente o que falar, só sabia que precisava resolver essa relação inconclusa.

— Shinou, eu sei que seus sentimentos pelo Grande Sábio são fortes e sinceros. Sinto muito pelas palavras cruéis que disse e por ter acreditado que você não tinha entendido que o Grande Sábio e eu não somos a mesma pessoa. O que escutei agora me ajudou a compreendê-lo. – Murata falava cada palavra sentindo pontadas no coração. Sabia que sua alma sofria. – Você não pode transferir o amor que sente para mim e eu não posso nutrir um amor alheio por você.

— O que podemos fazer então?

— Apenas respeitar os sentimentos do Grande Sábio. Posso não ter gostado da sua proposta, mas tenho certeza que ele ficaria zangado se você não a fizesse. O Grande Sábio podia parecer uma pessoa calma e sensata, mas no fundo era muito mais complicado.  

Shinou riu. Era verdade. Ele definitivamente iria odiar se não tivesse tentado. Murata despediu-se e ao abrir a porta viu que Ulrike estava com o ouvido grudado tentando ouvir a conversa. A sacerdotisa começou a enchê-los de desculpas, mas nenhum dos dois se importou com a atitude, pois sabiam como ela estava aflita com a situação.

Poderia voltar para o castelo da mesma forma que viera, mas Murata achou melhor andar. Na metade do caminho as lágrimas que vinha segurando começaram a cair. Elas rolaram pelo seu rosto durante todo o dia seguinte e não ousou prendê-las. Permitiu a sua alma e a si próprio chorar. E ao ouvir que Shinou estava incomunicável, soube no mesmo instante que o loiro fazia o mesmo.

Ambos choravam pelo passado. Não pelo que foi, mas pelo que podia ter sido.


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Notas finais do capítulo

Depois que terminar comecei a pensar que exagerei no choro, mas acho que esse assunto com certeza traria sofrimento pros dois. Foi uma oneshot bem bobinha e simples essa que escrevi, mas gostei de ter escrito porque é algo que queria fazer faz tempo.



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