Assombrações e Mitos escrita por Dáriojns


Capítulo 2
A Cabra Cabriola.


Notas iniciais do capítulo

E aí galera? Sabe aquela brincadeira? Cabra Sega? Ela surgiu de uma lenda conhecida como Cabra Cabriola, que é que nem o Homem do Saco, só que com cabra do inferno.
Esse conto retrata essa Lenda. (Dessa vez a Cidade e Bairros são completamente fictícios pra não gerar problemas futuros).



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Na cidade do interior do Nordeste Brasileiro por nome de São Santana. No pequeno bairro de Liberdade, se vê uma cena já comum. Três adolescentes algemados sentados no meio-fio, e dois policiais conversando na frente da viatura. Já muito cansados, de todo o dia de alvoroço, às 20hrs da noite.

— Muito bem! – Diz o Sargento Silvestre, um homem de 50 anos, branco e cansado – E aí? O que vocês tem a dizer?

O outro policial mais jovem atrás dele era de pele morena, magro e com um cabelo ralo. Ele exalta, em tom de deboche.

— Qual é Silvestre? Ainda quer dar trela pra esses maloqueiros?

Silvestre com um sorriso de canto de boca ainda olhando para os garotos, responde.

— Moreno. – Diz em tom amenizador – São outros tempos, Moreno. Agora tem que ouvir a versão deles. – Diz com pequenos risos.

Moreno logo responde seu parceiro.

— Rá. Vai ouvir nada que preste. Esses “maloquero” tão cheio de droga na mente, Silvestre. Depois não diz que eu não avisei!

Os dois soltam alguns risos, mas os garotos não parecem se intimidar. Claramente desconfortáveis com a situação, mas ainda irritadiços e ansiosos. Os garotos já eram figurinhas carimbadas pelos policiais. Conhecidos cada um fora pego roubando, vandalizando ou servindo de aviãozinho para outros marginais mais perigosos. Dentre eles, Nego e Pitomba, eram os mais sérios e irritados, mas o Sonhinho estava espantado e catatônico, olhando para frente em espanto com lágrimas nos olhos e sussurrando baixinho.

— Eu não fiz. Eu não fiz isso, eu não fiz, eu não fiz isso.

Fora isso as crianças estão quietas e mais “educadas” que as últimas vezes que ambos pegaram elas. Silvestre efusivo pergunta.

— Então? Nada a dizer!?

As crianças se espantam, mas, Nego ainda mantêm a postura. Pitomba morde os lábios e Sonhinho só segura as suas pernas mais próximas do peito e continua sussurrando. O policial desgostoso levanta e comenta devagar.

— Eh então, levar vocês para delegacia mais uma vez.

Nego e Pitomba se entre olham assustados e preocupados. Os olhos estavam inchados, e diferente de outras vezes, os garotos temiam ir para a prisão. Sonhinho implora rapidamente.

— Não! Por favor. Não nos leve lá!

As crianças pareciam mais tristes, e Sonhinho que parecia mais disposto a falar comentou gerando reprovação de seus colegas.

— Não foi a gente que fez isso… – Diz chorando – Foi aquele bicho… Aí!

É interrompido com chutes de Nego que está visivelmente abalado.

— Cala a boca! Não fala disso! – O garoto falava com pânico na voz.

Pitomba, que está tão apavorado quanto as outras crianças, fala mais um sussurro que é facilmente ouvido pelos policiais.

— Eles não vão acreditar, vão nos matar!

Silvestre ficou parado, mas agora confuso. Moreno separou imediatamente os dois garotos de Sonhinho e olhando para eles escutou algo que eles nunca tinham dito.

— Desculpa! Desculpa! Não mate a gente! – Diz Nego e Pitomba, mas não parecem pedir desculpa para os policiais.

— Oh… Oh… O que tá acontecendo, podem falar… Não vai ter ninguém morto aqui. – Diz Moreno acalmando as crianças.

As crianças parecem ter se acalmado e ficado menos ariscas. Elas olharam para o Sonhinho, em um gesto com a cabeça, permitem que ele falasse . Os dois policiais se juntam um do lado do outro e aparentam estarem mais receptivos quanto a historia. Sonhinho levanta a cabeça, seus olhos estão arregalados e agitados, olhando para os lados, diz devagar.

— Foi a Cabra Cabriola…

Os dois policiais fraseiam o rosto, Silvestre dá um passo a frente e nervoso comenta.

— Cabra Cabri… E eu estava começando a acreditar nesses meninos. - Diz indo para levá-los pro carro.

O Moreno estende a mão na frente e ainda observando os garotos. Esta interessado no assunto e diz.

— Silvestre, vamos ouvir o que eles falam…

— A Por favor Moreno, você vai ouvir esses moleques falando do bicho papão?! Tá de sacanagem né?!

— Por favor senhor! É verdade! - Diziam os outros atrás de Sonhinho chorando e implorando.

Silvestre se contem um pouco. Seja o absurdo que for, algo tinha acontecido e no olhar do Moreno dizia ele estava disposto a ouvir. Sentindo-se o vilão, Silvestre fica quieto e deixa que o Moreno assuma a postura de interrogador.

— Quem são os outros corpos? – Pergunta sério e se agachando para ficar na mesma altura dos meninos.

— E… Elas eram crianças más… Por isso a Cabra Cabriola pegou eles...– Diz Sonhinho desviando o olhar para o beco atrás do policial, e em seguida para o chão.

— Iguais a vocês?! – Diz Silvestre ainda bufando.

Moreno estende mais uma vez a mão, mas sem se virar. Silvestre cruza os braços, aborrecido. Sonhinho diz que não com a cabeça e o Nego fala mais alto atrás dele explicando.

— Não como nós… Ela era dona da boca daqui… e a gente era tipo avião, dela. – Diz assustado como contando um segredo.

Moreno olha para os corpos e para as crianças e só disse se levantando.

— E o como vocês fugiram da Cabra Cabriola?

Os três se olham e o Pitomba diz.

— Nós estávamos aqui, a dona da boca falava de colocar a gente na gangue, mas do nada a gente escutou um barulho na mata.

Os Policiais se aproximam dos garotos enquanto observam a mata próxima daquele beco. Ela parecia por alguma razão mais escura que o normal. Sonhinho continua a historia.

— N… Nós vimos alguém com um crânio de bode no fundo da mata e a Dona gritou.

“– Quem tá aí?! Quem tá aí?!”

— Todo mundo ficou armado, menos nós três, porque não éramos da gangue ainda.

Talvez pela tensão do momento os policiais estão segurando mais firme suas armas. Pitomba e Nego parecem estar em transe enquanto só o Sonhinho fala olhando para um ponto fixo na frente.

— O ar ficou frio e conseguíamos ouvir uma respiração forte por todo o lugar. Os olhos da Cabra ficaram acesos como fogo e soltando uma fumaça branca, que se espalhou por toda parte.

Os policiais não percebem mais uma neblina levanta em volta deles e eles começam a sentir um esfriamento vindo por baixo das pernas e extremidades.

— Então teve tiros, gritos, mas parecia não matar aquele bicho. Ele surgiu do nada. Era grande como um gorila! Só que não tinha pelos, sua pele era pálida e tinha cortes abertos, braços esguios, tinha um capuz roxo que estava todo rasgado e cobria todo corpo dele. E a cabeça dele era um crânio de cabra, com olhos em brasa viva...

Moreno respira fundo e olhando para Silvestre, e este esta parado nervoso e suando. Em sua volta as luzes pareciam mais escuras, o ambiente mais vazio e gelado. E de repente uma som de respiração pesada surge no meio da mata.

— Ar… Ar… Ar… - O suspiro.

Moreno engolindo seco como forçando uma postura confiante diz.

— E então… Como vocês sobreviveram?

Pitomba fala.

— Nós ouvimos uma música… Que era assoviada no ar...

— U… Uma música? - Pergunta moreno ouvindo os passos de algo se aproximando na mata.

As três crianças respiram e cantarolam juntas a cantiga.

Cabra Cabriola

Veio te pegar

Criança malcriada

Pra no saco colocar

Cabra Cabriola

Por favor vá embora

Se eu me comportar

Não venha me pegar.


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Notas finais do capítulo

E aí? Gostou? Aposto que não sabia que tinha uma Lenda tão sinistra no nosso folclore, né? Mas seja como for, eu dei algumas mudanças, inspirado em como os Japa também mudam e "exageram" suas lendas. A próxima lenda na agulha é uma lenda de Mina Gerais conhecida como "Mão de Ouro". Espero que tenham gostado. vlw.



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